Presb. Sebastião Bueno

Com todo o carinho e respeito dedicamos este espaço à uma parte do legado do saudoso Presbítero Sebastião Bueno Olinto.


Foram 14 anos de convívio no Conselho da IPRJ e cerca de 20 anos na EBD.
Presb. Paulo Raposo Correia – Editor.


ESTUDOS e ARTIGOS 

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Ofícios, Encargos e Ministérios

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Introdução:

O termo “ofício” pode ser definido como a atividade específica que se exerce em instituições, que pode ser ou não temporária; “trabalho”, “ocupação”, “cargo”, “função”. Enquanto “cargo” diz respeito a posição da pessoa na organização, o termo “encargo” tem mais a ver com a “tarefa”, o “dever”: “Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais:” (At 15.28). Nesta mesma linha temos os termos “incumbência”, “missão”: “Barnabé e Saulo, cumprida a sua missão, voltaram de Jerusalém, levando também consigo a João, apelidado Marcos.” (At 12.25). E, de certa forma, o termo “obrigação”: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!” (1Co 9.16). Outro termo muito familiar no meio eclesiástico é “ministério”, frequentemente usado como tradução do grego “diakonia” (diaconia). Trata-se do desempenho de um serviço, neste caso, um serviço religioso, como, por exemplo, o do apóstolo Paulo: “Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério,” (1Tm 1.12). De fato, Deus tem um ministério ou serviço para cada crente, na igreja local e fora dela.

Na igreja presbiteriana, “o Ministro do Evangelho é o oficial consagrado pela Igreja, representada no Presbitério, para dedicar-se especialmente à pregação da Palavra de Deus, administrar os sacramentos, edificar os crentes e participar, com os presbíteros regentes, do governo e disciplina da comunidade.” (CI/IPB, Art. 30). Há que se falar, também, em designações ou títulos atribuídos aos que servem a Cristo na igreja, encontrados no Novo Testamento: apóstolo, presbítero ou ancião ou bispo, pastor, diácono, embaixador de Cristo, evangelista, pregador, mestre, despenseiro dos mistérios de Deus etc.

1. Presbíteros ou anciãos (pastores / bispos)

Além dos apóstolos, havia dois outros ofícios importantes na igreja primitiva: o de presbítero e o de diácono.

a) Havia três títulos, mas um só ofício: i) Presbítero ou ancião: termo que expressava dignidade e maturidade na fé; ii) Bispo(1): termo que expressava direção, superintendência; e, iii) Pastor: termo que expressava ternura, cuidado do rebanho.

b) A pluralidade de presbíteros era o padrão do NT (At 14.23; 20.7; Tt 1.5; Tg 5.14; 1Pe 5.1-2). Na epístola aos Hebreus estes são chamados de Guias (Hb 13.17). Não importava quão pequena fosse a igreja, esse era o padrão.

c) Esses presbíteros tinham a responsabilidade de dirigir / governar e ensinar a igreja, pastorear e zelar por ela (At 20.28; Tt 1.9; 1Tm 5.17; Hb 13.17; 1Pe 5.2-5).

d) Para poderem desempenhar bem o seu ofício, os presbíteros precisam ter algumas qualificações. São listados cerca de 21 requisitos, sendo cinco apenas em 1 Timóteo 3.1-7, sete em Tito 1.5-9 e, nove comuns aos dois textos.

e) Embora o NT não especifique um processo de seleção de presbíteros, pode-se dizer que Deus constitui os presbíteros (At 20.28), a igreja os reconhece e elege (At 14.23) e os mesmos desempenham o ofício.

2. Diáconos

a) A palavra “diácono” é a transliteração da palavra grega diákonos, que significa “servo”. Se considerarmos que Jesus enalteceu o servir, temos aqui um ofício efetivamente nobre (Mt 20.28; Jo 12.26).

b) A pluralidade de diáconos era o padrão do NT (Fp 1.1; 1Tm 3.8). Na comunidade de Jerusalém foram escolhidos 7 homens para “servir às mesas” (At 6.5). Ainda que ali não estivesse plenamente caracterizado o ofício de diácono, certamente foi o seu embrião.

c) No NT não há uma clara especificação de sua função na igreja, exceto que sua função é diferente da do presbítero. Inicialmente eles absorveram, por delegação dos apóstolos, algumas responsabilidades administrativas ou materiais (At 6.2), enquanto aqueles se consagrariam à oração e ao ministério da palavra (At 6.4). Estariam mais voltados a atender às necessidades físicas da comunidade cristã, a algum tipo de visitação e ação social, juntamente com suas esposas, daí terem sido estabelecidas algumas qualificações para as esposas destes (1Tm 3.11). Portanto, os diáconos não têm autoridade de liderança e governança sobre a igreja, como tem os presbíteros e devem atuar sob sua orientação e direção.

d) Para poderem desempenhar bem o seu ofício, os diáconos precisam ter algumas qualificações. Cremos que os ofícios de diácono e de presbítero, devem ser exercidos por homens, cujas qualificações são descritas na Bíblia em duas únicas listas: 1Timóteo 3.1-13 e Tito 1.5-9. E não é por acaso que tais instruções aparecem na Bíblia, lado a lado: “Semelhantemente…” (1Tm 3.8). Vale observar que não há que se exigir que os diáconos sejam aptos a ensinar a Bíblia ou a sã doutrina. Se o forem, tanto melhor!

