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Sinopse A família é uma instituição divina, um lindo projeto de Deus. Família é algo tão singular que se manifesta originalmente, de forma misteriosa, na Trindade; se reproduz na esfera dos seres humanos; e, também se expressa, de forma mística, na instituição Igreja. No projeto divino da família, cada membro tem um papel a desempenhar. Na posição de líder familiar, o pai tem um papel relevante que nem sempre é observado, causando graves consequências. O que a Bíblia tem a dizer sobre a paternidade responsável, comprometida, eficaz, ou seja, a paternidade integral? Confira aqui!
“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus,….” (Mt 6.9) “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus,” (Ef 2.19) “Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé.” (Gl 6.10)
Introdução
Família é algo tão singular que se manifesta originalmente, de forma misteriosa, na Trindade; se reproduz na esfera dos seres humanos; e, também se expressa, de forma mística, na instituição Igreja: “Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai, de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra,” (Ef 3.14-15).
No sentido humano, não é qualquer agrupamento de pessoas que caracteriza uma família tradicional ou consanguínea, nos moldes instituídos por Deus. Ela começa com uma união (casamento, aliança) heterossexual, pois sem o concurso de um homem e de uma mulher, como se daria a reprodução e consequente preservação da espécie humana?
A própria Constituição Federal, no seu Artigo 226, estabelece a família como base da sociedade:
“§3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. §4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.”
A confissão de Fé de Westminster estabelece (Cap. XXIV):
“I. O casamento deve ser entre um homem e uma mulher; ao homem não é licito ter mais de uma mulher nem à mulher mais de um marido, ao mesmo tempo. (Ref. Gen. 2:24; Mat. 19:4-6; Rom. 7:3). II. O matrimônio foi ordenado para o mútuo auxílio de marido e mulher, para a propagação da raça humana por uma sucessão legítima e da Igreja por uma semente santa, e para impedir a impureza. (Ref. Gen. 2:18, e 9:1; Mal.2:15; I Cor. 7:2,9).”
É no convívio familiar do lar que se realiza a primeira socialização do ser humano. Além da família desfrutar do abrigo físico da casa, é no exercício dos seus papéis que os pais providenciam o suprimento das necessidades de todos os seus membros, provendo, ainda, para os filhos, proteção e educação para a vida, por meio da transmissão de valores éticos, morais e espirituais: “Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma; atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por frontal entre os olhos. Ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentados em vossa casa, e andando pelo caminho, e deitando-vos, e levantando-vos.” (Dt 11.18-19). Essa é a tarefa primeira e indelegável dos pais ou responsáveis. É certo que a igreja pode e deve contribuir na formação espiritual dos membros da família, bem como as instituições escolares na sua formação geral e profissional para a carreira.
A Trindade Santa nos provê o modelo e referência de pessoas relacionadas, não isoladas, que mantém comunhão e harmonia. Na oração do “Pai Nosso” Jesus estende o conceito de família, ampliando os seus limites, quando nos ensina que há um Pai Celestial comum e todos somos irmãos (Mt 6.9; 23.8). Em outra ocasião ele acrescenta: “Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe.” (Mt 12.50). Nesta mesma linha, o apóstolo Paulo denomina a igreja como a “família da fé” (Gl 6.10) ou “família de Deus” (Ef 2.19).
Desenvolvimento
Neste estudo, desenvolveremos o tema proposto, identificando e explicitando o que há de comum, ou a relação entre família humana e família da fé – a igreja. Vejamos, então, alguns desses elementos comuns:
1. Constituição (Formação)
Em se tratando de constituição ou formação, família e igreja tem muitos elementos comuns, sendo que mencionaremos apenas alguns:
1.1 Origem divina
A família origina-se na vontade soberana de Deus que percebeu que não era bom para o homem viver só (Gn 2.18; Mt 19.4). A igreja, também, origina-se na vontade soberana de Deus que se dispõe a entrar em aliança com o homem (2Co 5.19).
1.2 Separação efetiva
Tanto para a família quanto para a igreja se requer separação e renúncia. No caso da família é preciso cortar o “cordão umbilical” que nos liga à “placenta familiar”, para permitir a formação de uma nova “placenta familiar”. “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.” (Gn 2.24). Igreja é ECCLESIA (lat.) ou EKKLESIA (gr.). “EK”, que significa “movimento para fora” e “KLESIA”, do verbo KALEO (gr.), chamar. Logo, “ekklesia” é a assembleia dos “chamados para fora” do sistema mundano que aí está, para viverem como filhos de Deus, na casa do Pai Celeste (Mt 10.37; 16.24).
1.3 União com exclusividade
A nova família se consuma na união do casal, pelo casamento: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.” (Gn 2.24); “De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.” (Mt 19.6). Tendo Cristo por cabeça, a igreja constitui-se um só corpo: “Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.” (Ef 4.4-6). A amizade do mundo constitui-se uma quebra dessa união com exclusividade e, consequentemente, provoca a inimizade de Deus (Tg 4.4).
1.4 Declarações e Promessas
Uma nova família se inicia com declarações e promessas feitas entre os cônjuges. Na cerimônia de casamento são feitas declarações de amor e promessas de companheirismo, apoio e cuidado: “– Prometes amá-la(lo), honrá-la(lo), consolá-la(lo) e cuidar dela(e), tanto na saúde como na enfermidade, na prosperidade e na escassez, e te conservares exclusivamente para ela(e)?”; “– SIM PROMETO!” Isso demanda fé e confiança de que a outra parte honrará as promessas feitas.
