SALMOS – Visão Panorâmica

Introdução

“Eu também te louvo com a lira, celebro a tua verdade, ó meu Deus; cantar-te-ei salmos na harpa, ó Santo de Israel.” (Sl 71.22)
“Louvem o nome do SENHOR, porque só o seu nome é excelso; a sua majestade é acima da terra e do céu.” (Sl 148.13)

Muito nos enche de alegria o privilégio de ter acesso a um livro tão especial como a Bíblia Sagrada. Na amplitude do seu conteúdo, abrange o início e descortina o desfecho de todas as coisas. Na diversidade literária do seu conteúdo, nos fornece narrativas históricas, leis e regras de convivência, ensinos e instruções, princípios e valores para a vida. Como recheio mais do que especial nos presenteia e enriquece com os cinco livros poéticos – Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão. É a nossa única e infalível regra de fé e prática!

O livro de Salmos contém 150 capítulos e é uma coleção de poemas e cânticos inspirados por Deus, que expressam a fé, a esperança, o louvor, a súplica e a adoração do povo de Israel. Os Salmos são o hinário nacional de Israel.

Os Salmos são predominantemente poéticos e líricos, utilizando metáforas, simbolismos e ritmos para expressar uma ampla gama de emoções e experiências humanas. Encontramos neles a vida do cristão retratada em experiências de júbilo e tristeza, vitória e fracasso.

1. TÍTULO e AUTORIA

“A palavra ‘Salmos` tem origem no grego antigo, onde é transliterada como ‘psalmoi` (ψαλμοί). O termo grego por sua vez deriva do verbo ‘psallo` (ψάλλω), que significa ‘tocar uma corda` ou ‘tocar música`. Os Salmos são um conjunto de poemas e cânticos religiosos que fazem parte do Antigo Testamento da Bíblia. No hebraico, são chamados de ‘Tehillim` (תהילים), que também significa ‘louvores` ou ‘cânticos de louvor`.”

Os Salmos foram escritos por vários autores, sendo o mais conhecido o rei Davi, que compôs quase a metade deles. Outros autores são Moisés, Asafe, os filhos de Coré (ou Corá), Salomão, Etã e Hemã. Há cinquenta Salmos cuja autoria é desconhecida. A síntese da autoria, conforme os títulos dos vários Salmos, é a seguinte:

QUANT%AUTORIASALMOS
7348,6Rei Davi3-9, 11-32, 34-41, 51-65, 68-70, 86, 101, 103, 108-110, 122, 124, 131, 133, 138-145
5033,3Desconhecida1, 2, 10, 33, 43, 66, 67, 71, 91-100, 102, 104-107, 111-121, 123, 125, 126, 128-130, 132, 134-137, 146-150
128,0Asafe (levita, líder na música50, 73-83
106,7Filhos de Coré (ou Corá)42, 44-49, 84, 85, 87
021,3Rei Salomão72, 127
010,7Hemã88
010,7Etã89
010,7Moisés90
150100TOTAL 

2. DATA

O Livro de Salmos abrange um período de vários séculos (cerca de 1000 anos) já que o Salmo 90 é de autoria de Moisés (1543–1423 a.C.), chegando à sua forma atual algum tempo após o exílio dos judeus na Babilônia em cerca de 440 a.C. (Sl 126). A maioria dos Salmos foi escrita durante o período de Davi e Salomão (1095–945 a.C.).

3. A POESIA HEBRAICA

Ao contrário da maior parte da poesia ocidental, a poesia hebraica não se baseia em rima ou métrica, mas no ritmo e no paralelismo. O ritmo não é obtido pela disposição exata de sílabas acentuadas e não acentuadas, mas pela ênfase tonal e pela situação de palavras importantes. A característica mais importante da poesia hebraica é a repetição de ideias, denominada paralelismo. Uma ideia é afirmada e, logo em seguida, é novamente expressa com palavras diferentes, sendo que os conceitos das 2 linhas se equivalem de forma aproximada. Existem vários tipos de paralelismo na poesia hebraica. Os principais incluem:

(i) Paralelismo Sinônimo (ou Sinonímico):

As linhas expressam a mesma ideia ou mensagem de maneira semelhante, reforçando o significado.

Exemplo: Salmo 15.1
“Quem, SENHOR, habitará no teu tabernáculo?
Quem há de morar no teu santo monte?”

(ii) Paralelismo Antitético:

As linhas apresentam uma oposição ou contraste entre as ideias.

Exemplo: Salmo 1.6
“Pois o SENHOR conhece o caminho dos justos,
mas o caminho dos ímpios perecerá.”

(iii) Paralelismo Sintético (ou Construtivo):

As linhas constroem ou ampliam a ideia apresentada, muitas vezes acrescentando detalhes ou desenvolvendo o tema.

Exemplo: Salmo 145.18
“Perto está o SENHOR de todos os que o invocam,
de todos os que o invocam em verdade.”

(iv) Paralelismo Emblemático (ou Formal):

As linhas apresentam uma relação formal ou estrutural, sem necessariamente repetir ou contrastar ideias.

Exemplo: Salmo 150
“Aleluia! Louvai a Deus no seu santuário;
louvai-o no firmamento, obra do seu poder.”

Estes são apenas alguns exemplos e há variações e combinações dos tipos de paralelismo ao longo dos textos poéticos na Bíblia. O paralelismo é uma ferramenta importante na poesia hebraica, contribuindo para a musicalidade, memorabilidade e aprofundamento da mensagem transmitida.

O acróstico alfabético também é utilizado (no Salmo 119; Introdução à Lamentações).

4. ESTRUTURA

O Livro de Salmos se divide em 5 livros, cada um dos quais termina com uma doxologia. São os seguintes:

– Livro I  (Salmos 1-41)
– Livro II (Salmos 42-72)
– Livro III (Salmos 73-89)
– Livro IV (Salmos 90-106)
– Livro V  (Salmos 107-150)

5. CLASSIFICAÇÃO DOS SALMOS

Os Salmos apresentam uma grande variedade de gêneros literários, que refletem as diferentes situações e emoções dos seus autores, bem como dos seus leitores de todas as épocas.

Alguns dos principais gêneros são:

  • Salmos de louvor: Expressam a gratidão e a admiração por Deus e pelos seus feitos.
  • Salmos de lamentação: Expressam a angústia e o pedido de socorro diante do sofrimento, da opressão, da culpa ou da morte.
  • Salmos de confiança: Expressam a fé e a esperança em Deus, que é o refúgio, o protetor e o provedor dos que nele confiam.
  • Salmos de sabedoria: Expressam os princípios e as instruções para uma vida piedosa e abençoada, baseada na lei de Deus.
  • Salmos reais: Expressam a relação entre Deus e o rei de Israel, que era o seu ungido e representante. Alguns desses salmos também apontam para o futuro Messias, descendente de Davi.
  • Salmos de celebração: Expressam a alegria e a gratidão pelas festas e pelos ritos religiosos de Israel, como as peregrinações, as ofertas, as bênçãos e as alianças.

Algumas peculiaridades dos Salmos:

a) Salmos históricos

Enquanto alguns Salmos celebram a criação e outros acontecimentos históricos, uma seção particular é toda histórica: os Salmos 104-106, que começa com a criação e termina com o cativeiro. No grupo histórico também poderíamos incluir os Salmos que tratam exclusivamente da glória da cidade de Jerusalém e o seu templo, no passado e no futuro (especialmente Sl 48; 84; 122; 132).

b) Salmos Penitenciais

Na liturgia da igreja cristã, vários salmos são utilizados para expressar arrependimento ou tristeza por causa de certos pecados cometidos. O cristão sincero se arrepende de tais atos e condições. São eles: Sl 6; 32; 38; 51; 102; 130; 143.

c) Salmos do Peregrino

Quinze Salmos (120 a 134) são chamados de “Cânticos da Ascensão” ou “Cântico dos Degraus” ou “Cânticos de Romagem”. Um dos pontos de vista aceito é que estes Salmos formavam um hinário utilizado pelos peregrinos os entoavam enquanto subiam à Jerusalém, vindos de todas as partes da Palestina, para as celebrações das festas anuais da Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos (Dt 16.16).

d) O centro da Bíblia

A Bíblia tem 31.104 versículos (Versão Almeida, Revista e Atualizada – SBB).  Por ser uma quantidade par, há dois versículos centrais (31.104/2 –> 15.552º e o 15.553º) que corresponde ao Salmo 102.27-28.  E o que diz estes versículos:

“Tu, porém, és sempre o mesmo, e os teus anos jamais terão fim.  Os filhos dos teus servos habitarão seguros, e diante de ti se estabelecerá a sua descendência.”

Lindo texto, não? Depois de falar da brevidade da vida e da transitoriedade do mundo criado, o salmista exalta a imutabilidade do Deus Eterno. Fala também da segurança que usufruem os servos de Deus; o Israel do passado e, por extensão,  a igreja de Jesus Cristo do presente.

Sobre o verso central da Bíblia, veja o artigo:

e) Outros

  • O singular Salmo de ação de graças (Sl 136).
  • Os Salmos das Aleluias, às vezes chamados de Halel. A palavra “Aleluia” é uma transliteração do termo hebraico “Hallelu Yah”, que significa “Louvai ao Senhor”. Os Salmos iniciados com “Aleluia!”  (Sl 106, 111 e 112);  terminados (115-117, 147);  iniciados e terminados (113, 135, 146, 148-150).
  • A fragilidade humana e a glória de Deus contrastadas (Sl 90) e o cuidado protetor de Deus (Sl 91).
  • O maior dos Salmos e maior capítulo da Bíblia, que enaltece a Palavra de Deus (Sl 119). O menor dos Salmos e menor capítulo da Bíblia, que conclama a todos os povos a louvarem ao Senhor por sua imensa misericórdia e permanente fidelidade (Sl 117).
  • Os Salmos mais citados no Novo Testamento (Sl 110 e 118).