3. A escolha de oficiais

Existem duas práticas principais sendo utilizadas para a seleção dos oficiais da igreja: por uma autoridade superior, ou pela igreja reunida em assembleia. No NT há diversas ocasiões em que os oficiais foram, aparentemente, escolhidos por toda a congregação. Embora o NT não especifique um processo de seleção de oficiais, pode-se dizer que Deus constitui os presbíteros e diáconos (At 20.28), a igreja os reconhece e elege (At 6.3; 14.23) e os mesmos desempenham os seus respectivos ofícios. Não deve haver precipitação nas indicações de oficiais (1Tm 5.22) e a igreja deve cumprir o seu papel, observando o exemplo de vida e as qualificações(2) dos candidatos.

Conclusão:

Cremos na diaconia universal dos crentes, homens e mulheres, ao lado do sacerdócio universal dos crentes. Todos os remidos foram chamados pelo Senhor para servir, para realizar as boas obras: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.” (Ef 2.10). Servo, no grego, “doulos” (escravo, aquele que deve cumprir a vontade do seu Senhor, sem se importar com sua própria vontade) ou “diakonos” (aquele que realiza tarefas para ajudar os outros) é a nobre missão de cada crente, pois o Senhor Jesus é o exemplo maior. “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Mc 10.45). Para servir não é necessário ter um cargo ou um ofício. Assim é que o termo servir é empregado em todo o NT no sentido não-técnico, referindo-se a homens e mulheres que serviam a essa ou àquela igreja local.

Referências:

(1)  “Embora em algumas partes da igreja, do segundo século em diante, a palavra bispo tenha sido usada para referir-se a um indivíduo com autoridade sobre diversas igrejas, este é um desdobramento do termo e não é encontrado no Novo Testamento.” (Wayne Grudem)

(2)  “Aqueles que escolhem presbíteros nas igrejas de hoje fariam bem se analisassem os candidatos à luz dessas qualificações e procurassem esses traços de caráter e padrões de vida piedosa e não realizações terrenas, fama ou sucesso.” (Wayne Grudem). Cremos que o mesmo se aplica na escolha de diáconos.

Bibliografia:

. Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil (CI/IPB).
. GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. Vida Nova, 1999.


Veja também: As qualificações dos presbíteros

Veja também: As qualificações dos diáconos

Prioridades na Liderança

O Exemplo de Timóteo

Introdução          

A temática deste estudo é LIDERANÇA. Mas, a quem interessa ou diz respeito este assunto? A todos nós, pois, no mínimo, somos líderes de nós mesmos, da nossa missão, das nossas tarefas. Augusto Cury publicou um livro intitulado “Seja líder de si mesmo”. Está aí uma primeira dica para quem desejar se aprofundar no assunto. Mas, também, podemos ser líderes em nossa casa, no trabalho, em alguma área na igreja etc. Um líder, ainda que famoso, é gente como a gente. Líderes cristãos mundialmente conhecidos não surgem num estalar de dedos. Eles são forjados, pelo ferreiro divino, no calor do atrito das limitações humanas com os desafios da vida. Antes de analisar o “caso Timóteo”, vejamos como foi forjado um grande líder cristão do nosso tempo. Na sua autobiografia[1], que relata os acontecimentos da sua juventude, ele diz que alguém o descreve, e ele mesmo se vê, assim: “Um rapaz do campo, alto e magro, dotado de muita energia, com nível acadêmico medíocre e um enorme zelo para servir ao Senhor que excedia meus conhecimentos e habilidades.” (pg. 46). Como foi sua infância e juventude?

Resumindo:

– Muito trabalho, ordenhando vacas e limpando as baias, na fazenda do pai, em Charlotte – Carolina do Norte – USA.

– Trabalhou como vendedor de escovas, nas férias, para ajudar a custear seus estudos.

– Teve forte influência da mãe que o incentivava a ler livros, principalmente o Catecismo de Westminster e a Bíblia.

– Teve forte influência dos metodistas (por parte de pai) e dos presbiterianos (por parte de mãe).

– Teve forte influência de Evangelistas de Cruzadas. Eram montadas grandes tendas (algumas para 5000 pessoas sentadas) e eles pregavam diariamente, o Evangelho, por semanas.

– Teve forte influência de Evangelistas, Pregadores e Professores no Instituto Bíblico da Flórida.

Foi batizado na infância, na igreja presbiteriana (pg.53). Frequentava a igreja regularmente com a família, mas, somente aos 16 anos teve um encontro com Cristo, nascendo de novo, após a pregação de um daqueles evangelistas de tendas, um pastor batista (Dr. Mordecai Fowler Ham). Quando estava no Instituto, na Flórida, pediu para o deão batizá-lo por imersão, discretamente.

Seu chamado para pregar se deu no Instituto Bíblico da Flórida, aos 19 anos de idade. Durante os 18 meses anteriores, no Instituto, quando convidado a pregar, tinha uma atuação pífia; ficava inseguro, inibido, batia os joelhos, usava sermões emprestados. Numa dessas ocasiões, pregou em uma pequena igreja, 4 sermões em 8 minutos. Treinava suas pregações no quarto e no campo aberto. Um pouco antes do seu chamado, começou a pregar em um estacionamento de trailers para um público que variava de 200 a 1000 pessoas. Sentia uma enorme satisfação em transmitir para as pessoas as boas-novas da Salvação. No final de 1938, com 20 anos, aceitou ser batizado pela terceira vez, desta feita, por imersão e com algumas testemunhas, para evitar problemas nas igrejas batistas onde pregava. Afinal, ele era um jovem presbiteriano que aderira à igreja batista. No início de 1939, com vinte anos, foi ordenado pastor batista, na Igreja Batista de Peniel, antes de completar o curso no Instituto.