Em se tratando da igreja, há expressas manifestações de amor e promessas preciosas da parte de Deus que abrangem o tempo presente e o porvir. “Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo por vir, a vida eterna.” (Mc 10.29-30); “..Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.” (1Co 2.9). Ainda que possamos falhar, ele permanecerá fiel ao que prometeu e disposto a nos restaurar, se arrependidos, confessarmos os nossos pecados: “se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo.” (2Tm 2.13).
1.5 Mudança de vida
Com o casamento e a formação de uma nova família muita coisa tem que mudar na vida dos cônjuges:
a) Nova identidade: além da mudança do estado civil dos cônjuges, normalmente, a nova família passa a ser identificada por um sobrenome comum.
b) Nova agenda: os cônjuges deixam de lado a “vida de solteiro” para dedicarem-se prioritariamente, um ao outro e à família. A declaração de Rute à sua sogra exemplifica bem o tipo de compromisso que deve haver entre marido e esposa no casamento (Rt 1.16-17).
c) Novo compromisso: o compromisso de caminhar juntos, em plena comunhão, sem segredos entre si, provendo o sustento e bem-estar um do outro, dedicando-se totalmente a fazer o outro feliz.
d) Novo sinal externo: o anel (aliança) no dedo anelar esquerdo torna visível, para memória dos pactuantes e para a sociedade, o compromisso assumido: “– Com este anel eu selo a minha aliança contigo, unindo a ti meu coração e minha vida, e te faço participante de todos os meus bens.”
Ao nos tornarmos seguidores de Cristo e membros da sua igreja, muita coisa tem que mudar em nosso estilo de vida:
a) Nova identidade: passamos a ser identificados com um nome comum, derivado do nome daquele a quem seguimos: cristão (At 11.26)
b) Nova agenda: que consiste em buscar, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça (Mt 6.33), deixando para trás a “vida antiga” (2Co 5.17), para nos dedicarmos, prioritariamente, a Deus, à família sanguínea e à igreja, na sua missão.
c) Novo compromisso: o compromisso de caminharmos juntos, em plena comunhão com os irmãos na fé, provendo o sustento da igreja, dedicando-nos totalmente a fazer a vontade de Deus.
d) Novo sinal externo: A pública profissão de fé e o batismo são sinais externos iniciais de uma fé interna. Entretanto, o sinal externo permanente e relevante é o testemunho cristão, para os de dentro e os de fora da igreja. O exemplo de Jesus: “contudo, assim procedo para que o mundo saiba que eu amo o Pai e que faço como o Pai me ordenou.” (Jo 14.31a)
1.6 Celebração da Comunhão
Não há momento mais íntimo do que aquele da família reunida à mesa para a sua refeição cotidiana, trocando olhares e compartilhando suas vivências. No início da igreja os cristãos se reuniam para celebrar a comunhão com a festa do amor (ágape), juntamente com a Ceia do Senhor. Esse segundo rito observado pela igreja – A Ceia do Senhor – será sempre um momento de celebração da Nova Aliança, em memória do Senhor e da sua redenção no Calvário, até que ele volte, e de celebração da comunhão da família da fé.
1.7 Duração
Todo pacto ou aliança estabelece não só os benefícios decorrentes de seu cumprimento, como também as consequências negativas para a parte que não se mantiver fiel. O casamento que dá origem à família é para toda a vida – “Até que a morte os separe”: “Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido (se, porém, ela vier a separar-se, que não se case ou que se reconcilie com seu marido); e que o marido não se aparte de sua mulher.” (1Co 7.10-11). Os membros da família e a sociedade têm colhido frutos amargos devido à quebra da aliança conjugal e consequente desestruturação familiar. A igreja está inserida num pacto ou aliança de Deus com seus remidos de duração eterna: “Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém!” (Hb 13.20-21).
Vale lembrar que a família consanguínea está limitada e restrita a este mundo terreno e transitório: “Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no céu.” (Mt 22.30). Já a família da fé, a igreja militante, transpõe essa dimensão terrena e se transforma na igreja triunfante, no outro lado da eternidade.
2. Reprodução (Crescimento)
“E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.” (Gn 1.28)
Sem reprodução a família humana se extingue na face da terra. Então, pode-se afirmar que esta é a missão primeira e básica da família. É fato que, por uma questão biológica de infertilidade e de esterilidade, nem todo casal consegue cumprir essa missão familiar. Obviamente, há outras razões e motivações que levam um casal a não gerar filhos; não cabe aqui apresentá-las ou discuti-las.
“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;” (Mt 28.19)
Sem reprodução espiritual, sem novos discípulos, a igreja se extingue na face da terra. Então, por analogia, pode-se afirmar que esta é a missão primeira e básica da igreja. É o que se denomina de Evangelismo e Missões. É fato que, por razões diversas, tais como – apostasia, conformismo com o mundo, pecado encoberto, falta de compromisso e empenho com sua missão – uma igreja não cresce ou não cresce, quantitativamente, como deveria.
3. Organização (Funcionamento)
Para uma família funcionar bem, há que ter governança e seus membros precisam desempenhar seus respectivos papéis. A bíblia não se omite e fornece muitos ensinamentos sobre o assunto. O Pr. Ariovaldo Ramos desdobra esses papéis pelos três princípios ou elementos basilares da família: Paternidade, Maternidade e “Filidade”, a saber:
PATERNIDADE (Pai): Provisão, Proteção e Direção. MATERNIDADE (Mãe): Inspiração, Acolhimento, Consolo e Nutrição. FILIDADE (Filho): Alinhamento, Obediência e Continuidade.
A sociedade secular pode até ter outra visão sobre o papel do homem e da mulher na liderança da família, o que não é de se estranhar porque ela não está alinhada com os padrões divinos expressos na bíblia: “porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo.” (Ef 5.23). Não importa que pensem que esse princípio bíblico seja machista, retrógrado e ultrapassado.
