7 Coisas Novas, em Cristo

Introdução

“Coisas novas, em Cristo”, são as mudanças transformadoras que ocorrem na vida de uma pessoa, quando ela se reconcilia com Deus, pela mediação do seu Filho, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e é regenerada e habitada pelo Espírito Santo.

1) Novo Nascimento

“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.” (2Co 5.17)

O cristão autêntico é alguém que experimentou uma transformação interior através do poder do Espírito Santo. Ele é uma nova criatura em Cristo, deixando para trás o velho homem e vivendo uma vida renovada, em comunhão com Deus.

2) Nova Filiação e Poder

“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” (Jo 1.12-13)
“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo.” (1Jo 3.1)

Regenerado pelo Espírito Santo, através desse novo nascimento, o cristão é inserido na família de Deus. Ele passa de criatura para filho ou filha de Deus, tendo parte no seu reino e sendo herdeiro das promessas divinas (Rm 8.15-17). Os filhos de Deus recebem um novo poder outorgado pelo Espírito Santo que neles passa a habitar (At 1.8; 4.33; 6.8; Rm 15.19).

3) Nova Relação com Deus

“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo;” (Rm 5.1)
“Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Rm 8.1)

O cristão autêntico reconhece que sua reconciliação com Deus não foi alcançada por suas próprias obras ou méritos, mas sim pela graça salvadora de Deus. Ele entende que foi salvo pela graça, através da fé em Jesus Cristo, e não por seus próprios esforços (Ef 2.8-9). Com isso ele passa a desfrutar de paz com Deus (Jo 14.27) e paz interior, paz de espírito (Fp 4.7).

4) Novas Atitudes

“visto que andamos por fé e não pelo que vemos.” (2Co 5.7)
“É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis.” (2Co 5.9)

O cristão autêntico é alguém que rompe com o passado e com o pecado para viver uma vida de pureza e santidade (Tt 2.12). Ele segue a Jesus Cristo, o seu exemplo e os seus ensinamentos. Ele se esforça para viver de acordo com os princípios do amor, da justiça, da misericórdia e da humildade, buscando imitar a vida de Cristo em seu próprio caminhar (1Jo 2.6; Fp 2.5).

Se permanecermos em Cristo e na sua palavra, que é a expressão da verdade, desfrutaremos da verdadeira liberdade (Jo 8.31, 32 e 36; Gl 5.1). Somos libertos da escravidão e condenação do pecado (Rm 8.1), do poder do pecado (Rm 6.14) e, um dia, seremos libertos da presença do pecado (Rm 13.11).

5) Nova Missão

“De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus.” (2Co 5.20)
“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;” (Mt 28.19)

O cristão autêntico é um representante do Reino de Deus na Terra – Embaixador do Reino. Ele é chamado para proclamar as boas novas do evangelho, compartilhar o amor de Cristo com os outros e trabalhar pela justiça, paz e reconciliação em um mundo marcado pelo pecado e pela injustiça. É chamado para ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-16).

6) Novo Objetivo de Vida

“E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” (2Co 5.15)

Jesus resumiu toda a lei mosaica em “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. O Catecismo de Westminster começa afirmando que “o fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre”. Daí pode-se enumerar os seguintes objetivos principais da vida de um cristão autêntico:

(i) Vida com Deus. Amor, Relacionamento íntimo, Dependência, Adoração, Oração, Santificação e Obediência à sua vontade.  

(ii) Comunhão com os irmãos. Viver como igreja de Cristo, sendo do mesmo parecer; Amando, Respeitando, Apoiando, Sujeitando-se e Honrando uns aos outros.

(iii) Observância da Palavra de Deus. Leitura, Meditação, Estudo, Aprendizado, Internalização e Prática dos ensinos bíblicos, na busca da maturidade espiritual e, consequentemente, a necessária efetividade da fé cristã, influenciando todas as áreas da existência humana.

(iv) Evangelização e Missões. Cumprir o IDE de Jesus, anunciando o Evangelho e a Salvação em Cristo, “a tempo e fora de tempo” (2Tm 4.2-4), fazendo discípulos de todas as nações. Testemunhando de Cristo, aos de perto e aos de longe, principalmente com a vida, mas, também, com a pregação do Evangelho, que é o poder de Deus para a Salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16), pois a fé vem pela pregação (Rm 10.17).

(v) Serviço ao Próximo. Amor e cuidado, ao e com o próximo, como a nós mesmos. Fazer o bem a todos, mas, principalmente, aos da família da fé (Gl 6.10). Dar atenção especial ao chamado “quarteto da vulnerabilidade”, isto é, VIÚVAS, ÓRFÃOS, POBRES e ESTRANGEIROS (Zc 7.10; Êx 22.21-22). 

7) Nova Esperança

“Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus.” (2Co 5.1)
“Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça.” (2Pe 3.13)

Não há como comparar a esperança das pessoas sem Cristo, com a das outras com Cristo. A esperança das primeiras se limita a esta vida. Por outro lado, os que estão em Cristo, têm dele mesmo esta promessa: “Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo por vir, a vida eterna.” (Mc 10.29-30)

Conclusão

Esses são apenas alguns aspectos e textos bíblicos que destacam a ideia de que, ao se entregar a Cristo e seguir seus ensinamentos, uma pessoa experimenta uma transformação espiritual e moral significativa. Isso envolve uma mudança na maneira de pensar, agir e se relacionar com Deus e com os outros, buscando viver de acordo com os princípios e valores cristãos.

Ser uma nova criatura em Cristo representa, portanto, a promessa e a esperança de uma vida renovada e restaurada através do relacionamento com Jesus, com desdobramento além-túmulo, isto é, eterno.

Deus seja louvado!

Casamento e Família – Livros

Sugestões de leitura para o fortalecimento do seu casamento e família:

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No entanto, é possível, sim – e perfeitamente viável, aliás -, duas pessoas serem casadas e felizes. Basta entender que o casamento não é um jardim de flores o tempo todo, mas também não precisa ser um permanente campo de batalhas. Com seu estilo leve mas sem abrir mão da profundidade do conteúdo, Hernandes Dias Lopes, neste livro, fala sobre o casamento na perspectiva de uma construção permanente. Uma obra que nunca termina, embora, a cada dia, marido e mulher possam edificá-la com inteligência, dedicação e esforço.

Casados & Felizes não esconde as dificuldades do matrimônio, mas também não abre mão de mostrar que a plenitude é possível entre duas pessoas tão diferentes que levam para a vida conjugal uma enorme bagagem de sonhos, frustrações, valores e expectativas.


Em situações de emergência os aspectos emocionais e espirituais não são considerados com a mesma urgência que as necessidades materiais. E, por vezes, as pessoas dispostas a ajudar não sabem como agir. A boa notícia é que todo o povo de Deus pode equipar-se para o ministério da consolação.Crises e Perdas na Família apresenta conceitos, princípios e ferramentas para o exercício desse trabalho. Mostra que os cristãos – tanto clérigos quanto leigos – podem equipar-se para ajudar outras pessoas, que o Deus de toda a consolação nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em angústia (2 Co 1.3-4).O autor considera a família como o espaço no qual as pessoas adoecem e são curadas. Assim, enfatiza mais os recursos que as carências e acredita que os que sofrem podem ser protagonistas de sua própria recuperação.


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Escrevi este livro com um único propósito: compartilhar o que a Palavra de Deus diz acerca da família. Este material foi preparado para aqueles que acreditam que a Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus, nosso único guia de fé e conduta. Reconheço na Bíblia a palavra final, o modelo único e excelente para se viver a vida familiar.

Deus criou o homem. Deus instituiu o casamento e a família. Deus nos deu o “Manual do Fabricante”, que é a sua palavra. Portanto, creio que o fator mais importante para um casamento bem-sucedido seja atender e praticar os princípios instituídos pelo próprio Criador. Minha oração e desejo sincero é que esse ensino edifique e fortaleça sua vida familiar e também sua relação com Deus. Boa leitura!
Luciano Pereira subirá


ACONSELHAMENTO de Casais:

Neste manual, o Dr. Gary R. Collins trata, dentro de uma cosmovisão cristã, dos principais temas que um conselheiro precisa conhecer para entender melhor o comportamento humano, ter uma perspectiva mais clara sobre as bases bíblicas do aconselhamento.


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As 4 Representações Bíblicas da Expiação

Introdução

“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.” (Rm 5.12)

Para se falar em expiação é necessário referir-se ao pecado original. A história de Adão e Eva é uma narrativa central no Cristianismo encontrada no livro de Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, que registra a origem de todas as coisas. Cremos nesta história como um relato literal e que Adão e Eva foram os primeiros seres humanos criados por Deus e que sua desobediência resultou na entrada do pecado no mundo, levando à queda da humanidade. Isso resultou na separação entre Deus e o homem, tornando necessária a redenção através de Jesus Cristo.

Não compactuamos com aqueles “cristãos” ou “não cristãos” que interpretam a história de Adão e Eva como uma alegoria ou símbolo ou mito ou lenda, em vez de um relato literal. Alguns seguem uma perspectiva “científica” que a consideram como inconsistente com as descobertas da ciência, como a teoria da evolução. Entretanto, a teoria da criação tem encontrado provas sobradas ou vestígios/rastros na natureza que apontam para um Deus Criador. É bom lembrar que nem Evolucionismo e nem Criacionismo são ciência! São TEORIAS, isto porque não há como provar cientificamente a origem da vida e do universo. Não se consegue repetir isso em laboratório.