Estamos nos referindo a William Franklin Graham Jr (Billy[2] Graham)(07/11/1918 – 21/02/2018). Seu pai era de origem metodista e sua mãe de origem presbiteriana. Foi casado, por 64 anos, com Ruth Graham (1943–2007) e teve 5 filhos, 19 netos e 28 bisnetos. Seu sogro era um missionário e cirurgião presbiteriano que exerceu forte influência sobre ele. A partir de 1948, com cerca de 30 anos, começou suas Cruzadas Evangelísticas, alcançando 185 países e 210 milhões de pessoas. No Brasil: Rio de Janeiro -1960 e 1974; Recife-2000; São Paulo-2008 e Belo Horizonte-2010. Terminou seus 99 anos de vida com várias doenças: Parkinson, quadril quebrado, pélvis quebrada e câncer de próstata. (Fonte: Wikipédia)

Timóteo é um líder particularmente interessante no contexto da Igreja Primitiva. No NT, muito se diz “a” Timóteo ou “de” Timóteo, entretanto, ele mesmo nada diz. Ele não aparece na dianteira da história, mas realiza uma espécie de ministério âncora na equipe do apóstolo Paulo.

Que informações encontramos do jovem Timóteo no NT?

a) Primeiras referências:

i) Um discípulo com bom testemunho nas igrejas de Listra e Icônio (At 16.1-2).

ii) Filho de uma judia crente, mas de pai grego; por isso, foi circuncidado para poder acompanhar o apóstolo Paulo (At 16.1-3). Sua fé era sem fingimento, tal qual a da sua avó Lóide e da sua mãe Eunice (2Tm 1.5). Foi ensinado na Palavra desde a sua infância (2Tm 3.14-15).

iii) Passou a ter um contato direto com o apóstolo Paulo, a partir da sua Segunda Viagem Missionária (50-54 dC), acompanhando-o no seu ministério (At 16.3). É interessante ressaltar que, na introdução e saudação, de várias cartas do apóstolo, ele é citado, ora como servo de Cristo, ora como irmão em Cristo: “… e o irmão Timóteo“ (2Co 1.1; Fp 1.1; Cl 1.1; 1Ts 1.1; 2Ts 1.1).

b) Na Segunda Viagem Missionária:

Quando Paulo partiu para Atenas, Timóteo ficou em Beréia, na companhia de Silas (At 17.14-15).

Silas e Timóteo se encontraram com Paulo em Corinto, liberando Paulo para a pregação (At 18.5).

c) Na Terceira Viagem Missionária:

Timóteo, juntamente com Erasto, ministravam na equipe de Paulo e foram enviados à Macedônia (At 19.22).

Timóteo, juntamente com outros, acompanharam Paulo até a Ásia (At 20.4).

d) Outras referências:

Escrevendo aos crentes de Roma, Paulo menciona Timóteo como seu cooperador (Rm 16.21). Alguém que trabalhava na obra do Senhor, como também Paulo (1Co 16.10).

Timóteo foi enviado por Paulo à igreja de Corinto, para lembrá-los e confirmar os ensinos a eles pregados (1Co 4.17; comp. 2Co 1.19). O testemunho de Paulo a seu respeito é “meu filho amado e fiel no Senhor”. O cuidado que o apóstolo tinha para com Timóteo, recomendando-o às igrejas e zelando pelo seu bom acolhimento, fica evidente em vários textos bíblicos (1Co 16.10-11).

Timóteo também foi enviado à igreja de Tessalônica, como ministro (doulos – servo) de Deus no evangelho de Cristo (1Ts 3.1-8). Ao ser enviado, fazia parte, também, da sua missão, trazer notícias daquela igreja a Paulo (Fp 2.19; 1Ts 3.6). O prestígio de Timóteo, da parte de Paulo, para essa missão era imenso; não havia outro que se equiparasse a ele (Fp 2.20-21).

1. A IMPORTÂNCIA DA LIDERANÇA

Está mais do que provada e comprovada a realidade da influência dos líderes sobre as pessoas, principalmente em formação (crianças, adolescentes e jovens). E, essa influência da liderança, positiva e proativa, precisa começar em casa e continuar na igreja. No âmbito secular e social, é preciso ter muito cuidado com a escolha daquelas instituições (creche, escola etc.) onde nossos filhos serão matriculados. Pessoas em formação precisam estar em contato com lideranças diferenciadas, como os jovens Timóteo e Billy Graham. Desta forma, elas estarão sendo forjadas e motivadas para viver uma vida que faça a diferença em seu tempo e estarão preparadas para resistir aos descaminhos propostos em ambientes sociais anticristãos.