Quadro Resumo:

TIPO DE SALMOSQUANTIDADEDESCRIÇÃO
1.Lamentação+ de 60Ex.: Sl 3. A maioria destes salmos são imprecatórios (*). Contra: acusações falsas; inimigos do corpo (doenças). A maioria termina com um grito de vitória, mas alguns em desespero.
2.Ações de Graças e Louvor+ de 30Ex.: Sl 18
3.HinosCerca de 18Ex.: Sl 8
4.ReaisCerca de 17Ex.: Sl 2. Também conhecidos como Salmos régios ou Salmos do Reino, são um conjunto de Salmos na Bíblia que estão relacionados com reis e o reino de Israel.
5.MessiânicosCerca de 15Ex.: Sl 2; 8. Tradicionalmente têm sido interpretados como profecias ou prenúncios do Messias na tradição judaico-cristã.
6.LitúrgicosCerca de 11Ex.: Sl 24. Foram musicados e utilizados nos ritos e cerimônias da adoração pública do Templo.
7.SabedoriaCerca de 11Ex.: Sl 1; 19
8.História sagradaCerca de 9Ex.: Sl 78. Estes salmos provavelmente eram utilizados em festas de celebração
9.Chamamento a AdoraçãoCerca de 8Ex.: 29. Associados aos salmos litúrgicos.
10.ConfiançaCerca de 5Ex.: Sl 4. Contém elementos de confiança.
11.Cânticos de SiãoCerca de 3Ex.: Sl 48
12.Louvor à LeiCerca de 3Ex.: Sl 1
13.Proteção e LouvorCerca de 91Ex.: Sl 31; 39
14.MistosVáriosDiversas classificações podem ser dadas a partes desses salmos, porém nenhuma delas é dominante.
15.Oração pela vitóriaSl 20 e partes de outrosEx.: Sl 20. A guerra inspirava receio e o receio inspirava gritos (orações) implorando ajuda do alto.
16.DidáticosPartes de váriosEx.: Sl 1; 15. Servem para ensinar lições importantes.
17.DoxologiaSl 117; 150Ex.: Sl 117; 150 e versículos isolados de outros salmos. A doxologia é uma expressão de louvor a Deus. O termo deriva do grego “doxa”, que significa “glória”, e “logos”, que significa “palavra” ou “discurso”. Assim, a doxologia é uma expressão formal ou litúrgica de louvor e glória a Deus.

6. SALMOS IMPRECATÓRIOS(*)

“Estes Salmos (7, 35, 55, 58, 59, 69, 79, 109, 137 e 139), que invocam os juízos ou maldições sobre os inimigos do salmista têm deixado perplexos muitos comentaristas. Deve-se considerar, entretanto, que os propósitos destas imprecações são:
(1) demonstrar o justo e reto juízo de Deus contra os ímpios (58.11);
(2) demonstrar a autoridade de Deus sobre os ímpios (59.13);
(3) levar o ímpio a buscar o Senhor (83.16);
(4) fazer com que os justos louvem a Deus (7.17).

Por isso, motivados por seu zelo para com Deus e sua repulsa para com o pecado, os salmistas clamam a Deus para que puna o perverso e vindique a sua justiça.”

O comentário a seguir, atribuído a C. I. Scofield, é bastante sugestivo: “Os Salmos imprecatórios são um grito dos oprimidos, em Israel, pedido justiça, um clamor apropriado e correto da parte do povo terreno de Deus, e alicerçado sob promessas distintas do pacto abraâmico (ver Gn 15.8); porém, um clamor impróprio para a igreja, um povo celeste que já tomou seu lugar junto com um rejeitado e crucificado Cristo (ver Lc 9.52-55).”

Sobre “Oração de Imprecação”, veja o artigo:

Sobre as particularidades do Antigo Testamento, veja o artigo:

7. CITAÇÕES NO NOVO TESTAMENTO (NT)

“A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.” (Lc 24.44)

É significativo que Jesus tenha feito referência aos Salmos, o que os tornam ainda mais especiais. Os Salmos são citados no Novo Testamento (NT) cerca de 80 vezes, o que significa que, dentre todos os livros do Antigo Testamento, esse foi o mais citado. A muitas dessas citações foi dada uma interpretação messiânica – Profecias Messiânicas cumpridas em Jesus. Salmos que contêm profecias importantes relativas ao Messias incluem os Salmos 2, 8, 16, 22, 40, 45, 72, 110 e 118. As citações de outros salmos não claramente messiânicos, no NT, apontam para uma prefiguração de Cristo. Referindo-se profeticamente ou de forma prefigurada a Cristo podemos citar:

(i) Seus sofrimentos (Sl 22; 69);
(ii) Sua ressurreição (Sl 16);
(iii) Cristo como rei (Sl 2; 21; 45; 72);
(iv) Sua segunda vinda (Sl 50; 97; 98); e,
(v) Cristo como Filho de Deus e Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Sl 110).

Clique aqui para acessar o quadro que correlaciona os Salmos às suas citações no Novo Testamento.

Conclusão

Os Salmos continuam a ser uma fonte de inspiração espiritual, reflexão e consolo para pessoas ao redor do mundo, independentemente de sua fé específica.

Os Salmos são uma fonte rica de inspiração, consolo, orientação e adoração para todos os que amam a Deus e a sua palavra. Eles revelam o caráter, os atributos, os propósitos e as promessas de Deus, bem como a sua fidelidade e misericórdia para com o seu povo. Eles também revelam a humanidade, a fragilidade, a sinceridade e a devoção dos seus autores, que buscaram a Deus em todas as circunstâncias da vida.

Os Salmos nos convidam a entrar em comunhão com Deus, a expressar os nossos sentimentos e a reconhecer a sua grandeza e bondade.

“1  Aleluia! Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento, obra do seu poder.
  2  Louvai-o pelos seus poderosos feitos; louvai-o consoante a sua muita grandeza.
  3  Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com saltério e com harpa.
  4  Louvai-o com adufes e danças; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas.
  5  Louvai-o com címbalos sonoros; louvai-o com címbalos retumbantes.
  6  Todo ser que respira louve ao SENHOR. Aleluia!”
(Salmo 150)

Bibliografia

1. Bíblia Sagrada (SBB – Almeida Revista e Atualizada).
2. Bíblia Online – SBB.
3. A Bíblia Anotada (MC – Editora Mundo Cristão).
4. Bíblia de Estudo de Genebra (SBB e Ed. Cultura Cristã).
5. Bíblia Sagrada (SBB – Anotações de C. I. Scofield)
6. R. N. Champlin, Ph. D. – O Antigo Testamento Interpretado – Versículo por versículo – Ed. Hagnos – 2001.
7. Reese, Edward / Klassen, Frank – A BÍBLIA em ordem cronológica – Ed. Vida – 2003.
8. Internet / ChatGPT.

Amor

Texto base: 1Coríntios 12.31; 13.1-13

Introdução          

O amor é um tema que nunca sai de moda e nunca se esgota. Então, o que falar do amor que ainda não tenha sido dito ou que você ainda não saiba?

O amor é um conceito complexo. Se ouve falar que o amor é um sentimento profundo de afeição, carinho, apego, cuidado e empatia em relação a alguém ou algo. Assim, o substantivo “amor” dá origem também ao verbo “amar”, que representa a ação do indivíduo que sente esse amor, estabelecendo uma relação entre o sujeito que ama e o objeto do amor. Também se ouve falar que o amor é uma decisão:  “– Eu decidi amar!”. O puro sentimento não faz sentido sem a consequente ação. É como afirma Tiago “a fé sem obras é morta” (Tg 2.26). Talvez essas duas visões – sentimento e decisão – tenham o seu lugar. O amor é aquele sentimento inexplicável que, de alguma forma, surge e se expande dentro de nós podendo até nos dominar completamente. Entretanto, quando algo se interpõe entre nós e o objeto do amor, sufocando, de forma tóxica esse amor, mesmo assim pode-se tomar a decisão de continuar amando. Em termos práticos isso acontece através daquelas ações próprias de quem ama, que demonstram e explicitam o amor autêntico e verdadeiro.

No grego há cinco principais formas pelas quais o amor pode ser expresso e compreendido:

Ágape, pode ser considerado como a forma mais elevada de amor. É o amor incondicional e sacrificial, tipificado pelo amor de Deus para com a criatura humana, ao ponto de dar o seu Filho Jesus Cristo para morrer em seu lugar.

Eros, é o amor romântico e erótico, tipificado pela atração, desejo e paixão entre um homem e uma mulher.

Storge, é o amor familiar, tipificado pelo amor entre pais e filhos, marcado por cuidado, proteção e afeição.

Phileo, é o amor entre não parentes, tipificado pelo amor entre amigos, marcado por amizade, lealdade e apoio mútuo.

Philautia[1], é o amor-próprio, o amor que temos por nós mesmos. É também conhecido como autoestima ou autoamor. É o sentimento de valorização, apreço e respeito por si mesmo. Envolve uma atitude positiva em relação a quem você é e um reconhecimento de sua própria dignidade.

“O amor é frequentemente associado a emoções positivas, como felicidade, gratidão, empatia e compaixão. Ele desempenha um papel fundamental nas relações humanas, promovendo o entendimento, a união e o apoio mútuo.”