O pecado pode ser resumido sob três aspectos:

1°) Um ato, a violação, ou falta de obediência para com a vontade de Deus.
2°) Um estado, ausência de justiça.
3°) Uma natureza, inimizade para com Deus.

Estabelecida a realidade do pecado original e de toda a raça humana, bem como da sua consequência, naturalmente o foco se volta para a saída dessa terrível situação. Salvação é uma palavra que resume todos os atos e processos redentivos ou expiatórios, cuja ideia é a de livramento da condenação eterna: fé, arrependimento, regeneração, conversão, justificação, santificação e glorificação. Cada uma, isoladamente, não é salvação; mas o resultado de todas o é. Um exemplo prático que ilustra essa verdade é o “Disco de Newton”: composto por setores, cada qual com uma cor distinta, quando girado produz a cor branca.

1. A EXPIAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO (AT)

Os sacrifícios, além de proverem um ritual de adoração para os israelitas, eram sinais (“tipos”) proféticos que apontavam para o sacrifício perfeito do “Cordeiro de Deus” – Jesus Cristo. Visto que centenas de anos haviam de passar antes da consumação desse sacrifício, o que deveria fazer o homem pecador?

Desde o princípio Deus ordenou uma instituição que prefigurasse o sacrifício e que fosse também um meio de graça para os arrependidos e crentes. Referimo-nos ao sacrifício de animais, uma das mais antigas instituições humanas.

A primeira menção de um animal imolado ocorre no terceiro capítulo de Gênesis. Depois que pecaram, os nossos primeiros pais se tornaram conscientes da nudez física – o que era uma indicação exterior da nudez da consciência. Seus esforços em se cobrirem exteriormente com folhas e interiormente com desculpas, foram em vão. Lemos, então, que o Senhor Deus tomou peles de animais e os cobriu. Apesar de o relato não declarar em palavras que tal providência fosse um sacrifício, sem dúvida, meditando no significado espiritual do ato, não se pode evitar a conclusão de que temos aqui uma revelação de Jeová, o Redentor, fazendo provisão para redimir o homem. Vemos uma criatura inocente morrer para que o culpado fosse coberto; esse é o propósito principal do sacrifício – uma cobertura divinamente provida para uma consciência culpada.

Passado algum tempo, a Bíblia registra que Deus se agradou de Abel e de sua oferta, enquanto de Caim e de sua oferta não. A oferta de Abel consistiu no sacrifício de animais o que já apontava para esse método substitutivo de expiar pecado. Quando Israel se organizou como um povo, a Lei Mosaica regulamentou todo um ritual de sacrifícios de animais para a expiação de pecados: “Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e, sem derramamento de sangue, não há remissão.” (Hb 9.22). Esse modus operandi instituído por Deus era de eficácia limitada e precisava ser repetido. Entretanto, apontava para o único, perfeito e definitivo sacrifício que haveria de ser realizado por Cristo na cruz do Calvário.

Os sacrifícios do Antigo Testamento são vistos como bons, pois foram ordenados por Deus. Quando um israelita piedoso trazia uma oferta, ele entendia duas verdades essenciais: em primeiro lugar, o mero arrependimento não era suficiente; era necessário um gesto visível que demonstrasse a remoção do pecado (Hb 9.22). No entanto, ele também absorvia a mensagem dos profetas de que o ritual, sem uma disposição interna sincera do coração, era apenas uma formalidade vazia. O ato de sacrificar deveria refletir os sacrifícios internos de louvor, oração, justiça e obediência – uma expressão do coração contrito e humilde (Sl 26.6; 50.12-14; 4.5; 51.16; Pv 21.3; Am 5.21-24; Mq 6.6-8; Is 1.11-17).

O primeiro livro da Bíblia descreve uma vítima inocente morrendo pelo culpado e, o último livro da Bíblia fala do Cordeiro sem mancha, imolado, para livrar os culpados de seus pecados (Ap 5.6-10).

2. A EXPIAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO (NT)

A Expiação não foi um pensamento de última hora da parte de Deus. A queda do homem não o apanhou de surpresa, de modo a necessitar de rápidas providências para remediá-la. Antes da criação do mundo, Deus, que conhece o fim desde o princípio, proveu um meio para a redenção do homem. Como uma máquina é concebida na mente do inventor antes de ser construída, do mesmo modo a expiação estava na mente e no propósito de Deus, antes do seu cumprimento.

Essa verdade é afirmada pelas Escrituras. Jesus é descrito como “…do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8). O Cordeiro Pascal era “preordenado” vários dias antes de ser sacrificado (Êx 12.3, 6); assim também Cristo, o Cordeiro imaculado e incontaminado, foi “…conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós…” (1Pe 1.19, 20). Ele comprou para o homem a vida eterna, a qual Deus “…prometeu, antes dos tempos eternos…” (Tt 1.2). Que haveria um grupo de pessoas santificadas por esse sacrifício, foi decretado “…antes da fundação do mundo…” (Ef 1.4). Pedro disse aos judeus que apesar de terem, na sua ignorância, crucificado a Cristo com mãos ímpias, sem dúvida haviam cumprido o plano eterno de Deus, pois Cristo foi “…entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus…” (At 2.23).

a) O fato da expiação

A expiação, que fora preordenada desde a eternidade (Ap 13.8) e prefigurada tipicamente no ritual do AT, cumpriu-se historicamente, na crucificação de Jesus, quando se consumou o divino propósito redentivo. “Está Consumado!”

Seus discípulos, que ainda estavam sob a influência de ideias judaicas acerca do Messias e do reino, não podiam compreender a necessidade de sua morte e só com dificuldade podiam aceitar o fato (Mc 9.32). Mas, após a ressurreição e a ascensão, eles o entenderam e sempre, depois disso, afirmaram que a morte de Cristo fora divinamente ordenada como o meio da expiação. “…Cristo morreu pelos nossos pecados…” é seu testemunho de sempre.

b) A necessidade da expiação

A necessidade da expiação no NT é consequência de dois fatos: a santidade de Deus e a pecabilidade do homem. A reação da santidade de Deus contra a pecabilidade do homem é conhecida como sua ira, a qual pode ser evitada mediante a expiação.

1°) A santidade de Deus

Deus é santo por natureza, o que significa que ele é justo em caráter e conduta. Esses atributos do seu caráter manifestam-se em seus tratos com a criação (Sl 33.5; 89.14).

Deus criou tanto o homem quanto o mundo com leis específicas que são fundamentais para a própria essência da vida e da personalidade humana. Essas leis não são apenas externas, mas são escritas no coração e na própria natureza do ser humano (Rm 2.14, 15). Elas estabelecem uma conexão intrínseca entre o homem e seu Criador, estabelecendo a base da responsabilidade humana. Essas leis não só orientam a maneira como vivemos e nos relacionamos com Deus e uns com os outros, mas também nos lembram constantemente de nossa responsabilidade moral e ética como seres criados à imagem de Deus.

Em muitas ocasiões essa relação foi reafirmada, ampliada e interpretada sob outro sistema chamado Aliança. Por exemplo, no Sinai Deus reafirmou as condições sob as quais ele podia ter comunhão com o homem (a lei moral) e, então estabeleceu uma série de regulamentos pelos quais poderia observar essas condições na esfera da vida nacional e religiosa. Guardar a aliança significa estar em relação com Deus, ou estar na graça; pois sendo Deus justo ele só pode ter comunhão com aqueles que andam na justiça: “Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?” (Am 3.3). E estar em comunhão com Deus significa vida.

2°) A pecabilidade do homem

Essa relação foi perturbada pelo pecado que é um distúrbio da relação pessoal entre Deus e o homem. É desrespeitar a constituição, por assim dizer, ação que afeta a Deus e aos homens, tal qual a infidelidade que viola o pacto matrimonial sob o qual vivem o homem e sua mulher (Jr 3.20). “…vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus…” (Is 59.2).

3°) A ira de Deus

O pecado é essencialmente um ataque contra a honra e a santidade de Deus. É rebelião contra Deus, pois pelo pecado deliberado, o homem prefere a sua própria vontade em lugar da vontade de Deus, e por algum tempo torna-se “autônomo”. Mas se Deus permitisse que sua honra fosse atacada então ele deixaria de ser Deus. Sua honra pede a destruição daquele que lhe resiste; sua justiça exige a satisfação da lei violada; e sua santidade reage contra o pecado sendo essa reação reconhecida como manifestação da ira.

Mas essa reação divina não é automática; nem sempre ela entra em ação instantaneamente, como acontece com a mão em contato com o fogo. Deus é tardio em destruir a obra de suas mãos. Ele insta com o homem; ele espera ser gracioso. Ele adia o juízo na esperança de que sua bondade conduza o homem ao arrependimento (Rm 2.4; 2Pe 3.9). Mas os homens interpretam mal as demoras divinas e zombam do dia do juízo (Ec 8.11). Embora demore, a retribuição final virá, pois num mundo governado por leis terá que haver um ajuste de contas (Gl 6.7).

c) A natureza da expiação

O significado da morte de Cristo pode ser melhor entendido nas seguintes palavras-chave: Expiação, Propiciação, Substituição, Redenção e Reconciliação.

