Introdução
O mundo gira em torno da globalização, porém as pessoas continuam caminhando nas suas tribos, nos seus grupos de afinidade!
Muitos são os fatores que podem exercer um papel importante no crescimento de uma igreja, um crescimento integral, que contemple aspectos muito além de números, tais como, maturidade espiritual, estreitamento da comunhão com Deus e com os irmãos, adoração autêntica, conhecimento da palavra e prática da fé, integridade moral, influência e transformação de pessoas, famílias e da sociedade. Neste caso, os pequenos grupos desempenham um papel relevante e determinante que precisa ser considerado.
Desde já é preciso esclarecer que não defendemos o modelo de estrutura de igreja celular ou em células ou em grupos, porém, o modelo tradicional, com ênfase na igreja como um todo, com grupos ou com células que são uma extensão ou ferramenta usada complementarmente para alcançar seus objetivos. Veja no “Apêndice” uma conceituação mais ampla dos dois modelos.
O presente estudo tem o propósito de chamar a atenção para a importância dos pequenos grupos e do discipulado no crescimento da igreja; para a responsabilidade da liderança em preparar novos líderes e viabilizar essa assistência aos irmãos, promovendo crentes conhecedores e praticantes da Palavra de Deus.
Desenvolvimento:
1. PEQUENOS GRUPOS, NO ANTIGO TESTAMENTO
Pequenos grupos de convivência, compartilhamento e desenvolvimento não são novidade. Podemos considerar que a família consanguínea, de certa forma, é o embrião de pequenos grupos. No Antigo Testamento há um clássico exemplo em termos de divisão de responsabilidade na gestão de pessoas, com a correspondente divisão em grupos, no conselho de Jetro ao seu genro e líder de Israel, Moisés (Êx 18). Muitos séculos depois, num tempo de restauração pós-cativeiro, Esdras, o sacerdote, escriba e líder espiritual maior, se dispôs a buscar, cumprir e ensinar a lei do Senhor (Ed 7.10; Ne 8.1-6). E ele teve a sabedoria divina de dividir esta responsabilidade e privilégio de ensinar e liderar com outros (Ne 8.7-8).
2. PEQUENOS GRUPOS, NO NOVO TESTAMENTO
“E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o Cristo.” (At 5.42)
No Novo Testamento Jesus mesmo nos dá o exemplo quando chama e discipula o pequeno grupo dos doze. A igreja primitiva surge e se reúne no templo e nas casas, em pequenos grupos (At 2.42; 5.42; 20.20; Rm 16.5; 1Co 16.19; Cl 4.15). Foi com este modelo que a igreja neotestamentária se manteve ativa, se fortaleceu e se expandiu. Se deu certo naquele tempo, por que não daria hoje?
3. PEQUENOS GRUPOS, HOJE
Uma igreja com o templo superlotado de pessoas rasas na fé, inoperantes e centralizadas em um “pastor estrela” não é bom prognóstico. Não há garantia de futuro nesse modelo sonhado e desejado por muitos pastores. “Uma igreja não pode subsistir apenas na forma de auditórios superlotados, transformando-se em plateia consumidora de porções de regalo espiritual”.
O Espírito Santo foi derramado sobre todos os salvos, distribuindo dons e chamando-os para adorar e servir a Deus; viver plenamente, testemunhar e pregar o Evangelho onde estiver; ensinar, discipular e exercer misericórdia. Fomos salvos para servir e não para incrementar estatísticas eclesiásticas, para ser mais um número na multidão. Fomos salvos e comissionados para sermos sal da terra e luz do mundo; infiltrados em toda a parte, presentes em todos os espaços que nos forem permitidos, a partir do lar e na sociedade. Isso está em perfeita harmonia com o ensino bíblico do sacerdócio universal dos crentes (1Pe 2.9).