2. PRIORIDADES NA LIDERANÇA

A partir das orientações do apóstolo Paulo a Timóteo, nas duas epístolas pastorais a ele dirigidas, podemos identificar algumas prioridades a serem observadas:

2.1 Prioridades no âmbito pessoal e familiar

“– No caso de despressurização de uma aeronave, coloque primeiro sua máscara de oxigênio antes de ajudar os outros a colocarem as suas.” O líder não deve desconsiderar esta recomendação, mesmo não estando viajando de avião. Assim sendo, é preciso:

a) Cuidar do corpo

Esse cuidado inclui uma alimentação equilibrada e saudável. O que Deus criou é muito bem-vindo (1Tm 4.4-5), mas há que se tomar cuidado com aquilo que o ser humano cria. Também é preciso tratar das enfermidades, ingerindo ou aplicando o que é recomendável (1Tm 5.23). Nas palavras de Paulo, “o exercício físico para pouco é proveitoso” (1Tm 4.8), quando comparado à piedade, pois ele tem efeito limitado a esta vida terrena, enquanto aquela, tem desdobramentos para a eternidade. Entretanto, todos sabemos que o exercício físico é importante para uma vida saudável.

b) Cuidar da vida espiritual

Essa vida espiritual não é algo etéreo, abstrato, intangível e intocável. Antes, porém, tem tudo a ver com relacionamento conosco mesmo (consciência pura), com Deus e com o próximo. O apóstolo fala a Timóteo do dever de combater o bom combate, mantendo fé e boa consciência (1Tm 1.18-20; ver tb 1Tm 1.5; 3.9). A comunhão com Deus se estreita através das orações (1Tm 2.1-2) e do alimento espiritual, a Palavra de Deus: “…alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido.” (1Tm 4.6; ver tb 4.13, 15-16). E, essa vida espiritual, só tem significado se for gasta no serviço a Deus e ao nosso próximo.

c) Cuidar da família

Não se tem notícia de que Timóteo fosse casado e tivesse uma família para cuidar. Talvez, por conta disso, o Apóstolo Paulo não lhe tenha dirigido uma palavra específica sobre o assunto. Entretanto, isso é tão relevante para o apóstolo que, nas qualificações dos líderes e oficiais da igreja (1Tm 3), ele menciona alguns aspectos sobre família:

i) esposo de uma só mulher;
ii) e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?);

2.2 Prioridades no âmbito ministerial

Para o bom exercício do ministério eclesiástico, algumas prioridades podem ser identificadas nas orientações do apóstolo Paulo a Timóteo.

a) O testemunho pessoal (1Tm 1.12-17)

Reconhecendo o chamado de Deus para o ministério, o líder humildemente percebe sua fragilidade, demérito e inutilidade. Entretanto, está convicto de que, pela graça e misericórdia divinas, foi transformado em nova criatura, em Cristo Jesus. Assim, na força do Espírito Santo, se lança ao ministério, tendo como prioridade inadiável apresentar um bom testemunho, aos de dentro e aos de fora da igreja, sendo “modelo a quantos hão de crer” (1Tm 1.12-17) e “padrão dos fiéis”, na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza (1Tm 4.12; 2Tm 1.13-14). Um obreiro aprovado (2Tm 2.15)

b) Estimular a prática de orações (1Tm 2.1-8)

c) Zelar pela adequada participação da mulher na igreja (1Tm 2.9-15)

d) Zelar pela qualificação de oficiais na igreja (presbíteros e diáconos) (1Tm 3.1-16)

e) Combater os falsos mestres e seus falsos ensinos (1Tm 1.3-11; 4.1-5, 7, 16)

f) Lidar adequadamente com vários tipos de pessoas e situações:

  • Idosos e Jovens (1Tm 5.1-2)
  • Viúvas (1Tm 5.3-16)
  • Presbíteros (1Tm 5.17-22)
  • Senhores e Escravos (1Tm 6.1-2)
  • Falsos Mestres (1Tm 6.3-5)
  • Riquezas e Ricos (1Tm 6.6-19)
  • Discussões inúteis (1Tm 6.20-21; 2Tm 2.14-19)

g) Manter caráter e conduta irrepreensíveis

  • Fortalecendo-se e testemunhando de Cristo (2Tm 2.1-2)
  • Sofrendo, por amor a Cristo, e participando do sofrimento dos irmãos (2Tm 2.3)
  • Não perdendo o foco da missão (2Tm 2.4)
  • Sendo disciplinado e ético (2Tm 2.5-10)
  • Sendo fiel a Deus e perseverante (2Tm 2.11-13)
  • Fugindo das paixões infames (2Tm 2.20-23)
  • Sendo brando e manso (2Tm 2.24-26)

h) Resistir nos tempos difíceis (2Tm 3.1-17)

i) Perseverar firme na missão, até o fim (2Tm 4.1-8)

j) Nunca abandonar os companheiros de missão (2Tm 4.9-22)

Conclusão:

Igrejas precisam de líderes chamados e vocacionados por Deus, competentes e dedicados, que cuidem de si e das suas respectivas famílias, que além de fazer a obra, influenciem positivamente todos os que os cercam.


[1] Fonte: Billy Graham – Uma autobiografia – Ed. United Press – 1998
[2] Billy é o apelido ou abreviação de William

Um atendimento bem sucedido (2Rs 5.1-19a)

Introdução:

Cremos na “diaconia” universal dos crentes – homens e mulheres – ao lado do sacerdócio universal dos crentes. Todos os remidos foram chamados pelo Senhor para servir, para realizar as boas obras: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.” (Ef 2.10). Servir, no grego, “doulos” (escravo, aquele que deve cumprir a vontade do seu Senhor, sem se importar com sua própria vontade) ou “diakonos” (aquele que realiza tarefas para ajudar os outros) é a nobre missão de cada crente, pois o Senhor Jesus é o exemplo maior. “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Mc 10.45). Para servir não é necessário ter um cargo ou um ofício. Assim é que o termo servir é empregado em todo o Novo Testamento no sentido não-técnico, referindo-se a homens e mulheres que serviam a essa ou àquela igreja local: “Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de Cencréia,..” (Rm 16.1). Na igreja primitiva, a pergunta que se fazia a outro cristão era: “– em qual igreja você está servindo ao Senhor?”; enquanto hoje se pergunta: “– de que igreja você é?”.

