Lidando com problemas na igreja

Introdução

A igreja primitiva não era perfeita, em que pese a seu favor a forte presença e manifestação poderosa do Espírito Santo no seu início. Não existe igreja local perfeita, porque nós, seres humanos que a compomos, não somos perfeitos; logo todas precisam saber lidar com problemas internos, além dos externos. Numa passada de olhos apenas no Livro de Atos encontramos alguns exemplos de problemas: (i) Em Atos 5, a trama mentirosa do casal Ananias e Safira quanto ao valor encoberto da venda do terreno, doado parcialmente à igreja. (ii) Aqui em Atos 6 a falha na distribuição diária para algumas viúvas e a murmuração dela decorrente. (iii) Em Atos 8.9-13, 18-24 o pecado de Simão que abraçou a fé cristã e depois quis comprar o poder do Espírito Santo. (iv) Em Atos 9.26-27 a desconfiança e temor dos irmãos que dificultavam a aceitação e acolhimento do recém-convertido Saulo de Tarso devido ao seu passado de terrível perseguidor da igreja. (v) Em Atos 11.1-18 a desconfiança dos defensores da circuncisão por Pedro ter entrado na casa do incircunciso Cornélio e comido com eles (vv.1-3). A explicação foi dada e o apaziguamento foi  feito (vv.4-18). (vi) Em Atos 15.1-35 a equivocada questão imposta pelos legalistas da necessidade da circuncisão para a salvação. (vii) Em Atos 15.36-40 a desavença entre Paulo e Barnabé quanto a levar João Marcos na 2ª Viagem Missionária. Neste estudo, veremos como a igreja lidou e tratou do problema que surgiu, conforme registrado em Atos 6.1-7.

1. O CONTEXTO (At 6.1)

     “Naqueles dias…”

É interessante relembrar o contexto desse “naqueles dias” quando se deu o problema. Em Atos 1, o Senhor ressurreto se reuniu com os seus discípulos, anunciou o iminente batismo com o Espírito Santo, os comissionou e foi elevado aos céus, deixando-os um tanto quanto desolados e na expectativa do que viria a acontecer. Enquanto aguardavam, resolveram preencher a vaga deixada por Judas Iscariotes completando, assim, de forma um tanto quanto açodada, o quadro dos doze apóstolos, com a escolha de Matias. Em Atos 2 acontece o Pentecoste e o nascimento da igreja, em Jerusalém. Em Atos 3, a retomada dos milagres, com a cura do paralítico e a mensagem de Pedro ao povo. Em Atos 4 o recomeço da perseguição, a prisão, testemunho e libertação dos apóstolos Pedro e João, encerrando com o ajuntamento dos irmãos. Em Atos 5, a purificação interna da igreja com o juízo divino sobre Ananias e Safira que ousaram mentir ao Espírito Santo; na sequência, acontece a prisão dos apóstolos, seu testemunho e libertação.

2. A EXPANSÃO DA IGREJA (At 6.1)

     “…multiplicando-se o número dos discípulos…”

É relevante o registro desses primeiros passos da igreja, do seu crescimento extraordinário e do modus vivendi dos remidos do Senhor. Em Atos 2.41, após a pregação do Pentecoste, houve um acréscimo de quase 3.000 pessoas. Em Atos 2.44-47, registra-se que eles viviam unidos, tinham tudo em comum, vendiam suas propriedades doando o valor auferido para a igreja que usava esses recursos para ajudar aqueles que tinham necessidade. Desta forma, perseverando na fé e na adoração a Deus, bem como ajudando os mais necessitados, o Senhor acrescentava os que iam sendo salvos. Em Atos 4.4 contabiliza-se o número de homens convertidos chegando a quase 5.000. Em Atos 4.32-37 encontramos um significativo relato e descrição dessa comunidade cristã: Uma multidão unida, compartilhando os bens materiais, sem necessitados entre eles. Os apóstolos pregando e testemunhando com poder; bem como recebendo as doações dos irmãos e administrando sua distribuição aos necessitados. Em Atos 5.12-16 ratifica-se a poderosa atuação dos apóstolos, realizando sinais e prodígios e que a comunidade cristã crescia, agregando-se ao Senhor tanto homens como mulheres.

3. A DESCRIÇÃO DO PROBLEMA (At 6.1)

     “…houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária….”

Até este tempo, parece que os apóstolos haviam tomado para si a tarefa de administrar os recursos financeiros da igreja (At 4.34-37). Mas, dentro de pouco tempo, a igreja crescera significativamente, a ponto da atividade de beneficência alcançar proporções tais que requeria muito tempo dos apóstolos. O fato é que as viúvas dos helenistas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimentos e outros bens, no seio da igreja. Os helenistas eram judeus que haviam adotado o estilo grego de viver. Os hebreus, por sua parte, eram judeus que tinham preferido reter a maneira tipicamente judaica de vida. (Alguns eruditos pensam que os helenistas eram gentios, prosélitos e tementes a Deus, ao passo que outros opinam que os hebraístas eram samaritanos. Entretanto, é difícil imaginar que muitos indivíduos, dessas categorias, já tivessem entrado na igreja). Lucas já havia registrado como a igreja cuidava dos necessitados, em que muitos crentes vendiam as suas propriedades, trazendo o dinheiro apurado aos pés dos apóstolos (At 4.32, 34, 35). A distribuição diária, para as necessidades das viúvas, provavelmente se fundamentava nesses fundos.

Não temos uma informação precisa sobre a causa do esquecimento das viúvas dos helenistas. Talvez houvesse uma disposição de preferência, de preconceito, por parte daqueles que estavam com a responsabilidade de cuidar das mulheres que não podiam sustentar-se, por serem viúvas pobres e idosas. Ou pode tudo ter sido causado pela negligência da parte dos encarregados dessa questão, incluindo os apóstolos, os quais se ocupavam muito mais da pregação e do ensino, não podendo, por isso mesmo, cuidar minuciosa e atenciosamente de questões como essa da distribuição diária. É preciso ficar atento ao que fazemos na igreja. Todos são igualmente importantes na igreja de Cristo e não podemos fazer acepção de pessoas. Não raro acontece de alguém assumir determinados cargos e ministérios na igreja e passarem a defender veementemente apenas o seu grupo, inclusive recursos financeiros, não se importando com os demais grupos, ministérios e sociedades internas da igreja! Cuidado com o corporativismo eclesiástico!

4. O PAPEL DA LIDERANÇA (At 6.2)

     “Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos…”

O papel da liderança é sempre importante na resolução de problemas. Isso não significa que esta tenha, necessariamente, todas as respostas, mas precisa assumir e conduzir o processo de solução. Na igreja primitiva verificamos que, em algumas situações, a própria liderança tomou a decisão, como no caso de Ananias e Safira; há outras em que toda a igreja foi convocada a participar, como neste caso. Vemos aqui a democracia operante na igreja primitiva. Não devemos supor que todas as pessoas convocadas tiveram parte ativa no debate, pois isso seria inviável, devido ao seu grande número; mas, pelo menos, deve ter-se manifestado um bom grupo representativo. As Escrituras não determinam quaisquer regras fixas no que diz respeito ao tipo de governo que deve prevalecer na igreja cristã (episcopal, presbiteral ou congregacional). Entretanto, devemos verificar como a igreja primitiva funcionava e beneficiar-nos com o seu exemplo.

5. O ARGUMENTO INICIAL (At 6.2)

     “… e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas.”

O argumento inicial dos apóstolos deixou claro a necessidade de priorização de tarefas na igreja. Cada tarefa deve ter a sua razão de ser para não se gastar energia inutilmente. Todas são importantes, quando necessárias, porém algumas são mais prioritárias, a razão de ser da igreja, a sua atividade fim. Cada uma deve ser exercida de acordo com o chamado divino, vocação e dons distribuídos pelo próprio Espírito de Deus. Os apóstolos tinham conhecimento, como testemunhas oculares, da preciosa história e ensinos de Jesus. O melhor e mais imediato meio de fazê-los conhecidos era através da palavra falada. Não deviam permitir que nada, ainda que importante, os desviasse dessa tarefa. O ministério do ensino está contido dentro da própria Grande Comissão (Mt 28.19-20). O evangelismo, por si só, não pode cumprir essa comissão. A outra tarefa, confrontada aqui com o ministério do ensino e que precisava de outros colaboradores que não os apóstolos, era o de “servir as mesas”. Neste caso, a palavra “servir” (diakonein) se deriva do vocábulo do qual obtivemos nossa palavra “diácono” (diáconos), que significa servo, administrador ou ministro. Quanto as mesas, geralmente se acredita que estaria em foco aqui, em sentido figurado, a administração das ofertas destinadas a Ação Social da igreja.

6. A PROPOSTA DE SOLUÇÃO (At 6.3)

6.1 A participação da igreja (v.3a)

     “Mas, irmãos, escolhei dentre vós….”

Deve-se observar, com base nas palavras dos apóstolos, que à congregação é que cabia o privilégio de fazer a escolha. Estamos diante de uma verdadeira aula de administração eclesiástica que estabelece o valor e importância da democracia representativa. A igreja reunida “em assembleia” deveria eleger aqueles que deveriam exercer o ofício do diaconato, nesta ocasião estabelecido de forma embrionária. Em outras oportunidades o apóstolo Paulo expôs detalhadamente as qualificações dos presbíteros (1Timóteo 3.1-7 e Tito 1.5-9) e diáconos (1Timóteo 3.8-13).

6.2 As premissas e requisitos (vv.3b)

     “… sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço;”

O embrião do ofício de diácono está expresso em Atos 6.1-6, tendo ocorrido a partir de delegação da autoridade apostólica e, portanto, constitui-se num exercício de autoridade na igreja. Desta forma, coerentemente com o “princípio divino da autoridade de gênero”, foram escolhidos sete homens. As qualificações completas para o ofício de diácono na igreja apareceram posteriormente, no texto de 1Timóteo 3.8-13.

Nessa democracia representativa, o privilégio da escolha acarreta a necessária responsabilidade pelo ato da escolha e suas consequências para a comunidade. Cumprindo o seu papel, a liderança fixou o número de homens a serem escolhidos e instruiu a congregação quanto a aspectos importantes que deveriam ser considerados nessa escolha, a saber:

1º) Boa reputação: Deveriam ser conhecidos em seus negócios e caráter passado, sendo recomendados favoravelmente.

2º) Cheios do Espírito Santo: Tal qual os apóstolos, deveriam ter experimentado o revestimento e plenitude do Espírito Santo. É muito provável que os dons espirituais também estivessem em foco. Estes servos precisavam ser homens dotados de habilidades, sendo homens destacados na comunidade cristã, como homens de Deus, ativos e poderosos no ministério. Deve-se notar que um dos indivíduos assim escolhidos foi Estevão, homem “cheio de graça e poder” (At 6.8), o qual “fazia prodígios e grandes sinais entre o povo”.

3º) Cheios de sabedoria: Naturalmente, essa qualidade era resultado direto do poder habilitador do Espírito Santo. Era necessário que soubessem como rejeitar as murmurações e como cuidar delas, sabendo discernir bem as pessoas e as situações, principalmente em se tratando de beneficência. A sabedoria dos diáconos precisava ser terrena e prática, dando eles mesmos exemplo de discrição e poupança, além da aptidão pelas coisas e soluções práticas. Contudo, essa sabedoria também teria de ter um aspecto espiritual, fazendo com que olhassem para seus semelhantes com espírito de amor, de ternura e de bondade, visando, além do suprimento físico, o desenvolvimento de suas almas.

Ou seja, teriam de ser homens que cuidassem tanto das necessidades físicas como das necessidades espirituais de muitíssimas pessoas, motivo pelo qual teriam de ser indivíduos altamente qualificados. É perfeitamente possível que o ofício diaconal, especialmente criado nesta ocasião, não seja idêntico ao ofício mencionado no trecho de 1Timóteo 3.1-13, onde aparecem, dadas pelo apóstolo Paulo, as qualificações necessárias dos presbíteros e diáconos, porquanto diversas modificações podem ter sido efetuadas no decorrer dos anos. Entretanto, o ofício diaconal, aqui no Livro de Atos, foi o precursor daquele encontrado nos anos posteriores, e que tem a ver com as questões materiais, seculares da vida diária das igrejas.