A palavra “expiação” no hebraico “kaphar“, significa literalmente “cobrir” e é traduzida pelas seguintes palavras: fazer expiação, purificar, quitar, reconciliar, fazer reconciliação, pacificar, ser misericordioso e adiar. A expiação, no original, inclui a ideia de cobrir, tanto os pecados (Sl 78.38; 79.9; Lv 5.18) como, também, o pecador (Lv 4.20).

O uso bíblico e o significado da palavra devem ser claramente separados do seu uso na teologia. Na teologia é um termo que cobre toda a obra sacrificial e redentora de Cristo. No AT, expiação é o termo usado para traduzir as palavras hebraicas que significam “cobrir”, “cobertura” ou “coberta”. A expiação é, portanto, não a tradução do hebraico, mas um conceito puramente teológico. Os sacrifícios do AT jamais removiam o pecado do homem (Hb 10.4).

As ofertas levíticas “cobriam” os pecados de Israel e em antecipação da cruz, mas não os tirava. Foram os pecados cometidos no período do AT (“cobertos” provisoriamente pelos sacrifícios levíticos), que Deus deixou “impunes” (Rm 3.25), pois a justiça de Deus não foi vingada até que, na cruz, Jesus Cristo fosse proposto “como propiciação”. A palavra “expiação” não ocorre no NT; a palavra em Romanos 5.11 é “reconciliação”.

A morte de Cristo foi uma morte expiatória, porque seu propósito era apagar o pecado (Hb 9.26, 28; 2.17; 10.12-14; 9.14). Pela morte expiatória de Cristo os pecadores são purificados do pecado e logo feitos participantes da natureza de Cristo. Eles morrem para o pecado a fim de viverem para Cristo.

3. AS 4 REPRESENTAÇÕES DA EXPIAÇÃO

A expiação é um tema central na teologia cristã e tem várias representações na Bíblia. Aqui estão algumas das principais representações da expiação:

3.1 Aspecto Moral (Jo 3.16)

A Redenção ou expiação é descrita como uma provisão originada no amor de Deus e manifestado este amor no universo. É também um exemplo de amor desinteressado para nos livrar do egoísmo, ao considerar o Salvador na agonia da cruz. Nos textos de João 3.16, Romanos 5.8 e 1João 4.9, a morte de Cristo é mencionada como uma fonte de estímulo moral aos homens. O amor “desinteressado “ e incondicional de Deus faz com que ele se aproxime de nós (Jo 3.16) e esse amor nos constrange a corresponde-lo.

3.2 Aspecto Legal (Gl 4.4-5)

Segundo este aspecto os pecadores estão debaixo da lei, e por serem todos transgressores da lei, estão condenados. Foi um ato de obediência que os pecadores violaram, então, a penalidade paga com a morte de Jesus propicia o resgate do culpado. É uma exibição da justiça de Deus, necessária à reivindicação do seu procedimento no perdão e restauração dos pecadores. Nos textos bíblicos de Gálatas 4.4-5, Mateus 3.15, 5.17, Romanos 5.19, Gálatas 3.13, Hebreus 9.28 e outros, a morte de Cristo é representada como uma exigência da lei e do governo de Deus. Portanto, pela desobediência do homem este é condenado pela lei. Mas, por um ato de obediência de Cristo o homem é resgatado, redimido.

3.3 Aspecto Comercial (1Tm 2.16)

A Redenção é descrita como um resgate pago para nos libertar da escravidão do pecado. Nos textos de Mateus 20.28, Marcos 10.45, 1Timóteo 2.6, a morte de Cristo é representada como o preço de nossa libertação do pecado e da morte. A palavra “redimido” aqui significa “comprado outra vez”.

Embora a justificação seja adquirida pelo pecador de forma gratuita, ela custou um preço elevado, tanto para Deus Pai como para o Filho de Deus; mas somente a deidade poderia satisfazer as condições que permitem que um pecador seja perdoado e justificado.

As palavras gregas originais, traduzidas por redenção (lytrosis e apolytrosis – “apó“, salientando a partida do cativo ou escravo para a sua liberdade), indicavam o preço pago para comprar de volta um escravo ou cativo, tornando-o livre pelo pagamento de um “resgate” (1Tm 2.6; Rm 3.24; Ef 1.7; 4.30; Mc 10.45; Tt 2.14; 1Pe 1.18; Hb 9.12).

A seguir, relacionamos um grupo de palavras gregas que representam a ideia de redenção:

GregoTexto BíblicoSignificado
lytronMc 10.45; Mt 20.28“preço de soltura”, “resgate”, “preço do resgate”
antilytron1Tm 2.6“resgate”, “preço do resgate”
lytroõLc 24.21; Tt 2.14; 1Pe 1.18“resgatar”, “redimir”
lytrõsis“, “apolytrõsisLc 2.38; 1.68 Rm 3.24“redenção”, “libertação”, “soltura”
lytrõtesAt 7.35“redentor”

Outra maneira de expressar a ideia do resgate inclui a de ser “comprado por preço”:

agorazõ (Mt 13.44; Lc 22.36; 1Co 6.20; 7.23; 2Pe 2.1; Ap 5.9; 14.3-4) – “comprar”. Significa comprar na “agorá” (mercado).

exagorazõ (Ef 5.16; Cl 4.5; Gl 3.13, 14; 4.4) – “redimir”. Mesmo sentido anterior, só que salienta a libertação.

O homem é considerado como um escravo “vendido à escravidão do pecado” (Rm 7.14) e sob a sentença de morte (Ez 18.4; Jo 3.18-19; Rm 6.23), mas sujeito à redenção pelo preço de compra do sangue do redentor.

Portanto, “redenção” é “libertar pagando um preço”. A quem foi pago tal preço? Circulava entre alguns cristãos pós-apostólicos uma falsa ideia que dizia que o preço desse resgate seria pago ao diabo. Entretanto, o diabo foi vencido na morte de Cristo. O preço se refere as exigências da Santidade de Deus!

3.4 Aspecto Sacrificial  (Hb 9.11-12)

A doutrina da expiação é vividamente ilustrada na instituição do sacrifício na lei mosaica. Trata-se de uma mediação sacerdotal que busca reconciliar o homem com Deus e Deus com o homem. O ato de reconciliação visa eliminar a inimizade não do transgressor, mas da parte ofendida. O sacrifício de Cristo é concebido como uma oferta expiatória pelos pecados da humanidade, uma propiciação que atende à exigência da santidade violada e uma substituição dos sofrimentos e da obediência de Cristo em nosso lugar. Os textos bíblicos de Hebreus 9.11-12, Romanos 5.10, 2Coríntios 5.18-19, Efésios 2.16 etc. mostram que a morte de Cristo é exigida pelo atributo de justiça de Deus.

Conclusão

Que efeito tem para o homem a obra expiatória de Cristo? Podemos encerrar este estudo citando cinco aspectos da eficácia da expiação baseado no que escreveu Myer Pearlman[1]:

(i) Perdão da transgressão:

Por meio de sua obra expiatória, Jesus Cristo pagou a dívida que nós não poderíamos saldar e assegurou a remissão dos pecados passados.

(ii) Livramento do Pecado:

Por meio da expiação o crente é liberto, não somente da culpa dos pecados, mas também pode ser liberto, do poder do pecado. E, um dia, será liberto da presença do pecado.

(iii) Libertação da morte:

“A morte corporal se verifica quando o espírito abandona o corpo, ao passo que a morte espiritual ocorre quando Deus abandona o espírito do homem”.

A Bíblia nos revela que a morte tem um significado tanto físico como espiritual: morte espiritual, enquanto o homem vive (Ef 2.1; 1Tm 5.6); morte física (Hb 9.27); e a segunda morte ou morte eterna (Ap 21.8; Jo 5.28, 29; 2Ts 1.9; Mt 25.41). Toda a humanidade está sujeita à morte física. Entretanto, pela obra expiatória de Cristo fomos libertos da “segunda morte” ou da separação eterna de Deus já que este é o seu significado.

(iv) O dom da vida eterna

Cristo morreu para que nós não perecêssemos (a palavra é usada no sentido bíblico de ruína espiritual), mas “tenhamos a vida eterna” (Jo 3.14-16; Rm 6.23). A vida eterna transcende a mera existência; representa viver no favor de Deus e em comunhão constante com ele. Esta vida é experimentada no presente, uma vez que os salvos já desfrutam da comunhão com Deus. Ao mesmo tempo, é descrita como futura, pois será vivida plenamente no futuro, caracterizada por uma comunhão completa e perfeita com Deus. (Tt 1.2; Rm 6.22).

(v) A vida vitoriosa

Jesus declarou: “…eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.” (Jo 10.10). E, o apóstolo Paulo acrescentou: “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.” (Rm 8.37). Essa vida vitoriosa pode ser caracterizada por:

  • Paz com Deus e paz interior;
  • Unção e poder do Espírito Santo que passa a habitar em nós, capacitando-nos para toda boa obra;
  • Vitória sobre o pecado e sobre o diabo;
  • Observância de princípios e valores morais e espirituais superiores fundamentados na Bíblia, que influenciam positivamente nossa vida, nossa família e aqueles que estão ao nosso redor;
  • Favor e proteção divinos;
  • Confiança e segurança nas adversidades;
  • Uma viva esperança quando deixarmos esta vida;
  • Dentre outras.