Neste estudo abordaremos alguns aspectos, bem como a visão bíblica do amor. O texto de 1Coríntios 13 é chamado de “capítulo” ou “hino do amor” porque o descreve, bem como sua importância e características de forma profunda e poética. No grego original é o amor ágape que está em foco neste capítulo. Seguem, então, algumas reflexões sobre o tema.

Desenvolvimento

1. O AMOR É A ESSÊNCIA DE DEUS

“Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor.” (1Jo 4.8)
“E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele.” (1Jo 4.16)

A afirmação “Deus é amor” é correta e verdadeira e tem raízes na fé cristã. Ela se baseia em versículos bíblicos que descrevem o amor como uma característica fundamental de Deus. Esses versículos destacam a ideia de que o amor é uma parte essencial da natureza de Deus, e que ele é a fonte do amor.

Deus é a fonte do amor e Jesus Cristo é a expressão máxima do amor de Deus. Em muitas tradições religiosas, o amor é frequentemente considerado um dom de Deus. A ideia é que o amor, em suas várias formas, é algo que emana de Deus ou é concedido por Deus aos seres humanos. Essa crença está profundamente enraizada em muitas religiões e sistemas de crença e é frequentemente associada à ideia de que Deus é a fonte do amor.

Por exemplo, no cristianismo, o amor é frequentemente visto como um dom de Deus, como mencionado em versículos bíblicos como João 3.16, que diz: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” Nesse contexto, o envio de Jesus Cristo ao mundo é considerado um ato supremo de amor de Deus pela humanidade. É o amor explicitado, materializado e comprovado através de ações práticas.

É importante e necessário destacar aqui que esse amor de Deus não acoberta a prática do pecado. Deus ama o pecador, mas odeia o pecado. Deus também é justo juiz e há de julgar vivos e mortos. Em Cristo somos justificados mediante a fé; sua ira é aplacada; sua misericórdia é a causa de não sermos consumidos.

2. OS TRÊS NÍVEIS DE AMOR

Pode parecer um tanto quanto sutil, mas é possível perceber na visão judaico-cristã os seguintes níveis de amor:

1º) Amar uns aos outros
      (Nível Básico ou Essential)

“Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.” (Mc 12.30-31)

O amor ao próximo é um dos ensinamentos mais importantes da Bíblia. De certa forma Jesus “sintetizou” toda a lei mosaica em dois principais mandamentos, conforme expresso em Marcos 12.30-31 (acima). O amor ao próximo reflete o amor a Deus, que perpassando por nós o alcança. 

“O amor ao próximo se manifesta em palavras e ações. Não basta dizer que ama, é preciso provar com atitudes de bondade, compaixão, perdão, ajuda e respeito. O amor ao próximo não faz distinção de pessoas, mas abrange todos, inclusive os inimigos. Jesus ensinou que devemos amar os nossos inimigos e orar por aqueles que nos perseguem, pois assim seremos filhos de Deus, que faz o sol nascer sobre maus e bons (Mt 5.43-45).”

Jesus assim se expressou sobre isso:

“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros.” (Jo 13.35)
“Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros.” (Jo 15.17)

E os apóstolos também:

“Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.” (Rm 12.10)

“A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei.” (Rm 13.8)

“No tocante ao amor fraternal, não há necessidade de que eu vos escreva, porquanto vós mesmos estais por Deus instruídos que deveis amar-vos uns aos outros;” (1Ts 4.9)

“Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente,” (1Pe 1.22)

“Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros;” (1Jo 3.11)

“Ora, o seu mandamento é este: que creiamos em o nome de seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o mandamento que nos ordenou.” (1Jo 3.23)

“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor.” (1Jo 4.7-8)

“Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros.” (1Jo 4.11)

“Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado.” (1Jo 4.12)

“E agora, senhora, peço-te, não como se escrevesse mandamento novo, senão o que tivemos desde o princípio: que nos amemos uns aos outros.” (2Jo 1.5)

2º) Amar ao próximo como a si mesmo
      (Nível Intermediário ou Personal)

“Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o SENHOR.” (Lv 19.18)

Provavelmente esta é a menção mais antiga sobre o amor ao próximo como a si mesmo expressa no livro de Levítico na forma de mandamento. Sem dúvida é um nível de amor mais elevado do que o anterior.

Jesus ratificou este mandamento:

“honra a teu pai e a tua mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mt 19.19)
“O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mt 22.39; ver tb Mc 12.31; Lc 10.27)

O apóstolo Paulo e Tiago também:

“Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Rm 13.9)

“Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Gl 5.14)

“Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem;” (Tg 2.8)

3º) Amar uns aos outros, assim como Jesus os amou
      (Nível Avançado ou Excellent)

“Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros.” (Jo 13.34)
“O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.” (Jo 15.12)

Por fim, Jesus nos apresenta o nível mais elevado de amor ao próximo – como Jesus amou –, isto é, ao ponto de dar a sua vida para o livrar da pena do pecado, para o salvar da morte eterna! Perceba que Jesus está aqui abrindo caminho para um novo tempo, uma nova ordem, embasada em um “novo mandamento”, “o meu mandamento”! O nível anterior tem lá o seu valor, mas tem suas limitações. O apóstolo Paulo escrevendo e instruindo os maridos assim se expressa: “Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja; porque somos membros do seu corpo.” (Ef 5.28-30). O argumento do apóstolo considera a regra geral, porém as limitações ou exceções acontecem de fato, no caso de pessoas que, por algum motivo, não se amam, não têm amor a vida, não se cuidam, desenvolvem o comportamento de autodestruição. Se assim agem consigo mesmas, provavelmente farão o mesmo com os outros.

Portanto, fica aqui explicitado o padrão divino do amor ao próximo, que é verdadeiramente desafiador!

Algumas afirmações, para reflexão:

  • Quem não ama a si mesmo não consegue amar o outro.
  • Quem só ama a si mesmo não tem como amar o outro.
  • Quem não ama o outro não pode amar a Deus.
  • Quem só ama o outro não tem como amar a si mesmo.

3. O AMOR É A ESSÊNCIA DA VIDA CRISTÃ

O capítulo 13 de 1Coríntios está estrategicamente inserido no contexto da exposição que o apóstolo Paulo faz sobre os dons espirituais: Quais são, seus propósitos e como devem ser usados na igreja. Se a posse e exercício desses dons tinham o potencial de levar a se ensoberbecer e achar-se superior aos demais irmãos era necessário mostrar a supremacia do amor.

O capítulo do amor é introduzido pelo último versículo do capítulo 12 como “um caminho sobremodo excelente” e pode ser dividido em três blocos, como apresentado a seguir.

a) Um amor contínuo (1Co 13.1-3)

      “Todos os vossos atos sejam feitos com amor.” (1Co 16.14)

O amor deve inspirar, instigar e permear todas as nossas ações. Isto não significa tolerar o pecado, fazer vista grossa para o erro, tentar justificar ou defender o injustificável ou indefensável. Até a disciplina é um ato de amor, pois tem em vista a restauração e correção de rumo: “Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade.” (Hb 12.10b; ver tb Dt 8.5; Jó 5.17; Pv 3.12; 6.23);  “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina.” (Pv 13.24; ver tb Ef 6.4).

Em 1Coríntios 13.1-3 o apóstolo apresenta cinco aspectos referentes ao desempenho ou atitudes na vida cristã iniciados pela expressão “ainda que” que se não forem fundamentados e motivados pelo amor de nada valem, não obterão a aprovação divina ou qualquer recompensa.

1º) Falar as línguas dos homens e dos anjos.
2º) Profetizar e acumular conhecimento.
3º) Ter muita fé.
4º) Ser caridoso e benevolente para com os necessitados.
5º) Se entregar como mártir.

b) Um amor autêntico e comprometido (1Co 13.4-7)

4 O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece,
5  não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal;
6  não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade;
7  tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

Nesse segundo bloco, de forma muito didática, prática e abrangente o apóstolo procura explicitar as características do amor: aquilo que ele é; aquilo que ele não é; e, aquilo de que ele é capaz. Toda essa descrição nos remete fortemente ao cotidiano da vida, dos relacionamentos humanos e às situações pelas quais passamos.

“Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?  Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade.” (1Jo 3.17-18)

Antes de fixar os olhos na contemplação da vida eterna é preciso viver o presente, com todos os seus desafios, principalmente o de ajudar o irmão necessitado.

c) A supremacia do amor (1Co 13.8-13)

Este terceiro bloco apresenta os seguintes aspectos:

1º) A eternidade do amor (1Co 13.8-10)

“8  O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará;
9  porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos.
10  Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado.”

Deus é a essência do amor e é eterno. Diferentemente de tantas coisas próprias do tempo presente, o amor transporá o portal deste mundo terreno para a eternidade. “Quando, porém, vier o que é perfeito”, uma provável alusão à segunda vinda de Cristo, muitas coisas desta vida perderão o sentido. Naquela ocasião se dará a consolidação do plano de redenção e a revelação do mundo espiritual tão aguardada.

2º) A vivência em amor é sinal de maturidade (1Co 13.11-12)

“11 Quando eu era criança, falava como criança, sentia como criança e pensava como criança. Agora que sou adulto, parei de agir como criança.
12  O que agora vemos é como uma imagem imperfeita num espelho embaçado, mas depois veremos face a face. Agora o meu conhecimento é imperfeito, mas depois conhecerei perfeitamente, assim como sou conhecido por Deus.”

3º) O amor é a maior das virtudes (1Co 13.13)

“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor.” (1Co 13.13)

O capítulo é encerrado com a menção às chamadas virtudes teologais: Fé – Esperança – Amor. Agora, no tempo presente, as três permanecem e são valiosas. Entretanto, o apóstolo elege o amor como a maior dentre elas.  