É importante destacar que nosso Senhor Jesus Cristo foi, simultaneamente, pastor, presbítero e diácono. Isso, por si só mostra o quanto esses ofícios são importantes diante de Deus e dos homens.

NÍVEIS DE ATUAÇÃO – Ilustração contada por certo pastor:

Imaginemos, naqueles tempos de escravatura, um escravo recapturado e açoitado pelo seu senhor. Há três níveis de atuação aplicáveis ao caso:

1º) ASSISTÊNCIA SOCIAL

Seria cuidar das feridas do escravo ferido pelos açoites do seu senhor.

2º) AÇÃO SOCIAL

Seria recolher donativos da comunidade para comprar a liberdade dele.

3º) AÇÃO POLÍTICA

Seria lutar pela abolição da escravatura pois o problema não é somente deste escravo.

Na história da cura de Naamã (2Rs 5.1-19a), há lições interessantes, inclusive no que diz respeito à assistência aos necessitados realizada pela Junta Diaconal. No processo de assistência, há seis elementos aqui simbolizados:

  • O necessitado: Naamã
  • O agente do encaminhamento: Menina judia
  • O agente da solução: Eliseu
  • O recurso: Rio Jordão
  • O resultado: Cura e transformação
  • A recompensa: O presente recusado?

1. O necessitado (Naamã) (v.1)

Quando pensamos no necessitado é comum vir logo à nossa mente a figura do pobre, do carente. Jesus disse: “Porque os pobres, sempre os tendes convosco…” (Mc 14.7). Eles são uma realidade na nossa sociedade e são muitos. Entretanto, é bom não perder de vista que os pobres são apenas uma parte do universo dos necessitados. Naamã era uma pessoa do alto escalão da Síria, mas um necessitado de cura física e espiritual. Todos os necessitados devem merecer nossa atenção , porém, prioritariamente, os domésticos na fé (Gl 6.10).

2. O agente do encaminhamento (Jovem judia) (vv.2-4)

Não basta existir um agente de solução, é necessário que este seja conhecido, que se saiba da sua existência. O agente de encaminhamento é a ponte entre o necessitado e o agente da solução.

Encontramos nesta jovem, pelo menos três marcas interessantes quanto ao “agente de encaminhamento”:

a) Anonimato: Certamente ela tinha um nome, mas foi aqui omitido. Esse anonimato nos conduz a pensar que há tantas pessoas e canais que podem ser usados nessa importante missão que nem há necessidade de identificação.

b) Bondade incondicional: Mesmo sendo cativa de guerra, retirada do seio de sua família e nação, talvez tendo sua família e amigos exterminados pelo inimigo invasor que agora se apoderara dela, foi capaz de ter compaixão pelo seu senhor.

c) Confiança plena (no agente da solução): Mesmo tendo saído do meio do seu povo com pouca idade, tinha uma confiança tal no profeta de Deus que impressionou e influenciou seus senhores na busca dessa solução.

3. O agente da solução (Eliseu) (vv.8-13)

Vejamos algumas características deste atendimento:

a)Proatividade: Sabedor da existência do necessitado, um tanto quanto desorientado nessa busca pelo agente de solução, toma a iniciativa de assumir o caso (v.8).

b) Recepção sem discriminação: Eliseu se propôs a recebê-lo sem levar em conta que se tratava de um estrangeiro, pertencente a uma nação inimiga do seu povo (v.9).

c) Recepção sem privilégios: Eliseu não se deixou impressionar pela pompa ou aparato de Naamã (v.10). Todos merecem um tratamento digno e justo.

d) Estabelecimento das condições: Quem atende estabelece as condições, que levam em conta suprir a necessidade e não o desejo da pessoa em atendimento (vv.10-13). Tais condições precisam ser estabelecidas com sabedoria de modo a produzir resultados eficazes.

4. O recurso (Rio Jordão) (v.14)

O rio é sempre símbolo de recursos: a água que rega as plantações, abastece a casa, sacia os homens e os animais etc, portanto, essencial à vida. Neste caso, não há dificuldade em se perceber que não havia qualquer potencial miraculoso nas águas do rio Jordão, muito menos no ritual de sete mergulhos. Muitos falsos profetas e pregadores, de ontem e de hoje, não se cansam de iludir seus seguidores com ritos sem qualquer valor. A grande proposta de Eliseu para Naamã nada mais era do que um desafio de fé e obediência. Incluía um “ir” e um “fazer” segundo a palavra do profeta. A lição que tiramos daqui é que os recursos são sempre limitados e devem ser vistos como soluções paliativas e provisórias para suprir temporariamente uma necessidade. Entretanto, o grande milagre vem sempre de Deus, usando ou não os insignificantes recursos dos humanos.

5. O resultado (Cura e Transformação) (vv.15a; 17-18)

O mais importante num processo de atendimento é o atendido “ir e fazer” de tal maneira que sua vida seja transformada, material e espiritualmente. Do contrário, se torna assistencialismo continuado. Não basta dar o peixe é preciso ensinar a pescar!