A paternidade na Família Igreja emerge, espiritualmente, de Deus Pai; e flui, efetivamente, através dos seus líderes. Essa liderança visível da Igreja foi instituída por Deus para exercer as funções de provisão, proteção e direção; através de homens segundo o coração de Deus que, naturalmente, precisam contar com o auxílio indispensável das mulheres.
A maternidade na Família Igreja emerge, espiritualmente, de Deus Espírito Santo; e flui, efetivamente, através do mesmo Espírito, derramado sobre todos os remidos do Senhor, pertencentes à Nova Aliança. Portanto, o Espírito Santo e a Palavra de Deus, além da regeneração e crescimento, produzem inspiração, acolhimento, consolo e nutrição.
A “filidade” na Família Igreja emerge, espiritualmente, através de Deus Filho; e flui, efetivamente, pelos filhos de Deus, membros do corpo de Cristo. Jesus é o nosso exemplo e modelo de “filidade”, isto é, de alinhamento com o propósito e a vontade do Pai, obediência aos valores do Pai e continuidade da missão (1Pe 2.21).
4. Preservação (Sobrevivência)
Por último, vale lembrar que é tarefa dos pais cuidar e zelar, por eles mesmos e pelos filhos, no que diz respeito ao sustento e desenvolvimento intelectual, social e espiritual. Nesse estilo de vida pós-moderno, homem e mulher, precisam ser mais do que pais provedores. Quer pela necessidade de buscar recursos financeiros, quer pelo glamour de uma carreira tentadora, eles podem sonegar o precioso tempo e dedicação, tão necessários ao investimento na família, de modo a preservá-la. Esse estar junto, cuidando e zelando, inclui também o estabelecer limites e exercer a disciplina preventiva e corretiva.
“ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” (Mt 28.20)
Assim como na família dinheiro não é tudo e não há a figura de cliente ou expectador, na igreja, o que se espera é o compromisso e participação de todos. O sacerdócio universal dos crentes não pode ser apenas retórica, um discurso vazio e utópico. A liderança da igreja jamais dará conta sozinha de tudo o que precisa ser feito e não pode descuidar da disciplina preventiva e corretiva (1Co 11.32). Somos um organismo vivo, constituído por muitos membros, sendo cada um chamado a desempenhar a sua função. É o Espírito Santo quem capacita a cada um, mas cabe à liderança espiritual da igreja ser instrumento facilitador para que toda essa engrenagem funcione bem (Ef 4.15-16). E, assim, cada um desempenhando o seu papel, como crente-servo e não como crente-cliente, estaremos contribuindo para a preservação e crescimento da igreja, sustentados, sobretudo, pelo Senhor da Igreja, “até à consumação do século”.
Conclusão:
Que Deus nos ajude a compreender essas semelhanças entre família e igreja, duas instituições que nasceram no coração de Deus. Que, entendendo o papel de cada parte, possamos ser bênção e receber as bênçãos, ao participar de ambas.
Família é algo tão singular que se manifesta originalmente, de forma misteriosa, na Trindade; se reproduz na esfera das criaturas humanas; e, também se expressa, de forma mística, na instituição Igreja. O que há de interessante nesses três tipos de família é o que já tratamos nos artigos anteriores, “A Família Deus” e “A Família Homem” e o que trataremos neste artigo.
“Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus,” (Ef 2.19)
Várias metáforas são aplicadas à igreja, tais como: Corpo de Cristo (1Co 12.27; Ef 1.23), Rebanho (Jo 10.16; At 20.28), Lavoura de Deus (1Co 3.9), Casa Espiritual (1Pe 2.5), Edifício de Deus (1Co 3.9), Santuário de Deus (1Co 3.16-17; Ef 2.21) etc. Dentre tantas figuras, a da igreja como Corpo de Cristo e como Família, a Família de Deus são muito significativas, porque envolvem as ideias de corpo e de pessoas, respectivamente. Se para a sociedade pós-moderna, a família tradicional ou família nuclear, composta de pai, mãe e filhos, a cada dia que passa se torna menos importante, o mesmo não ocorre na visão divina. Na bíblia e na visão de Deus, o Criador de todas as coisas, a família sempre ocupou e sempre ocupará um lugar de destaque.
A Família Deus (Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo) sempre existiu em perfeita harmonia, unidade e gozo. Ao criar a Família Homem ou Família Adâmica, seu propósito era reproduzir, no habitat terrestre, este seu modelo de família e que esta vivesse em perfeita comunhão e harmonia com ela, a Família Deus. Porém, logo a Família Homem fracassou e, pela desobediência, quebrou a comunhão com a Família Deus. O pecado gerou a maldição, o caos se instalou desde então e separou a Família Homem, da Família Deus.
A Família Deus não desistiu do seu propósito e anunciou a vinda de uma criança que inauguraria um novo tempo, que iria possibilitar a geração de uma nova família, a Família Igreja, a Igreja de Jesus Cristo. Na sua oração ao Pai, também conhecida como oração sacerdotal, Jesus expressa claramente esse anseio de comunhão da Família Deus: “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.” (Jo 17.20-21). Seu propósito se estende para além dessa vida. Após uma breve passagem por este mundo terreno, ele deseja que todos os seus sejam reunidos a ele na sua glória celestial e eterna (Jo 17.24).
Portanto, é em Cristo, que efetivamente acontece a “fusão”, a reconciliação, entre a Família Deus e a Família Homem, gerando a Família da Fé, a Família Igreja! É claro que não é a Igreja quem salva, mas Jesus Cristo! E essa salvação é individual, pessoal e não familiar.