7. A ESTRATÉGIA – DIVISÃO DO TRABALHO (At 6.4)

     “e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra.”

O argumento inicial dos apóstolos também deixou claro a necessidade e conveniência da divisão do trabalho na igreja, a descentralização de certas atividades. Na igreja de Cristo, às vezes é preciso ter coragem e humildade para delegar tarefas, crendo no sacerdócio universal dos crentes! Cada indivíduo tem os seus próprios dons, de conformidade com aquilo que o Espírito Santo estabelece e confere, e todos os dons e serviços são igualmente importantes e necessários para o desenvolvimento e bem-estar da igreja local (Ef 4.4-16). Todo crente é responsável por fazer o máximo, sob a mão de Deus, no desenvolvimento e uso de seus dons pessoais. Os apóstolos mostraram-se bem sensíveis a esse fato, sendo que também entregaram a outros as funções que podiam ser delegadas, a fim de que tivessem a liberdade de se entregarem aos importantíssimos ministérios da oração, do ensino, da pregação e da evangelização, além da orientação geral da igreja. Era mister que os apóstolos não somente orassem, mas também se dedicassem à oração, para que se aprofundassem nessa prática, a fim de que experimentassem o autêntico e maior poder de Deus, sendo cheios do Espírito Santo, a fim de que por ele fossem usados como vasos consagrados. As lideranças das igrejas atuais devem observar bem este legado da igreja neotestamentária.

8. A RESPOSTA DA COMUNIDADE (At 6.5)

     “O parecer agradou a toda a comunidade; e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia.”

Como é salutar para uma igreja quando sua liderança traz propostas sábias e oportunas para o bom andamento dos trabalhos ou para a solução de conflitos; propostas assertivas e iluminadas pelo Espírito Santo de Deus e, assim, recebem boa acolhida pela comunidade! Como é relevante preservar a Unidade, a Paz e a Pureza da igreja de Cristo através das boas decisões!

Deve-se observar que, nesta lista, todos os nomes são gregos. Apesar de ser verdade que muitos judeus da palestina tinham também um nome grego, além do nome hebraico, é bem provável que a maioria desses diáconos se compusesse de judeus helenistas. Todavia, a menção de Nicolau, prosélito de Antioquia, mui provavelmente significa que ele era gentio puro quanto à sua raça, embora se tivesse convertido anteriormente ao judaísmo, e, se submetesse, ao Cristianismo.

9. A SUBMISSÃO À LIDERANÇA (At 6.6)

     “Apresentaram-nos perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos.”

A igreja, como um todo, escolheu esses sete homens, mas os apóstolos aprovaram a seleção e os encarregaram do seu ofício. Então, os sete foram ordenados para esse ofício, pela imposição das mãos dos apóstolos. Tal rito se fundamenta nas páginas do AT, onde simboliza o recebimento de algum poder vital, como transferência de poder de uma pessoa para outra. Assim é que, ao nomear Josué como seu sucessor, Moisés lhe impôs as mãos, infundindo algo de sua “autoridade” (ver Nm 27.20, 23, e ainda Gn 48.13ss; Lv 1.4). A imposição de mãos no NT, às vezes acompanha a oração (Mt 19.13, 15), simboliza uma doação, quer de bênção (Mc 10.16), cura (Mc 5.23; 6.5 etc.), o Espírito Santo (At 8.17, 19; 9.17; 19.6) ou responsabilidade e autoridade para um serviço especial (At 6.6; 13.3; 1Tm 4.14 etc.).

10. A BÊNÇÃO DIVINA (At 6.7)

     “Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé.”

A comunidade cristã não estava isenta dos problemas. Entretanto, estes eram tratados cuidadosamente, sob a orientação do Espírito Santo. Assim, o crescimento do testemunho cristão, não era descontinuado. Ao contrário, sua eficácia aumentava, a ponto de até “muitíssimos sacerdotes” crerem. Essa declaração acerca da fé que muitíssimos sacerdotes punham em Cristo, serve para mostrar-nos que, embora a nação de Israel, em sua maioria, tivesse continuado em sua atitude de rejeição ao seu próprio Messias, contudo, em todos os níveis da sociedade judaica, incluindo as classes dominantes e indivíduos de reconhecida piedade, muitos chegaram a perceber a veracidade da mensagem cristã, tendo-se passado, de todo o coração, para a nova comunidade dos seguidores de Jesus Cristo.

Conclusão

O fato é que na igreja de Cristo tudo deve ser feito com decência e ordem, com a finalidade de glorificar a Deus, anunciar o evangelho para a salvação de almas e expansão do Reino de Deus, ensinar e zelar pelo bem-estar e crescimento espiritual dos remidos do Senhor, até que ele venha.


Veja também: As qualificações dos diáconos

Igreja e Política – Pronunciar-se ou Silenciar-se?

O assunto CRISTÃO ou IGREJA e POLÍTICA é muito amplo e requer abordagens sérias e elucidativas. A relação do Cristão com o Estado é diferente da relação da Igreja com o Estado. Sendo o Estado laico não há que se pensar em interferência direta da instituição Igreja na Instituição Estado. O inverso também não é aceito. Sendo o Cristão um cidadão da pátria deve praticar uma cidadania responsável, exercendo os seus direitos constitucionais e legais, expressando-se de forma respeitosa, dentro dos limites da lei, com base em fatos e dados verdadeiros, participando diretamente (ou não) das instituições públicas e da política, também cuidando de cumprir os seus deveres; mas sempre fazendo a diferença, dando um bom testemunho da sua ética cristã.

E a instituição Igreja? Qual deveria ser o seu papel na política, em relação a atuação do Estado? Deve pronunciar-se ou silenciar-se? Deve cuidar apenas do que diz respeito à ortodoxia e à ortopraxia, nos limites da sua membresia ou no campo da religião, ou avançar na direção do ambiente sócio-político? Como deve ser a relação entre Igreja e Estado, Fé e Política?

1. O que é política?

Antes de tudo torna-se necessário purgar e desmistificar o termo “política”. A estreita associação deste termo a vários políticos desqualificados ou a certos partidos políticos abjetos, contaminou-o de tal forma que passou a ser visto por muitos com algo repulsivo e repugnante.

O termo política pode ter vários significados diferentes, mas tem um significado principal. “O termo política é derivado do grego antigo πολιτεία (politeía), que indicava todos os procedimentos relativos à Pólis, ou cidade-Estado grega. Por extensão, poderia significar tanto cidade-Estado quanto sociedade, comunidade, coletividade e outras definições referentes à vida urbana.”[1] Está intimamente ligado ao ato de governar, de tomar decisões em nível federal, estadual e municipal, para o bem comum de todos os cidadãos. O termo também pode ser estendido ao governo ou gestão de qualquer instituição ou organização ou empresa pública ou privada, que também devem visar o bem comum. Portanto, governantes e gestores precisam sempre ter em vista o atendimento dos interesses legítimos dos cidadãos, dos servidores, dos empregados. O termo também pode ser aplicado aos relacionamentos entre as pessoas, quando buscam um consenso ou objetivo em comum, atendendo assim os interesses das partes. Política é a arte do possível! A política se faz presente em todo o tempo e em todas as fases da nossa vida. Quando argumentamos, quando defendemos uma ideia, quando tentamos convencer alguém, estamos fazendo política. Vejam que o foco da política são as ações ou tomada de decisões para o bem comum. Neste sentido, até a investida num pedido de namoro ou de casamento podem ser considerados no conceito de política.

Retornando à questão do governo das cidades, se está em foco o bem comum dos cidadãos, torna-se necessário e é natural que este cidadão se faça representar no governo, o que ocorre num regime democrático através do voto do cidadão civilmente capaz.

“Política Eclesiástica” é uma expressão que as vezes pode ter um sentido pejorativo. Certamente será considerada de forma positiva quando buscar o convencimento, o senso comum, na tomada de decisões para o bem comum e que estejam totalmente alinhadas e alicerçadas na palavra de Deus, nossa regra infalível de fé e prática. Por outro lado, poderá ser um desastre na vida da igreja quando envolver interesses e caprichos pessoais e escusos, negociação de cargos em troca de benefícios, projeção humana em detrimento da glória de Deus, o bem de algum grupo de afinidade e não o bem comum,  a violação de princípios e valores bíblico-cristãos.

2. A trajetória do poder político na história.

A luta pelo poder político, os meios para se chegar ao poder e impor sua vontade e dominar comunidades tem sido uma prática constante desde o início da história. Várias são as formas que têm sido empregadas para se fazer política. A história humana começou com uma família. Então, ali prevalecia o poder político patriarcal familiar. As famílias se multiplicaram e constituíram tribos. Em cada tribo o poder político era exercido pelo líder e/ou o conselho tribal. Com o crescimento populacional, os povos primitivos, as sociedades humanas, as civilizadas, as bárbaras e as selvagens, foram se organizando, cada qual com seu poder político estabelecido ainda que rudimentar. Desde então, várias formas de governo têm sido praticadas no mundo.

Vale lembrar que o objetivo desse poder político é manter a ordem por meio de leis e regras, garantir a unidade e integridade combatendo levantes internos e a defesa contra invasões externas, e promover o desenvolvimento e bem-estar da sociedade.

Esse poder político tem sido exercido ao longo da história por líderes-ditadores (reis, imperadores etc.), às vezes assessorados por conselheiros próximos. Nesses casos o entendimento do tal “bem comum” é definido unilateralmente pelos tais governantes, sem a participação popular.  O povo de Israel inicialmente estava sob a liderança de um governo teocrático. Deus estabelecia o líder visível e governava através deste, orientando-o diretamente. Permaneceu assim até que o povo clamou por um rei e Deus o atendeu, estabelecendo a monarquia, sendo Saul o primeiro rei.

Os historiadores nos dão conta de que por volta do século V ou VI a.C. surgiu em Atenas, na Grécia Antiga, o regime de governo denominado de “democracia” ou “governo do povo” (demos=povo + kracia=poder). “Democracia é um regime político em que todos os cidadãos elegíveis participam igualmente — diretamente ou através de representantes eleitos — na proposta, no desenvolvimento e na criação de leis, exercendo o poder da governação através do sufrágio universal. Ela abrange as condições sociais, econômicas e culturais que permitem o exercício livre e igual da autodeterminação política.”[2]. Ainda que outras formas de governo coexistam no mundo, a sociedade moderna parece convergir no sentido de admitir que a democracia não é um sistema de governo perfeito, mas é o menos ruim. “O sistema democrático contrasta com outras formas de governo em que o poder é detido por uma pessoa — como em uma monarquia absoluta — ou em que o poder é mantido por um pequeno número de indivíduos — como em uma oligarquia. No entanto, essas oposições, herdadas da filosofia grega, são agora ambíguas porque os governos contemporâneos têm misturado elementos democráticos, oligárquicos e monárquicos em seus sistemas políticos. Karl Popper definiu a democracia em contraste com ditadura ou tirania, privilegiando, assim, oportunidades para as pessoas de controlar seus líderes e de tirá-los do cargo sem a necessidade de uma revolução.”[3]

Tudo o que tem sido exposto até aqui é apenas um verniz histórico e conceitual que cobre esse complexo tema do poder político para enfatizar as forças que atuam e exercem influência na sociedade e sobre os cidadãos, dentre eles os cristãos. Precisamos conhecer essas forças, bem como o regime ao qual os cidadãos e a igreja estão sujeitos, bem como nossos limites para ação ou manifestação cidadã ou institucional.