6. A recompensa (O presente recusado?) (vv.15b-16)

Eliseu se negou a receber qualquer presente, qualquer recompensa pela sua boa ação praticada a Naamã. Quem exerce esse ministério de servir ao próximo já sabe ou precisa saber que:

a) A recompensa não vem de algo material dado pelo atendido.

b) A recompensa vem de Deus e será dada na eternidade: “e serás bem-aventurado, pelo fato de não terem eles com que recompensar-te; a tua recompensa, porém, tu a receberás na ressurreição dos justos.” (Lc 14.14)

c) A maior recompensa é contemplar a saciedade imediata do atendido, bem como sua transformação espiritual, física e financeira.

“Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer.” (Lc 17.10)


Nota: Mensagem por mim dirigida à Junta Diaconal da Catedral Presbiteriana do Rio em 08/09/2014.

As três faces de um Ministério Espiritual

“Partiu, pois, Elias dali e achou a Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de bois adiante dele; ele estava com a duodécima. Elias passou por ele e lançou o seu manto sobre ele. Então, deixou este os bois, correu após Elias e disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe e, então, te seguirei. Elias respondeu-lhe: Vai e volta; pois já sabes o que fiz contigo. Voltou Eliseu de seguir a Elias, tomou a junta de bois, e os imolou, e, com os aparelhos dos bois, cozeu as carnes, e as deu ao povo, e comeram. Então, se dispôs, e seguiu a Elias, e o servia.” (1Rs 19.19-21)

Introdução

Deus é o Senhor da História e ele a escreve usando pessoas. Quando homens e mulheres estão a serviço de Deus, estão participando de um ministério espiritual que é uma ocupação “sobremodo excelente”. Há pelo menos três faces em um MINISTÉRIO ESPIRITUAL:

1. MINISTÉRIO e CHAMADO (v.19)

Analisando a narrativa bíblica contida tanto no Antigo como no Novo Testamentos, chega-se à conclusão que há basicamente três categorias de chamado de Deus aos indivíduos da raça humana. É claro que se trata de uma visão simplista da relação entre o Criador e a criatura humana. Sendo derivada de uma lógica humana não passa de uma tentativa de limitar o ilimitável – o “modus operandi” de Deus – com o fim didático de entender o que é divino, portanto insondável.

Seja qual for a categoria de chamado é evidente que há um propósito específico da parte de Deus em cada um deles. Além disso, constatamos que é desta forma que Deus administra a história, reconduzindo-a vez por outra aos trilhos da sua vontade.

1°) Chamado geral (testemunho)

Nesta categoria o chamado de Deus é dirigido a todos os crentes em Cristo tendo em vista, por exemplo, a evangelização de todos os povos, tribos, línguas e nações (Ide…- Mt 28.19). Se você não sabe expor o plano de salvação, pelo menos use o evangelismo “à la Filipe”: “vem e vê” (Jo 1.45-46).

2°) Chamado individual (dons e serviços)

Neste segundo caso, o chamado de Deus é dirigido a uma pessoa específica, visando a realização de pequenos objetivos, embora necessários e importantes. Ao chamar, Deus mesmo capacita através do seu Espírito.

Num passado mais distante ele chamou pessoas para desempenharem o papel de sacerdote, juiz, rei, etc.  Até mesmo alguns artífices foram chamados e capacitados para atuarem na construção do Tabernáculo, como Bezalel e Aoliabe (Ex 31.1-11).

O Apóstolo Paulo referindo-se aos dons espirituais e seu uso na igreja (1Co 12-14) diz que Deus estabeleceu na igreja apóstolos, profetas, mestres, operadores de milagres etc. Esclarece que os dons são diversos, há diversidade de serviços e há diversidade nas realizações (1Co 12.4-6); “mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente (1Co 12.11).

Isso significa que cada cristão, como membro do corpo de Cristo, é capacitado espiritualmente para realizar um serviço específico, de acordo com a livre e soberana vontade de Deus e, “visando a um fim proveitoso” (1Co 12.7).

Portanto, é nessa categoria que se enquadram os chamados para os ofícios de presbítero e diácono.

3°) Chamado especial (missão)

É semelhante ao anterior porquanto também é um chamado individual. Entretanto, pela magnitude e alcance dos seus propósitos, fica-lhe melhor a classificação de “especial”. Destaca-se pela intensidade da intervenção divina na história humana através de pessoas especialmente escolhidas.

No contexto da história bíblica podem ser facilmente identificados três períodos de grande intervenção divina. Cada um destes períodos durou menos de um século e foi marcado por milagres, que são acontecimentos que não têm uma explicação natural. São eles:

– Quando da formação da nação de Israel, sob Moisés e Josué;

– Quando o culto a Baal ameaçava destruir toda a adoração a Deus, sob Elias e Eliseu;

– Quando do estabelecimento da igreja, sob Cristo e os apóstolos (predominantemente).

Considerando os principais milagres registrados na Bíblia chegamos à seguinte estatística:

PESSOAS MILAGRES REGISTRADOS Século Percentual
Moisés e Josué 31 XV a.C.
Elias e Eliseu (9+12)      21 IX  a.C.
Jesus Cristo

Apóstolos/outros

37

27

   I d.C. 90%
Diversas 13      – 10%
TOTAL 129      – 100%

S. Boyer – Pequena Enciclopédia Bíblica

No contexto da Reforma, quando a igreja oficial também ameaçava destruir o verdadeiro culto a Deus, aparecem em cena homens como: João Wyclif (1324-1384), Martinho Lutero (1483-1546), João Calvino (1509-1564) e João Knox (1515-1572).