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo.” (1Pe 1.3-5)

A Deus toda a honra e glória pela mediação e expiação de seu Filho Jesus Cristo, em nosso favor, ali na cruz do Calvário!

Bibliografia

1. Bíblia Sagrada (SBB – Almeida Revista e Atualizada – ARA).
2. Bíblia Online – SBB.
3. A Bíblia Anotada (MC – Editora Mundo Cristão).
4. Pearlman, Myer – Conhecendo as doutrinas da Bíblia – Ed. Vida – 1978
5. Anotações de Aula – Prof. Aderbal Barreto da Silva – Teologia Sistemática – Seminário Teológico Betel-RJ.
6. R. N. Champlin, Ph. D. – O Novo Testamento Interpretado – Versículo por versículo – MILENIUM Distribuidora Cultural Ltda. – 1982.
7. The Analytical Greek Lexicon Revised (Harold K. Moulton – 1978).
8. Internet / ChatGPT.


[1] Conhecendo as doutrinas da Bíblia – Ed. Vida


Veja, também:

Crônica do Calvário

As 7 “palavras” da cruz


JOSÉ, a fidelidade a Deus recompensada

Texto base: Gênesis 41.1-57

Introdução

Por que a fidelidade a Deus nunca é em vão?

Porque é Promessa Divina:

Deus promete recompensar aqueles que lhe são fiéis e suas promessas nunca falham. Essas recompensas podem não ser dadas imediatamente, assim como podem não ser visíveis ou tangíveis. Entretanto, Deus não é homem para que minta ou deixe de cumprir a sua palavra, as suas promessas. Enquanto aguardamos a resposta divina, a confiança e esperança no Senhor há de produzir em nós paz interior, força para enfrentar desafios e uma sensação de propósito e significado na vida.

Porque a história confirma:

A própria Bíblia relata inúmeros casos em que a fidelidade a Deus resultou em recompensa e bênção: Noé, Jó, Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Josué e Calebe, Raabe, Rute, Ester, Davi, Daniel e seus três amigos, e tantos outros no Antigo e Novo Testamento. Quem não conheceu ou não ouviu falar de pessoas que já não estão mais entre nós e que foram fiéis ao Senhor e imensamente usadas e abençoadas por Deus?

Porque produz resultado:

  • A fidelidade a Deus fortalece a relação espiritual e a comunhão com o Senhor. Esse vínculo espiritual proporciona consolo, orientação e um sentido de presença divina, independentemente das circunstâncias externas.
  • A fidelidade a Deus fortalece a internalização de valores e princípios morais elevados. Viver de acordo com esses valores não apenas traz benefícios pessoais e familiares, como também contribui para a construção de uma sociedade mais justa, misericordiosa e fraterna.
  • A fé em Deus e a fidelidade a ele promovem força interior, resiliência e esperança mesmo durante os momentos mais difíceis da vida. Essa fé ajuda o cristão a superar adversidades, enfrentar desafios com coragem e manter a esperança em tempos sombrios.
  • Para o crente, a verdadeira e maior recompensa da fidelidade a Deus é esperada na vida após a morte. A certeza da vida eterna e a recompensa divina por uma vida fiel, servem como uma fonte de consolo, esperança e motivação para ele continuar a viver de acordo com os ensinamentos bíblicos.

Enfim, a fidelidade a Deus pode ser vista como uma jornada de crescimento espiritual, que traz consigo inúmeras recompensas, tanto nesta vida quanto além dela, conforme prometido pelo Senhor.

A história de José é narrada a partir de Gênesis 37. Ainda muito jovem, com 17 anos (Gn 37.2), ele não estava isento do trabalho. Pastoreava os rebanhos da família com os demais irmãos. Desde o início temos a impressão de que a índole de José era piedosa, contrastando assim com a dos seus irmãos, bem conhecida principalmente no incidente com Diná (Gn 34). Como filho predileto, ele parece estar sempre disposto a defender os interesses do pai, denunciando corajosamente os erros de conduta dos irmãos, ainda que comprometendo o seu relacionamento com eles.

A fidelidade de José, a Deus, permaneceu inabalável diante de tantas perseguições e injustiças que ele sofreu, quer nas mãos dos seus irmãos invejosos que o venderam como escravo e ele foi parar no Egito; quer na casa de Potifar, sendo acusado injustamente pela esposa dele (“potifaria”) e encarcerado.  No capítulo 41 de Gênesis encontramos o registro do ápice da vida de José, quando ele é constituído por Faraó governador de todo o Egito. Desse encontro histórico de José com Faraó podemos extrair algumas importantes lições.

A fidelidade a Deus se manifesta principalmente através das nossas atitudes e, nem tanto, pelos nossos sentimentos, como, por exemplo:

1. NA ATENÇÃO ÀS PEQUENAS COISAS

José não caiu de paraquedas no alto cargo de governador do Egito. Ele percorreu toda uma trajetória, com momentos bons e maus, com muita tensão e apreensão. Sua história de vida foi marcada por 6 (seis) sonhos. Os dois primeiros foram dele mesmo e sinalizavam um futuro promissor e glorioso (Gn 37.7 e 9). Os dois sonhos seguintes foram dos oficiais de Faraó, no cárcere, por ele interpretados (copeiro-chefe – Gn 40.9-15; padeiro-chefe – Gn 40.16-19). Por fim, os dois últimos, do próprio Faraó, também por ele interpretados (Gn 41.1-7).

Não há dúvida de que Deus estava conduzindo toda a trajetória de José. Entretanto, ele usa situações e pessoas para a realização dos seus propósitos. Tanto na casa de Potifar como, posteriormente, no cárcere de Faraó, José não se deixou abater e nem se rebelou isolando-se de tudo e de todos. Ao contrário, se socializou e procurou ser útil, mesmo nessas situações adversas. Foi ali no cárcere que ele se solidarizou com os oficiais de Faraó e, vendo-lhes o semblante turbado, interpretou seus respectivos sonhos, com final feliz para o copeiro-chefe. Apesar deste ter negligenciado, por 2 anos, o apelo de José para que intercedesse por ele junto ao Faraó, quando Faraó teve os seus dois sonhos e seus magos e sábios não os puderam interpretar, foi que ele se lembrou de José e o indicou a Faraó.

Este incidente evidencia e explicita a importância das nossas ações, principalmente as dirigidas ao nosso próximo e ao necessitado! Pequenos gestos podem produzir grandes consequências! Nada do que fazemos ou deixamos de fazer (pecado de omissão), passa despercebido aos olhos de Deus. Não há como prever ou dimensionar a amplitude ou desdobramentos das nossas ações, sejam elas boas ou más. Lembremos da recomendação do sábio: “Não te furtes a fazer o bem a quem de direito, estando na tua mão o poder de fazê-lo.” (Pv 3.27); e a do apóstolo Paulo: “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos.” (Gl 6.9).

2. NA GLORIFICAÇÃO DE DEUS

Os dois sonhos de Faraó na verdade eram apenas um e tão misterioso que não pôde ser interpretado pelos magos e sábios do Egito. Havia neles dois elementos interessantes: vacas e espigas.

A vaca, no Antigo Egito, era associada a várias divindades e símbolos culturais. Simbolizava a deusa Hator, representando a fertilidade, o amor, a beleza, a maternidade. Era adorada e invocada para trazer proteção, prosperidade e fertilidade.

  • A vaca era vista como um símbolo de fertilidade e abundância no antigo Egito. Sua capacidade de produzir leite e procriar representava a fertilidade da terra e a capacidade de sustentar a vida.
  • A vaca também era associada à maternidade e à nutrição. As vacas eram vistas como protetoras e provedoras de leite, um alimento vital na dieta egípcia antiga. Isso as conectava ao papel das mães como provedoras de cuidados e nutrição para suas famílias.
  • No Egito antigo, possuir vacas e bois era um sinal de riqueza e status. Eles eram usados para arar os campos, transportar mercadorias e como fonte de alimento e leite. Ter um grande rebanho de vacas era um sinal de prosperidade e sucesso econômico.

Já as espigas representam o fruto da terra, diretamente relacionada com a alimentação e a nutrição.

Portanto, o sonho duplo usa elementos do cotidiano dos egípcios, porém, interpretar seu significado é outra coisa, não acessível ao entendimento puramente humano. Então, Faraó, decepcionado com sua “assessoria para assuntos extraordinários” é informado pelo seu copeiro-chefe dessa habilidade de interpretar sonhos do prisioneiro José e manda chamá-lo.

É no diálogo entre Faraó e José que se revela o verdadeiro caráter deste servo de Deus que sabe muito bem quem tem todo o poder no céu e na terra, e quem é apenas um instrumento nas suas mãos. Ele tratou logo de atribuir a fonte de sua habilidade a Deus, testemunhando assim do poder do único Deus vivo e verdadeiro para o pagão e idólatra Faraó: “Respondeu-lhe José: Não está isso em mim; mas Deus dará resposta favorável a Faraó.” (Gn 41.16). Deus não divide a sua glória, e alguns crentes, particularmente alguns líderes, parecem não querer entender essa realidade.