Conclusão

A cidade de Corinto era notória por tudo que era pecaminoso. Vivendo nesse tipo de contexto a igreja de Corinto acabou sendo afetada. Havia ali divisões e partidarismo (1.11); imoralidade sexual (cap. 5; 6.9-20); disputas legais (6.1-8); problemas relacionados à Ceia do Senhor (11.17-34); falta de entendimento quanto a ressurreição dos mortos (1Co 15); abusos e mal-entendidos quanto ao uso dos dons espirituais (caps 12 e 14); dentre outros. Assim sendo, o apóstolo escreve-lhes essa carta, de forma muito prática e objetiva, a fim de tratar dessas questões.

Além dos esclarecimentos doutrinários necessários o apóstolo enfatiza a importância do amor, “porque o amor cobre multidão de pecados.” (1Pe 4.8b). A ideia por trás dessa afirmação é que o amor desempenha um papel crucial na vida cristã, promovendo a harmonia, a reconciliação e a tolerância. Essa expressão não sugere que o amor é capaz de eliminar ou anular os pecados em termos de justiça divina, mas destaca a importância do amor na dinâmica das relações interpessoais dentro da comunidade cristã. O amor promove a flexibilidade, a compaixão e a disposição para perdoar, criando um ambiente propício para o crescimento espiritual e a paz entre os membros da comunidade.

Que Deus nos ajude!

Bibliografia

1. Bíblia Sagrada (SBB – Versão Revista e Atualizada).
2. Bíblia Online – SBB.
3. Revista ANDAI NO ESPÍRITO (Ed. Didaquê).
4. Internet.


[1] O amor-próprio não se trata de egoísmo, arrogância ou narcisismo. Em vez disso, é uma base sólida para o crescimento pessoal e para estabelecer relacionamentos saudáveis. Algumas características e elementos do amor-próprio incluem: Autoaceitação, Autocompaixão, Respeito próprio, Autoconfiança, Cuidado pessoal e Valorização, dentre outros. Enfim, o amor-próprio é fundamental para o bem-estar emocional e mental, bem como para a construção de relacionamentos saudáveis e a realização pessoal.

Livros & Escritos na Bíblia

E-Book GRATUITO.
Uma visão bíblica sobre o assunto.
CLIQUE NO LINK PARA ABRIR O ARQUIVO:

Livros & Escritos_ISBN.pdf
(Última atualização: 23/04/2022)

No dia Internacional do Livro (23 de abril), uma singela homenagem ao Livro dos livros – a BÍBLIA.


Segue, também, uma pequena homenagem aos livros comuns:

Algumas frases interessantes:

“Hoje os estádios estão cheios de gente e as livrarias vazias. Temos muita gente com corpos sarados, mas sem nada a dizer.”

“Se pode cantar, falar, rir, chorar, gritar em silêncio…. A isso se chama LER!”

“Um leitor vive mil vidas antes de morrer; o que não lê somente vive uma.”

“Ler, talvez não te faça mais inteligente, porém te fará menos ignorante.”

“A ignorância é tão grande, que os ladrões não roubam livros.”

“Os livros são como os paraquedas; não servem se não se abrem (são abertos).”

“Sou uma pessoa antiquada que acredita que ler é o melhor passatempo que a humanidade criou.”

“Uma criança que lê será um adulto que pensa!”

“Um bom livro é como um bom amigo …. que te ajuda a ver a vida a partir de outros pontos de vista.”

“Ler bons livros é como conversar com as melhores mentes do passado.” (René Descartes)

Você Pergunta, a Bíblia Responde

Clique na pergunta para ver a resposta.

1. Deus existe?

2. O homem está Perdido?

3. O que é pecado?

4. Qual a solução para a salvação do homem?

5. O que devo fazer para ser salvo?

6. O que acontece com o salvo?

7. O que muda no viver do salvo?

Mais sobre a Bíblia

Introdução

Há certas expressões que são interessantes. No livro de Eclesiastes, e somente ali, aparece nove vezes aquela “correr atrás do vento”. Significa fazer algo inútil, sem sentido, como tentar encontrar o sentido da vida descartando Deus. A equivalente atual poderia ser “enxugar gelo”. Outra interessante é “mais do mesmo”. Tem o sentido de falas, ou situações, ou acontecimentos repetitivos, como zombar da fé cristã, corrupção na política e o uso eleitoreiro da causa dos pobres. Naturalmente essa repetição causa tédio ou desconforto ou inconformismo ou até mesmo revolta, conforme o caso. Diferente é o sentimento quando se trata ou se fala da Bíblia, a palavra de Deus. Não nos cansamos de proclamá-la, explicá-la, difundi-la e distingui-la de qualquer outro livro ou literatura. Para nós ela nunca será um livro comum ou obsoleto ou ultrapassado.

Há algo que me deixa bastante intrigado. É o fato de certas pessoas apreciarem muito, amarem demais, ler  ou ouvir determinados teólogos ou pregadores ou pensadores se expressarem sobre a Bíblia. São fascinadas por seus livros, por suas devocionais diárias, pelo que escrevem ou pelo que dizem. Até aqui não há nada de errado. O problema é quando tais pessoas não parecem tão fascinadas assim com a leitura bíblica diária. Não se sentem muito atraídas por ela, não sentem emoção seja lá por qual motivo for. É como estar diante de uma paisagem da natureza lindíssima, vendar os olhos e pedir a um pintor de quadros para descrevê-la. Não seria mais razoável contemplar tal beleza diretamente? Também é preciso ter cuidado com certas elucubrações que se faz do texto bíblico, com o propósito de impressionar o leitor ou ouvinte. São narrativas fictícias e tolas que mancham a pura revelação divina. Sempre haverá um público consumidor ávido por novidades e não muito preocupados se estas têm base sólida na palavra de Deus. Cuidado! Vamos apreciar sim quadros pintados pela mão humana e o talento do artista; entretanto, vamos contemplar a natureza “esculpida” pela incomparável mão do Criador. Vamos apreciar um, sem desprezar o outro. Vamos apreciar o que de bom se escreve ou se diz da bíblia, sem desprezar o que aquele que a inspirou quer nos revelar diretamente através da sua leitura e meditação diárias.

Oh, quanto amo a tua palavra, Senhor!

“A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos. O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente, justos. São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos.” (Sl 19.7-10)

1. Como a Bíblia se denomina ou se define?

– A Palavra de Deus

“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.” (Hb 4.12)

– As Palavras Vivas

“É este Moisés quem esteve na congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai e com os nossos pais; o qual recebeu palavras vivas para no-las transmitir.” (At 7.38)

– A Escritura de Deus

“As tábuas eram obra de Deus; também a escritura era a mesma escritura de Deus, esculpida nas tábuas.” (Êx 32.16)

– A Escritura da Verdade

“Mas eu te declararei o que está expresso na escritura da verdade; e ninguém há que esteja ao meu lado contra aqueles, a não ser Miguel, vosso príncipe.” (Dn 10.21)

– As Sagradas Letras

“e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.” (2Tm 3.15)

– A Lei

“Ou não lestes na Lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa? Pois eu vos digo:” (Mt 12.5)

– Os Oráculos de Deus

“Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus;” (1Pe 4.11a)

..

2. O que é a Bíblia? A Bíblia é…

– O mapa do viajante.

– O cajado do peregrino.

– A bússola do piloto.

– O manual do cristão (2Tm 3.16-17).

– Tesouro precioso (Ef 3.8)

– Arma de ataque e defesa (Ef 6.17)

– Luz para o caminhar (Sl 119.105)

– Alimento e sustento espiritual (Mt 4.4)

– Agente de purificação (Ef 5.25-27; Jo 15.3)

– Espelho da alma (Tg 1.23-25)

– Semente da vida (Tg 1.18)

– Tônico (agente revitalizador/revigorante) (Sl 119.25)

.

3. A Bíblia responde às perguntas existenciais básicas.

1ª) De onde eu vim?

O livro de Gênesis nos revela o início de tudo e seus outros livros complementam essa narrativa:

– Cosmos; vida vegetal, animal e humana; família; pecado, queda, morte física, morte espiritual ou separação de Deus; juízos divinos etc.

2ª) Para onde vou?

O livro de apocalipse nos revela o final de tudo e seus outros livros complementam essa narrativa:

– Cosmos; vida terrena; a volta de Cristo; o arrebatamento da igreja; o juízo final; as bodas do Cordeiro; novos céus e nova terra etc.

3ª) O que estou fazendo aqui?

“Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas.” (Tg 1.18)

A Bíblia revela a perfeição de Deus, a perdição da criatura humana, a obra redentora de Cristo na cruz do Calvário, a geração de filhos de Deus pelo Espírito Santo.

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2Tm 3.16-17)

A Bíblia nos mostra o propósito maior da vida humana e de como vive-la, na busca de Cristo ser formado em nós (Gl 4.19). A Bíblia também fala que Deus concede dons espirituais aos seus, para o exercício na sua igreja “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo,” (Ef 4.12-13)

A grande questão, entretanto, é:

Em que medida você acredita na Bíblia, a lê e estuda, consulta material complementar que o ajude a entendê-la? Em vez disso, quem sabe, você decidiu transferir essa responsabilidade para os pastores e líderes da igreja.

Vejamos, por fim, estas duas perguntas:

1ª) Você já precisou se posicionar acerca de alguma questão dos nossos dias? Conseguiu se posicionar biblicamente?