As Sociedades Internas ou Departamentos e Escola Bíblica Dominical (EBD), nas dependências da igreja, bem como os Pequenos Grupos, nos lares, são formas de promover a comunhão, o discipulado, o pastoreio e a evangelização entre os membros e os visitantes. Particularmente, os pequenos grupos desempenham um papel fundamental na vida e na dinâmica das igrejas em todo o mundo.
4. PEQUENOS GRUPOS E SUA RELEVÂNCIA
Eles são conhecidos por vários nomes, como grupos de células, grupos familiares, grupos de estudo bíblico ou grupos de comunhão, mas, independentemente do nome, sua importância para o crescimento espiritual e numérico da igreja é universalmente reconhecida pelos seguintes motivos, dentre outros:
1º) Comunhão e Relacionamento
Proporcionam um ambiente acolhedor onde os membros da igreja podem se conhecer melhor, desenvolver relacionamentos sólidos e não fluidos, e construir um sentimento de comunhão cristã. Isso promove um senso de pertencimento e apoio mútuo dentro da igreja.
2º) Crescimento Espiritual
São espaços ideais para o estudo da Bíblia, oração e discussão de temas espirituais. Eles permitem que os participantes cresçam em sua compreensão da fé, aprendam uns com os outros e apliquem princípios cristãos à vida cotidiana.
3º) Cuidado Pastoral
Os líderes dos pequenos grupos, bem como as lideranças presentes, muitas vezes desempenham um papel importante no cuidado pastoral. Eles podem identificar necessidades individuais, oferecer apoio emocional e espiritual e encaminhar pessoas para o pastor ou líder da igreja quando necessário.
4º) Evangelismo
Os pequenos grupos proporcionam oportunidades para que os membros da igreja convidem amigos, vizinhos e colegas de trabalho não crentes para participar. Um ambiente menos formal muitas vezes é mais convidativo para pessoas que podem se sentir desconfortáveis num culto público no templo. Portanto, oferece a oportunidade para se alcançar pessoas que ainda não conhecem a Jesus, através do testemunho e do convívio.
5º) Participação Ativa
Em uma igreja com muitos membros, pode ser desafiador mobilizar todos os membros para se envolverem ativamente. Os pequenos grupos oferecem um espaço onde as pessoas podem participar, liderar estudos bíblicos, orar em público e servir de várias maneiras, o que pode fortalecer seu senso de responsabilidade e utilidade na igreja. Portanto, oferece a oportunidade do desenvolvimento de dons, talentos e ministérios para servir a Deus e ao próximo.
6º) Apoio em Tempos de Crise
Quando membros da igreja enfrentam dificuldades pessoais, como doenças, perdas familiares ou desafios financeiros, os pequenos grupos muitas vezes se tornam uma fonte valiosa de apoio prático e emocional. É um espaço precioso para o encorajamento e fortalecimento espiritual através da oração, do estudo da Bíblia e da orientação espiritual.
7º) Crescimento da Igreja
Os pequenos grupos podem servir como um meio eficaz de crescimento da igreja. À medida que os membros se envolvem em grupos menores, eles se sentem mais conectados à comunidade e são mais propensos a permanecer e convidar outras pessoas para se juntarem à igreja. Também oferecem um ambiente propício para o discipulado, onde os cristãos mais maduros podem orientar e mentorear os mais novos na fé. Desta forma, proporcionam a oportunidade de um crescimento integral.
5. PEQUENOS GRUPOS E ALGUNS DESTAQUES
As Sociedades Internas ou Departamentos da igreja são normalmente formados levando-se em conta faixas de idade (crianças, adolescentes e jovens) ou sexo (adultos homens, adultos mulheres) ou grupos organizados por afinidade e áreas de interesse (casais, sós, idosos etc.). Portanto, desta forma constituídos, procura-se reunir pessoas que se identifiquem melhor por possuírem interesses e expectativas comuns, bem como adequar melhor o conteúdo ao estado de desenvolvimento do ser humano e/ou às suas necessidades, dentre outras razões.