3. O papel da igreja frente ao Estado.

O poder político não é a única forma de poder e de autoridade existente na sociedade. Há, também, autoridade religiosa, familiar, econômica, dentre outras. Diversas são as associações que os cidadãos firmam, porém queremos destacar aqui, além da instituição Estado, a instituição Família e a instituição Igreja (ou religiosa). O Estado exerce o poder político sobre todas as áreas, instituições e pessoas, através dos poderes constituídos – Executivo, Legislativo e Judiciário. Entretanto, deve haver limites na interferência do Estado sobre a Família e a Igreja. A recíproca também é verdadeira.

A grande questão que se coloca e que tem sido motivo de muita polêmica é o potencial de influência efetiva de cada uma dessas três instituições basilares sobre o cidadão! Estados totalitários, como os comunistas, farão de tudo para anular o poder de influência da família e da igreja sobre os cidadãos. Ideologias autodenominadas como “progressistas” farão de tudo para desconstruir as instituições família e igreja e, assim, anularem essas possibilidades de influência. Eles querem dominar as mentes dos cidadãos e sabem muito bem do obstáculo que igreja e família representam. Quando um governo se levanta com uma bandeira em prol da defesa da igreja e da família, de valores judaico-cristãos, sem dúvida provocará a reação de todas as forças alinhadas com as trevas e o inferno.

É fato inquestionável que desde o início dos tempos, no Éden, encontramos o propósito de Deus de inculcar na mente humana a sua “política existencial”, para o bem comum. Por outro lado, desde então encontramos, também, Satanás propagando a sua “política existencial” nefasta e destruidora, visando o afastamento da criatura do seu Criador. As formas e os meios utilizados para esses dois propósitos opostos variarão, mas prevalecerão até o final dos tempos.

Outro aspecto extremamente relevante nesses tempos de pós-modernidade é o “poder político” exercido pelos blocos econômicos e pelos veículos de comunicação de massa. Estes poderes são capazes de ultrapassar qualquer limite territorial, cultural, ético, moral, linguístico etc., e financiar ou propagar ideias, ideologias, usos e costumes que atendam seus interesses e moldem a mente dos cidadãos de qualquer nação. Daí a importância de um  Estado independente e honesto que atue eficazmente na regulação da ação das instituições, inibindo investidas que atentem contra os valores basilares da sociedade, preservando o bem comum.

Portanto, diante de tantos desafios e ameaças ao propósito divino para a humanidade, entendemos que a igreja, como instituição, deveria considerar seriamente os seguintes aspectos, dentre outros contemplados no documento do Supremo Concílio da IPB e transcrito no artigo “Igreja e Política – Mídia Tendenciosa” publicado neste blog em 11/02/2020:

a) Não se alienar dos acontecimentos e fatos que afetam a sociedade e os cidadãos, fechando-se e limitando-se aos aspectos teológicos e religiosos.

b) Sendo o Brasil um Estado laico, manter-se independente e distante do Estado e dos Partidos Políticos, jamais buscando aproximação que lhe renda benécias e vantagens, principalmente as financeiras ilícitas ou não convenientes.

c) Manifestar seu apoio àquelas iniciativas governamentais – propostas, pautas, bandeiras ou agendas – que estejam claramente definidas e alinhadas como os ensinos da bíblia e nossa herança judaico-cristã-reformada.

d) Pronunciar-se nos púlpitos e publicamente como voz profética, de forma lúcida, coerente e respeitosa, em tempo oportuno, quanto àquelas grandes questões que violem nossa herança judaico-cristã-reformada, contrariando princípios e valores de ética, da moral, da justiça, da liberdade, da igualdade, da dignidade humana e da fraternidade.  

Que assim Deus no ajude, iluminando nossas lideranças eclesiásticas a não se omitirem naquilo que precisa ser dito, e nem a extrapolarem se pronunciando em assuntos e áreas que não são de sua competência. Afinal, fomos chamados pelo nosso Mestre para sermos Sal da Terra e Luz do Mundo!


[1] Wikipédia
[2] Wikipédia
[3] Wikipédia

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Veja também:
Igreja e Política – Mídia Tendenciosa
Cristão e Política
Cristão e Comunismo – Como conciliar?

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Veja o que este jovem político tem a dizer:

O papel do Espírito Santo na pregação

A IDENTIDADE DO CORPO
         O papel do Espírito Santo na pregação
         Texto Base: Efésios 4.4-6; João 14.17; Mateus 10.20

Introdução:

Todos sabemos que de um só (Adão) Deus fez toda a raça humana, para habitar sobre a face da terra (At 17.26). Entretanto, dentre esses, ele mesmo, em Cristo, separou e reuniu para si um povo: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;  vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.” (1Pe 2.9-10). Este povo, também é conhecido como um corpo, constituído por muitos membros (Rm 12.5), com identidade própria e inconfundível. Ele tem um só Senhor, um só Legislador e Juiz (Tg 4.12) que é Deus e Pai de todos; um só Mestre (Mt 23.8), um só Guia (Mt 23.10), um só esposo, que é Cristo (2Co 11.2); um só Espírito, que nos regenera, faz morada em nós e nos une ao Corpo (Jo 3.6; 14.17); uma só fé; um só batismo e uma só esperança.

É através da pregação e do ensino da Palavra de Deus que este Corpo, a Igreja de Cristo, cresce e preserva a sua identidade: “E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo.” (Rm 10.17). E essa pregação é muito mais do que um discurso baseado em estratégias de persuasão humanas: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder,” (1Co 2.4). Daí, percebe-se a relevância e essencialidade do papel do Espírito Santo na pregação.

Quando se trata de pregação, não se pode deixar de associar a ideia do tripé: PREGADOR x MENSAGEM x OUVINTE. No estudo da Homilética[1], o PREGADOR pode e deve buscar recursos e se aprimorar na tarefa de expor a mensagem. No estudo da Hermenêutica[2], que, de tão próximo se confunde com o termo Exegese[3], o pregador pode e deve buscar recursos para a correta interpretação e explicação do texto bíblico, no preparo da mensagem. A MENSAGEM não é outra, senão o Evangelho, poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). Também é o ensino bíblico que edifica e molda o caráter de um cristão. Por fim, temos o OUVINTE. Como alcançá-lo? Dispor os elementos da mensagem de forma clara, lógica e racional, sequencial e progressiva, estética e emocional, de modo a persuadir o ouvinte é, de fato, algo importante, mas, não suficiente. Pois, “Um sermão é um bocado de pão para ser comido, e não uma obra de arte para ser apreciada” (Phillips Brooks)

Neste estudo, veremos o papel do Espírito Santo agindo na pregação, nesse tripé acima referido, e produzindo o resultado que transforma vidas e glorifica a Deus.

Desenvolvimento:

Façamos este estudo a partir da “teologia de Jesus” sobre o papel do Espírito Santo, exposta nos Evangelhos, e, também, recorrendo aos ensinos nas epístolas. Não vamos nos limitar a estudar o agir do Espírito apenas numa pregação pública, proferida no púlpito de um templo, mas em qualquer lugar e circunstância em que essa pregação, possa ocorrer, com qualquer número de ouvintes.

1. Como é, o agir do Espírito Santo?

1.1 O Espírito é livre para agir (Jo 3.5-8)

Se o novo nascimento ou regeneração é obra do Espírito Santo; se é este mesmo Espírito que convence e produz transformação e mudança de comportamento nos ouvintes; então, pregadores e testemunhas de Cristo precisam ter sempre em mente que ele é livre para agir; e nós, somos apenas seus instrumentos. Ele jamais estará subordinado e circunscrito à nossa vontade; ao contrário, nós é que devemos nos deixar conduzir pela sua soberana vontade e direção.

1.2 O Espírito habita em nós (Jo 14.17, 23)

Nessas palavras proferidas por Jesus está explícito o relacionamento íntimo que o pregador e testemunha de Cristo tem com o Espírito: “vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós.”. Enquanto no Antigo Testamento o Espírito agia pontualmente, usando pessoas para a realização de determinados feitos, depois da ascensão de Cristo, o Consolador, foi enviado aos filhos de Deus, no Pentecostes, para habitação permanente nos remidos, unindo-os ao Corpo de Cristo (sua Igreja) e capacitando-os a serem embaixadores do Reino, proclamadores da sua mensagem de salvação a todos os povos. Nessa relação tão sublime e íntima, com o Espírito, desfrutamos do privilégio de conhecê-lo, ainda que de forma limitada, o que, provavelmente, o apóstolo Paulo se referiu como ter a “mente de Cristo” (1Co 2.16).

1.3 O Espírito fala “em nós” e “por nós” (Mt 10.20; Mc 13.11)

Quando Jesus proferiu essas palavras de instrução aos discípulos, referia-se a situações extremas de perseguição e prisão, ocasiões em que eles seriam assistidos pelo Espírito. Certamente a intenção divina não seria apenas de conceder-lhes uma palavra de sabedoria, adequada à situação. Também havia a intenção de que eles testemunhassem de Cristo diante das autoridades (Mt 10.18). Assim sendo, por que razão este mesmo Espírito também não poderia assistir o pregador ou aquele que testemunha de Cristo, em situações normais de evangelização?

A figura do Espírito falando “em nós”, nos remete àquele direcionamento espiritual, do pregador, para definir o assunto, escolher e entender o texto bíblico e escolher as ilustrações. Quem somos nós para fazer essas escolhas, por conta própria? Apenas o Espírito conhece, antecipadamente, o público que estará presente e o que cada pessoa precisa ouvir, “…porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus.” (1Co 2.10-11).

A figura do Espírito falando “por nós”, nos dá a certeza e segurança de que, usando parte ou todo o material preparado, ou trazendo à nossa memória outras ideias e palavras, nossas limitações quanto à exposição verbal e gestual serão superadas, de modo a alcançar o objetivo determinado pelo Senhor. Ao longo da história muitos têm falado da parte de Deus, movidos pelo Espírito (2Pe 1.21).

1.4 O Espírito nos ensina (Lc 12.12; Jo 14.26)

A Bíblia não é como uma obra literária secular qualquer; é a Palavra de Deus! E é Deus mesmo que, através do seu Espírito, nos dá a compreensão exata do seu sentido e aplicação. É maravilhoso verificar como a iluminação do Espírito, agindo sobre os que pregam e ensinam a Palavra de Deus, faz com que sejam extraídos de cada texto bíblico tantas mensagens, ensinos e aplicações para a conversão de pessoas e edificação do povo de Deus. “O homem se agita, mas Deus o conduz”. Tão importante quanto ser ensinado pelo Espírito é ser por ele lembrado do que Jesus disse; daquilo que a Bíblia nos ensinou um dia. Ele nos faz lembrar das verdades eternas e assim as compartilhamos, a tempo e a fora de tempo.

1.5 O Espírito age nos humildes (Lc 10.21)

Se alguém se julga autossuficiente, sábio e instruído, se bastando a si próprio; não deixa espaço para o agir do Espírito na sua vida, ministério e pregação: “…porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos.” Conta-se que um jovem pregador subiu ao púlpito para pregar, com a cabeça erguida, entusiasmado, confiante na sua oratória e sermão cuidadosamente preparado. No desenvolvimento da mensagem, percebeu certa frieza no auditório e uma reação bem diferente daquela que esperava. Terminada a mensagem, desceu do púlpito cabisbaixo e frustrado. Foi quando o velho pastor, ao seu lado, lhe sussurrou aos ouvidos: – Se tivesses subido ao púlpito como desceste, terias descido como subiste! A obra não é nossa, mas de Deus, bem como toda a honra e glória pertencem somente a ele. Somos apenas seus cooperadores.