José era alguém que desfrutava de íntimo relacionamento com Deus e era guiado pelo seu Espírito. A capacidade que tal vinculação espiritual lhe conferia não lhe subiu à cabeça. Diante da maior autoridade do Egito não se exibiu, não tentou barganhar sua liberdade, não tentou defender sua inocência, não cobrou qualquer contrapartida, apenas concentrou-se na interpretação do sonho entendendo que sua situação pessoal não tinha a menor importância diante da gravidade da situação geral de fome que estava sendo revelada, abrangendo o Egito e as terras vizinhas. Quando estamos em plena sintonia com Deus valorizamos mais o “nós” do que o “eu”!

3. NO CUMPRIMENTO DA MISSÃO

Quando alguém é capacitado por Deus para uma determinada missão não há surpresa quando este vai além do solicitado ou esperado. José, não apenas interpretou o sonho de Faraó, como o aconselhou dando-lhe todas as linhas de um planejamento estratégico para lidar com o desafio de sobrevivência em tempos de escassez e fome. Dá para imaginar a ousadia de um encarcerado dirigindo-se desta forma àquele que era considerado um deus na terra – “Hórus vivo”? É a intrepidez característica de quem é conduzido pelo Espírito de Deus! Ele sugeriu a estrutura de pessoal (central e regional), bem como a estratégia de reserva da colheita e a necessidade de um sistema de controle e segurança de médio prazo (Gn 41.33-36).

É interessante observar que o conselho agradou a todos, isto é, a Faraó e aos seus oficiais. A perplexidade, diante das notícias bombásticas recebidas, deve ter sido amenizada pelo conselho que se seguiu. Não há dúvida de que é inusitada a atitude de Faraó de nomear e constituir governador de todo o Egito, com autoridade inferior apenas a ele próprio, um jovem de 30 anos (Gn 41.46), com currículo de prisioneiro, que ele acabara de conhecer. Entretanto, não deve passar despercebida a fundamentação da sua decisão: “Disse Faraó aos seus oficiais: Acharíamos, porventura, homem como este, em quem há o Espírito de Deus? Depois, disse Faraó a José: Visto que Deus te fez saber tudo isto, ninguém há tão ajuizado e sábio como tu.” (Gn 41.38-39). Vejam as qualidades observadas por Faraó: 1ª) Seu vínculo com Deus; 2ª) Sua sabedoria e sensatez para administrar tempos de crise.

Até que ponto essas características têm sido observadas em nós, no cumprimento da missão que Deus nos outorgou e que expressam e manifestam a nossa fidelidade a ele? Diante de grandes desafios não se subestime, você tem valor; não pelo que você é, mas por aquele que age em você – o Espírito Santo de Deus!

Conclusão

José manteve a sua fidelidade ao Senhor, aguardando 22 anos pelo cumprimento da promessa revelada no seu primeiro sonho – feixes – quando seus irmãos se curvaram diante dele e ele estava agora com 39 anos (Gn 37.2, 7; 41.46; 43.26). Na sequência, por causa da fome, toda a sua família foi morar no Egito. Que desfecho de vida bem-aventurado para quem tanto sofreu e nada tinha! Depois de tanto desprezo foi honrado! Recebeu o mais alto cargo, apenas inferior ao de Faraó. Recebeu uma casa na corte e constituiu família (esposa e filhos). Seu pai, Jacó, viveu ali no Egito por 17 anos e morreu (Gn 47.27-28). José morreu com 110 anos (Gn 50.12-26) tendo a oportunidade de viver com os seus parentes, no Egito, por cerca de 70 anos.

A fidelidade ao Senhor é uma condição básica e não opcional para o cristão. O pecado nos afasta da comunhão e intimidade com Deus e é preciso vigiar, confessar e deixar o pecado (Pv 28.13). Mesmo sendo íntegros e fiéis a Deus, muitos não tiveram ou terão a bênção de um final de vida tão próspero como o de José. Jesus Cristo, nosso Mestre, Salvador e Senhor, nossa referência maior e modelo, deu a sua vida para fazer a vontade de Deus e cumprir sua missão. Como já dito anteriormente, para o crente, a verdadeira e maior recompensa da fidelidade a Deus é esperada na vida após a morte. A certeza da vida eterna e a recompensa divina por uma vida fiel, servem como uma fonte de consolo, esperança e motivação para ele continuar a viver de acordo com os ensinamentos bíblicos.

Que Deus nos ajude!


Veja, também:
JOSÉ, exemplo de recomeço
JOSÉ, um tipo de Cristo

Abraão e Sara

Texto base: Gênesis 11.10 a 25.18

Introdução          

Alguns casais são mencionados nominalmente na Bíblia (marido e esposa), inclusive com o registro de suas falas e ações. Temos muito a aprender com a história deles.

Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, pode ser dividido em duas grandes partes principais. A primeira parte (Gênesis 1.1 a 11.9), começa com o registro da criação “dos céus e da terra” (Gn 1-2). Nesse contexto, aparece o primeiro casal: Adão e Eva. Desde então, a raça humana começa a trilhar um caminho descendente de afastamento de Deus, rebeldia e de autodestruição, que começa na queda do primeiro casal (Gn 3) e termina no juízo divino e dispersão da Torre de Babel (Gn 11.9).

A segunda parte (Gênesis 11.10 a 50.26), focaliza e se dedica exclusivamente a história de uma família, a do segundo casal: Abraão e Sara. Isso começa com o registro genealógico dos ascendentes de Abraão (Gn 11.10-26), seu casamento com Sara, sua terra natal “Ur dos Caldeus” e emigração para “Harã” (Gn 11.27-32).

É interessante observar que, de Adão a Abraão, há um período de cerca de 2000 anos. E, mais. Transcorridos  cerca de mais 2000 anos chegamos a outro personagem relevante e histórico – Jesus Cristo – filho do casal (por parte de Maria) José e Maria. Da mesma forma que aconteceu com Abraão, a história desse terceiro casal é precedida pelo registro genealógico dos ascendentes de Jesus desde Abraão (Mt 1.1-17).

Isso nos remete a uma macro visão da história que pode ser dividida em três períodos de cerca de 2000 anos:

1º) Adão a Abraão: Deus lidando com a raça humana caída.

2º) Abraão a Jesus Cristo: Deus lidando com o seu povo de Israel – Antiga Aliança.

3º) Jesus Cristo ao Arrebatamento da Igreja(?!): Deus lidando com a sua Igreja – Nova Aliança.

As famílias, em qualquer época, enfrentam desafios, dificuldades e ameaças internas e externas que atentam contra a sua integridade e continuidade. Sabemos que famílias bem estruturadas estão mais preparadas para resistir aos maus dias e prosperar. Cada casal pode aprender com suas próprias vivências e experiências, porém, poderá turbinar esse aprendizado estudando a vida e exemplo de outros casais, particularmente de casais bíblicos, como Abraão e Sara. É o que se propõe fazer neste breve estudo.    

Desenvolvimento:

1. INFORMAÇÕES BIOGRÁFICAS

O papel do casal Abraão e Sara é relevante na história e no registro bíblico do povo de Israel, com desdobramentos significativos na cultura judaico-cristã. Seguem alguns aspectos e informações gerais sobre o casal:

(I) Origens

Abrão, significa “pai exaltado”, teve seu nome mudado por Deus para Abraão “pai de multidão” (Gn 17.1, 5 – com 99 anos), nasceu em Ur dos Caldeus, na Mesopotâmia. Era filho de Terá (Gn 11.26). Ele se casou com Sarai, que significa “minha princesa”, que teve seu nome mudado por Deus (na mesma ocasião da mudança do nome de Abraão) para Sara “princesa”  (Gn 17.15 – com 89 anos). Sara era meia-irmã de Abraão (por parte de pai – Gn 20.12), dez anos mais nova do que ele (Gn 17.17), estéril (Gn 11.30; 16.1). Certamente ela era uma mulher formosa (Gn 12.11, 14), o que pode ter levado Abraão a dizer, para se proteger, que ela era sua irmã, por duas vezes (Faraó – Gn 12.10-20; Abimeleque – Gn 20.1-18).

(II) Fatos relevantes

Chamado: Segundo o relato de Estêvão (At 7.2-3), favorecido pelos textos de Gênesis 15.7 e Neemias 9.7, o chamado divino teria ocorrido quando Abraão morava em Ur dos Caldeus, sua terra natal. Abraão obedeceu e partiu com sua esposa, Sara; seu pai, Terá; e seu sobrinho, Ló, e se estabeleceu em Harã, em vez de prosseguir até Canaã (At 7.4a). Outras razões sociopolíticas podem ter sido usadas por Deus para persuadi-lo a obedecer ao chamado divino.

Retomada do Chamado: Deus chamou Abraão para sair de sua terra e seguir para uma terra que ele lhe mostraria. O texto de Gênesis 12.1-3 pode se referir ao detalhamento do chamado divino, quando Abraão ainda residia em Ur (“sai da tua terra”).  Já o texto Gênesis 12.4-6 registra um segundo momento quando Abraão, com 75 anos de idade, finalmente obedeceu ao chamado divino e partiu de Harã com sua esposa, Sara, e seu sobrinho, Ló. Estêvão relata que, após a morte do seu pai Terá (com 205 anos – Gn 11.32), é que se deu sua partida. Há uma certa dificuldade para conciliar essas idades, a saber: (i) Terá começou a gerar filhos com 70 anos (Abrão, Naor e Harã – Gn 11.26). Não sabemos se o nome de Abrão aparece primeiro por ser ele o primogênito ou devido à sua relevância histórica. (ii) Aos 205 anos de Terá (quando morreu), o seu filho mais velho já estaria com cerca de 135 anos e Abraão tinha 75 anos quando partiu. (iii) Algumas sugestões de conciliação são: a) Abraão não era o primogênito e nasceu quando o pai tinha 130 anos; b) O pai de Abraão (Terá) não morreu com 205 anos, mas com uns 145 anos[1] (o pai de Terá, Naor, viveu 148 anos – Gn 11.24-25); c) Quando Abraão partiu de Harã deixou seu pai ali vivo. Enfim, não é recomendável desviarmos o foco do que realmente interessa para nos apegarmos a discussões de datas, genealogias etc. (Tt 3.9; 1Tm 1.4).

