Achados e Perdidos (Lucas 15.1-32)

Achados&Perdidos

Há capítulos interessantes e diferenciados na Bíblia. Por exemplo:

Isaías 53: “O retrato falado de Jesus”

Mateus 24: “O pequeno apocalipse de Jesus”

Hebreus 11: “A galeria dos heróis da fé”

Nessa mesma linha, quero apresentar agora outro capítulo:

Lucas 15: “O departamento de achados & perdidos”

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Neste capítulo, Jesus nos apresenta quatro tipos de perdidos:

1. A OVELHA PERDIDA (Lc 15.3-7)
Um tipo de perdido que pede para ser encontrado.

Características:
Sabe que está perdido, não sabe como voltar, pede para ser encontrado.

2. A DRACMA PERDIDA (Lc 15.8-10)
Um tipo de perdido difícil de ser encontrado.

Características:
Não sabe que está perdido, não sabe como voltar, difícil de ser encontrado.

3. O FILHO PRÓDIGO (Lc 15.11-24)
Um tipo de perdido que precisa encontrar a si mesmo.

Características:
Sabe que está perdido, sabe como voltar, precisa tomar a decisão de voltar.

4. O IRMÃO DO FILHO PRÓDIGO (Lc 15.25-32)
Um tipo de perdido que precisa ser considerado.

Características:
Não sabe que está perdido, não sabe como voltar, precisa de ajuda para encontrar o caminho de volta.

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Quer saber os detalhes de cada um desses tipos de perdidos?

Veja o quadro comparativo no arquivo: Achados&Perdidos.pdf

A “PARÁBOLA DO PASTOR SAMARITANO”

“Então lhe disse: Vai, e procede tu de igual modo.” (Lc 10.37b)

Então lhes contou a seguinte parábola(*): “Certo grupo de ovelhas havia se separado do rebanho e pastava próximo a estrada que desce de Jerusalém para Jericó. Casualmente descia um homem negociante por aquele mesmo caminho e, vendo-as, aproximou-se, porque percebeu haver ali uma oportunidade de lucro. Passou ele a saquear aquele pequeno rebanho, comendo da sua gordura, vestindo-se de sua lã e fazendo lucro com os mercadores que passavam naquele caminho. Apascentava a si mesmo e não às ovelhas. A ovelha fraca não fortalecia, a doente não curava, a quebrada não ligava, a desgarrada e perdida não  buscava e não trazia de volta. Consumido pela fome da terra, pelas feras do campo e pelo descaso daquele homem, o pequeno rebanho se enfraquecia e minguava. Assim, dominava sobre elas com rigor e dureza até o dia em que foi morto e despedaçado por uma raposa faminta que o atacou. Tempos depois, semelhantemente, um religioso descia por aquele lugar e, vendo aquele pequeno rebanho abandonado, aproximou-se com reservas para avaliar o que podia ser feito. Com seu pudor e vaidade exacerbados não se aproximava muito por causa do cheiro das ovelhas. Muito menos ousava tocá-las para limpar-lhes as feridas e ligar as quebradas. Às fracas e doentes não fazia chegar à boca alimento e água. Preferia manter-se numa atitude de contemplação daquele quadro que estava ali, diante dos seus olhos, elaborando lições de vida que pudesse compartilhar, mais tarde, com os religiosos e a sociedade. Não pensava em ficar ali muito tempo e rogava aos céus que viesse outro para assumir o seu lugar. Foi assim que, distraído com suas elucubrações sobre a religião e a dor da criatura  foi tomado de assalto por um lobo faminto e morreu. Certo samaritano, que seguia o seu caminho, vendo aquele pequeno rebanho desamparado, fraco e doente, compadeceu-se dele. Apressando-se, chegou perto e, apeando do seu cavalo, começou a cuidar de todas as ovelhas. Examinando-as, uma a uma, fazia conforme a situação o exigia. Assim, tomando do vinho e do óleo que trazia, limpava e aplicava sobre os ferimentos delas. As fracas e doentes, tomou em seus braços e carregou para a sombra das árvores,  fazendo-lhes chegar à boca alimento e água. As menos debilitadas levou para pastagens próximas. Assim fazendo, cotidianamente, o pequeno rebanho foi rapidamente revitalizado. Então levou-as para um lugar seguro, fazendo-as pastar em pastos verdejantes e chegar às águas claras e tranqüilas. O rebanho estava agora protegido e saudável e, começou a se multiplicar. Aconteceu que, passado algum tempo, cuidando aquele samaritano daquele rebanho como quem cuida para o proprietário das ovelhas, a quem tem que prestar contas, chegou até ali um poderoso proprietário de terras e de gado, vindo de Jerusalém, a procura das suas ovelhas extraviadas. Sabedor de que suas ovelhas estavam sendo cuidadas pelo samaritano foi ao seu encontro. Quando o samaritano o avistou, também dirigiu-se ao encontro do proprietário e, aproximando-se, lhe relatou a situação em que encontrou e o que fez pelo rebanho desgarrado e que estava pronto a entregar-lhe as ovelhas, sem exigir qualquer recompensa em troca. O proprietário admirou-se sobremaneira ao ouvir o relato do samaritano e sua liberalidade. Então, com grande alegria, o convidou para ir com ele, a fim de pastorear, não apenas aquele pequeno rebanho, mas todo o rebanho de onde aquelas ovelhas haviam se desgarrado. E, assim, caminharam juntos na direção de Jerusalém.“