2. Para que, o agir do Espírito Santo?

Encontramos a resposta a essa pergunta nas palavras de Jesus:

2.1 Guiar a toda a verdade (Jo 16.13)

Desde a queda de Adão e Eva, no Éden, a humanidade tem sido desafiada a discernir entre a verdade de Deus e a mentira de Satanás e de seus seguidores. Felizmente, não estamos sós, pois a promessa de Jesus se cumpriu: “quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir.” (Jo 16.13; ver ainda Jo 12.49-50)

2.2 Dar testemunho de Cristo (Jo 15.26; At 1.8)

Jesus é o Filho de Deus, “o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser” (Hb 1.3), o nosso Salvador e Senhor. O Espírito nos foi dado para que pudéssemos testemunhar dele até aos confins da terra: “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim;” (Jo 15.26); “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” (At 1.8). Na primeira pregação da igreja (At 2.14-41), a pregação do Pentecostes, através de Pedro, encontramos os elementos básicos de uma pregação que agrada a Deus: a) Pregador: um pregador cheio do Espírito Santo. b) Mensagem: tem como conteúdo a citação das Escrituras Sagradas e o testemunho de Cristo: encarnado, crucificado, ressuscitado e glorificado. c) Ouvintes: todos os que estavam ao alcance da sua voz, sendo que, quase três mil, movidos pelo Espírito se arrependeram dos seus pecados, foram batizados, receberam o selo do Espírito e foram agregados à igreja.

2.3 Evangelizar, Proclamar Libertação e Curar (Lc 4.18)

“O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para…”. Assim como o Espírito esteve sobre o Senhor Jesus Cristo para a realização da sua missão que incluía evangelização, libertação e cura, foi concedido a nós para darmos continuidade a essa missão. Nós somos a sua boca para falar da parte dele: “Pois o enviado de Deus fala as palavras dele, porque Deus não dá o Espírito por medida.” (Jo 3.34). Nós somos os seus pés para ir por todo o mundo pregando as boas novas de salvação: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,…” (Mt 28.19).

Conclusão:

Que Deus nos ajude a compreender e viver essa unidade orgânica e identidade inconfundível do corpo de Cristo, a Igreja. Que, ao sermos chamados para pregar e testemunhar de Cristo, possamos entender claramente o papel do Espírito Santo e o nosso papel. Que nunca percamos de vista que sem o Espírito de Deus nada somos e nada podemos fazer: Ele nos regenera, habita em nós, produz em nosso caráter o “fruto do Espírito” e nos capacita para a realização da sua obra com os seus dons. “Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente.” (1Co 12.11)

[1] Homilética (bíblica): é a arte de pregar o Evangelho, de como preparar e expor um sermão.

[2] Hermenêutica (bíblica): é a ciência da interpretação do texto bíblico, utilizando um conjunto de regras e/ou preceitos e/ou técnicas.

[3] Exegese (bíblica): do grego exegesis (ex + egese = Tirar de dentro para fora), tem o sentido da investigação e explicação do texto bíblico.

Família e Igreja


Relação entre a família humana e a família da fé

“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus,….” (Mt 6.9)
“Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus,” (Ef 2.19)
“Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé.” (Gl 6.10)

Introdução          

Família é algo tão singular que se manifesta originalmente, de forma misteriosa, na Trindade; se reproduz na esfera dos seres humanos; e, também se expressa, de forma mística, na instituição Igreja: “Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai, de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra,” (Ef 3.14-15).

No sentido humano, não é qualquer agrupamento de pessoas que caracteriza uma família tradicional ou consanguínea, nos moldes instituídos por Deus. Ela começa com uma união (casamento, aliança) heterossexual, pois sem o concurso de um homem e de uma mulher, como se daria a reprodução e consequente preservação da espécie humana?

A própria Constituição Federal, no seu Artigo 226, estabelece a família como base da sociedade:

“§3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. §4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.”

A confissão de Fé de Westminster estabelece (Cap. XXIV):

“I. O casamento deve ser entre um homem e uma mulher; ao homem não é licito ter mais de uma mulher nem à mulher mais de um marido, ao mesmo tempo. (Ref. Gen. 2:24; Mat. 19:4-6; Rom. 7:3).  II. O matrimônio foi ordenado para o mútuo auxílio de marido e mulher, para a propagação da raça humana por uma sucessão legítima e da Igreja por uma semente santa, e para impedir a impureza. (Ref. Gen. 2:18, e 9:1; Mal.2:15; I Cor. 7:2,9).”

É no convívio familiar do lar que se realiza a primeira socialização do ser humano. Além da família desfrutar do abrigo físico da casa, é no exercício dos seus papéis que os pais providenciam o suprimento das necessidades de todos os seus membros, provendo, ainda, para os filhos, proteção e educação para a vida, por meio da transmissão de valores éticos, morais e espirituais: “Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma; atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por frontal entre os olhos. Ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentados em vossa casa, e andando pelo caminho, e deitando-vos, e levantando-vos.” (Dt 11.18-19). Essa é a tarefa primeira e indelegável dos pais ou responsáveis. É certo que a igreja pode e deve contribuir na formação espiritual dos membros da família, bem como as instituições escolares na sua formação geral e profissional para a carreira.

A Trindade Santa nos provê o modelo e referência de pessoas relacionadas, não isoladas, que mantém comunhão e harmonia. Na oração do “Pai Nosso” Jesus estende o conceito de família, ampliando os seus limites, quando nos ensina que há um Pai Celestial comum e todos somos irmãos (Mt 6.9; 23.8). Em outra ocasião ele acrescenta: “Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe.” (Mt 12.50). Nesta mesma linha, o apóstolo Paulo denomina a igreja como a “família da fé” (Gl 6.10) ou “família de Deus” (Ef 2.19).

Desenvolvimento              

Neste estudo, desenvolveremos o tema proposto, identificando e explicitando o que há de comum, ou a relação entre família humana e família da fé – a igreja. Vejamos, então, alguns desses elementos comuns:

1. Constituição (Formação)

Em se tratando de constituição ou formação, família e igreja tem muitos elementos comuns, sendo que mencionaremos apenas alguns:

1.1 Origem divina

A família origina-se na vontade soberana de Deus que percebeu que não era bom para o homem viver só (Gn 2.18; Mt 19.4). A igreja, também, origina-se na vontade soberana de Deus que se dispõe a entrar em aliança com o homem (2Co 5.19).

1.2 Separação efetiva

Tanto para a família quanto para a igreja se requer separação e renúncia. No caso da família é preciso cortar o “cordão umbilical” que nos liga à “placenta familiar”, para permitir a formação de uma nova “placenta familiar”. “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.” (Gn 2.24). Igreja é ECCLESIA (lat.) ou EKKLESIA (gr.). “EK”, que significa “movimento para fora” e “KLESIA”, do verbo KALEO (gr.), chamar. Logo, “ekklesia” é a assembleia dos “chamados para fora” do sistema mundano que aí está, para viverem como filhos de Deus, na casa do Pai Celeste (Mt 10.37; 16.24).

1.3 União com exclusividade

A nova família se consuma na união do casal, pelo casamento: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.” (Gn 2.24); “De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.” (Mt 19.6). Tendo Cristo por cabeça, a igreja constitui-se um só corpo: “Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.” (Ef 4.4-6). A amizade do mundo constitui-se uma quebra dessa união com exclusividade e, consequentemente, provoca a inimizade de Deus (Tg 4.4).

1.4 Declarações e Promessas

Uma nova família se inicia com declarações e promessas feitas entre os cônjuges. Na cerimônia de casamento são feitas declarações de amor e promessas de companheirismo, apoio e cuidado: “– Prometes amá-la(lo), honrá-la(lo), consolá-la(lo) e cuidar dela(e), tanto na saúde como na enfermidade, na prosperidade e na escassez, e te conservares exclusivamente para ela(e)?”; “– SIM PROMETO!” Isso demanda fé e confiança de que a outra parte honrará as promessas feitas.

Em se tratando da igreja, há expressas manifestações de amor e promessas preciosas da parte de Deus que abrangem o tempo presente e o porvir. “Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo por vir, a vida eterna.” (Mc 10.29-30); “..Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.”  (1Co 2.9). Ainda que possamos falhar, ele permanecerá fiel ao que prometeu e disposto a nos restaurar, se arrependidos, confessarmos os nossos pecados: “se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo.” (2Tm 2.13).

1.5 Mudança de vida

Com o casamento e a formação de uma nova família muita coisa tem que mudar na vida dos cônjuges:

a) Nova identidade: além da mudança do estado civil dos cônjuges, normalmente, a nova família passa a ser identificada por um sobrenome comum.

b) Nova agenda: os cônjuges deixam de lado a “vida de solteiro” para dedicarem-se prioritariamente, um ao outro e à família. A declaração de Rute à sua sogra exemplifica bem o tipo de compromisso que deve haver entre marido e esposa no casamento (Rt 1.16-17).

c) Novo compromisso: o compromisso de caminhar juntos, em plena comunhão, sem segredos entre si, provendo o sustento e bem-estar um do outro, dedicando-se totalmente a fazer o outro feliz.

d) Novo sinal externo: o anel (aliança) no dedo anelar esquerdo torna visível, para memória dos pactuantes e para a sociedade, o compromisso assumido: “– Com este anel eu selo a minha aliança contigo, unindo a ti meu coração e minha vida, e te faço participante de todos os meus bens.”

Ao nos tornarmos seguidores de Cristo e membros da sua igreja, muita coisa tem que mudar em nosso estilo de vida:

a) Nova identidade: passamos a ser identificados com um nome comum, derivado do nome daquele a quem seguimos: cristão (At 11.26)

b) Nova agenda: que consiste em buscar, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça (Mt 6.33), deixando para trás a “vida antiga” (2Co 5.17), para nos dedicarmos, prioritariamente, a Deus, à família sanguínea e à igreja, na sua missão.

c) Novo compromisso: o compromisso de caminharmos juntos, em plena comunhão com os irmãos na fé, provendo o sustento da igreja, dedicando-nos totalmente a fazer a vontade de Deus.

d) Novo sinal externo: A pública profissão de fé e o batismo são sinais externos iniciais de uma fé interna. Entretanto, o sinal externo permanente e relevante é o testemunho cristão, para os de dentro e os de fora da igreja. O exemplo de Jesus: “contudo, assim procedo para que o mundo saiba que eu amo o Pai e que faço como o Pai me ordenou.” (Jo 14.31a)

1.6 Celebração da Comunhão

Não há momento mais íntimo do que aquele da família reunida à mesa para a sua refeição cotidiana, trocando olhares e compartilhando suas vivências. No início da igreja os cristãos se reuniam para celebrar a comunhão com a festa do amor (ágape), juntamente com a Ceia do Senhor. Esse segundo rito observado pela igreja – A Ceia do Senhor – será sempre um momento de celebração da Nova Aliança, em memória do Senhor e da sua redenção no Calvário, até que ele volte, e de celebração da comunhão da família da fé.

1.7 Duração

Todo pacto ou aliança estabelece não só os benefícios decorrentes de seu cumprimento, como também as consequências negativas para a parte que não se mantiver fiel. O casamento que dá origem à família é para toda a vida – “Até que a morte os separe”: “Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido (se, porém, ela vier a separar-se, que não se case ou que se reconcilie com seu marido); e que o marido não se aparte de sua mulher.” (1Co 7.10-11). Os membros da família e a sociedade têm colhido frutos amargos devido à quebra da aliança conjugal e consequente desestruturação familiar. A igreja está inserida num pacto ou aliança de Deus com seus remidos de duração eterna: “Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém!” (Hb 13.20-21).

Vale lembrar que a família consanguínea está limitada e restrita a este mundo terreno e transitório: “Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no céu.” (Mt 22.30). Já a família da fé, a igreja militante, transpõe essa dimensão terrena e se transforma na igreja triunfante, no outro lado da eternidade.

2. Reprodução (Crescimento)

“E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.” (Gn 1.28)

Sem reprodução a família humana se extingue na face da terra. Então, pode-se afirmar que esta é a missão primeira e básica da família. É fato que, por uma questão biológica de infertilidade e de esterilidade, nem todo casal consegue cumprir essa missão familiar. Obviamente, há outras razões e motivações que levam um casal a não gerar filhos; não cabe aqui apresentá-las ou discuti-las.