Apesar de ter sido escrita de ±1500aC  a  ±100dC e o mundo ter passado por uma enorme evolução tecnológica desde então, a Bíblia continua tendo respostas para as questões básicas da vida humana. Assim como Deus é imutável, também são imutáveis os valores e princípios divinamente soprados sobre os escritores e expressos na palavra de Deus. A gama de temas ou questões é muito ampla envolvendo, por exemplo (não religiosos): a supressão da vida (aborto, eutanásia, suicídio, homicídio); questões de gênero (ideologia de gênero, papel do homem e da mulher); a família (casamento, jugo desigual, divórcio, papel do pai, da mãe, dos filhos); relacionamentos sexuais ilícitos e incestuosos (homossexualidade, adultério, fornicação, pedofilia, incesto); relacionamento entre governantes e governados, entre patrões e empregados; pagamento de impostos; trabalho; planejamento de investimento; relações comerciais; justiça; demandas entre pessoas e reconciliação / perdão; injustiça social; suborno; fiador;  pobreza e riqueza; dinheiro; amor ao próximo e misericórdia; ação e assistência social; dentre muitos outros.

2ª) O texto bíblico abaixo fala sobre renovação da sua mente. Qual é o resultado dessa renovação?

“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm 12.2)

Você já ouviu falar na tecnologia do “plug and play”? No início, quando os computadores começaram a se tornar mais populares não era fácil instalar um novo periférico ou programa. Exigia muita configuração manual por parte do usuário. Então surgiu a tecnologia “plug and play” ou “ligar e usar”, criada em 1993 com o objetivo de fazer com que o computador reconhecesse e configurasse automaticamente qualquer dispositivo que fosse instalado, facilitando a expansão segura dos computadores e eliminando a configuração manual (Fonte: Wikipedia). 

Somos pessoas e não computadores e a Bíblia não é um periférico ou acessório “plug and play”. Há necessidade de uma “configuração manual”, de esforço e disciplina cristã, com o auxílio do Espírito Santo.

Não basta recusar a se ajustar ao molde social do presente século. Além de blindar a mente das más influências e comportamentos é indispensável moldá-la pela palavra de Deus. O cristão precisa aprontar a sua mente para viver a nova vida sem dar espaço para a vida antiga, para as obras das trevas. Esse preparo da mente passa, primeiramente, por uma vida devocional disciplinada e, também, pela assimilação da palavra de Deus, participando de uma igreja séria que não se presta à promoção de uma superficialidade cultual, entretenimento ocupacional e emocionalismo terapêutico.


Veja, também, este Plano de Leitura Bíblica em 2 anos.
https://pauloraposocorreia.com.br/category/leitura-biblica/portugues/

Vem aí uma nova atualização da Bíblia (Nova ARA)

NovaARA_1Título

Neste BLOG temos publicado alguns artigos sobre Tradução da Bíblia e nossa posição sobre a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). Muitos teólogos e cristãos apreciam e consideram a Tradução conhecida como ARA – Almeida Revista e Atualizada – publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), como uma das melhores que temos. É a tradução preferida e adotada por muitas igrejas. Consideramos a SBB uma entidade séria e respeitável, que vem prestando relevantes serviços à causa da Bíblia desde que foi organizada. Entretanto, na nossa humilde percepção, a impressão é de que se estava dando muito foco na promoção da versão NTLH, sem o devido investimento na atualização da ARA. A comunidade cristã brasileira estava clamando por uma iniciativa neste sentido. Conheço pessoas que cansaram de esperar e migraram para a NVI (Nova Versão Internacional). Para nossa surpresa, a revista de publicação trimestral da SBB, “A Bíblia no Brasil”, nº 238 (janeiro a março de 2013)(*), publicou uma matéria sobre o assunto, com o título: “O QUE JÁ É EXCELENTE FICARÁ AINDA MELHOR”.

A atualização é mesmo necessária e esperada. Na ARA há muitas palavras em desuso que precisam ser substituídas(**). A notícia é boa e ao mesmo tempo gera certa apreensão, pois não temos ideia da profundidade das mudanças. Esperamos que a beleza de estilo da ARA seja preservada e a moderação seja a linha mestra a ser seguida pela equipe revisora. A previsão informada é de que esta 3ª edição da ARA (quem sabe poderia se chamar ” NARA ”  – Nova Almeida Revista e Atualizada) seja concluída entre 3 e 5 anos. Veja o que está sendo proposto:

NARA_alterações

Cremos que, acima de tudo, Deus está no controle e zela pela sua Palavra. Cremos que não ficarão impunes aqueles que perverterem o texto bíblico: “Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro.” (Ap 22.18-19). Cremos na total seriedade e competência da SBB na condução dos trabalhos. A ARA é um “patrimônio tombado” da igreja, reconhecidamente uma das melhores traduções que temos e, a igreja precisa estar em oração para que continue sendo, após a revisão.

Fonte: Revista “A Bíblia no Brasil”, nº 238 (janeiro a março de 2013).

(*) Você poderá encontrar e ler todo o artigo da Revista no link abaixo:

http://issuu.com/_sbb/docs/abnb_238_web?mode=window&backgroundColor=%23222222

(**) Para ilustrar, segue tabela com algumas palavras selecionadas, fora de uso ou com pouco uso.

PalavraTextoSignificado ou Sinônimo
AcerbamenteJó 13.10Duramente
AleivosamenteJz 9.23; 1Sm 14.33; Jó 6.15; Sl 78.57; Os 5.7; 6.7Traiçoeiramente
AlosnaAm 5.7; 6.12Absinto
ApeouGn 24.64; Js 15.18; Jz 1.14Desceu
ArrecadasNm 31.50; Jz 8.26; Ez 16.12; Os 2.13Brincos
AsseteamosNm 21.30Ferir ou matar com setas
AviltaIs 2.9; 5.15Humilhar; rebaixar
Baldaquino (TT)***1Rs 7.6; Jr 43.10; Ez 41.25, 26Armação forrada e com franjas, sustentada por colunas, que fica acima de um altar ou trono
BaluarteDt 20.20; Jz 6.26; 2Sm 22.3; Sl 18.2; 91.2; Ez 26.8; Na 3.8; 1Tm 3.151) Fortaleza (Ez 21.22).    2) Apoio; firmeza (Sl 18.2; 1Tm 3.15).
Borracheiras1Pe 4.3Bebedeiras, embriaguez
BrunidaIs 18.2Lustrada
BufoIs 25.4; 33.11Sopro ou Assopro
CarneouPv 9.2Matou
ChilreiamIs 8.19Cochicham
CiboSl 79.2Comida
CinzelandoIs 22.16Cavando ou esculpindo (CINZELAR – Trabalhar com cinzel, instrumento cortante usado pelos escultores (Is 22.16).
Comenos1Sm 31.1Instante, ocasião, momento
CominouSl 78.65impôs, infligiu
ContumazDt 21.18Teimoso
DecrépitoJr 6.11Muito idoso
DestarteGn 11.8Assim, Deste modo
Detrações2Co 12.20difamações, maledicências
Dossel (TT)***Is 4.5Cobertura forrada e com franjas (Is 4.5).
EncanecidoDt 32.25Envelhecido
EnlanguecemIs 24.4, 7Enfraquecer, Perder a força
EnleiamSl 119.61Deslumbram
EnvilecerIs 23.9Tornar desprezível
EnvilecidaIs 16.14Tornada desprezível
Enxárcias (TT)***Is 33.23Cordas (Os cabos de um navio que seguram os mastros)
EnxoviaEx 12.29Prisão escura
EsbordoaramMc 12.4Bater com um bordão em; dar bordoada em; espancar.
EsboroaJó 14.18Desmoronar
EscabeloSl 99.5estrado para colocar os pés
EscarmentemEz 23.48Aviso, Exemplo (servir de aviso ou exemplo)
EsterroaIs 28.24Desfazer os torrões
EstultoSl 49.10; 92.6; 107.17; Pv 17.21, 28; Ec 2.14, 15, 16, 19; 10.2, 3, 14; 1Co 3.18Tolo, Sem discernimento, Insensato
ForroDt 15.18Livre
GabarolaJr 50.36Aquele que se GABA; vaidoso (Is 30.7).
GonzosPv 26.14Dobradiças, Articulações
GusanoJó 25.6Verme (Molusco parecido com um verme – Jó 25.6)
IgnomíniaGn 34.14Grande desonra, vergonha
IlhargasNm 33.55; Js 23.13; Jó 15.27Partes laterais do corpo.
ImporteLv 27.23Soma total. Preço de compra, custo. Importância.
ImproperaTg 1.5Lançar em rosto; censurar
ImpudentePv 7.13Sem vergonha
IrrisãoJó 12.4Zombaria, escárnio. Ato ou efeito de zombar de alguém.
Loquacidade frívola1Tm 1.6Discussão vazia ou inútil
MalograramJó 17.11Insucesso, fracasso, frustração
MonturoSl 113.7Monte de lixo.
MotejoDt 28.37Zombaria, escárnio. Ato ou efeito de zombar de alguém.
Mutuca (TT)***Jr 46.20“moscão” Inseto parecido com a mosca, mas maior, que se alimenta do sangue de animais
NecedadePv 1.22Tolice, disparate (Falta de juízo)
OlvidasteDt 32.18Esqueceste
OpróbrioGn 38.23…..Hb 11.26Desonra, vergonha
Padejadores (TT)***Jr 51.2Aquele que separa da palha os grãos, depois de DEBULHADOS, jogando-os no ar com pás; os grãos do CEREAL caíam na EIRA, e o vento espalhava a palha
Padejarás (TT)***Is 41.16Ato de separar da palha os grãos, depois de DEBULHADOS, jogando-os no ar com pás; os grãos do CEREAL caíam na EIRA, e o vento espalhava a palha
Pasciam1Cr 27.29; Jó 1.14pastavam
PasmoDt 28.37Espanto, Assombro
PeçonhaDt 32.24, 33; Sl 58.4Veneno
PérfidaJr 3.6, 7, 8, 11, 12, 20Desleal, Infiel, Traidor
PerfidamenteIs 21.2………Hc 1.13Deslealmente, Traiçoeiramente
PerfídiaIs 33.1; Jr 3.20; Ez 39.26Deslealdade, Infidelidade, Traição
PérfidosPv 11.3, 6; 13.2, 15; Is 24.16; Sf 3.4; Rm 1.31Desleais, Infiéis, Traidores
Perjuros1Tm 1.10Juramentos falsos
PorfiaFp 1.15Discussão, Briga, contenda
PorfiouJó 9.4Discutiu, contendeu, competiu
PortentoSl 71.7; Is 29.14Prodígio, maravilha
PrimíparaJr 4.31Mulher que tem o primeiro parto (Jr 4.31).
ProcelososSl 148.8Tempestuosos
RapacesEz 38.13Que rouba, rapinante. Que persegue a presa afincadamente: o abutre é rapace.
RequestarJr 31.22Cortejar
ResfolgarEx 15.8; 2Sm 22.16; Sl 18.15Respirar, soprar
SebeJó 1.10; Is 5.5; Mq 7.4; Mt 21.33; Mc 12.1Cerca viva
SeixoSl 114.8; Is 50.7Pedaço de pedra
SimulacroSl 106.20Imagem
SobranceriaJr 48.29Orgulho, altivez
SovelaEx 21.6; Dt 15.17Instrumento pontudo usado para furar
SujidadesJd 13Sujeiras, imundícies
TalanteSl 105.22Desejo, vontade
TrasfegadoresJr 48.12Transfegar=Despejar de uma vasilha em outra.
VagalhõesEx 15.5, 8; Sl 93.4Grandes ondas
Varejar (TT)***Is 24.13Bater com vara para fazer cair os frutos (Is 24.13).
ViandanteJó 31.32; Jr 14.8Viajante
VilezaSl 12.8Baixeza, mesquinhez
Vindita2Co 7.11Castigo
VitupérioHb 13.13Insulto, zombaria, desonra