Como se manifesta a paternidade, a maternidade e a “filidade” na Família Igreja?
O tema da epístola de Paulo aos Efésios é: A IGREJA, O CORPO DE CRISTO. Na “fusão” da Família Deus com a Família Homem, a Família Deus ocupa o lugar de cabeça e a Família Homem Regenerada ou Família Igreja, ocupa o lugar de corpo. É o cérebro (Família Deus), que com “impulsos invisíveis” aos olhos humanos, comanda todo o corpo visível (Família Igreja) (1Co 11.3; Ef 5.23).
A paternidade na Família Igreja emerge, espiritualmente, de Deus-Pai; e flui, efetivamente, através dos seus líderes. Essa liderança visível da Família Igreja foi instituída por Deus para exercer as funções de provisão, proteção e direção; através de homens segundo o coração de Deus, designados na Bíblia por presbíteros (ou bispos ou anciãos) (1 Tm 3.1-7 e Tt 1.5-9) e diáconos (At 6.1-6 e 1Tm 3.8-13). A sociedade secular pode até ter outra visão sobre o papel do homem e da mulher na liderança da família, o que não é de se estranhar porque ela não está alinhada com os padrões divinos; e, assim agindo, acaba influenciando fortemente a Família Homem e a Família Igreja, a tal ponto de muitos crentes passarem a achar que esse princípio bíblico é machista, retrógrado e ultrapassado. Entretanto, isso não deve nos surpreender, nem tampouco as tentativas mirabolantes que estes fazem com os textos bíblicos para conciliar o inconciliável – Sociedade Secular e Igreja. Nenhuma suposta modernidade deve mudar nossa visão e posição sobre este assunto, pois a nossa bússola existencial e espiritual deve apontar sempre para o norte divino da Santa e Eterna Palavra de Deus – a Bíblia. Quando Deus fala pela boca do profeta Jeremias: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência.” (Jr 3.15), podemos assegurar que Deus não está se referindo exclusivamente àqueles que chamamos hoje de pastor de igreja. A referência divina é a homens maduros e experientes na fé, chamados e capacitados por ele mesmo para liderar o seu povo, que hoje é a sua igreja (1Pe 5.1-2). Naturalmente, quando não estiver em foco a Família Igreja como um todo, porém um segmento menor desta, outros líderes, de ambos os sexos, são extremamente úteis e importantes.
A maternidade na Família Igreja emerge, espiritualmente, de Deus-Espírito Santo; e flui, efetivamente, através do mesmo Espírito Santo, derramado sobre todos os remidos do Senhor, pertencentes à Nova Aliança; diferentemente do que acontecia na Antiga Aliança, quando este mesmo Espírito tomava pontual e temporariamente apenas algumas pessoas visando determinado fim. O Espírito Santo se manifesta: pela regeneração ou novo nascimento da criatura humana, através da Palavra de Deus, a Bíblia, (Jo 3.5; Ef 5.26; Tt 3.5; 1Pe 1.23); pela sua habitação no crente (Jo 14.17, 23); pelo fruto do Espírito (caráter – Gl 5.22-23); e, pelos dons do Espírito (Serviço – Ef 4.12), nos regenerados. A Palavra pregada e ensinada produz a fé para a salvação (Rm 10.17) e crescimento espiritual (Ef 4.15-16). Portanto, o Espírito e a Palavra de Deus, além da regeneração e crescimento, produzem inspiração, acolhimento, consolo e nutrição. Não é Maria, mãe de Jesus, ou o segmento feminino da igreja, que vão exercer as funções da maternidade na Família Igreja! Absolutamente Não!!! Idolatrar a “Virgem Maria”, como a mãe de Deus ou mãe da igreja é cometer o grave erro de anular a verdadeira expressão da maternidade na Igreja, que acontece pelo ESPÍRITO SANTO!!!
O Espírito Santo é a parte divina que possibilita a união mística da Família Deus com a Família Homem, dando origem à Família Igreja. É esse diferencial, da ação do Espírito Santo, que faz a igreja ser igreja e não uma Associação Social, ou um Clube, ou uma ONG. É através da sua presença efetiva e real na Família Igreja que o princípio da maternidade se expressa. É esta ação do Espírito Santo que capacita, com dons, cada crente sacerdote (homem e mulher) para exercer a sua função no corpo de Cristo, na Família Igreja. É como diz o apostolo Paulo: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo,” (Ef 4.11-13).
A “filidade” na Família Igreja emerge, espiritualmente, através de Deus-Filho; e flui, efetivamente, pelos filhos de Deus, membros do corpo de Cristo. A “filidade” de Jesus é o exemplo a ser seguido por nós crentes, seus irmãos: “Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos,” (1Pe 2.21). O grande propósito de Deus para a igreja é que cada remido reproduza em seu viver a imagem do seu Filho Jesus: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Rm 8.29; ver tb Gl 4.19; Ef 4.13). Jesus é o nosso exemplo e modelo de “filidade”, isto é, de alinhamento com o propósito e a vontade do Pai, obediência aos valores do Pai e continuidade da missão.
Em resumo, na Família Igreja temos:
PATERNIDADE (Líderes): Provisão, Proteção e Direção.
MATERNIDADE (Espírito Santo e a Palavra de Deus): Inspiração, Acolhimento, Consolo e Nutrição.
“FILIDADE” (Crentes): Alinhamento, Obediência e continuidade.
Conclusão:
“Não há nada que se faça fora da família que não tenha nascido na família”. Todos nós nascemos em alguma família. Mas, nenhum de nós escolheu a família em que nasceu.