“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;” (Mt 28.19)

Sem reprodução espiritual, sem novos discípulos, a igreja se extingue na face da terra. Então, por analogia, pode-se afirmar que esta é a missão primeira e básica da igreja. É o que se denomina de Evangelismo e Missões. É fato que, por razões diversas, tais como – apostasia, conformismo com o mundo, pecado encoberto, falta de compromisso e empenho com sua missão – uma igreja não cresce ou não cresce, quantitativamente, como deveria.

3. Organização (Funcionamento)

Para uma família funcionar bem, há que ter governança e seus membros precisam desempenhar seus respectivos papéis. A bíblia não se omite e fornece muitos ensinamentos sobre o assunto. O Pr. Ariovaldo Ramos desdobra esses papéis pelos três princípios ou elementos basilares da família: Paternidade, Maternidade e “Filidade”, a saber:

PATERNIDADE (Pai): Provisão, Proteção e Direção.
MATERNIDADE (Mãe): Inspiração, Acolhimento, Consolo e Nutrição.
FILIDADE (Filho): Alinhamento, Obediência e Continuidade.

A sociedade secular pode até ter outra visão sobre o papel do homem e da mulher na liderança da família, o que não é de se estranhar porque ela não está alinhada com os padrões divinos expressos na bíblia: “porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo.” (Ef 5.23). Não importa que pensem que esse princípio bíblico seja machista, retrógrado e ultrapassado.

A paternidade na Família Igreja emerge, espiritualmente, de Deus Pai; e flui, efetivamente, através dos seus líderes. Essa liderança visível da Igreja foi instituída por Deus para exercer as funções de provisão, proteção e direção; através de homens segundo o coração de Deus que, naturalmente, precisam contar com o auxílio indispensável das mulheres.

A maternidade na Família Igreja emerge, espiritualmente, de Deus Espírito Santo; e flui, efetivamente, através do mesmo Espírito, derramado sobre todos os remidos do Senhor, pertencentes à Nova Aliança. Portanto, o Espírito Santo e a Palavra de Deus, além da regeneração e crescimento, produzem inspiração, acolhimento, consolo e nutrição.

A “filidade” na Família Igreja emerge, espiritualmente, através de Deus Filho; e flui, efetivamente, pelos filhos de Deus, membros do corpo de Cristo. Jesus é o nosso exemplo e modelo de “filidade”, isto é, de alinhamento com o propósito e a vontade do Pai, obediência aos valores do Pai e continuidade da missão (1Pe 2.21).

4. Preservação (Sobrevivência)

Por último, vale lembrar que é tarefa dos pais cuidar e zelar, por eles mesmos e pelos filhos, no que diz respeito ao sustento e desenvolvimento intelectual, social e espiritual. Nesse estilo de vida pós-moderno, homem e mulher, precisam ser mais do que pais provedores. Quer pela necessidade de buscar recursos financeiros, quer pelo glamour de uma carreira tentadora, eles podem sonegar o precioso tempo e dedicação, tão necessários ao investimento na família, de modo a preservá-la. Esse estar junto, cuidando e zelando, inclui também o estabelecer limites e exercer a disciplina preventiva e corretiva.

“ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” (Mt 28.20)

Assim como na família dinheiro não é tudo e não há a figura de cliente ou expectador, na igreja, o que se espera é o compromisso e participação de todos. O sacerdócio universal dos crentes não pode ser apenas retórica, um discurso vazio e utópico. A liderança da igreja jamais dará conta sozinha de tudo o que precisa ser feito e não pode descuidar da disciplina preventiva e corretiva (1Co 11.32). Somos um organismo vivo, constituído por muitos membros, sendo cada um chamado a desempenhar a sua função. É o Espírito Santo quem capacita a cada um, mas cabe à liderança espiritual da igreja ser instrumento facilitador para que toda essa engrenagem funcione bem (Ef 4.15-16). E, assim, cada um desempenhando o seu papel, como crente-servo e não como crente-cliente, estaremos contribuindo para a preservação e crescimento da igreja, sustentados, sobretudo, pelo Senhor da Igreja, “até à consumação do século”.

Conclusão:

Que Deus nos ajude a compreender essas semelhanças entre família e igreja, duas instituições que nasceram no coração de Deus. Que, entendendo o papel de cada parte, possamos ser bênção e receber as bênçãos, ao participar de ambas.

A santificação ilustrada

Gostaria de desafiá-los a refletir um pouco sobre alguns personagens bíblicos e verificar como eles ilustram quatro aspectos da santificação:

1. O chamado para a santidade:

Abraão, o patriarca judeu e pai na fé dos judeus e cristãos, passou pela experiência de ser chamado por Deus do meio de um povo pagão e idólatra, para formar um novo povo, o povo de Deus (Gn 12). De certa forma foi um chamado físico e geográfico; sair do meio de um povo (Caldeus) e de uma terra (Ur) para formar outro povo (Israel) em outra terra (Canaã). Como igreja e como cristãos, somos “chamados para fora”[1] do mundanismo, das práticas pecaminosas e de lugares onde acontecem eventos e programações que desagradam a Deus, para fazer parte do povo de Deus, tributando-lhe adoração e servindo-o.

2. O desafio da santidade:

José e Daniel são personagens bíblicos que viveram experiências contrárias, em certo sentido, às de Abraão. Ambos foram retirados à força do meio do povo de Deus para viverem no meio de povos pagãos e idólatras, em outras terras (Egito e Babilônia). Também foi um movimento físico e geográfico, envolvendo uma missão tremendamente desafiadora. Eles foram obrigados a viver em condições completamente desfavoráveis à uma vida de santidade, cumprindo uma missão divina e maior de preservação da vida dos povos e testemunhando a verdade de que só há um Deus vivo e verdadeiro. Como igreja e como cristãos, na maioria das vezes somos desafiados a trabalhar e viver no meio de uma geração perversa, desempenhando o papel preservador de sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-14).

3. A restauração da santidade:

Jacó, Gideão e tantos outros personagens bíblicos servem de exemplo de que mesmo o chamado povo de Deus se contamina com o pecado e precisa confessá-lo e deixá-lo para ser perdoado e poder contar outra vez com a presença, proteção e poder de Deus. Com Jacó percebemos a importância dos pais nesse processo de restauração da santidade na família (Gn 35.1-5). Com Gideão, aprendemos que, a restauração espiritual de uma família e de um povo pode começar por um filho (Jz 6.15-16, 25-27).

4. O desprezo a santidade:

Noé, e tantos outros personagens bíblicos retratam épocas e contextos de povos que viviam à margem da santidade. Pela misericórdia de Deus apenas o remanescente fiel foi preservado, enquanto o juízo divino trouxe a condenação e a destruição de todos os impenitentes. A exemplo do que ocorreu pontualmente, no passado, a maior parte da humanidade caminha a passos largos para o abismo. Apenas o remanescente fiel que se guardar puro será poupado do terrível e derradeiro juízo de Deus que em breve há de se manifestar neste mundo. “Disse-me ainda: Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo. Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se. E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras.” (Ap 22.10-12)

[1] Igreja é ECCLESIA (lat.) ou  EKKLESIA (gr.). “EK”, significa “movimento para fora” e “KLESIA”, do verbo KALEO (gr.), “chamar”. A Septuaginta (100 aC) emprega o termo quando traduz a palavra hebraica “kahal”, que designava a congregação dos israelitas como uma coletividade nacional. Logo, “ekklesia “ é a assembleia dos “chamados para fora” do sistema mundano que aí está, para viverem como filhos de Deus, na casa do Pai Celeste.

Por que participar de uma igreja?

presente-de-deus

Introdução:

Este estudo começa com uma pergunta muito séria e relevante, em face da onda de desigrejados. Não vamos focar, por enquanto, os que abandonaram a igreja e suas motivações. Vamos, sim, neste estudo, procurar fortalecer as convicções e motivações dos que continuam em Cristo e na igreja, e motivá-los para que, se possível, tragam outros para o lugar de comunhão dos salvos; os que ainda não foram alcançados pela salvação em Cristo e, se possível, também, os desigrejados.

Os projetos de Deus são sempre perfeitos, ainda que desenvolvidos por pessoas imperfeitas, como nós:

a) A família sanguínea ou consanguínea é a primeira instituição divina, tendo como propósito a preservação da espécie humana, diante dos desafios da vida terrena!

b) A família da fé, a igreja, é a última instituição divina, tendo como propósito a preservação dos cristãos e da fé, diante dos desafios da vida espiritual! Igreja é ECCLESIA (lat.) ou  EKKLESIA (gr.). “EK”, significa “movimento para fora” e “KLESIA”, do verbo KALEO (gr.), “chamar”. A Septuaginta (100 aC) emprega o termo quando traduz a palavra hebraica “kahal”, que designava a congregação dos israelitas como uma coletividade nacional. Logo, “ekklesia “ é a assembleia dos “chamados para fora” do sistema mundano que aí está, para viverem como filhos de Deus, na casa do Pai Celeste.

Assim como a família de sangue, nos acolhe, protege e sustenta; a igreja, a família da fé, nos acolhe, ampara, alimenta, orienta, investe na consolidação de nossa fé em Cristo e maturidade espiritual. É claro que antes de tudo isso, individualmente somos contemplados pela habitação do Santo Espírito de Deus, que atuando em cada um de nós, nos conduz a uma vida íntima com Deus, através da sua palavra e da oração.

1. Que resposta, a igreja de Atos 2, daria a esta pergunta do título?

Vejamos o depoimento de Lucas sobre essa igreja nascente, no texto de Atos 2.42-44:

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos.   Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum.” (At 2.42-44)

a) O que eles faziam?

“Perseveravam”, que significa: “manter-se firme, persistir, permanecer”. Essa é uma palavra chave para o sucesso, na igreja e fora dela!

Em que eles perseveravam?

  • Na doutrina dos apóstolos – na sua crença.
  • Na comunhão (com Deus – vertical, e com os irmãos – horizontal). – Comunhão com os irmãos é muito mais do que estar sentado ao lado de alguém na celebração da Ceia do Senhor. É cooperação na obra do evangelho, é ajudar o outro, é contribuir em prol dos necessitados, é sofrer com os que sofrem e se alegrar com os que se alegram, é aceitar o outro apesar das nossas diferenças e imperfeições, é buscar a unidade no Espírito etc.
  • No partir do pão – Na celebração da memória do que Cristo fez por nós, até que ele venha.
  • Nas orações comunitárias.

Essas coisas, nas quais eles permaneciam, podem ser consideradas como “meios de graça”. O que são esses “meios de graça”?

É importante não confundir “meios de graça” com “meios de salvação”. Na verdade, existe um só meio de salvação, que é através da obra redentora de Cristo na cruz; mas, existem alguns meios de graça. Quais são eles?

No Breve Catecismo, encontramos o seguinte:

“Pergunta 88: Quais são os meios exteriores e ordinários pelos quais Cristo nos comunica as bênçãos da redenção?

Resposta: Os meios exteriores e ordinários pelos quais Cristo nos comunica as bênçãos da redenção são as suas ordenanças, especialmente a Palavra, os sacramentos e a oração, os quais todos se tornam eficazes aos eleitos para a salvação. Ref.: At 2.41,42; Mt 28.19, 20.”

A Palavra é a Bíblia, pela qual Deus fala conosco; os sacramentos são o Batismo e a Ceia do Senhor; e a oração é aquele momento singular quando nós falamos com Deus. Somente os que participam ativamente de uma igreja local usufruem destas bênçãos!

De certa forma a Bíblia assegura que todas as coisas cooperam ou contribuem para o bem dos remidos do Senhor, inclusive as adversidades (Rm 8.28; Tg 1.2-3).

b) Por que eles faziam?

Porque em cada alma havia temor a Deus!