Estando, com eles, à parte lhe perguntaram o significado da parábola. Então, passou a interpretá-la, dizendo:  Nunca percam de vista que parábolas são narrações alegóricas com o propósito de destacar aspectos importantes, verdades que edificam ou que alertam os ouvintes ou leitores e que devem ser fixados na memória destes. Na sua interpretação, não tentem procurar ou produzir doutrinas dos seus detalhes. Muitos desses detalhes servem apenas para compor e dar sentido a estória ou história apresentada. O foco nesta parábola é o pequeno rebanho e os seus três “pastores”.  O pequeno rebanho pode ser uma igreja local. Os três homens, seus líderes ou pastores. Assim sendo, temos aqui três tipos de liderança, representados por cada um dos homens da parábola:

1º) PASTORES MATERIALISTAS: São eles orientados pelo conceito: O QUE É TEU É MEU, SE EU PUDER TIRAR DE VOCÊ! O foco destes está no conforto e nos bens materiais. São negociantes da fé: usam a fé para auferirem lucros materiais. Preferem estar no foco dos holofotes a estarem à sombra da Cruz. Preferem dirigir igrejas-empresas à igrejas-comunidades. São pastores que apascentam a si próprios e preenchem bem as características dos falsos pastores descritas em Ezequiel 34.1-10 e, retratadas,  nas atitudes do primeiro homem da parábola. Em nome de Deus e usando a Bíblia chegam quase a ameaçar as ovelhas, coagindo-as a dar ofertas e dízimos, sem prestarem contas do que é feito com esses recursos. Outros preferem o discurso da prosperidade utópica, enquanto vão enchendo suas contas bancárias com moeda bem REAL e outras moedas também. Abram bem seus olhos, ovelhas!!!

2º) PASTORES RELIGIOSOS: São eles orientados pelo conceito: O QUE É MEU É MEU E O QUE É TEU É TEU! Enquanto o tipo anterior vive para o material, este tipo se fixa na religiosidade e na espiritualidade, no conhecimento e na teoria, na teologia contemplativa.  Alienado do mundo que o cerca, se esconde das ovelhas, imerso no seu próprio mundo intelectual e celibatário. Estes também não têm o DNA de pastor. Não gostam do cheiro do povo de Deus. Não gostam de chegar junto.

3º) PASTORES SAMARITANOS: São eles orientados pelo conceito: O QUE É MEU É TEU, SE VOCÊ PRECISAR! Opostos aos dois tipos anteriores, estes têm o foco na ovelha, em gente. Se doam e se deixam gastar pelas ovelhas do Senhor. Seguindo o exemplo do Supremo Pastor, Jesus, fazem como o “pastor samaritano da parábola”. Estão nos púlpitos, pregando o Evangelho, orientando e ensinando a palavra; mas, também, nos gabinetes ao lado dos que necessitam de aconselhamento. Estão junto às ovelhas nas suas celebrações e ações de graças; mas, também, nos lares, nas enfermarias, nos  CTIs, orando com os enfermos e levando-lhes uma palavra de conforto e esperança.  Ao invés de saquear, ou se alienar, disponibilizam a si próprios e, a tudo que têm, no ministério que receberam do Senhor das ovelhas. Fazem a obra como quem tem que prestar contas ao Senhor das ovelhas. Graças a Deus pelos “pastores samaritanos” que serviram, servem e ainda servirão ao Senhor aqui na nossa igreja e, nas demais igrejas locais. Um dia ouvirão do Pai Celeste,  “foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor.” O galardão de um verdadeiro pastor já está assegurado para eles: “Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória” (1 Pe 5.4). Queridos pastores, a vocês que têm dado a vida pelo rebanho de Deus, nossa sincera gratidão e apreço. Que o Senhor fortaleça, ilumine e abençoe a vocês! A paz seja com todos.

(*) Criei esta parábola apenas para ilustrar algumas verdades.

Presb. Paulo Raposo Correia
Editorial do Boletim de 12/07/2009
Dia do Pastor – Catedral Presbiteriana do RJ