As promessas: “de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gn 12.2-3)

Deus fez promessa a Abraão dizendo que ele se tornaria o pai de uma grande nação e que todas as famílias da Terra seriam abençoadas por meio dele. Essa promessa foi renovada ao longo da vida de Abraão e Sara, apesar da esterilidade de Sara e, até mesmo quando já estavam com idade avançada. Através de Abraão e sua descendência, a raça humana caída podia agora enxergar uma luz no fim do túnel. Em Cristo a promessa se realizou (Jo 8.56; At 3.25; Gl 3.8, 13, 14)!

Separação e Aliança (Gn 13-15): O chamado de Abraão foi objetivo e claro. Exigia uma separação total: geográfica, social e familiar. Os capítulos 12 a 14 de Gênesis narram o atendimento da condição prévia para Deus estabelecer uma aliança com ele. Ele precisou deixar Ur, e depois Harã, e ir para Canaã. Ele, também precisou se separar totalmente da sua parentela, depois do pai e, finalmente de seu sobrinho Ló (Gn 13 e 14). Condição satisfeita, Abraão tinha agora cerca de 85 anos (Gn 16.16) quando Deus lhe apareceu numa visão e estabeleceu sua Aliança. Esta Aliança inclui: (i) Renovação da promessa de uma grande nação e que esta se daria a partir de um filho gerado por ele (Gn 15.1-6); (ii) A possessão da terra de Canaã, por herança (Gn 15.7; 18-21; 13.12, 14-18); (iii) Uma vida longa (Gn 15.15). 

Nascimento de Ismael (Gn 16): A proposta de Sara a Abraão para que ele gerasse um filho através da sua serva Hagar resultou no nascimento de Ismael (Gn 16 – Abraão com 86 anos).

Renovação da Aliança (Gn 17): O Senhor apareceu a Abraão, com 99 anos. Esta Renovação da Aliança inclui (Gn 17): (i) A apresentação de Deus a ele como Todo-Poderoso e que requer dele um andar em sua presença e perfeição; (ii) A multiplicação da sua descendência, dando origem a nações e reis; (iii) A mudança do seu nome para Abraão – “pai de uma multidão”, como um sinal de sua promessa de uma descendência numerosa. (iv) A Aliança será perpétua abrangendo sua descendência “para ser o teu Deus e da tua descendência”; (v) O estabelecimento do rito da circuncisão de todo o macho como marca e selo desta Aliança; (vi) A mudança do nome de Sarai para Sara e o anúncio do nascimento de seu filho, em ditosa velhice, dali a 1 ano, e que deveria receber o nome de Isaque. (vii)  O futuro promissor de Ismael, porém fora da Aliança. (viii) A circuncisão de Abraão, Ismael e de todos os homens da sua casa.

Nascimento de Isaque (Gn 21): Apesar da idade avançada de Abraão e Sara, Deus cumpriu sua promessa e Sara deu à luz um filho, Isaque, quando Abraão tinha 100 anos de idade e Sara 90 anos. Isaque foi o filho da promessa e o herdeiro das bênçãos e da Aliança feitas por Deus com Abraão.

Oferecimento de Isaque (Gn 22): Isaque era verdadeiramente muito especial para Abraão. Assim, Deus o submeteu a uma prova extrema para testar se ele o amava mais do que a Isaque. Abraão passou no teste e Deus fez uma extraordinária declaração a seu respeito (Gn 22.12).

Morte de Sara (Gn 23): Sara tinha 90 anos (e Abraão 100 anos) quando seu único filho Isaque nasceu (Gn 21.5), e viveu o total de 127 anos (Gn 23.1).

Morte de Abraão (Gn 25): Abraão viveu 175 anos (Gn 25.7-10) e foi sepultado no mesmo local de Sara. Além de ter gerado o filho Ismael, com a serva egípcia Hagar (Gn 16.1-16 – com 86 anos), após a morte de Sara desposou Quetura com quem teve outros seis filhos (Gn 25.1-2).  

O casal Abraão e Sara enfrentou grandes desafios. O que podemos aprender com a experiência deles? 

2. O DESAFIO DA OBEDIÊNCIA

Abraão e Sara passaram por vários desafios de obediência a Deus e ao seu chamado ao longo de suas vidas, incluindo:

  1. Deixar sua terra e parentela para ir para uma terra longínqua e desconhecida (Gn 12.1-9).
  2. Separar-se de seu sobrinho Ló, cedendo a ele o direito de escolha da terra onde morar, obtendo a aprovação de Deus (Gn 13).
  3. Crendo, oferecendo sacrifício e fazendo uma Aliança com o Senhor (Gn 15).
  4. Circuncidando-se e a todos os homens da sua casa, selando sua Aliança com Deus (Gn 17).
  5. Oferecendo Isaque em holocausto ao Senhor (Gn 22).
  6. Zelando por buscar para seu filho Isaque um casamento que pudesse manter os termos da Aliança com o Senhor, não se misturando com outros povos (Gn 24).

“Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito.” (Gn 18.19)

O texto bíblico acima deixa claro que Abraão (e Sara) foi um escolhido de Deus. Sua vida foi marcada por várias manifestações diretas do Senhor a ele (Gn 12.1, 7; 13.14; 15.1; 17.1; 18.1, 13, 17, 26; 22.1) e ele respondeu com obediência, conforme itens acima listados. A muitas dessas manifestações divinas ele também respondia edificando um altar e invocando o nome do Senhor (Gn 12.7, 8; 13.4, 18).

O primeiro casal, Adão e Eva, falhou em obedecer a Deus e sofreu as consequências disso, bem como a terra e seus habitantes. Noé obedeceu, salvou sua família, e Deus deu uma nova oportunidade a humanidade.  Fica aqui o exemplo de Abraão e Sara que, mesmo nas demandas divinas mais difíceis que receberam, foram obedientes e nos legaram muitas bênçãos. Na Nova Aliança, o cristão tem a exposição clara da vontade de Deus na sua Palavra. Assim ele é cotidianamente desafiado a obedecer ao chamado divino para viver de acordo com os princípios, valores e ensinamentos da fé cristã.  

3. O DESAFIO DA SOBREVIVÊNCIA

As jornadas de Abraão não foram poucas: Ur – Harã – Siquém – Betel – Egito – Betel – Hebrom – Damasco – Hebrom – Gerar – Berseba – Moriá – Berseba – Hebrom – Berseba – Hebrom. Não se pode dizer que a situação do casal era precária quando migraram de Harã para Canaã, pois levaram todos os bens que haviam adquirido (Gn 12.5), o que lhes garantia suprimento alimentar por algum tempo. Entretanto, não é difícil imaginar os desafios que passaram nas viagens e nos lugares em que se estabeleceram por algum tempo. Desafios na obtenção de alimento, água, abrigo, proteção dos ataques de homens maus e animais selvagens.

Dentre os desafios de sobrevivência, destacamos dois:

a) Fome e descida ao Egito (Gn 12.10-20)

Logo no início das suas peregrinações em Canaã, a escassez e a fome os levou para o Egito. Na visão de Abraão, o desafio da sua sobrevivência ali era ainda maior por conta da formosa aparência de Sara. Supostamente eles o matariam e levariam Sara para o harém de Faraó. Então combinaram de dizer que Sara era sua irmã (meia verdade). Eles a tomaram, Deus puniu a Faraó, tudo foi esclarecido e eles liberados.

b) Sara e Abimeleque (Gn 20.1-18)

O mesmo incidente ocorrido no Egito repete-se aqui com o rei Abimeleque. Ele  tomou Sara, a “irmã” de Abraão. Então, Deus o advertiu em sonho, tudo foi esclarecido, ela liberada e bens lhes foram dados como uma espécie de pagamento por “danos morais”. De alguma forma, Deus usou circunstâncias tão adversas como esta para suprir Abraão de bens.

Essa atitude ou estratégia de sobrevivência de Abraão é intrigante e questionável, também suscita questões éticas por colocar Sara em risco de ser submetida a situações vexatórias e desonrosas. Será que não lhe faltou fé na proteção divina, tendo ele recebido a promessa de numerosa descendência? No entanto, a Bíblia não apresenta uma condenação direta da conduta de Abraão nesses dois casos. De qualquer forma, é evidente que Deus protegeu Sara de qualquer mal e usou essas situações para demonstrar sua providência e soberania.

A história de Abraão e Sara, apesar de seus defeitos e fraquezas humanas, continua sendo vista como um exemplo da fidelidade e do cuidado de Deus para com o seu povo. Abraão se importava com os outros e até se mobilizou para lutar contra os reis que haviam se apossado de Ló e o resgatou (Gn 14.1-17). Na sequência, ao se encontrar e ser abençoado por Melquisedeque, rei de Salém, seu coração generoso o levou a entregar-lhe o dízimo, o que é mencionado na Bíblia pela primeira vez.