A igreja é muito mais do que um grupo de pessoas que se reúne num determinado lugar, por tradição, ou porque desejam realizar algumas atividades religiosas ou sociais. A igreja é formada por pessoas que vivem debaixo de um mesmo pacto e formam um só corpo, do qual Jesus Cristo é “a cabeça” e “o cabeça”.  Quando a Bíblia diz que Jesus é “a” cabeça da igreja, está indicando a relação de dependência orgânica que esta tem com ele (Ef 4.15; Cl 1.18; Cl 2.19); quando diz que ele é “o” cabeça, está indicando a relação de autoridade hierárquica dele sobre ela (1Co 11.3, Ef 1.22; 5.23; Cl 2.10). Estes versículos trazem um forte apelo e uma mensagem profunda aos corações dos que fazem parte deste corpo: “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.” (Ef 4.1-6)

c) Qual o resultado disso?

A manifestação poderosa de Deus através de prodígios e sinais; salvando, curando e abençoando vidas.

O chamado que Deus faz a cada um de nós, para formarmos a sua igreja, está sintetizado neste versículo: “Então, designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar.” (Mc 3.14). Em relação a igreja, a ideia é a mesma; precisamos estar ligados a ele e ligados uns aos outros, como igreja, e, assim, frutificar, a exemplo do ensino de Jesus sobre a videira verdadeira em João 15.1-5. O ajuntamento da igreja, no templo ou nas casas, funciona como num “quartel militar”, onde somos fortalecidos e preparados para agir nos campos de batalha fora das quatro paredes. Fomos chamados a deixar nossa zona de conforto e vivermos como luz do mundo e sal da terra.

d) Como eles se preservavam diante dos adversários e das crises?

  • Estavam juntos.
  • Tinham tudo em comum.

Não é fácil manter um organismo ou uma organização, vivos. O segredo disso é revelado aqui: União, Unidade na diversidade (não uniformidade), Cumplicidade, Comprometimento, Coparticipação, Entrega (dons, talentos e recursos) etc.

Mesmo sendo raro, no entanto, parece que o fenômeno dos desigrejados já existia no primeiro século, pois em Hebreus 10, o autor sagrado, após expor uma série de instruções a respeito da perseverança e qualificações daqueles que são firmes no Senhor, no versículo 25 nos diz: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.”

2. Quais as razões para sermos membros ativos de uma igreja local?

“As respostas principais são:

  • Para que mantenhamos o vínculo, pelo qual temos acesa em nós a certeza de pertencimento e salvação do Senhor da Igreja, de quem testificamos em comunidade;
  • Para nos fortalecermos no Senhor e termos empenho em propagar as maravilhas do Evangelho de Cristo;
  • Para sermos equipados como filhos de Deus a tal ponto que sejamos hábeis em reconhecer e denunciar falsos evangelhos e falsos mestres;
  • Para nos tornarmos obreiros de valor e sermos parte integrante daqueles que edificam a Igreja do Senhor nesta terra;
  • Para, de todas as formas que o Senhor nos permitir, glorificarmos o nosso Deus.”[1]

Conclusão:

Vimos razões de sobra que mostram que somos abençoados quando estamos vinculados ao Senhor e somos participantes ativos de uma igreja local. A família sanguínea e a família da fé, a igreja, foram planejadas pelo nosso Deus e Criador para o nosso bem.

Como você foi impactado por este estudo? O que pretende fazer?


[1] EBD – Módulo 5 – Aula 2 – Somos abençoados na igreja – Pr. Joel Theodoro


Nota: esboço pessoal de aula, preparado por mim, para facilitar a ministração da Aula 2 (Somos abençoados na igreja?) – Módulo 5 – EBD Catedral 2016, de modo a atender a temática proposta no material elaborado pelo Pr. Joel Theodoro para os alunos. Foram feitas algumas alterações para divulgação neste blog.

Tempos de Milagres

1Tempos de Milagres

A intervenção de Deus na história humana é contínua, mas não é linear; é pontual, oportuna, necessária e impactante, ocorrendo mais intensamente em épocas específicas. É comparável ao pulsar vivificador de Deus na história humana.

No dizer de Philip Schaff, “Há uma tríplice revelação de Deus:

1- A revelação interna da razão e da consciência, em cada indivíduo (Rm 2.15; Jo 1.9);

2- Há uma revelação externa, na criação, a qual proclama o poder, a sabedoria e a bondade de Deus (Rm 1.20; Sl 19);

3- Há uma revelação especial, através das Santas Escrituras, como também na pessoa e na obra de Cristo, que confirma e completa as outras duas revelações, exibindo a justiça, a santidade e o amor de Deus”.

Milagres, intervenções e revelações são manifestações sobrenaturais de Deus. Se acontece todo o dia, reduz seu impacto, como no caso da revelação externa, através da natureza, por exemplo. O sol nasce diariamente, o oxigênio se renova, as chuvas regam a terra, os rios nascem nos lugares mais imprevisíveis levando vida por onde passam, e nada disso nos surpreende. E o que dizer do milagre da renovação da vida humana? Um espermatozoide fecunda um óvulo. Essa minúscula substância informe se desenvolve, sem qualquer intervenção humana, orientado por um código genético, dando origem a um ser complexo, que pode alcançar mais de 2 metros, com todos os seus sistemas, células e tecidos os mais variados, pele, cartilagem, ossos, líquidos etc. Olhos que enxergam em 3 dimensões e em cores. Um cérebro capaz de produzir coisas inimagináveis. Entretanto, quem se surpreende com esses milagres tão extraordinários?

No desenvolvimento da história bíblica, podem ser facilmente identificados três períodos de grande intervenção divina. Cada um desses períodos durou menos de um século e foi marcado por milagres, que são acontecimentos que não têm uma explicação natural. São eles:

– Quando da formação da nação de Israel, sob Moisés e Josué.

– Quando o culto a Baal ameaçava destruir toda a adoração a Deus, sob Elias e Eliseu.

– Quando do estabelecimento da igreja, sob Cristo e os apóstolos (predominantemente).

Considerando os principais milagres registrados na Bíblia, chegamos à seguinte estatística:

2Tempos de Milagres

                                                             (Boyer, O. S.  – Pequena Enciclopédia Bíblica)

Depois da maior e mais intensa manifestação de Deus, da mais intensa luz da revelação divina, em Jesus, o registro bíblico traz indicações de um provável desvanecimento ainda na era apostólica. Em cerca de 54-57dC, há o registro surpreendente: “E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres extraordinários, a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais do seu uso pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam das suas vítimas, e os espíritos malignos se retiravam.” (At 19.11-12). Cerca de dez anos mais tarde, 64-67dC, encontramos outros registros igualmente surpreendentes, nos seguintes escritos do mesmo apóstolo Paulo a Timóteo: “Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades.” (1Tm 5.23 – 64dC); “Erasto ficou em Corinto. Quanto a Trófimo, deixei-o doente em Mileto.” (2Tm 4.20 – 67dC).

O desvanecimento continua, ao ponto da história registrar um extenso período conhecido como “Idade das Trevas” que coincide com a Idade Média, período compreendido entre a deposição do último soberano do Império Romano do Ocidente, Rômulo Augusto (476, século 5), até a conquista da cidade de Constantinopla, pelos turcos (1453, século 15), pondo fim ao Império Bizantino. Um período de inúmeras invasões territoriais, frequentes guerras e ampla intervenção da Igreja, mas pobre de grandes manifestações de Deus.

No contexto da Reforma (séculos 14 a 16), quando o afastamento da igreja oficial também ameaçava destruir o verdadeiro culto a Deus, aparecem em cena homens enviados por Deus como: João Wyclif (1324-84), Martinho Lutero (1483-1546), João Calvino (1509-64) e João Knox (1515-72).

Passados dois séculos, mais uma vez Deus vem em socorro da sua igreja. Nos séculos 18 e 19, marcados por grandes avivamentos e expansão missionária destacam-se: Jônatas Edwards (1703-58), João Wesley (1703-91), Guilherme Carey (1761-1834), Carlos Finney (1792-1875), Jorge Müller (1805-98), Davi Livingstone (1813-73), Hudson Taylor (1832-1905); Carlos Spurgeon (1834-92) e Dwight L. Moody (1837-99).

O século 20 foi marcado pelo Movimento Pentecostal, que é visto com certa desconfiança pelos cristãos das igrejas históricas e tradicionais. Na prática, isso produziu uma macro divisão na igreja, entre pentecostais e não pentecostais. No Brasil, pentecostal é o segmento que congrega a maioria dos protestantes, segundo o Censo do IBGE (2010). O desenvolvimento deste movimento é classificado em três ondas. A primeira onda teve início em dois eventos, em 1901 e 1906, este último conhecido como o Avivamento da rua Azusa, nos Estados Unidos, noticiando-se a ocorrência de fenômenos como batismo com o Espírito Santo e o falar em línguas. Daí procurou-se associar tais eventos aos ocorridos no Pentecostes de Atos 2. A segunda onda, ocorrida por volta do ano de 1960, recebeu o nome de Renovação Carismática. Havia muita ênfase nas manifestações sobrenaturais, principalmente nos dons de línguas e cura divina. Muitas igrejas de denominações tradicionais, como metodistas, batistas, presbiterianas, luteranas e congregacionais  foram afetadas por esse movimento de “renovação espiritual”, ocorrendo muitas divisões, com saída de grupos para organizarem novas igrejas. Algumas igrejas como Maranata, Nova Vida, dentre outras, surgiram nesta época. O movimento também alcançou a Igreja Católica Romana, dando origem aos Católicos Carismáticos. Interessante é o relato de católicos carismáticos, naquela ocasião, dizendo que após terem sido batizados com o Espírito Santo passaram a se devotar com muito mais ardor à virgem Maria. A terceira onda ou Neopentecostalismo surgiu cerca de duas décadas depois (1977), com pessoas oriundas das igrejas pentecostais, das carismáticas e, também, das tradicionais. No Brasil, a maior e mais representativa igreja dessa corrente é a Igreja Universal do Reino de Deus, seguida pela Igreja Internacional da Graça de Deus, a Igreja Renascer em Cristo, a Igreja Mundial do Poder de Deus, dentre outras. O neopentecostalismo, além de manter as ênfases do movimento pentecostal, supervaloriza e enfatiza a operação de maravilhas e curas; a busca da prosperidade como sinal da aprovação divina; “objetos ungidos” e rituais. Até que ponto todos esses fenômenos vivenciados e noticiados pelo segmento pentecostal e neopentecostal do século 20 podem ser consideradas legítimas manifestações divinas? Pentecostais e não pentecostais têm suas próprias visões sobre assunto. Entretanto, acima de tudo, vale ressaltar a importância de se preservar o amor cristão, o respeito e a tolerância, mútuos!

Enfim, após toda essa abordagem no tempo, fica aqui demonstrado o que foi dito no início deste artigo: A intervenção de Deus na história humana é contínua, mas não é linear; é pontual, oportuna, necessária e impactante, ocorrendo mais intensamente em épocas específicas.

Cremos num Deus que continua a manifestar-se no meio da Igreja, quando e como ele quer. “É tão temerário dizer que Deus nada mais opera, quase limitando o poder de Deus, quanto dizer que ele tudo opera, quase limitando a soberania de Deus.” Cremos que Jesus Cristo, o Filho de Deus é a maior manifestação da revelação de Deus à humanidade. Cremos que a Bíblia é a maior fonte de revelação escrita de Deus ao seu povo e precisa ser estudada e praticada.

Cremos que Deus nos chamou para viver num mundo natural e que o sobrenatural de Deus virá ao nosso encontro, sempre que necessário, na medida da nossa fé, subordinado à vontade de Deus e para cumprir um fim proveitoso que, acima de tudo, glorifique a Deus. Para aqueles que somente se impressionam com sinais e prodígios, tomando posse de uma promessa que Jesus fez diretamente aos onze: “Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados.” (Mc 16.18), recomendamos que considerem essa outra fala de Jesus: “Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram.” (Jo 20.29). Já em tom de despedida, Jesus declarou em certa ocasião: “Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai.” (Jo 14.12). É difícil imaginar alguém operando sinais e prodígios maiores do que os de Jesus. Enquanto uns colocam tanto foco nas manifestações sobrenaturais, muitas vezes com vida pessoal e conduta reprováveis, queremos nos alinhar àqueles que celebram, juntamente com os anjos no céu, outro verdadeiro milagre: pecadores arrependidos e transformados pelo poder do Evangelho, vivendo uma nova vida.  