Os pequenos grupos nos lares, com uma composição mais heterogênica, como uma família consanguínea estendida, oferecem a oportunidade de um convívio mais estreito e necessário das pessoas, afinal, os jovens precisam se apropriar da experiência e legado dos mais velhos, bem como os mais velhos precisam se atualizar sempre, precisam conhecer e ver melhor o mundo vivido pelos mais jovens, até mesmo para se posicionarem de forma mais realista e poderem contribuir mais e melhor para o bem de todos.
Os Pequenos Grupos podem ser considerados ou usados como uma extensão da família menor. Podem ser a única “família de fato” para os que não têm mais família ou que estão morando muito longe da família e de outros parentes.
O destaque final e comprovado na minha própria experiência de vida é que, os Pequenos Grupos, conseguem formar laços de relacionamento tão fortes e viscerais, que mesmo quando algumas pessoas do grupo se transferem para outras igrejas ainda continuam frequentando o grupo.
6. PEQUENOS GRUPOS E LIDERANÇA
“E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros.” (2Tm 2.2)
Considerando que os pastores não têm como trabalhar sozinhos, é preciso investir na formação de líderes, pessoas fiéis e idôneas, que possam atuar na igreja e, também, nos Pequenos Grupos para um discipulado efetivo, que é muito mais do que um projeto eventual, é um estilo de vida permanente. Jesus fez isso com os doze e nos deu o exemplo. Ele os ensinou, os treinou, fazendo e ensinando a fazer, fez na presença deles e os enviou para fazerem sem a presença física dele. Ele chamou homens simples e os capacitou. Na história da igreja muitas pessoas, de diversos tipos, formação e classes sociais, foram chamadas, mas deveriam esvaziar-se de si mesmas, para serem moldadas e capacitadas pelo Espírito Santo. Sem dúvida, o treinamento adequado das pessoas certas será de grande valia para o discipulado e crescimento integral dos crentes e da igreja.
Conclusão
Em resumo, os pequenos grupos desempenham um papel vital na vida da igreja: fortalecendo a comunhão e os relacionamentos; promovendo o crescimento espiritual dos crentes; cuidando pastoralmente dos membros; atraindo e evangelizando amigos e vizinhos; proporcionando a oportunidade de participação ativa, bem como o desenvolvimento de dons e talentos, com vistas ao sacerdócio universal dos crentes; apoiando e sustentando os irmãos em tempos difíceis; e, contribuindo para o crescimento integral e o impacto da igreja na comunidade. Eles oferecem uma experiência mais pessoal e envolvente em complemento ao culto público e são uma parte essencial do ministério cristão eficaz.
Vale transcrever aqui parte do texto de capa do livro citado no item 4 da Bibliografia:
“As igrejas deveriam ser o último lugar para alguém se sentir só.
Fomos criados para viver em comunidade. Nosso coração anseia pelo tipo de relacionamento autêntico e profundo no qual Jesus pensou ao orar para que seus discípulos fossem um. Mesmo assim, essa qualidade de relacionamento ainda é muito difícil de encontrar. Como, então, uma igreja pode se transformar em um lugar onde ninguém se sinta sozinho?
Muitas igrejas estão descobrindo a resposta nos grupos pequenos. De modo único, eles oferecem o ambiente ideal que edifica e fortalece o corpo de Cristo, preparando o para crescer impactar o mundo. Na Willow Creek Community Church, os grupos pequenos são tão importantes que definem sua visão estratégica organizacional.
Em Edificando uma igreja de pequenos grupos, os autores compartilham a história de como Willow Creek se tornou uma igreja onde mais de 18000 pessoas se relacionam em 2700 grupos pequenos todas as semanas. Eles também mostram como uma igreja – não importando o tamanho – pode se tornar um lugar onde homens e mulheres, adultos e crianças, podem experimentar uma vida frutífera em comunidade e crescer com saúde e vitalidade espiritual.”
(Larry Crabb, psicólogo e autor)
Que Deus nos ajude!