Talvez você tenha sido agraciado com uma família que só te dá alegria, que provê tudo o que você precisa: teto, conforto, alimentação, saúde, educação, proteção, diversão, apoio, incentivo etc etc. Não se esqueça, entretanto, que tudo isso é passageiro; o máximo que tua família e amigos poderão fazer por você é, no final da tua vida terrena, segurar a alça do caixão e levar o teu corpo até a sepultura.
Quem sabe você teve a desventura de nascer numa família, rica ou pobre, mas que somente trouxe amargura e sofrimento à tua vida. O que mais importa agora não é o que fizeram com a tua vida e sim o que você vai fazer com o que fizeram da tua vida.
Deus tem uma excelente notícia para todos nós. Em Cristo ele nos deu acesso a uma nova família, a Família Igreja, a Família de Deus, uma Família Eterna. O que você precisa fazer agora é levar até aos pés de Cristo toda a tua dor e frustrações; confessar a ele todos os teus pecados e recebê-lo como Senhor e Salvador da tua vida. É como diz a letra deste cântico:
Família é algo tão singular que se manifesta originalmente, de forma misteriosa, na Trindade; se reproduz na esfera das criaturas humanas; e, também se expressa, de forma mística, na instituição Igreja. O que há de interessante nesses três tipos de família é o que já tratamos no artigo anterior “A Família Deus” e que trataremos neste e no próximo artigos.
O ser humano tem uma profunda necessidade de usufruir do sentimento de pertencimento e de identificação; de fazer parte de uma família e de conhecer sua origem, suas raízes, sua ascendência. Somente aqueles que não têm este privilégio são capazes de avaliar tamanha desventura. Talvez não exista dor maior do que a de não conhecer sua própria família ou de ter sido abandonado por ela ou de perdê-la. Por outro lado, não é menos doloroso, viver e sobreviver numa família caótica, desajustada, opressora e doentia.
Vivendo numa sociedade pós-moderna, que tanto relativiza valores e princípios, que despreza a família nuclear tradicional e ousa impor novos formatos de família, é preciso se firmar nas bases sólidas estabelecidas pelo Criador do Universo e da família, para não perder o rumo, para não se perder na caminhada.
Tomemos como referência a família de terrena de Jesus, para identificar nela o exercício dos princípios da Paternidade, Maternidade e “Filidade” e seus desdobramentos, a saber:
PATERNIDADE (Pai): Provisão, Proteção e Direção.
MATERNIDADE (Mãe): Inspiração, Acolhimento, Consolo e Nutrição.
FILIDADE (Filho): Alinhamento, Obediência e continuidade.
Antes de tudo, é bom que se diga que é necessário e urgente resgatar em muitos pais e maridos o princípio da paternidade e suas funções. Pouco se fala, na Bíblia e nas igrejas, de José, marido de Maria e pai adotivo de Jesus. Entretanto, o resumido relato bíblico é suficiente para revelar que ele exerceu suas funções paternais. Ele foi um pai provedor, protetor e diretor.
No tempo em que a virgem Maria estava apenas comprometida (desposada) com José, o anjo Gabriel a visitou e lhe anunciou o nascimento de Jesus. A partir de então, os anjos do Senhor somente falam com José, pois no papel paterno ele é o sacerdote da sua família. Na primeira vez, o anjo o dissuade a não se afastar de Maria e lhe explica a situação. Então, ele atende ao apelo divino e a recebe por sua mulher (Mt 1.18-25).
Ele é o diretor e provedor, que leva sua esposa grávida para Belém, a fim de atender ao recenseamento decretado por Cesar Augusto. Não havendo onde se hospedarem, ele encontrou e preparou um lugar, para a família, na estrebaria (Lc 2.1-7).
Ele é o diretor e protetor, que orientado pelo anjo (2ª vez), em sonho, leva, imediatamente, à noite, sua família para o Egito, salvando seu filho do infanticídio ordenado por Herodes (Mt 2.13-18). Após a morte de Herodes, orientado pelo anjo outras duas vezes, volta do Egito para Israel e, em vez de ir para a Judeia, vai para Nazaré, na Galileia (Mt 2.19-23).
Ele é um sacerdote obediente, que faz o que Deus lhe diz pra fazer. Ele conduz sua família na direção que Deus o orienta. Se é pra fugir, ele foge; se é pra voltar, ele volta; se é pra ficar, ele fica. Ele não é como muitos crentes hoje que argumentam e discutem com Deus.
José, pai adotivo de Jesus, era um homem muito especial para Deus. Nele convergiu a ascendência de Jesus (Mt 1.1-17; Lc 3.23-38) e se cumpriu a promessa de que o cetro não se apartaria de Judá (Gn 49.10), da casa de Davi (Lc 1.32; 2Sm 7.13, 16; Lc 1.26, 69; Mt 1.20). Além disso, vejam só que interessante: a Noé, Deus confiou a construção da arca, para prover a continuação da humanidade; a Moisés, Deus confiou sua Lei; aos profetas, a sua Palavra; a Davi, um reino; a José, nada mais, nada menos, do que o seu próprio Filho Jesus, que deveria ser preservado até poder cumprir cabalmente a sua missão de Salvador do mundo.