Nos século 18 e 19, marcados por grandes avivamentos e expansão missionária destacam-se: Jônatas Edwards (1703-1758), João Wesley (1703-1791), Guilherme Carey (1761-1834), Carlos Finney (1792-1875), Jorge Müller (1805-1898), Davi Livingstone (1813-1873), Hudson Taylor (1832-1905); Carlos Spurgeon (1834-1892) e Dwight L. Moody (1837-1899).

Nas entrelinhas do versículo 19 há três aspectos relevantes sobre o chamado que devem ser considerados:

a) O chamado é um ato soberano de Deus

“..e achou a Eliseu, filho de Safate..”

Ou Deus chama diretamente a pessoa escolhida (Moisés – Ex 3.2) ou ele manda chamar, como neste caso (1Rs 19.16).

A Bíblia menciona o fato de pessoas serem separadas por Deus, para algum ministério especial, antes mesmo de nascerem (Sansão – Jz 13.5; Jeremias – Jr 1.5; João Batista – Lc 1.13-17; Paulo – Gl 1.15 ; etc).

Se a Deus pertence a escolha não cabe a nós questionar os seus critérios. Elias poderia ter argumentado: “Senhor, não há tantos discípulos na Escola de Profetas em Ramá (1Sm 19.20); ou na de Betel (2Rs 2.3); ou na de Jericó (2Rs 2.5); ou quem sabe na de Gilgal (2Rs 4.38)?  Por que escolhestes um lavrador?”.

Quem dentre nós, no lugar de Jesus, chamaria homens “iletrados e incultos” para serem seus discípulos e continuadores do Cristianismo?  Deus sabe o que faz. Pedro e João falaram com tanta intrepidez diante do Sinédrio em Jerusalém que aqueles inquiridores não só se admiraram como reconheceram terem eles estado com Jesus (At 4.13).

Em vez disso Elias entendeu que a nós basta obedecer a Deus, “achar”, reconhecer os escolhidos por Deus e encaminhá-los ao ministério (At 13.2).

b) O chamado é uma proposta de troca

“..andava lavrando com doze juntas de bois adiante dele; ele estava com a duodécima..”

Você já deve ter ouvido falar alguma vez que Deus não chama desocupados, ociosos ou preguiçosos. Eis aqui mais um caso que confirma esta regra. Deus chama gente ocupada e propõe que estes troquem suas atividades, parcial ou totalmente, por atividades “mais nobres” ou mais necessárias dentro da sua ótica. Aos irmãos pescadores – Pedro e André – Jesus propôs: “Vinde após mim, e eu vos farei Pescadores de homens” (Mt 4.19).

c) O chamado é confirmado pela outorga de Autoridade e Poder

“Elias passou por ele, e lançou o seu manto sobre ele”

O ato de “lançar o manto sobre” tinha o simbolismo de transferência de autoridade e poder, de um profeta que estava terminando a sua missão, para outro que já estava sendo escolhido para dar prosseguimento ao ministério profético.

Tal qual a vara de Arão (Ex 14.16; 17.5-6), o manto de Elias foi usado para a realização de tarefas humanamente impossíveis (Elias – 2Rs 2.8; Eliseu – 2Rs 2.14). De igual modo, os ungidos e equipados pelo Espírito Santo podem servir de canais através dos quais Deus realiza a sua vontade.

2. MINISTÉRIO E FAMÍLIA (v.20)

Seja qual for a categoria de chamado que você recebeu, esteja certo de que:

a) A família requer uma atenção adequada

“Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe, e então te seguirei”

A atitude de pedir permissão para despedir-se de sua família  demonstra submissão ao profeta de Deus e, ao mesmo tempo, responsabilidade e atenção para com os seus pais. Eliseu não desculpou-se como aquele “quase discípulo de Jesus” que primeiro queira “sepultar o seu pai” (Lc 9.59-60).

Tudo indica que Eliseu era um homem solteiro. Não acredito que a sua calvície tivesse algo a ver com isso (2Rs 2.23). O fato dele ser solteiro simplificava em muito a situação. Paulo diz que os não casados estão mais livres para cuidar “das coisas do Senhor” enquanto os casados estão divididos entre a família e o serviço cristão (1Co 7.32-33).

Como, sendo casado(a), conciliar família e ministério? Como distribuir adequadamente a energia e atenção com os diferentes papéis que você desempenha na sociedade, o que inclui a família?  Há uma tendência natural de aplicarmos mais energia naqueles papéis com maior retorno financeiro ou satisfação das necessidades de autoestima, ou ainda de autorrealização.

Seja qual for a importância que você, ou outros, dão ao seu ministério espiritual, este não anula a sua responsabilidade para com a família. Em contrapartida a família não tem o direito de absorver egoisticamente aquele(a) que foi chamado por Deus para abençoar muitas vidas.

É recomendável adotar-se a seguinte hierarquia de prioridades:

DEUS  =>  FAMÍLIA  =>  MINISTÉRIO

“Elias respondeu-lhe: Vai, e volta; pois já sabes o que fiz contigo”

É preciso dosar bem o ir e vir entre o ministério e a família!

3. MINISTÉRIO e MISSÃO (v.21)

Há profundas e significativas verdades nas atitudes de Eliseu após o seu chamado:

 a) O ministério requer comprometimento total

“Voltou Eliseu de seguir a Elias, tomou a junta de bois, e os imolou…”

Consciente de que havia recebido um chamado especial, de “tempo integral”, pela fé ele se entrega, se compromete, a ponto de desmontar a sua estrutura de trabalho anterior. Como lavrador, ele sabia muito bem o quanto é desastroso colocar as mãos no arado e olhar para trás (Lc 9.62).