Bibliografia
1. Bíblia Sagrada (SBB – Versão Revista e Atualizada).
2. Bíblia Online – SBB.
3. Revista Fazei Discípulos (Ed. Didaquê).
4. Edificando uma Igreja de Grupos Pequenos (Bill Donahue, Russ Robinson) (Editora Vida).
5. Internet.
Veja, também: Discipulado e crescimento da igreja.
Apêndice
Qual a diferença de uma igreja em grupos ou células, e com grupos ou células?
“A diferença entre uma igreja em grupos ou células e uma igreja com grupos ou células está relacionada à ênfase e ao papel desses grupos na vida da igreja. Vamos entender as distinções:
1. Igreja em Grupos ou Células:
– Ênfase Principal: Nesse modelo, a ênfase principal recai sobre os grupos ou células. A igreja é vista como essencialmente composta por esses grupos pequenos, e as reuniões congregacionais são frequentemente vistas como complementares às atividades dos grupos ou células.
– Funcionamento: Os grupos ou células são o núcleo da vida da igreja. Eles se reúnem regularmente para estudo da Bíblia, oração, comunhão e apoio mútuo. Muitas vezes, esses grupos são liderados por membros da igreja e desempenham um papel fundamental no discipulado e na comunhão.
– Objetivos: Os grupos ou células em uma igreja desse modelo são geralmente responsáveis pelo discipulado, crescimento espiritual e cuidado pastoral dos membros. O objetivo é aprofundar relacionamentos e criar um ambiente íntimo para o crescimento espiritual.
2. Igreja com Grupos ou Células:
– Ênfase Principal: Nesse modelo, a ênfase principal recai sobre a congregação como um todo, e os grupos ou células são uma extensão ou ferramenta usada pela igreja para alcançar seus objetivos.
– Funcionamento: A congregação reúne-se regularmente em cultos e eventos congregacionais, que são o ponto central da vida da igreja. Além disso, a igreja usa grupos ou células para complementar o discipulado, a comunhão e o crescimento espiritual.
– Objetivos: Os grupos ou células em uma igreja desse modelo podem ser usados para alcançar metas específicas, como discipulado mais próximo, cuidado pastoral eficaz ou alcance de diferentes grupos demográficos. Eles são considerados uma parte importante da estratégia da igreja, mas não substituem o papel central dos cultos congregacionais.
Em resumo, a principal diferença entre uma igreja em grupos ou células e uma igreja com grupos ou células está na ênfase dada a esses grupos em relação à congregação como um todo. Em uma igreja em grupos ou células, os grupos são a pedra angular da vida da igreja, enquanto em uma igreja com grupos ou células, os grupos são usados como uma ferramenta para apoiar e complementar os objetivos gerais da igreja. A escolha entre esses modelos depende das necessidades e da visão específica de cada congregação.” (Internet-IA)
Literatura
Certamente poderá ser encontrado no mercado literário evangélico alguns livros sobre a organização de Pequenos Grupos nas igrejas. Não conhecemos, portanto, não podemos recomendar, porém, apenas mencionar, para os que se interessarem em se aprofundar no assunto, os seguintes livros:
– Liderança de Pequenos Grupos Com Propósitos (Steve Gladen)(Editora Vida).
– Edificando uma Igreja de Grupos Pequenos (Bill Donahue, Russ Robinson) (Editora Vida).
– Conduzindo pequenos grupos (Colin Marshall)(Editora Fiel)
– Pequenos Grupos: Implantação, revitalização e multiplicação na igreja (Dietmar Wimmersberger)(Editora Esperança).
– Pequenos Grupos. Um Guia Prático Para Implantação na Igreja (Dietmar Wimmersberger)(Editora União Cristã).
Certifique-se de escolher livros que se alinhem com a visão e os valores da sua igreja, bem como com a orientação teológica que você segue. Isso ajudará na implementação bem-sucedida de Grupos Pequenos na sua igreja.