(TT)*** = Termo Técnico


Veja, também, os seguintes artigos, neste blog:

Hino Nacional na Linguagem de Hoje (HNLH)

“Bonde” sem freio….

NTLH – A “bola” murcha!

Princípios de tradução da Bíblia

Princípios de tradução da Bíblia

Há dois princípios de tradução da Bíblia que quero mencionar aqui:  “equivalência formal” e “equivalência funcional ou dinâmica”.

Na tradução literal ou por  equivalência formal orienta-se basicamente pelo texto na língua fonte ou original, preservando-se a mensagem e aspectos  gramaticais.

Na tradução por  equivalência funcional ou dinâmica orienta-se basicamente pelo entendimento do leitor. Procura-se interpretar a mensagem ou ideia do texto original e comunicá-la em linguagem contemporânea.

E, então, qual desses dois princípios produz uma tradução mais fiel ao texto original? Qual o melhor? Está aí mais um daqueles assuntos polêmicos, que dividem opiniões, como alguns outros: predestinação e livre arbítrio; batismo por aspersão ou imersão; milenismo e amilenismo etc. Por se tratar de algo tão relevante, que mexe diretamente com a única regra infalível de fé e pratica do cristão, isto é, a Bíblia Sagrada, a Revelação Escrita de Deus à humanidade, é que não posso deixar de ter e defender uma opinião própria – “Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente”. (Rm 14.5b). Não é a opinião de um especialista nas ciências da linguística e outras. É a opinião de um cristão zeloso, com algum conhecimento bíblico-teológico. No que diz respeito a este e aos outros assuntos polêmicos acima citados, creio que é desperdício de energia ficar tentando mudar a opinião contrária do outro, com debates, réplicas, tréplicas etc.

Nos artigos publicados neste blog (lista no final deste artigo), já me expressei bastante sobre o “Novo Testamento na Linguagem de Hoje” (NTLH), que segue o princípio da equivalência funcional ou dinâmica, comparando-o com a “Almeida Revista e Atualizada” (ARA) que é uma tradução literal ou de equivalência formal. Vejamos mais alguns aspectos interessantes:

Tomemos, como exemplo, a tarefa mais fácil de traduzir para outro idioma a letra da famosa canção brasileira de Chico Buarque “Cálice” (1973), portanto, algo da história recente. Fixemo-nos apenas no seu refrão:

“Pai, afasta de mim esse cálice (3x)
De vinho tinto de sangue”

A letra desta canção é estruturada com duplos sentidos, ambiguidades e metáforas, inteligentemente elaboradas para despistar a censura da ditadura militar brasileira da sua época e comunicar sua mensagem ao povo.  Como ficariam os textos traduzidos pelos dois princípios já mencionados?

1ª tradução: Equivalência formal – tradução literal (usada na ARA):

“Pai, afasta de mim esse cálice (3x)
De vinho tinto de sangue”

2ª tradução: Equivalência funcional ou dinâmica (usada na NTLH):

“Deus, acaba com essa censura imposta pela ditadura (3x)
Manchada pelo sangue das vítimas da repressão e das torturas”

As traduções seriam aproximadamente isso que você está vendo. Na primeira tradução, permanece o mesmo texto original, só que  usando as palavras e a gramática da língua de destino. No segundo caso, cria-se essa espécie de paráfrase usando a linguagem de destino. E, então, qual dos textos expressa com mais precisão a mensagem original de Chico Buarque? O leitor superficial e apressado talvez dissesse que é o segundo texto. Será, mesmo?

Vamos às considerações:

a) A ambiguidade aqui empregada pelo compositor, que explora a semelhança fonética entre as palavras “cálice” e “cale-se”, onde o sentido velado que se deseja transmitir está na segunda palavra, é praticamente impossível de ser reproduzido em outro idioma.

b) Em casos como este só há dois caminhos a seguir. O primeiro, que procura manter a metáfora original que, neste caso,  remeterá o pensamento do leitor para a oração de Cristo nos momentos aflitivos pelos quais passou antes da sua morte (se este leitor tiver alguma afinidade com o Cristianismo), o que era a intenção do compositor, porém, não faz qualquer associação dessa situação com o padecimento do povo sob a ditadura militar brasileira (1964-1985), o que era sua intenção comunicar, mas que nem de longe expressou. Esse é o caminho trilhado na 1ª tradução acima. O segundo caminho, trilhado na 2ª tradução, desconsidera completamente a metáfora original, subtraindo do leitor, neste caso, a inteligência e beleza literárias da ambiguidade e a similaridade com o padecimento de Jesus, aspectos esses que o compositor tinha a intenção de comunicar; e, procura interpretar e comunicar aquilo que entende que o compositor queria expressar. Neste caso, foi fácil redigir a paráfrase porque o texto original é recente e a mensagem original bem difundida. Mas, o que dizer de textos escritos há 4000 anos atrás?

c) Ah, só pra lembrar. Qual das duas traduções da canção você acha que poderia ser cantada na língua de destino. A primeira, é claro. Simples assim.

Sejamos honestos e práticos. Deixemos, por enquanto, a questão da tradução de lado e façamos o seguinte teste: entreguemos uma cópia da letra original dessa canção a um brasileiro que não a conheça e não conheça o seu compositor.  Certamente, pela simples leitura do texto ele não conseguirá captar tudo o que o compositor pretendia veladamente comunicar. Quem poderia entender que os “caracóis dos cabelos” da música de Roberto Carlos seria uma referência a Caetano Veloso se o compositor não revelasse?

Para tranquilidade dos tradutores, os duplos sentidos e ambiguidades encontradas nesta e em outras tantas canções produzidas durante a ditadura militar (“Apesar de você” e “Tanto mar” – Chico Buarque; “Alegria, Alegria” – Caetano Veloso; “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos” – Roberto Carlos, em homenagem a Caetano Veloso; “Pra não dizer que não falei das flores” – Geraldo Vandré; etc.) não constituem a essência do texto bíblico. Na Bíblia temos muita linguagem direta (Livros históricos, Evangelhos, Atos, Epístolas etc.). Mas há também as poesias, os cânticos, as parábolas, as profecias, as metáforas etc. Traduções interpretativas e paráfrases, nem pensar!

Vale ressaltar que, numa tradução literal como a ARA já houve certa flexibilização para facilitar o entendimento. Por exemplo, em Gênesis 34.30 uma tradução mais próxima ao hebraico original diria “…Tendes-me turbado, fazendo-me cheirar mal entre os moradores desta terra,…”, pois “cheirar mal” significava naquela cultura “odiar”, “atrair o ódio”. Então a ARA traduziu assim: “…Vós me afligistes e me fizestes odioso entre os moradores desta terra,…”

Por outro lado, vejam agora o texto de Eclesiastes 11.1:

“Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás.” (ARA)
“Atire o seu pão sobre as águas, e depois de muitos dias você tornará a encontrá-lo.” (NVI*)

(*NVI = Nova Versão Internacional)

Compare com:

“Empregue o seu dinheiro em bons negócios e com o tempo você terá o seu lucro.” (NTLH)
“Seja generoso porque o que você der a outros acabará voltando para você.”(A Bíblia Viva)

Vejam só o desserviço à verdade, a imprudência, o desatino, a estreiteza de mensagem, a divergência, quando se quer traduzir a suposta ideia original!!! Os comentaristas dizem que não há uma explicação certa e definitiva sobre este “provérbio”. Então, eles apresentam algumas sugestões de interpretações:

  1. Uma referência à maneira de semear sobre áreas alagadas, que se encarregam de espalhar a semente. Quando as águas escoavam, aqueles grãos soterrados e esquecidos transformam-se numa boa colheita.
  2. Possivelmente, uma referência ao comércio de cereais que Salomão fazia por meio marítimo.
  3. Uma exortação à liberalidade ou generosidade, que parece perda, mas que no tempo certo dará o seu retorno, o seu ganho.