O diaconato não é um ministério de tempo integral. Entretanto, como qualquer outro ministério requer um comprometimento total. Não basta participar, é preciso se comprometer!

b) O ministério requer visão do povo

“… e com os aparelhos dos bois cozeu as carnes, e as deu ao povo, e comeram”

Ele poderia ter feito um bom negócio com a sua junta de bois; em benefício próprio ou de sua família. Afinal, não era dele? Não é esta a regra mais antiga do mundo: Primeiro EU, minha FAMÍLIA, meus AMIGOS e depois os OUTROS?

Uma forma infalível de avaliação da sua maturidade cristã, ou seja, do quanto você já se aproximou da “Natureza de Cristo”, é medindo a sua liberalidade, a sua capacidade de dar e de doar-se a si mesmo. Ministério, antes de tudo, é doação de vida. Deus nos deu Jesus, o seu Filho Unigênito, que nos deu a salvação eterna e vida abundante, que deve fluir em todas as direções, sem discriminações.

Há duas palavras muito interessantes no grego, língua em que foi escrito o Novo Testamento: “doulos” e “diákonos”.

Doulos(gr), escravo, é a forma mais baixa de servidão. O escravo não tem vontade própria. Vive para cumprir a vontade do seu despótes (gr) (dono).

 Diákonos (gr), servo, implica serviço, de todas as formas. Diakonia (gr) diz respeito a distribuição de alimentos, socorro, enfim, assistência social. O nome, sem perder esta ideia, se tornou título de um dos oficiais das igrejas.

Essas duas posições, escravo e servo, nunca deram muito “ibope”. Se fossem incluídas no nosso vestibular unificado, dificilmente atrairiam algum candidato. Todos preferem as posições de Kúrios (Senhor), despótes (Dono), didáskalos (Mestre) etc.

Sabedor dessa preferência humana, Jesus, ao estabelecer o seu reino neste mundo, tratou de reformular o conceito de servir:

1°) Ele não pregou a eliminação de todas as posições hierárquicas estabelecidas pela sociedade (Jo 13.16).

2°) Ele estabeleceu um sistema de compensação entre líderes e liderados introduzindo um revolucionário conceito de grandeza: “..quem quiser tornar-se grande entre vós será esse o que vos sirva” (Jo 20.26). Ele quebra os paradigmas existentes onde os governantes dos povos os dominavam e exploravam (Jo 20.25) e estabelece as bases da verdadeira democracia.

Jesus não apenas ensinou mas vivenciou o papel de “doulos” (Fp 2.7) e “diákonos” (Mt 20.28) e, acrescentou: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15).

O apóstolo dos gentios, Paulo, assimilou bem estes dois conceitos e usa-os a respeito de si, seu ministério e serviço cristão: “doulos” (de Jesus – Rm 1.1; dos irmãos – 2Co 4.5); e, “diákonos” (servo – 1Co 3.5; ministro – 2Co 3.6; 6.4; 11.23; Ef 3.7).

Os ministérios de Elias e Eliseu visaram prioritariamente o sofrido povo de Israel do Reino do Norte, “os domésticos da fé”, mas transpuseram barreiras raciais e abençoaram pessoas de outras nações, podendo ser considerados como precursores do ministério cristão (Lc 4.25-27).

  c) O ministério requer humildade e perseverança

“Então se dispôs e seguiu a Elias, e o servia”

Os serviços mais simples, repetitivos, raramente são percebidos quando funcionam bem. A dona de casa que o diga. Isso sempre foi assim e sempre o será. Quem serve na casa de Deus deve fazê-lo com satisfação e dedicação, não esperando qualquer tipo de reconhecimento. Deve-se ter o cuidado de fazer as coisas “como para o Senhor e não para os homens” (Cl 3.23).

Eliseu não via qualquer problema em ser um auxiliar de Elias, em executar tarefas tão simples como “deitar água sobre as mãos de Elias” (2Rs 3.11). Eliseu foi fiel no “pouco”, e depois da morte de Elias, foi colocado sobre o “muito”, pois Deus o usou de uma forma tremenda.

Já repararam que entre os oficiais diáconos há muitos que desempenham papel relevante no mundo dos negócios? Há funcionários graduados, gerentes, empresários etc. Entretanto, sem qualquer constrangimento, se empenham o máximo para servir bem aos irmãos e visitantes. Particularmente defendo aquela opinião de que na igreja de Cristo não deve haver distinção de pessoas por causa de títulos ou sobrenomes. Todos devem ser recebidos e tratados como membros de um mesmo corpo (1Co 12.27), ramos de uma mesma videira (Jo 15) e pedras de um mesmo edifício espiritual (1Co 3.9) – a igreja de Cristo.

A humildade e perseverança no servir são virtudes essenciais à eficácia de um ministério espiritual.

Conclusão

1. O chamado é:

– Um ato soberano de Deus.

– Uma proposta de troca.

– Confirmado pela outorga de Autoridade e Poder.

2. A família requer uma atenção adequada.

3. O ministério requer:

– Comprometimento total.

– Visão do povo.

– Humildade e Perseverança.

Que Deus nos ajude a entender e praticar esses princípios básicos.


Catedral Presbiteriana do Rio
16/07/1995 – Culto Vespertino (19h)
Aniversário da Junta Diaconal
Esboço da Mensagem pregada pelo então Diácono Paulo Raposo Correia