O cristão pode aprender aqui que, apesar do seu chamado para seguir a Cristo, ele está sujeito a enfrentar desafios e não deve ficar esperando que tudo o que precisa para sua sobrevivência cairá do céu, como o maná e as codornizes no deserto do êxodo de Israel. Ele precisa se esforçar e trabalhar para obter o necessário à sua sobrevivência e da sua família, sabendo poder contar com a presença e proteção divinas em todo o tempo.

4. O DESAFIO DA FÉ

O desafio da fé as vezes envolve lidar com promessas divinas humanamente improváveis ou impossíveis de serem cumpridas. Entretanto, é preciso crer, confiar e esperar pelo tempo de Deus (kairós). Abraão e Sara são considerados exemplos de fé na tradição judaico-cristã. A epístola aos Hebreus destaca a fé de Abraão e Sara como exemplo para os crentes. Eles são mencionada na galeria dos heróis da fé, em Hebreus 11.8-12, 17. O texto destaca a fé do patriarca ao obedecer ao seu chamado, partindo e peregrinando na terra que herdaria. E, mais, quando posto à prova ofereceu Isaque. Também destaca a fé de Sara que receber o poder de ser mãe, apesar da sua idade avançada.

Abraão é uma figura central no Judaísmo e no Cristianismo. Ele também é amplamente venerado e respeitado pelos árabes e muçulmanos como um profeta e patriarca importante em sua tradição religiosa. Para os cristãos, Abraão é considerado o pai da fé (Gl 3.7). O apóstolo Paulo argumenta enfaticamente que a fé de Abraão era independente: (i) das obras (Rm 4.1-8); (ii) da circuncisão (Rm 4.9-12); (iii) da lei (Rm 4.13-15).

Sua fé estava firmada em Deus (Rm 4.16-25), e tinha as seguintes características: (i)“Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações,” (Rm 4.18); (ii) sem enfraquecer (Rm 4.19);  (iii) sem duvidar (Rm 4.20); (iv) se fortalecendo e glorificando (Rm 4.20); e, (v) estando plenamente convicto (Rm 4.21).

O momento crucial de prova da fé do casal (Gn 16) aconteceu logo após a Aliança de Deus com Abraão (Gn 15). Abraão estava com 85 anos e Sara com 75 anos. Dez anos haviam passado desde o recebimento da promessa que uma grande nação procederia de alguém gerado por ele. O casal estava envelhecendo, Sara continuava estéril e nada sinalizava a concretização da promessa. É neste contexto de pressão, estresse e ansiedade que Sara resolve agir e propor uma solução. É preciso analisar a situação no contexto daquela época. Mesmo que o problema da não geração de filhos pudesse estar em Abraão, a cobrança recaía sobre a mulher (esposa) e era motivo de vergonha e humilhação para ela.  

“disse Sarai a Abrão: Eis que o SENHOR me tem impedido de dar à luz filhos; toma, pois, a minha serva, e assim me edificarei com filhos por meio dela. E Abrão anuiu ao conselho de Sarai.” (Gn 16.2)

Não há que se buscar encontrar um culpado para o ocorrido. Curiosamente, repete-se aqui o que aconteceu com o primeiro casal, no Éden, quando Eva oferece a Adão o fruto proibido. Percebe-se no início da fala de Sara um certo tom de acusação e tentativa de transferência de culpa, para Deus, por sua esterilidade e consequente bloqueio do cumprimento da promessa. Apesar da sua proposta ou sugestão, quanto ao oferecimento de Hagar, estar de acordo com os costumes da época, o fato é que ela se atreveu a assumir as rédeas da história. Será que ela se equivocou na interpretação de Gênesis 15.4b, isto é, que o descendente de Abraão seria alguém gerado por ele, mas não necessariamente por ela? O fato é que Abraão concordou, tornando-se cúmplice da esposa (da mesma forma que Adão, de Eva, no passado) e executou o plano de Sara que teve desdobramentos inimagináveis na história.

De acordo com a tradição islâmica, Ismael é considerado o ancestral dos árabes. O conflito entre árabes e judeus é histórico, talvez com origem na rivalidade de Isaque e Ismael, ambos filhos de Abraão, mas apenas Isaque é o filho da promessa. A tradição islâmica inclui a crença de que Maomé, o profeta fundador do Islã, foi descendente de Ismael. Já o Cristianismo procede dos judeus, desde Abraão e seu filho Isaque, sendo Jesus Cristo o seu fundador e Mestre, acima de tudo, o Filho de Deus.

A lição que extraímos deste episódio é que a ansiedade e a precipitação podem nos levar a tomar decisões equivocadas, capazes de produzir consequências desastrosas, que têm o potencial de afetar nossa família, outras famílias, por muitas gerações. A fé em Cristo desempenha um papel essencial na orientação da família, bem como ajuda no enfrentamento das adversidades e desafios do cotidiano, pois ela não nos isenta deles.

“Como cristãos, somos desafiados a viver uma vida de total confiança na soberania e providência de Deus, livrando-nos da ansiedade que tanto perturba (Lc 12.22; Fp 4.6,7; 1Pe 5.7). Deus tem seus métodos e a hora certa de agir. Esperemos por ele!”  

Conclusão

O casal Abraão e Sara receberam a missão de serem canais de bênção para todas as famílias da terra. A história deles é parte relevante da história de toda a humanidade.  Através deles surge o povo de Deus – Israel – que nos trouxe Jesus Cristo, o novo Adão, que foi enviado por Deus para resgatar a raça humana caída.

Eles foram obedientes ao chamado, passaram por vários testes e provações ao longo de suas vidas, e mantiveram a fé. Enfrentaram muitos desafios, não foram perfeitos, pois eram humanos, mas foram usados por Deus. São lembrados e admirados por seu papel na história da fé e uma parte essencial da narrativa da salvação na tradição judaico-cristã.

Todo cristão recebe de Deus dois chamados: VINDE (a mim) e o IDE (por todo o mundo e fazei discípulos). Temos diante de nós os desafios: de obedecer a Deus em toda e qualquer situação; de sobreviver num mundo caído tão hostil e rebelde a Deus e a sua vontade; de manter a fé nas promessas do Senhor para o tempo presente, o aqui e agora, bem como para as promessas no futuro, no lá e então, no além-túmulo, na eternidade.  

Que Deus nos ajude!

Bibliografia

1. Bíblia Sagrada (SBB – Versão Revista e Atualizada).
2. Bíblia Online – SBB.
3. Revista CRESCENDO JUNTOS (Ed. Didaquê).
4. Davis, John D. – Dicionário da Bíblia (JUERP).
5. Internet / ChatGPT.


[1] O Pentateuco Samaritano

SIMÃO PEDRO

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Boa Leitura!

A tríplice negação da fé

Lucas 22.54-62

Introdução

“Então, prendendo-o, o levaram e o introduziram na casa do sumo sacerdote. Pedro seguia de longe.” (Lucas 22.54)
“E, quando acenderam fogo no meio do pátio e juntos se assentaram, Pedro tomou lugar entre eles.” (Lucas 22.55)

O palco das negações de Pedro foi o pátio da casa do sumo sacerdote, para onde Jesus foi levado. Não raramente alguns pregadores usam esse relato bíblico para alertar sobre o perigo do cristão seguir Jesus de longe. Olhando para as atitudes de Pedro, pode-se perceber nele um misto de impetuosidade e coragem, com medo e covardia, afinal os discípulos também estavam na mira dos perseguidores. Ele não estava tão longe quanto poderia estar, se escondendo como os outros. Pedro estava ali acompanhando o desenrolar dos acontecimentos, provavelmente preocupado com o que iriam fazer com Jesus e correndo riscos. Tem muita gente que pode até estar “perto de Cristo”, acompanhando de perto as atividades de uma igreja, mas, infelizmente ainda não estão “em Cristo” e, assim, correm o mesmo risco de negá-lo, como Pedro o fez naquela ocasião.

É fato conhecido e compreensível que os quatro Evangelhos não registraram, com as mesmas palavras, as falas dos que denunciavam Pedro e as suas correspondentes respostas nas três negações. Assim, a partir dos quatro relatos, nos resta tentar formar uma ideia aproximada daquilo que aconteceu. A título de aplicação para a igreja será muito proveitoso considerar as três respostas de Pedro no relato de Lucas. E é exatamente o que faremos.

1ª Negação:

“Entrementes, uma criada, vendo-o assentado perto do fogo, fitando-o, disse: Este também estava com ele.” (Lucas 22.56)
“Mas Pedro negava, dizendo: Mulher, não o conheço.” (Lucas 22.57)

A primeira ofensiva contra Pedro foi feita por uma das criadas do sumo sacerdote, na presença de outras pessoas que para ali afluíram, que assim denunciou – “Tu também estavas com Jesus,”.  A síntese da resposta de Pedro poderia ser: “Mulher, não o conheço’. É claro que conhecer, de fato e a fundo, uma pessoa não é simples, muito mais em se tratando de Jesus. Entretanto, a intenção de Pedro aqui era outra. Em outras palavras, ele queria dizer: “não sei quem é”, ou “não sei de quem se trata”.