Finalmente, não podemos deixar de manifestar nossa tristeza e repulsa aos que, se dizendo cristãos evangélicos, são mercadores da fé, distorcem e exploram os dons espirituais, fabricam e propagam falsos milagres, iludindo e enganando os neófitos e rasos na fé cristã (2Co 2.17). Cremos em “Tempos” de Milagres e não em “Templos” de Milagres. Verdadeiramente não podemos ser ignorantes quanto à operação e mover do Espírito Santo, nem aos princípios básicos da fé cristã. É preciso conhecer bem e praticar a Palavra de Deus, não se deixando levar por ventos de doutrinas e modismos de última hora. Jesus nos deixou advertência explícita quanto a esse tipo de gente: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.” (Mt 7.21-23).

Pastores e Estrelas

Pastores e Estrelas

Os seres humanos têm alguns comportamentos interessantes. Um deles é o exibicionismo, aquela necessidade de se mostrar para os outros. Acho que todos têm um pouco disso, uns mais, outros menos. Isso se manifesta das formas mais variadas possíveis e você sabe muito bem como é, ou como isso acontece. Pode ser aquele sobrenome diferenciado, imponente, ou o bairro nobre onde mora. Pode ser aquela faculdade de renome, os títulos que possui ou os idiomas que fala. Pode ser aquele parente importante que tem, ou aquele vestuário de grife. Podem ser aquelas viagens internacionais ou aquele carrão, no qual desfila. Pode ser o luxo da festa de 15 anos da filha ou do casamento ou das bodas e, até mesmo, o cemitério e jazigo onde a família sepulta seus mortos. Enfim, pode ser tanta coisa… E, onde isso acontece? Antigamente era no mundo real, mas hoje, com a tecnologia disponível, até virtualmente, nas redes sociais e aplicativos. Aliás, antes de postar alguma coisa no facebook deveríamos nos fazer as seguintes perguntas: 1) Isso vai glorificar a Deus? 2) Isso é útil e vai abençoar as pessoas? 3) Estou apenas expressando aqui o meu contentamento ou estou querendo me exibir? “Desvia os meus olhos, para que não vejam a vaidade, e vivifica-me no teu caminho.” (Sl 119.37)

Alguém já te fez aquelas solenes perguntas: De que igreja você é? Quem é o teu pastor? Pois é, para se sair bem nessas horas, tem gente que faz questão de fazer parte de uma igreja com templo majestoso, com pastor famoso. Tudo isso tem a mesma origem: a necessidade de ser visto pelo outro como alguém muito importante, especial.

Não há nenhum mal em buscar o melhor para as nossas vidas, porém não podemos perder de vista aquilo que realmente tem valor, agora e eternamente. Não devemos nos encantar apenas com aquelas coisas que impactam a visão, mas, principalmente, com as que trazem significado profundo à existência.

Como Jesus reagiu ao que era o motivo de orgulho dos judeus, o Templo de Jerusalém? “Tendo Jesus saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos para lhe mostrar as construções do templo. Ele, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada.” (Mt 24.1-2). Certamente não foi com o mesmo entusiasmo dos discípulos. Muitos, ainda hoje, não entenderam o que o Filho e o Pai pensam sobre templos bonitos: “Entretanto, não habita o Altíssimo em casas feitas por mãos humanas; como diz o profeta: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés; que casa me edificareis, diz o Senhor, ou qual é o lugar do meu repouso? Não foi, porventura, a minha mão que fez todas estas coisas?” (At 7.48-50). Os discípulos estavam diante do Deus encarnado que “tabernaculou” (habitou) entre eles (Jo 1.14), varão aprovado por Deus diante deles com milagres, prodígios e sinais (At 2.22) e estavam tão impressionados com construções humanas. Poucos entendem que nesse tempo da Graça, nós é que somos templo de Deus (Jo 14.23), morada do Espírito Santo (Jo 14.17), ou conforme disse o apóstolo Paulo: “logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim;” (Gl 2.20a).

E, o que dizer de Pastores e Estrelas?

 1. Os pastores de Belém e a Estrela

Quando você leu o título, talvez tenha vindo, imediatamente, à sua mente a história do nascimento de Jesus. A narrativa bíblica fala de uma estrela diferente que brilhou no céu e de pastores no campo. O curioso disso é que, segundo essas narrativas, os pastores de Belém nada têm a ver com essa estrela! Se você prestar bastante atenção verá que: a) Essa estrela diferente é citada apenas por Mateus (quatro vezes), servindo de guia para conduzir os magos do oriente até Jesus (Mt 2.1-12). Esses magos eram estudiosos dos astros. b) Já os pastores de Belém foram citados apenas por Lucas (Lc 2.8-20). Em parte alguma da narrativa bíblica é mencionado que esses pastores viram ou foram guiados ao menino nascido, por essa estrela. Os anjos lhes anunciaram o nascimento de Jesus e lhes deram todas as dicas de como encontrá-lo. c) Ambos os grupos, magos e pastores, foram até Jesus (a verdadeira Estrela) e o encontraram.

Vamos refletir um pouco sobre Estrela.

a) Por definição, estrela é um astro que tem luz própria. O apóstolo Paulo, escrevendo sobre o corpo ressurreto, ilustra a diferença de esplendor, assim: “Uma é a glória do sol, outra, a glória da lua, e outra, a das estrelas; porque até entre estrela e estrela há diferenças de esplendor.” (1Co 15.41). É claro que a lua não é uma estrela, pois reflete a luz do sol.

b) Estrelas e astros não devem ser adorados, como muitos povos faziam, pois não são deuses, mas criação do único Deus vivo e verdadeiro: “Guarda-te não levantes os olhos para os céus e, vendo o sol, a lua e as estrelas, a saber, todo o exército dos céus, sejas seduzido a inclinar-te perante eles e dês culto àqueles, coisas que o SENHOR, teu Deus, repartiu a todos os povos debaixo de todos os céus.” (Dt 4.19)

c) Na simbologia bíblica, estrela pode ser interpretada como:

  • Sinal ou aviso, como a estrela vista pelos magos (Mt 2.1-12).
  • As doze tribos de Israel (Ap 12.1).
  • Pessoas importantes, como os onze irmãos, no sonho de José (Gn 37.9).
  • Pessoas sábias, iluminadas: “Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e eternamente.” (Dn 12.3).
  • Uma referência aos anjos caídos na rebelião de Lúcifer (Ap 12.4, 9). Por extensão, os falsos líderes que agem na mesma linha (Jd 13).
  • Uma referência a Jesus Cristo, o Messias prometido: “Vê-lo-ei, mas não agora; contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro que ferirá as têmporas de Moabe e destruirá todos os filhos de Sete.” (Nm 24.17)

d) Estrela da alva ou da manhã:

  • Uma referência a Vênus, o segundo planeta do Sistema Solar, a partir do Sol. Depois da Lua, é o objeto mais brilhante do céu noturno. Como Vênus se encontra mais próximo do Sol do que a Terra, ele pode ser visto aproximadamente na mesma direção do Sol. Vênus atinge seu brilho máximo algumas horas antes da alvorada ou depois do ocaso, sendo por isso conhecido como a estrela da manhã (Estrela d’Alva) ou estrela da tarde (Vésper) (Wikipédia).
  • Uma referência a Satanás, o “luminoso”: “Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.” (Is 14.12-14). Endossada por Cristo: “Mas ele lhes disse: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago.” (Lc 10.18; ver tb Ap 20.3 e 1Tm 3.6). E, como diz Paulo: “E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz.” (2Co 11.14).
  • Uma referência a Jesus, a brilhante Estrela, com “E” maiúsculo: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas. Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã.” (Ap 22.16).
  • Uma dádiva de Jesus “ao vencedor”, referindo-se, talvez, a poder real ou autoridade: “assim como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã.” (Ap 2.28).
  • Uma referência aos vários estágios de luz da revelação divina: “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração,” (2Pe 1.19). As profecias do Antigo Testamento simbolizando a candeia; o cumprimento da profecias na primeira vinda de Cristo, simbolizando a estrela da alva; por fim, a segunda vinda de Cristo, nosso Sol da Justiça (Ml 4.2), trazendo toda a claridade.

Retornando aos pastores de Belém (Lc 2.8-20), temos de admitir que algumas coisas nos impressionam na narrativa:

1ª) O fato de Deus ter se importado com aqueles humildes e simples pastores, homens do campo, enviando-lhes o seu anjo (acompanhado de uma multidão da milícia celestial) para anunciar o nascimento do Deus homem, do Salvador, do Bom Pastor (Jo 10.11), do Supremo Pastor (1Pe 5.4), do descendente de Davi (Mt 1.1) o pastor de ovelhas que se tornou o pastor de Israel; na cidade de Davi.

2ª) O fato desses pastores terem ido, apressadamente a Belém, para terem um encontro com aquele que é o Pastor dos pastores.

3ª) O fato desses pastores, depois do encontro com Jesus, proclamarem a todos a revelação que receberam a respeito de Jesus.

4ª) O fato desses pastores glorificarem e louvarem a Deus pelo que ouviram e viram de Jesus.

Que belo exemplo para todos aqueles líderes de igreja, pastores e presbíteros, seguirem!!! Centralidade total em Jesus! Satisfação completa em Jesus!

2. Estrelas na mão direita de Jesus

7 estrelas

 “Tinha na mão direita sete estrelas, e da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes. O seu rosto brilhava como o sol na sua força.” (Ap 1.16)

“Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita e aos sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas.” (Ap 1.20)

A primeira grande revelação do Apocalipse refere-se à visão que João teve do Senhor, ressurreto, no meio dos sete candeeiros de ouro, isto é, as sete igrejas da Ásia Menor, interpretação essa declarada no próprio texto. A igreja sofredora carecia de uma nova visão do Senhor, uma esplendorosa visão do Jesus Glorificado, para seu alento. Na visão tudo tem significado. Os elementos vistos e a posição de Jesus transmitem a mensagem de um Jesus presente, soberano, governante e protetor da sua igreja. A descrição do “Filho do Homem” e suas vestes, entretecem uma imagem de inigualável resplendor e majestade que deveria causar nos leitores uma sensação de confiança e segurança, restaurando-lhes a esperança e encorajando-os na luta pela causa da fé.

Entre as interpretações sugeridas pelos comentaristas bíblicos para essas “sete estrelas” ou “sete anjos” na mão direita de Jesus, citamos duas:

1ª) É uma referência a anjos literais. A palavra grega (aggeloi), traduzida por anjos, ocorre, pelo menos, 23 vezes no Novo Testamento. Em todas as outras 22 ocorrências fica claro tratar-se de referências literais a seres angelicais, por que aqui seria diferente? Assim como na Bíblia há a ideia de anjos guardando crianças (Mt 18.10) e outras pessoas (Sl 91.11; At 12.15); anjos e arcanjos guardando nações (Dn 12.1); não seria um absurdo considerar anjos guardiões de igrejas locais, aqui figuradamente citados.

2ª) É uma referência a pastores, líderes das referidas igrejas locais. Afinal, não faria sentido o apóstolo João ser orientado a escrever cartas para anjos literais.

Vale ressaltar que naquela ocasião, ainda não existia a figura de pastor de igreja, como temos hoje. Cada igreja local era liderada por presbíteros. Temos que tomar cuidado com teologia reversa. Mas, admitamos, por hipótese, que a referência seja a pastores de igreja. Então, consideremos esses pastores, não como estrelas, astros que têm luz própria, mas autoridades constituídas para pastorearem igrejas locais. Assim, podemos identificar através da visão que, na perspectiva divina, o lugar de um pastor é na mão direita de Jesus. Certamente, isso fala de um lugar de honra, mas também de dependência e submissão ao Senhorio de Cristo. Ele não está livre e solto para fazer o que quer!