Os pais e maridos precisam entender que sua autoridade provém do correto exercício da paternidade, através das funções de provisão, proteção e direção. Deus, ao longo da história, frequentemente interagiu com a figura paterna, como o cabeça do casal, para mostrar-lhe a direção a seguir. Jesus explicitou, pelo menos, duas dessas funções paternas: provisão – “Então, lhes disse: Por isso, todo escriba versado no reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu depósito coisas novas e coisas velhas.” (Mt 13.52); proteção – “Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa.” (Mt 24.43). Conforme diz a missionária Ediméia Williams, é significativo e simbólico que o sopro de vida divino somente tenha ocorrido uma vez; na criação do homem Adão (Gn 2.7). A mulher Eva foi o resultado da transformação operada por Deus na costela tomada do homem (Gn 2.22). É claro que isso não faz do homem um ser superior a mulher, apenas foi feito para ocupar um papel de liderança na família. Portanto, ser o cabeça da família é um direito concedido, por Deus, ao marido e pai (1Co 11.3; Ef 5.23), mas essa autoridade de gênero, estabelecida desde o Éden (Gn 3.16; 1Tm 2.12; Tt 2.5; 1Co 14.34), deve ser conquistada, e não imposta pela força. O correto é: “– vem comigo porque eu estou sob a direção de Deus”; e, não: “– me obedece porque eu sou o homem da casa”.
Maria, mãe de Jesus, é um exemplo de maternidade inspiradora, acolhedora, consoladora e nutridora. A maternidade é um grande privilégio concedido, por Deus, à mulher. Afinal, todos precisam de uma fonte de inspiração, de um lugar de aconchego, de consolo, de acolhimento e de uma boa nutrição. Não há como realizar à distância, de forma eficaz e plena, as funções da paternidade e, principalmente, da maternidade. José e Maria eram pais presentes na vida de Jesus: em casa (Lc 2.16), viajando (Mt 2.13; 21), no templo, desde bebê (Lc 2.22) e quando ele já era um adolescente de 12 anos (Lc 2.41). Quando os magos foram visitar o recém-nascido, apenas Maria é mencionada junto a Jesus (Mt 2.11). Seja lá o que for que uma mãe tiver que fazer para prover o seu sustento ou para realizar seus sonhos numa carreira profissional, ela precisa entender que precisa estar perto de seu filho, para poder desempenhar adequadamente as funções da maternidade.
A “filidade” colhe os frutos da paternidade e maternidade. Disse Jesus que, se a árvore for boa, os frutos serão bons (Mt 7.17). Assim, o filho se alinha ao propósito do pai, que reflete o propósito da família; obedece aos valores da família e dá continuidade a missão. Jesus era perfeitamente homem e perfeitamente Deus. Como filho de José, manteve-se alinhado aos propósitos do pai terreno, até assumir os propósitos do pai celestial. Ele era submisso, obediente aos pais humanos (Lc 2.51). Ele dava continuidade a missão do pai humano, trabalhando e ajudando-o no seu ofício de carpinteiro (Mc 6.3).
Família é algo tão singular que se manifesta originalmente, de forma misteriosa, na Trindade; se reproduz na esfera das criaturas humanas; e, também se expressa, de forma mística, na instituição Igreja. O que há de interessante nesses três tipos de família é o que trataremos neste e nos próximos dois artigos.
Há três princípios ou elementos relevantes na família:
1º) O princípio ou elemento PATERNIDADE.
2º) O princípio ou elemento MATERNIDADE.
3º) O princípio ou elemento “FILIDADE”.
Estes três princípios ou elementos estão presentes na trindade santa, da seguinte forma:
Deus-Pai: princípio ou elemento PATERNIDADE.
Deus-Espírito Santo: princípio ou elemento MATERNIDADE.
Deus-Filho: princípio ou elemento “FILIDADE”.
Entendemos que não há qualquer exagero ou aberração doutrinária nesta forma de ver a trindade santa, especificamente no que diz respeito ao Espírito Santo. A palavra hebraica comumente traduzida no Antigo Testamento para Espírito é “Ruah” ou “Ruach” e no grego do Novo Testamento “Pneuma”, um substantivo feminino. No primeiro versículo da Bíblia está escrito: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Este Deus Criador é Elohim (hb). “A forma da palavra é plural (de Eloah), indicando plenitude de poder e majestade e deixando espaço para a revelação neotestamentária da trindade de Deus”. Na sequência bíblica está escrito: “A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas.” (Gn 1.2). O que existia naquele momento era uma espécie de caos que estava debaixo do controle e domínio do soberano Deus. Há, então, uma referência ao Espírito de Deus pairando sobre as águas, sobre aquela substância aquosa, que figuradamente nos remete a imagem de uma ave que choca os seus ovos (Dt 32.11 traz esta mesma ideia). O Ruach de Deus estava ali preparando a matéria disforme para receber o sêmen da palavra criativa de Deus-Pai: “Haja…”. E o apóstolo João complementa a ideia da presença trinitária, inserindo a pessoa de Jesus, o Deus-Filho, no cenário da criação: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez.” (Jo 1.1-3). Esta presença trina está indelevelmente impressa na criação, inclusive na forma plural: “…Façamos o homem conforme a nossa imagem, conforme a nossa semelhança…” (Gn 1.26)
O Pr. Ariovaldo Ramos desdobra cada um desses três princípios ou elementos nas respectivas funções ou focos:
PATERNIDADE (Deus): Provisão, Proteção e Direção.
MATERNIDADE (Espírito Santo): Inspiração, Acolhimento, Consolo e Nutrição.
“FILIDADE” (Jesus): Alinhamento, Obediência e continuidade.
Ficam evidentes essas funções ou focos da paternidade divina no relacionamento de Deus com o seu povo Israel. Deus elege o Egito para prover (provisão) todas as condições de subsistência e crescimento numérico da nação. Na época certa, ele liberta o seu povo do domínio egípcio e o conduz (direção) à terra de Canaã, debaixo da sua proteção. Então, ali na terra de Canaã, o estabelece como nação.