Vejam como os textos da ARA e NVI são muito mais amplos transmitindo, juntamente com os textos dos versículos 2 a 6, a mensagem da chamada “lei da colheita, conforme a semeadura”. As ideias centrais são de trabalho persistente, investimento, generosidade, repartir; para, no futuro, colher o resultado dessa farta semeadura.

Então, que tal acabar com algumas falácias?

1ª) Sem essa de achar que o texto bíblico baseado em algum princípio de tradução irá, por si só, promover o seu completo entendimento. Toda a produção humana, intelectual ou material, precisa ser analisada à luz do contexto da época em que foi produzida para ser entendida. No mundo secular, toda a produção literária precisa ser analisada à luz do contexto da época e da vida do autor (sua história, personalidade, ideologias, frustrações, influências recebidas etc). Jamais iremos prescindir de livros de apoio ou referência (dicionários etc) para ajudar no entendimento do texto bíblico, pela explicação detalhada do seu contexto. Isso está cada vez mais próximo do leitor através de arquivos digitais e páginas na internet. No caso da Bíblia, ainda que muitos textos lancem luz sobre outros é essencial a iluminação do Espírito Santo para o seu entendimento. Jesus ordenou: “Fazei discípulos”. Sempre houve e sempre haverá a necessidade de ensinadores da Bíblia!

No caso da canção “cálice”, vejam como há recursos disponíveis para se saber melhor o que o compositor quis dizer, conforme expresso pelos autores da matéria contida no link abaixo.

http://www.webartigos.com/artigos/chico-buarque-de-hollanda-e-sua-influencia-na-sociedade-brasileira/56458/

“A análise é extensa, por conta de que todos os versos vêm impregnados de metáforas utilizadas para narrar o drama da tortura no Brasil no período da ditadura militar.
(Pai, afasta de mim esse cálice)
Resume uma súplica por algo que se quer ver bem distante. Uma fração da música se faz análoga à Paixão de Cristo e o padecer vivido pelo povo aterrorizado pelo regime autoritário. O refrão faz uma alusão à agonia de Jesus Cristo no calvário, mas há ambiguidade na palavra “cálice” em relação ao imperativo “cale-se”, levando-se à atuação da censura.
(De vinho tinto de sangue)
O “cálice” é um utensílio que contém algo em seu interior. Nas Sagradas Escrituras esse conteúdo é o sangue de Cristo, na música é o sangue derramado pelas vítimas da repressão e das torturas.”

2ª) Sem essa de empobrecer o texto bíblico, com essas traduções por equivalência funcional ou dinâmica, alegando que o povo é ignorante e só entende uma linguagem popular. O maior problema do cristianismo atual é o analfabetismo bíblico por desinteresse na leitura e estudo da Bíblia. Tem muita gente culta, que se diz cristã, que tem tempo pra ler jornais, revistas, livros, internet etc. Só não lê a Bíblia.

“No princípio, criou Deus os céus e a terra.” (Gn 1.1)(ARA) tem muito mais força e tanta clareza quanto “No começo Deus criou os céus e a terra.” (Gn 1.1)(NTLH). Nesta troca aqui do “seis” por “meia dúzia” eu prefiro ficar com o “seis”! Se você preferir “meia dúzia”, vai na paz….

3ª) Sem essa de taxar de fundamentalistas e preconceituosos os que não concordam com algumas “modernidades”. Se o mundo vai de mal a pior e o mundo influencia a igreja, temos sim que manter a vigilância. A história do povo de Deus é uma história de contínuas degradações e eventuais restaurações e avivamentos, para não degringolar de vez.

Finalmente, entendo que traduções devem ser revistas continuamente. A tradução ARA tem algumas palavras fora de uso há várias décadas (talante, simulacro etc. etc.). Espero que algum dia surja na SBB um projeto para substituir essas palavras ou, pelo menos, colocar uma referência de “pé de página” ou ”margem de página” com os respectivos sinônimos.

Veja, também, os seguintes artigos, neste blog:

Hino Nacional na Linguagem de Hoje (HNLH)

“Bonde” sem freio….

NTLH – A “bola” murcha!

Vem aí uma nova atualização da Bíblia (Nova ARA)

NTLH – A “bola” murcha!

Num mundo onde tudo muda a todo instante e as mudanças comportamentais muitas vezes pioram o que já não era muito bom, o que ninguém precisa é criar mais dúvidas na mente das pessoas. Como se não bastassem as dúvidas do tipo  “– Qual igreja é séria e confiável?”, também temos agora outra dúvida “– Que tradução da Bíblia devo comprar? Qual é mais confiável?” A constituição brasileira tem um só texto, mas a “constituição divina” – a Bíblia – tem vários, no mesmo idioma. Isso é lamentável! Gera dúvida, insegurança e desconfiança. Gera muita polêmica, discussão e desgaste. Desvia o foco das questões mais importantes do Evangelho e consome energia, inutilmente.

Nessa intenção de popularizar a Bíblia, os editores da NTLH simplesmente esvaziaram a Palavra de Deus em quase 4000 palavras diferentes. Está no site da SBB: “Para se ter uma idéia, a tradução de Almeida tem 8,38 mil palavras diferentes e a NTLH, 4,39 mil, o que a aproxima muito mais do vocabulário dominado pelo brasileiro de cultura média.” (http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=64)

Mas não parou por aí. Deixando de lado o princípio de tradução por equivalência formal, utilizaram o princípio de tradução por equivalência funcional ou dinâmica. Assim, o novo texto foi produzido a partir da interpretação da suposta idéia contida no texto original, empregando-se palavras em linguagem contemporânea.

Veja e compare, você mesmo, o que é essa Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH), nessa minúscula amostra de versículos abaixo:

ARA – Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição Revista e Atualizada no Brasil.

A bíblia sem sangue. (Mt 16.17)

Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. (ARA)
Jesus afirmou: — Simão, filho de João, você é feliz porque esta verdade não foi revelada a você por nenhum ser humano, mas veio diretamente do meu Pai, que está no céu. (NTLH)

A bíblia sem alma. (Sl 42.11)

Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu. (ARA)
Por que estou tão triste? Por que estou tão aflito? Eu porei a minha esperança em Deus e ainda o louvarei. Ele é o meu Salvador e o meu Deus. (NTLH)

A bíblia sem graça. (Lc 1.30; 2.40; Sl 13.5)

Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. (ARA)
Então o anjo continuou: — Não tenha medo, Maria! Deus está contente com você. (NTLH)

Crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele. (ARA)
O menino crescia e ficava forte; tinha muita sabedoria e era abençoado por Deus. (NTLH)

No tocante a mim, confio na tua graça; regozije-se o meu coração na tua salvação. (ARA)
Eu confio no teu amor. O meu coração ficará alegre, pois tu me salvarás. (NTLH)

A bíblia sem honra. (Pv 3.9)

Honra ao SENHOR com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda; (ARA)
Adore a Deus, oferecendo-lhe o que a sua terra produz de melhor. (NTLH)

A bíblia sem poesia. (Jó 29.6; 36.31-33 e muito mais!!!)

6  quando eu lavava os pés em leite, e da rocha me corriam ribeiros de azeite. (ARA)
6  Em casa sempre havia leite à vontade e também azeite, tirado das oliveiras plantadas entre as pedras. (NTLH)

31  Pois por estas coisas julga os povos e lhes dá mantimento em abundância. (ARA)
32  Enche as mãos de relâmpagos e os dardeja contra o adversário. (ARA)
33  O fragor da tempestade dá notícias a respeito dele, dele que é zeloso na sua ira contra a injustiça. (ARA)

31  É assim que Deus alimenta os povos e lhes dá comida à vontade. (NTLH)
32  Ele pega o raio com as mãos e manda que atinja o alvo. (NTLH)
33  O gado sente que a tempestade está perto, e o trovão avisa que ela vem aí. (NTLH)

A bíblia sem carne. (Jó 34.15)

toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó. (ARA)
então todas as pessoas morreriam juntas, no mesmo instante, e voltariam de novo para o pó. (NTLH)

A bíblia sem súplica* (Sl 6.9; ver ainda Sl 55.1; 61.1; 102.1; 119.169)

(*) De Gênesis a Apocalipse a palavra “súplica” aparece apenas uma vez na NTLH. Na ARA aparece pelo menos 31 vezes.

o SENHOR ouviu a minha súplica; o SENHOR acolhe a minha oração. (ARA)
ele me escuta quando peço ajuda e atende as minhas orações. (NTLH)

A bíblia sem visão de Deus (Sl 141.8)

Pois em ti, SENHOR Deus, estão fitos os meus olhos: em ti confio; não desampares a minha alma. (ARA)
Mas eu, ó SENHOR, meu Deus, continuo confiando em ti e buscando a tua proteção. Não me deixes morrer. (NTLH)

A bíblia sem amor ao nome do Senhor Deus (Sl 23.3)

refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome. (ARA)
O SENHOR renova as minhas forças e me guia por caminhos certos, como ele mesmo prometeu. (NTLH)

A bíblia sem bem-aventurados* (Sl 1.1)

(*) De Gênesis a Apocalipse a palavra “bem-aventurados” não aparece na NTLH.

Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. (ARA)
Felizes são aqueles que não se deixam levar pelos conselhos dos maus, que não seguem o exemplo dos que não querem saber de Deus e que não se juntam com os que zombam de tudo o que é sagrado! (NTLH)

A bíblia sem terra (Mt 5.13)

Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. (ARA)
—Vocês são o sal para a humanidade; mas, se o sal perde o gosto, deixa de ser sal e não serve para mais nada. É jogado fora e pisado pelas pessoas que passam. (NTLH)

A bíblia sem perversos (Mt 5.39)

Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; (ARA)
Mas eu lhes digo: não se vinguem dos que fazem mal a vocês. Se alguém lhe der um tapa na cara, vire o outro lado para ele bater também. (NTLH)

A bíblia sem princípio (Jo 1.1)

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (ARA)
Antes de ser criado o mundo, aquele que é a Palavra já existia. Ele estava com Deus e era Deus. (NTLH)

A bíblia sem virgem (Is 7.14 – Mt 1.23; Jr 2.32)

Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel. (ARA)
Pois o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a jovem que está grávida dará à luz um filho e porá nele o nome de Emanuel. (NTLH)

Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco). (ARA)
“A virgem ficará grávida e terá um filho que receberá o nome de Emanuel.” (Emanuel quer dizer “Deus está conosco”.) (NTLH)

A bíblia sem abundância* (Jo 10.10)

(*) De Gênesis a Apocalipse a palavra “abundância” não aparece na NTLH.

O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. (ARA)
O ladrão só vem para roubar, matar e destruir; mas eu vim para que as ovelhas tenham vida, a vida completa. (NTLH)


Veja, também, os seguintes artigos, neste blog:

Hino Nacional na Linguagem de Hoje (HNLH)

“Bonde” sem freio….

Princípios de tradução da Bíblia

Vem aí uma nova atualização da Bíblia (Nova ARA)

“Bonde” sem freio….

Vivemos em uma época que até “bonde sem freio”(*) faz sucesso.

Brincadeiras à parte, então, veja só a possível “evolução” dessas traduções “modernas” da Bíblia para o texto de Mateus 5.27-30.

Não é difícil esse negócio se tornar um bonde sem freio.

Era assim…..

Almeida Revista e Atualizada (ARA) – Versão Impressa (tradicional)

27 Ouvistes que foi dito: Não adulterarás.
28  Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela.
29  Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno.
30  E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo para o inferno.

Depois veio a NTLH (Nova Tradução na Linguagem de Hoje)……

Não demora muito e teremos isso…..

Nova Tradução na Linguagem da Galera (NTLG) – Versão impressa

27 Aí, galera, tá ligado no que rolou lá no papiro dos judeus: “Sem essa de pegar mulher casada.”
28  Saca só o que tá rolando agora: o mané que escanear  uma gata, só no visual, já é, velho,  tipo assim, já  pegou a mulher  sem  ter chegado junto.
29  Fica esperto. Se tá difícil segurar a onda, entra numa de pirata de um olho só e manera no visual. Tô te falando que é melhor competir na paraolimpíada do que mergulhar de cabeça no caldeirão do capeta.
30  Tô te falando. Se a tua mão direita tá vacilando, na boa,  velho, entrega ela pro tubarão. Já te falei que é melhor competir na paraolimpíada do que mergulhar de cabeça no caldeirão do capeta.

Com a adaptação para a internet fica assim…..

Nova Tradução na Linguagem da Galera (NTLG) – Versão para Internet

27 aih…galera…tah ligadu nu ke rolo lah nu papiru dus judeus: “sem essa d pegah mulhe kasada……”
28  saca soh u ke tah rolanu agora: u maneh ke escaneah  1 gata…soh nu visuau…jah eh…velhu… tipu assim…jah  pego a mulhe  sem  te xegadu juntu……
29  fica espertu…… c tah dificiu sigurah a onda…entra numa d pirata d 1 olhu soh i manera nu visuau…… tu t falanu ke eh melhor kompeti na paraolimpiada du ke mergulhah d kabessa nu kaldeiraum du kapeta……
30  tu t falanu…… c a tua maum direita tah vacilanu…na boa… velhu…entrega ela p tubaraum…… jah t falei ke eh melhor kompeti na paraolimpiada du ke mergulhah d kabessa nu kaldeiraum du kapeta……

Misericórdia, Senhor!  Livra-nos disso! Preserva a tua Palavra no nível de um texto sagrado.

Você tem certeza de que é isso o que Deus quer?

Não estou dizendo que alguém hoje está planejando chegar a esse ponto. Entretanto, esse negócio de flexibilizar é complicado, é como um bonde sem freio. Essa tendência de adequar as coisas de Deus ao homem, aos costumes atuais é muito perigosa. Quem é que tem de se adequar: a Bíblia e seus ensinos ao homem e seus novos costumes, ou o homem à Bíblia e seus eternos ensinos? Quanta gente aprendeu a ler na Bíblia? Aprendeu, porque queria ler a Bíblia. Quem sabe tem gente precisando cuidar um pouco mais do seu português? O grande problema para o cristão de hoje é conseguir desenvolver o hábito de ler diariamente a Bíblia, é ter fome e sede da Palavra de Deus. São tantas as outras prioridades ou passatempos que a Bíblia acaba ficando de lado. Meu falecido pai não teve o privilégio de concluir o ensino fundamental, mas compreendia bem sua bíblia tradicional.

E, você? Vai querer entrar nesse bonde sem freio ou ficar de fora, ao lado daqueles que prezam pelo bom senso, pelo equilíbrio e pelo respeito às coisas sagradas?

“E, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro.” (Ap 22.19)

Veja também o post: “Hino Nacional na Linguagem de Hoje (HNLH)”

Aguarde mais informações sobre este assunto nos próximos posts

(*) Comparação feita pelos torcedores do flamengo ao seu time no início da temporada de 2011.


Veja, também, os seguintes artigos, neste blog:

Hino Nacional na Linguagem de Hoje (HNLH)

NTLH – A “bola” murcha!

Princípios de tradução da Bíblia

Vem aí uma nova atualização da Bíblia (Nova ARA)

Hino Nacional na Linguagem de Hoje (HNLH)

Hoje é assim:

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da pátria nesse instante.

Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!

 E se fosse assim?

Perto das margens calmas do rio Ipiranga,
Ecoou o grito de um povo heróico.
E, a partir desse momento,
A liberdade da pátria tornou-se uma realidade.
A garantia dessa conquista
Foi conseguida com um gesto de força.
Para ter a liberdade,
Lutaremos até morrer, se assim for preciso.

O que você achou? Gostou? Então, tente cantar!

Imagine que, por hipótese, você tomasse conhecimento de que foi aprovado um decreto determinando que a partir de agora o Hino Nacional Brasileiro teria essa nova letra. Não bateu em você aquele sentimento ruim, de perda, de ultraje e “desrespeito” à pátria? E se o objeto da mudança fosse o texto do livro mais importante do mundo, o Livro dos livros,  o Livro Sagrado, a Bíblia, a Santa Palavra de Deus? Quão mais forte seria esse sentimento? A qual outro sentimento ele poderia ser comparado? À notícia do surgimento de um câncer? À perda de uma pessoa querida? Eu usei termos indicando suposição, “imagine”, “se…fosse”, porém, infelizmente, não se trata de suposição, mas de realidade. Estou me referindo a essas versões da BLH (Bíblia na Linguagem de Hoje), como a NTLH e outras.  E o meu sentimento é exatamente esse e não me importo se alguém achar que estou exagerando. Tenho muitas razões pra me sentir assim e vou compartilhar algumas em próximos posts, com muita humildade e respeito, pois meu objetivo não é “atacar quem fez”, mas “criticar o trabalho feito”. A intenção dos editores pode ter sido boa, mas o resultado é ruim, preocupante. Em 1973, quando o Novo Testamento na Linguagem de Hoje foi lançado eu achava que a intenção dos seus editores era criar um mero acessório didático para iniciantes na fé cristã, comparável aos livros didáticos usados nos primeiros anos da Escola Secular. Assim, na sequência, com mais maturidade, tais pessoas trocariam essa publicação acessória pela Bíblia Tradicional, versão de Almeida. Pura ingenuidade eclesiástica de um jovem cristão! Em 1988 foi lançada a versão completa da BLH e, no ano 2000 a tal NTLH (Nova Tradução na Linguagem de Hoje). O que se viu a partir daí foi um tremendo investimento em Marketing e Seminários de Ciências Bíblicas com a intenção de incentivar líderes e formadores de opinião a adotarem a tal NTLH como a sua bíblia oficial e a da sua igreja. Em novembro de 2001 participando de um desses seminários, com o objetivo de aprimorar meus conhecimentos bíblicos, fui lamentavelmente surpreendido por essa estratégia velada e sutil. Infelizmente alguns frutos já estão sendo colhidos. Calendários, Revistas e outras publicações já adotam o novo texto. Coisas repetidas com muita insistência, em nome da modernidade, acabam sempre conquistando espaço, afinal, quem quer ser taxado de careta, retrógrado, antiquado etc etc? A pergunta que não quer calar é: Por que todo esse investimento não foi ou não é aplicado em algo efetivamente útil à causa do Evangelho?

Finalmente, todos sabemos que “A VERDADE NÃO PRECISA SER DEFENDIDA, MAS PROCLAMADA”. Não tenho a intenção de defender a Bíblia, mas de ser mais uma voz profética, juntamente com tantas outras, a denunciar tudo aquilo que possa se tornar um desserviço à causa do Evangelho feito em nome da modernidade. Que assim Deus me ajude!


Veja, também, os seguintes artigos, neste blog:

“Bonde” sem freio….

NTLH – A “bola” murcha!

Princípios de tradução da Bíblia

Vem aí uma nova atualização da Bíblia (Nova ARA)