 3. Pastores-estrela

Concluindo esta abordagem, sem perder de vista as colocações iniciais sobre exibicionismo, na minha singela opinião, considero que nenhuma igreja local deveria se encantar com Pastores-estrela. Pastores-estrela são aqueles líderes de igreja famosos que querem brilhar mais do que Jesus, que querem ter luz própria. Apresento, a seguir, pelo menos sete razões para isso:

1ª) Eles apascentam a si mesmos e não as ovelhas do Senhor.

2ª) Eles estão mais interessados nos seus projetos pessoais, do que nos projetos de Deus para a igreja.

3ª) Eles custam muito caro para a igreja, quer pelas elevadas côngruas ou remunerações que recebem, quer pelos recursos que demandam e drenam da organização (humanos, materiais e financeiros).

4ª) Eles não têm tempo para pastorear o rebanho, para estar junto com as ovelhas, pois sua agenda de compromissos externos à igreja é imensa.

5ª) O foco deles não é pastorear ovelhas, cuidar delas, mas se apresentar em público.

6ª) Eles não têm cheiro de ovelha, mas podem até ter cheiro de enxofre, quando intentam subtrair a Glória que somente a Deus é devida.

7ª) Eles podem até manter a igreja cheia de gente e de religiosidade, mas zelar pela santidade dos membros não é o forte deles.

Finalmente, vale ressaltar:

– Jesus é o nosso Verdadeiro e Supremo Pastor. Não perca Jesus na caminhada! Somente ele é “O” Cabeça (relação hierárquica) e “A” Cabeça (relação de dependência) da Igreja!

– Não se anule, idolatrando líderes eclesiásticos. Idolatria é pecado! O Espírito Santo foi derramado sobre toda a igreja, distribuindo dons aos remidos do Senhor. Líderes e liderados, todos somos membros e parte do Corpo de Cristo – a Igreja.

– Além de ser parte do Corpo de Cristo, a igreja local também é uma instituição, com CNPJ, Estatutos etc. Como tal, requer de todos nós respeito e obediência às autoridades ali legalmente instituídas.

– Precisamos sim, de pastores de almas, vocacionados, chamados e capacitados por Deus para tão nobre missão: apascentar as ovelhas do Senhor Jesus Cristo.

“Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram. Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.” (Hb 13.7, 17)

Governo Eclesiástico

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(Última atualização: 20/03/2021)

O pastoreio da igreja na atualidade

pastoreio atual

Nos últimos três artigos e no atual, estamos tratando da seguinte temática e tópicos:

Pastoreando o Rebanho de Deus (1Pe 5.1-4).

Parte 1: A paridade entre apóstolos e presbíteros (1Pe 5.1)

Parte 2: O jeito errado e o certo de pastorear (1Pe 5.2-3)

Parte 3: A recompensa do bom pastoreio (1Pe 5.4)

Parte 4: O pastoreio da igreja na atualidade

Nos três primeiros artigos trouxemos a visão da igreja primitiva ou neotestamentária sobre o assunto, tomando por base a Primeira Epístola de Pedro, conforme o texto mencionado. Neste quarto artigo, faremos uma ponte daquele tempo inicial para o tempo atual. Abra a sua mente e coração para refletir mais profundamente sobre a visão bíblica quanto ao pastoreio do rebanho de Deus, a sua igreja militante.


Parte 4: O pastoreio da igreja na atualidade

Os termos usados

Ao fazermos a ponte entre os primeiros tempos da igreja e a época atual, vamos começar apresentando os nomes dados a esses líderes da igreja que sucederam os apóstolos. Todos os nomes se aplicam ao mesmo tipo de oficial e líder da igreja, sendo que cada um destaca e ressalta um aspecto peculiar da pessoa ou do ofício.

i. PRESBÍTERO ou ANCIÃO (At 11.30 – 1ª vez)

Termo de Dignidade: sugere Maturidade e Experiência
Homem maduro, experimentado, criterioso e respeitado que dá sábios conselhos para orientação dos membros da igreja.

ii. BISPO (“episkopos”, grego) (At 20.28; Fp 1.1)

Termo de Superintendência: sugere Direção
Homem diligente que preside os trabalhos, as reuniões, organiza e supervisiona tudo

iii. PASTOR

Termo de Ternura: sugere Cuidado
Homem zeloso que apascenta o rebanho de Deus, preparando-lhe pastagens verdejantes (mensagens espirituais e práticas vitais) e guiando-o às águas tranquilas, isto é, proporcionando-lhe um ambiente espiritual, agradável e alegre.

Tais termos frequentemente aparecem no plural, fazendo referência à liderança plural de cada igreja local.

Ofício e Dom

Em segundo lugar é importante reafirmar que este ofício de Presbítero ou Ancião ou Bispo ou Pastor (1Pe 5.2) é diferente do Dom de Pastor (Ef 4.11).

O significado de ofício é o mesmo de profissão, ou seja, “Profissão é um trabalho ou atividade especializada dentro da sociedade, geralmente exercida por um profissional. Algumas atividades requerem estudos extensivos e a masterização de um dado conhecimento, tais como advocacia, biomedicina ou engenharia, por exemplo. Outras dependem de habilidades práticas e requerem apenas formação básica (ensino fundamental ou médio), como as profissões de faxineiro, ajudante, jardineiro. No sentido mais amplo da palavra, o conceito de profissão tem a ver com ocupação, ou seja, que atividade produtiva o indivíduo desempenha perante a sociedade onde está inserido.” (Wikipédia)

Já o significado de dom pode ser expresso na sociedade como aquela capacitação ou talento natural; e, na igreja, como aquela capacitação ou habilidade especial concedida pelo Espírito Santo, “… com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo,” (Ef 4.12). O que o apóstolo Paulo menciona em Efésios são os cinco dons ministeriais, dons que concedem capacitação sobrenatural para o exercício dos ministérios: Apóstolo / Profeta / Evangelista / Pastor / Mestre.

As etapas do planejamento divino

O que Deus planejou para a liderança e governo da sua igreja?

Tudo começou com o “Seminário de Jesus” treinando e preparando os apóstolos para a era da igreja. Se considerarmos 10h/dia, 365 dias/ano e 3 anos teremos uma carga horária de 10.950h/aula. Se considerarmos um curso de teologia de 4h/dia, 20 dias/mês, 9 meses/ano e 5 anos teremos 3.600h/aula. Portanto, o “Seminário de Jesus” teve a carga horária mais do que o triplo de um curso de teologia convencional. Os apóstolos foram treinados pelo Mestre dos mestres, com aulas teóricas e práticas insuperáveis.

Na segunda fase do planejamento divino, tudo isso foi potencializado no Pentecostes, com a unção e capacitação dos apóstolos e dos primeiros discípulos pelo Espírito Santo. Também o apóstolo Paulo foi chamado e designado por Deus para fortalecer o grupo.

Na terceira fase, a liderança da igreja foi assumida apenas por presbíteros, eleitos em cada igreja local, sempre no plural (At 14.23). Os primeiros foram instruídos, pessoalmente, pelos apóstolos, e pelas cartas doutrinárias ou epístolas que percorriam as igrejas, pois as Escrituras do NT ainda estavam sendo escritas.

As características das igrejas locais do primeiro século

A simples leitura do NT nos mostra que tais igrejas locais:

i. Se reuniam com simplicidade nos espaços e locais onde pudessem ser acomodados, até mesmo nas casas (Rm 16.5; 1Co 16.19; Cl 4.15; Fm 1.2).

ii. Naturalmente começaram com poucos membros e foram crescendo dia após dia.

iii. Tinham governo próprio e independente, porém com o compromisso de manter a doutrina: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.” (At 2.42)

iv. Também estavam comprometidas com evangelismo, missões e ação social.

Os desafios das igrejas locais de ontem, de hoje e de sempre

Enquanto o número de membros é pequeno, a organização e governo da igreja local é mais simples. Na medida em que o grupo local cresce, dois caminhos podem ser trilhados. O primeiro é o de dividir o grupo, formando novas igrejas locais, o que possibilitará manter a simplicidade de organização e governo. O desafio desse caminho é encontrar um novo espaço e convencer parte do grupo a migrar para a nova igreja local. O segundo caminho é manter todo o grupo junto e partir para um novo espaço, capaz de acomodar o grupo atual e com folga suficiente para acomodar muitos outros membros, no caso do espaço atual não poder ser ampliado. O desafio desse segundo caminho passa a ser organização, administração e governo de uma igreja tão numerosa. Para dar conta de tudo isso, é preciso criar uma estrutura de pessoal para cuidar das questões administrativas e atividades meio da igreja. Por outro lado, é preciso estabelecer uma estrutura de pessoal para orientar e liderar a atividade fim da igreja.

Na história da igreja, ambos os caminhos ou modelos têm sido trilhados ou adotados. Isso tem gerado dois grandes e permanentes desafios para a Igreja de Cristo, a saber:

  1. Manter as igrejas locais no trilho da sã doutrina bíblica, considerando a multiplicidade de igrejas locais e de líderes.
  2. Manter uma estrutura de pessoal e liderança que dê conta de todas as demandas “materiais” e “espirituais” de uma igreja local mais numerosa.

O que parecia tão simples: um só Deus e Pai; um só Mediador e Salvador, Jesus Cristo; um só Espírito Santo, unindo, ungindo e capacitando todos os remidos; uma única igreja, a de Cristo; com um só livro, a Bíblia, Única Regra Infalível de fé e prática; sim, o que parecia tão simples tem se tornado um grande desafio de unidade.

Entendo que, por conta disso e com a vontade permissiva de Deus, surgiram as denominações, tentando, cada uma, estabelecer sua solução para esses dois grandes desafios. Cada uma, então, apresenta a sua própria visão doutrinária da Bíblia e sua forma de governo (episcopal, presbiteriano ou congregacional).

As pequenas igrejas não teriam dificuldade para manter o modelo de liderança da igreja primitiva, através de presbíteros. Aliás, no mundo inteiro, ainda hoje existem muitas igrejas locais que seguem esse modelo, isto é, são lideradas por presbíteros e não têm a figura de um pastor como oficial líder. Certamente esses líderes deveriam ter o preparo necessário para o exercício do ofício, ou seja, atender as qualificações neotestamentárias estabelecidas. Entretanto, parece que já no segundo século da igreja surgiu a necessidade de líderes de igrejas locais que dedicassem mais tempo ao ministério eclesiástico. Afinal, os presbíteros tinham suas famílias e suas obrigações de trabalho secular para sustenta-las. É, assim, que surgem os pastores das igrejas locais para assumirem maior responsabilidade de liderança, compartilhando o governo da igreja com os presbíteros, dependendo da forma de governo adotada. É interessante verificar a defesa de Paulo a favor do sustento dos que vivem para o evangelho (1Co 9.1-14).

Finalmente, concluímos estes quatro artigos dizendo que Pastorear o Rebanho de Deus” é simples assim! É preciso ter muito cuidado com a perigosa TEOLOGIA REVERSA; aquela que parte do HOJE para a BÍBLIA, isto é, estabelece hoje algumas linhas de pensamento, conceitos, estruturas e doutrinas, muitas vezes copiando e acompanhando a sociedade secular, o mundo, e, então, tentam construir algum respaldo bíblico para isso, normalmente bizarro e fora do contexto. Os defensores da TEOLOGIA LIBERAL se encaixam nesta mesma linha de ação. Por outro lado, o que apresentamos aqui e o que defendemos é a TEOLOGIA DIRETA, onde procuramos partir da Bíblia para estabelecer o que fazer e como fazer HOJE. Se, por conta disso, os liberais quiserem nos taxar de fundamentalistas, fiquem à vontade. O que mais nos importa é viver e “defender” as Sagradas Escrituras!


 Leia nos artigos anteriores:

Parte 1: A paridade entre apóstolos e presbíteros (1Pe 5.1)

Parte 2: O jeito errado e o certo de pastorear (1Pe 5.2-3)

Parte 3: A recompensa do bom pastoreio (1Pe 5.4)