Particularmente no Pentecostes, as funções da maternidade divina se expressam nitidamente através da atuação do Espírito Santo na formação da Igreja. Jesus havia ressuscitado e depois de 40 dias retornado para o Pai Celeste. Durante dez dias os discípulos ficaram desolados. Aquela cena do princípio da criação parece repetir-se ali. Quase podemos descrever assim: “e o Espírito de Deus pairava sobre o caos da ausência de Jesus”. Ele estava como que “chocando” aquela “massa disforme de discípulos” aguardando o sêmen da ação divina para gerar a igreja. No dia de Pentecostes, dez dias após a ascensão de Jesus, os cerca de 120 discípulos “em estado caótico” estavam reunidos no cenáculo e o Espírito Santo então desce sobre eles, inaugurando o tempo da igreja do Senhor Jesus Cristo.
O Espírito Santo também inspira os mensageiros do Evangelho da Graça de Deus e os escritores do Novo Testamento, como já havia feito com os escritores do Antigo Testamento. O Espírito desce sobre judeus, samaritanos e gentios, acolhendo a todos os remidos, de todas tribos línguas e nações, na Igreja de Cristo. Esse mesmo Espírito também consola os aflitos e perseguidos por causa do Evangelho e os nutre, cotidianamente, com a Palavra de Deus.
A “filidade” divina se manifesta em Jesus, no seu ministério público. Jesus é um filho inteiramente alinhado com os propósitos do Pai celeste: “Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer;” (Jo 17.4; ver tb Jo 4.34; 5.30; 6.38). Jesus foi e continua sendo nosso exemplo de obediência ao Pai: “a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.” (Fp 2.8; ver tb Hb 5.8). Também se espera de um filho que este dê continuidade a missão do pai e da família. Jesus, assim fez e se expressou: “Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.” (Jo 5.17). No final da sua vida terrena, sua última mensagem, pendurado na cruz do Calvário foi: “– Está consumado!” (Jo 19.30)
A família Deus expressa claramente os três princípios essenciais que norteiam a família, PATERNIDADE, MATERNIDADE e “FILIDADE”, bem como suas respectivas funções ou focos. Desta forma, a família Deus estabelece o modelo e serve de referência para todas as famílias.
Eu ainda era muito jovem, talvez um adolescente, quando meu falecido pai, há mais de 40 anos me deu um pequeno cartão laranja com o título: “O que o filho pensa do pai”. Os dizeres eram mais ou menos como os da figura ao lado. Ao ler o texto, naquela ocasião, fiquei com algumas interrogações: Será que é assim mesmo que funciona a relação filho x pai? Será isso uma “estratégia de pai” para facilitar a aceitação de suas argumentações e posicionamentos? Será isso mais uma daquelas filosofias populares sem muita sustentação? Confesso que o texto dá o que pensar. É claro que cada relacionamento filho x pai é única. É claro, também, que há todo tipo de pai e todo tipo de filho. Sem querer dar um veredito final na validade ou não desse texto, devo admitir que um aspecto positivo nele é que nos leva a refletir sobre o fato de que um filho passa por várias fases em sua vida. Em algumas dessas fases ele valoriza mais o pai e em outras pode chegar até a ignorá-lo e desprezá-lo. A lição que se pode tirar daqui é que, independentemente desse pai ser um “super-homem” ou alguém muito limitado vale a pena ouvi-lo, desenvolver uma boa amizade com ele, dentro do possível.
2. O relacionamento pai x filho reflete o formato biológico?
Na gênese de um novo ser humano, a biologia comprova o que já se sabia na prática: o pai participa do processo de fecundação, mas é a mãe que, além de participar, se compromete integralmente, gestando em seu próprio corpo, nas suas entranhas o seu filho. Não é difícil perceber que este “formato biológico” definido por Deus tem desdobramento direto no comportamento de pai e de mãe para com seus filhos. Penso que pai e mãe normais desenvolvem grande amor e apego a seus filhos. Entretanto, o vínculo mãe x filho é algo diferenciado, expresso em prosa e verso. Por exemplo, quando Deus quis referir-se a algo quase impossível de acontecer, referiu-se à quebra desse vínculo: “Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti.” (Is 49.15). É claro que há exceções; pai que desenvolve um relacionamento com filhos muito mais forte e próximo do que a mãe. É claro que também há mães insanas capazes de jogar seu filho no lixo.
3. Como lidar com pai e mãe?
A bíblia ensina, de capa a capa, que os filhos devem honrar pai e mãe. É um mandamento com promessa (Êx 20.12; Mt 15.14; Ef 6.2). Uma forma de fazer isso é entendendo esse jeito de ser de pai e mãe, bem como a influência desse “formato biológico” mencionado anteriormente. Pai e mãe não têm o poder de mudar esse projeto de Deus, assim como nenhum de nós escolheu a família onde nasceu. Entretanto, creio que os filhos podem se abstrair um pouco desse fato gerador e construir, ao longo da vida, um relacionamento sadio e equilibrado com pai e mãe. Para ajudar nesse processo podemos citar dois aspectos distintos envolvendo pai e mãe, como regra geral (certamente há exceções):
Mãe: A aproximação dos filhos é muito importante. Pai: A autorrealização dos filhos é muito importante.
Não estou dizendo que o pai não faz questão da aproximação dos filhos, nem que a mãe não se importa com a autorrealização deles. Minha teoria aqui é que a mãe considera o filho “parte dela”. Se um filho quiser deixar sua mãe na pior é só não telefonar pra ela, não visitá-la etc. Esse apego de mãe, as vezes, extrapola o limite da normalidade e vira superproteção. E, assim, os filhos marmanjos correm o risco de se acomodar vivendo à sombra dos pais. No projeto original de Deus a mulher ficava protegendo “sua cria”, enquanto o homem, mais forte fisicamente, saia para caçar ou cuidar dos animais e da plantação. Por outro lado, o pai pode parecer as vezes um pouco distante, mas vibra com o progresso do filho em todas as áreas (espiritual, conjugal, profissional e social). É claro que há casos em que o pai não apenas parece distante, ele está distante mesmo, deixando toda a responsabilidade da criação para a esposa, o que é lamentável.