Um dos grandes problemas da igreja de hoje e de sempre é exatamente esse, não conhecer Jesus. Conhecer Jesus vai além de simplesmente ter conhecimento intelectual e teórico sobre ele. Significa ter um relacionamento pessoal e íntimo com ele, entender sua mensagem, sua vida, seus ensinamentos e sua obra salvífica. Aqui estão algumas dimensões do que significa conhecer Jesus:

Relacionamento pessoal: Baseado na fé, confiança, comunhão intimidade e dependência. Isso implica em cultivar uma ligação espiritual com ele através da oração, da meditação na Palavra de Deus e do serviço aos outros em seu nome.

Transformação interior: O Espírito Santo trabalha em nós para nos moldar à imagem de Cristo. Isso envolve crescer em santidade, amor, perdão e empatia, à medida que nos rendemos ao seu senhorio em nossas vidas.

Obediência e amor: Conhecer Jesus implica em obedecer aos seus ensinamentos e viver de acordo com seus mandamentos. Isso inclui amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a nós mesmos, buscando viver uma vida irrepreensível diante de Deus e dos homens.

Testemunho e serviço: É compartilhar sua mensagem de amor e salvação com os outros e servir ao próximo em seu nome. É ser testemunha viva do seu poder transformador em nossas vidas e no mundo ao nosso redor.   

2ª Negação:

“Pouco depois, vendo-o outro, disse: Também tu és dos tais. Pedro, porém, protestava: Homem, não sou.” (Lucas 22.58)

A segunda ofensiva contra Pedro partiu de outra criada, ou de um homem ou de outra pessoa dentre os que ali estavam, que assim denunciaram – “Esse é um deles”.  A síntese da resposta de Pedro teria sido: “Homem, não sou”.  

Outro grande problema da igreja de hoje e de sempre é essa questão da sua identidade. Os evangélicos já foram, ou ainda são, chamados ou apelidados de cristãos, crentes, protestantes, bíblias, gospels, dentre outros. Desde os tempos dos apóstolos, os seguidores de Cristo (ou a igreja) foram rotulados por muitos nomes, dados pelos opositores do Evangelho. Entre esses nomes, podemos mencionar: “galileus” (At 2.7); “cristãos” (At 11.26); “os do caminho” (At 9.2; 19.23); “nazarenos” (At 24.5); “seita” (At 24.14). Os escritores do NT preferiram o tratamento de: “discípulos de Jesus” (Mt 10.24); “crentes” (At 5.14);  “irmãos e irmãs em Cristo” (1Ts 4.9); “santos” (Ef 1.1); “corpo de Cristo” (1Co 12.27); “seguidores do caminho” (At 9.2); “eleitos” (Rm 8.33); “filhos de Deus” (Jo 1.12).

A verdadeira identidade do cristão não é definida por um nome, mas por sua relação com Jesus Cristo, e pelos valores e princípios que ele ensinou. Alguns aspectos da verdadeira identidade do cristão são:

Nova filiação: Regenerado pelo Espírito Santo, através desse novo nascimento, o cristão é inserido na família de Deus. Ele passa de criatura para filho ou filha de Deus, tendo parte no seu reino e sendo herdeiro das promessas divinas (Jo 1.12; Rm 8.15-17).

Nova criatura: O cristão é alguém que experimentou uma transformação interior através do poder do Espírito Santo. Ele é uma nova criatura em Cristo, deixando para trás o velho homem e vivendo uma vida renovada em comunhão com Deus (2Co 5.17).

Nova relação com Deus: O cristão reconhece que sua reconciliação com Deus não foi alcançada por suas próprias obras ou méritos, mas sim pela graça salvadora de Deus. Ele entende que foi salvo pela graça, através da fé em Jesus Cristo, e não por seus próprios esforços (Ef 2.8-9).

Novas atitudes: O cristão é alguém que segue a Jesus Cristo, o seu exemplo e os seus ensinamentos. Ele se esforça para viver de acordo com os princípios do amor, da justiça, da misericórdia e da humildade, buscando imitar a vida de Cristo em seu próprio caminhar (1Jo 2.6; Fp 2.5).

Nova missão: O cristão é um representante do Reino de Deus na Terra – Embaixador do Reino. Ele é chamado para proclamar as boas novas do evangelho, compartilhar o amor de Cristo com os outros e trabalhar pela justiça, paz e reconciliação em um mundo marcado pelo pecado e pela injustiça (2Co 5.20; Mt 5.13-16).

Simão Pedro vacilou em assumir publicamente sua verdadeira identidade como seguidor de Cristo. Provavelmente este foi o momento mais negativo da sua vida. E, quantos chamados cristãos têm se envergonhado do evangelho (Rm 1.16), de assumir a identidade de cristão, de viver como sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-16)?

3ª Negação:

“E, tendo passado cerca de uma hora, outro afirmava, dizendo: Também este, verdadeiramente, estava com ele, porque também é galileu.(Lucas 22.59) 
Mas Pedro insistia: Homem, não compreendo o que dizes. E logo, estando ele ainda a falar, cantou o galo.” (Lucas 22.60)

A terceira ofensiva contra Pedro partiu de um servo do sumo sacerdote, ou de outras pessoas que ali estavam, que assim denunciaram – “és um deles, porque também tu és galileu”.  A síntese da resposta de Pedro teria sido: “Homem, não compreendo o que dizes”. Na verdade, Pedro estava se fazendo de desentendido para escapar de uma possível hostilidade ou mesmo prisão.

Por fim, outro grande problema da igreja de hoje e de sempre é essa questão de não compreender a Palavra de Deus ou o que dela é dito. Algumas vezes não entendem porque falta capacidade e preparo da parte de quem prega ou ensina. Outras vezes entendem errado porque são mal ensinados. Em muitos casos porque a vida devocional diária, com leitura da Bíblia e oração é negligenciada.

A negligência da Bíblia pode ocorrer de várias maneiras, algumas das quais incluem:

Falta de Leitura e Estudo: Uma das formas mais comuns de negligência da Bíblia é simplesmente não ler ou estudar regularmente as Escrituras. Isso pode acontecer devido à falta de interesse ou de prioridade.

Desconsideração dos seus Ensinamentos: Mesmo que alguém leia a Bíblia ou ouça pregações e estudos baseados nela, pode haver negligência ao se desconsiderar os seus ensinamentos e princípios. Isso pode acontecer quando alguém escolhe seguir seu próprio caminho em vez de viver de acordo com os padrões estabelecidos na Bíblia.

Interpretação Seletiva: Algumas pessoas podem negligenciar partes da Bíblia ao interpretá-la seletivamente, ignorando ou distorcendo partes que não se encaixam em suas próprias ideias ou contrariem seus interesses, quem sabe, pecaminosos.

Falta de Aplicação Prática: Mesmo que alguém entenda os ensinamentos da Bíblia, pode haver negligência ao não aplicá-los em sua vida cotidiana. Isso pode acontecer quando alguém conhece a verdade, mas não quer viver de acordo com ela.

Substituição por outras Fontes: Em alguns casos, a negligência da Bíblia pode ocorrer quando as pessoas substituem sua autoridade e orientação por outras fontes, como filosofias e ideologias seculares, ou opiniões pessoais de terceiros. Há que se priorizar a Bíblia, como fonte primária, e avaliar com cuidado qualquer outro livro, mesmo os evangélicos!

Interpretá-la como um livro comum: A palavra da cruz é loucura para os que se perdem (1Co 1.18). O homem natural não pode entender as Escrituras, porque elas se discernem espiritualmente (1Co 2.14). É falta de reverência e respeito querer interpretá-la sem a iluminação do Espírito Santo.

Essas são apenas algumas das maneiras pelas quais a negligência da Bíblia pode ocorrer. É importante para os cristãos cultivar uma relação íntima com as Escrituras, buscando entendê-la, aplicá-la e viver de acordo com seus ensinamentos.

Desfecho:

“Então, voltando-se o Senhor, fixou os olhos em Pedro, e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como lhe dissera: Hoje, três vezes me negarás, antes de cantar o galo.” (Lucas 22.61)
“Então, Pedro, saindo dali, chorou amargamente.” (Lucas 22.62)

Pedro se mostra falível, como qualquer um de nós. Rapidamente sua coragem se transformou em medo. Tudo o que Jesus havia predito aconteceu. Pedro cai em si, se dá conta da sua covardia e chora amargamente. Felizmente, ainda lhe foi oferecida a oportunidade de restauração. Também nós precisamos nos humilhar, perceber nossa fragilidade, buscar forças na comunhão com Deus e nos irmãos na fé para vivermos como cristãos autênticos. Ainda que venhamos a tropeçar e cair, nos é oferecida a oportunidade do arrependimento, confissão e restauração.

Que Deus nos ajude!

Epístola de TIAGO

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Veja, Também:

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Sinopse
A família é uma instituição divina, um lindo projeto de Deus. Família é algo tão singular que se manifesta originalmente, de forma misteriosa, na Trindade; se reproduz na esfera dos seres humanos; e, também se expressa, de forma mística, na instituição Igreja. No projeto divino da família, cada membro tem um papel a desempenhar. Na posição de líder familiar, o pai tem um papel relevante que nem sempre é observado, causando graves consequências. O que a Bíblia tem a dizer sobre a paternidade responsável, comprometida, eficaz, ou seja, a paternidade integral? Confira aqui!