Mãe: Vocação para cuidar dos filhos Pai: Vocação para prover o sustento dos filhos
Normalmente o pai é muito desajeitado para cuidar dos filhos: segurar o bebê no colo, trocar uma fralda, vesti-lo, preparar sua refeição etc. Já a mãe faz tudo isso, quase ao mesmo tempo e de forma magistral.
Na história dos meus ascendentes há dois extremos. Meu avô paterno deixou minha avó grávida de meu pai e com mais três filhos, em terras portuguesas, e veio para o Brasil. Até onde eu sei ele abandonou minha avó, que passou a vestir luto de marido vivo e a cuidar de toda a família. Por outro lado, meu avô materno, não tendo como prover o sustento da família naquelas terras portuguesas, foi sozinho trabalhar em terras inglesas distantes. Ouvi um relato de que a despedida dos dois foi dramática, coisa vista nos filmes. Ele esteve longe dos quatro filhos durante dez longos anos, correspondendo-se apenas por cartas. Permaneceu fiel à sua esposa, minha avó, durante todo esse tempo, mandando-lhe regularmente o sustento. A família ficou bem, financeiramente, mas todos sofreram muito com essa ausência. Alguém teria coragem de dizer que este pai (meu avô materno) é menos digno de amor e apreço do que aquela mãe (minha avó materna) porque ela é que cuidou dos filhos?
4. Um cenário preocupante
Historicamente o pai é o principal provedor da família. Entretanto, nesta área, a mãe e esposa também desempenha papel importante, basta dar uma olhada no texto bíblico de Provérbios 31.10-31 (a mulher virtuosa). O grande erro cometido por muitos maridos é o de dedicar-se demasiadamente ao seu trabalho, sua profissão, distanciando-se dos filhos e delegando sua criação à esposa. Todo pai precisa entender que mais importante do que dar alguma coisa aos filhos, é dar a si mesmo! Todo pai e toda a mãe precisa entender que, mais importante do que dar as coisas prontas para os filhos, é ensinar-lhes o passo-a-passo e dar a eles a oportunidade de fazer, por si mesmos!
O que está acontecendo hoje? Se antes tínhamos a figura do pai provedor, que sai de casa para trabalhar, hoje também temos a figura da mãe provedora, que também sai para trabalhar. Se antes era muito comum a situação de “pai distante”, agora também temos a figura de “mãe distante”. O que será desses “filhos sem pais” e da sociedade? Não há um discurso aqui contra a mulher trabalhar fora, mas um ponto para reflexão. O que acontecia com o homem e prejudicava a paternidade, agora também está acontecendo com a mulher e prejudicando a maternidade. A mulher tem sido atraída pelo glamour da carreira profissional, pelo salário atrativo que patrocina o consumismo moderno, pela oportunidade de convivência social, pela possibilidade de autorrealização etc. etc. De quebra a instituição familiar está sendo ameaçada devido à combinação de, pelo menos, dois fatores: o baixo padrão moral da sociedade com a oportunidade de novas experiências amorosas fruto desse convívio.
5. Choque de gerações
Pai, que ser é esse? Um ser capaz de dedicar-se intensamente ao trabalho, abrindo mão do seu tempo de descanso e de lazer, de cursos de aperfeiçoamento, para poder investir mais na educação dos filhos, mesmo sabendo que lá na frente o nível cultural desses filhos poderá dar ocasião ao desprezo e humilhação por serem pais ultrapassados. Infelizmente isso não é somente cena de novela, é muito real!
Há duas situações com alto potencial de conflito de gerações:
1ª) Pais que, por serem mais velhos que os filhos, acharem e agirem como se soubessem tudo.
2ª) Filhos que tiveram uma formação educacional privilegiada acharem e agirem que, por conta disso, estão na vanguarda dos pais e não precisam ouvi-los.
Em vez de pai e filhos viverem como se estivessem medindo forças é bem melhor que unam o que cada um tem de melhor a oferecer e dediquem isso a Deus, a família e à sociedade!
Conclusão:
Longe de ser uma autocrítica ou um ensaio de psicologia, o que foi escrito acima pode ser considerado uma reflexão a ser compartilhada. Cada um deve aproveitar como puder para melhorar a relação filho x pai ou pai x filho.
Quando se trata de pai e filho, de gerações diferentes e tão distintas, não se deve desprezar os seguintes aspectos:
– A intuição pessoal (é pérola de grande valor e independe de idade e cultura).
– A sabedoria e experiência adquiridas na escola da vida real.
– O mundo virtual pode oferecer muita informação e dar muitas respostas; entretanto, nem tudo ali é verdadeiro.
– A graça divina e a iluminação de Deus sobre uma pessoa (1Co 1.12).
Ore a Deus pelo seu pai, valorize-o e seja seu amigo.
Sugiro que você ouça e reflita na letra do cântico abaixo:
Velho, o tempo já se foi… As águas são passadas, moinhos não movem mais. Velho, de um dia tão antigo… teus dias, gastos comigo, fizeram de mim o que sou
Fruto do tronco desta vida tua, em plena rua, teu vigor roubei; da tua paz tirei, do teu amor suguei, do teu suor comi, no teu calor dormi. Sou filho teu!
Velho, o tempo está aqui: no filho que é teu renovo, de novo a vida se fez. Velho, tu foste a semente, pra que eu fosse, somente, a continuidade de ti.