Deve o cristão fazer o pacto de Jacó?

“Fez também Jacó um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo, e me der pão para comer e roupa que me vista, de maneira que eu volte em paz para a casa de meu pai, então, o SENHOR será o meu Deus; e a pedra, que erigi por coluna, será a Casa de Deus; e, de tudo quanto me concederes, certamente eu te darei o dízimo.” (Gn 28.20-22)

Introdução

Há muito tempo atrás, conversando com um casal que eu estava evangelizando, eles contaram algo inusitado. Disseram que tanto eles, como algumas pessoas de suas relações (não cristãos), estavam trabalhando como taxistas e fizeram uma espécie de voto a Deus de dar o dízimo, se tivessem sucesso na profissão. Logo me veio à mente o pacto ou voto de Jacó. Sem dúvida, trata-se de uma visão estranha do dízimo, já que Deus quer que, antes de tudo, entreguemos as nossas vidas a ele; sendo, nossos dízimos e ofertas, consequência natural daquele que é o passo mais importante.

De certa forma é comum e normalmente oportuno, nós mesmos ou os pregadores e professores da Palavra de Deus, trazermos exemplos de personagens bíblicos ou de situações por eles vividas, para aplicação na igreja, ou no cotidiano dos cristãos. Por vezes, nós cristãos, nascidos de novo, podemos ser desafiados, quando enfrentando dificuldades financeiras, desemprego, dentre outras, emocionalmente abalados, a seguir o exemplo de Jacó e fazermos, com Deus, este mesmo pacto.  Entretanto, é preciso tomar certo cuidado com esse pacto ou voto de Jacó, como veremos adiante.

1. As circunstâncias do pacto

Em que circunstâncias Jacó disse isso? No momento em que o patriarca fez esse pacto ou voto ou promessa, ele vivenciava uma crise existencial inimaginável. Ameaçado de morte, pelo seu irmão Esaú a quem enganara. Estava fugindo e deixando pra trás tudo o que tinha: sua casa, sua parentela, seus amigos, seu povo e tudo aquilo a que havia se apegado e que fazia parte integrante de sua vida até aquele momento. Olhando para frente, sua situação não era nem um pouco confortável. A viagem seria extremamente longa (Gn 28.6, 10): de Berseba a Betel, cerca de 120Km (26 horas de caminhada); e, de Betel a Padã-Arã (Harã), cerca de 860 Km (175 horas de caminhada). Os perigos da viagem, o desconforto e os desafios de sobreviver eram bem reais, e o futuro incerto. Assim, saindo de Berseba no auge da sua aflição, ele chegou à cidade de Luz. Ali ele teve um sonho e o Senhor falou com ele e lhe fez promessas (Gn 28.12-17). Tão forte foi o impacto daquele momento, que ele deu o nome de Betel (que significa “casa de Deus”), àquela cidade. Foi nestas circunstâncias que Jacó, então, fez o seu voto.

2. Alguns aspectos do pacto

a) O estabelecimento de condições (Se……, então…..)

Na gramática portuguesa:

Se – conjunção subordinativa condicional: exprime sentido de condição.
Então – Conjunção coordenativa conclusiva: indica relação de conclusão.

Na matemática:

Conectivos Lógicos:   Se -> Então

Que poderia ilustrar o pacto, como abaixo:

b) A petulância de Jacó

Jacó nasceu quando seu pai Isaque tinha 60 anos (Gn 25.26) e seu avô Abraão 160 anos (Gn 21.5). Abraão viveu 175 anos (Gn 25.7), sendo os seus últimos 15 anos, os 15 primeiros da vida de Jacó.

Embora muito idoso, Abraão foi contemporâneo de Jacó, e o seu impactante legado deve ter influenciado sua vida. Afinal, Abraão creu no Senhor (Gn 15.6), fez uma aliança com Deus e dele recebeu promessas (Gn 15.7-21), que foi renovada e incluiu a mudança do seu nome e a sua descendência (Gn 17). Apesar de alguns tropeços, Abraão desfrutou de comunhão com Deus, foi um profeta (Gn 20.7), foi um intercessor (Gn 20.17), foi um dizimista (Gn 14.20), foi fiel ao Senhor (Gn 26.5), foi chamado o pai da fé (Rm 4.11; Gl 3.6-7), tendo recebido grande destaque na “Galeria dos Heróis da Fé” (Hb 11.8-19).

Isaque, pai de Jacó, não teve um currículo tão extenso quanto o de seu pai Abraão. Também teve lá os seus tropeços, como qualquer outro ser humano. Mas, por 20 anos orou por sua esposa Rebeca e esta concebeu (Gn 25.19-21, 26); o Senhor aparecia e falava com ele (Gn 26.2-5; 26.24); o Senhor o abençoava e o fazia prosperar (Gn 26.12-14); foi um pacificador, sempre indo adiante, ao invés de ficar e lutar por seus direitos (Gn 15.16-22); foi um cavador de poços (Gn 26.18-22) e foi um edificador de altares ao Senhor (Gn 26.25).

Apesar de Jacó ter recebido um legado tão especial quanto esse, ficamos um tanto quanto chocados com o registro de suas palavras: “então, o SENHOR será o meu Deus;”. Se poderia vir a ser seu Deus é porque ainda não era! Ele não escondia de ninguém que o Deus era do seu pai e não dele (Gn 27.20; 32.9). O que dizer da vida pregressa de Jacó, além dessa triste nota? Certa vez ouvi falar de algo como a Síndrome da Terceira Geração. Não é que eu acredite nela ou que ela seja verdadeira e regra geral. Faço aqui apenas uma menção despretensiosa. Se não me falha a memória é mais ou menos assim: a primeira geração é totalmente comprometida com Deus e sua igreja; a segunda geração, nem tanto; e, então, a terceira geração tende a se desviar dos caminhos do Senhor. Estaria Jacó vivendo essa síndrome?

Sua vida e vivência familiar havia sido um tanto quanto complicada. Já no ventre materno “lutava” com seu irmão gêmeo Esaú (Gn 25.22). Era um homem pacato e caseiro, protegido da mãe, já que seu irmão Esaú era o preferido do pai (Gn 25.27-28). Quão prejudicial para a formação de filhos é essa predileção paternal e maternal! Seu primeiro ato, no teatro da vida, foi a sua “artimanha” para comprar o direito de primogenitura do seu irmão (Gn 25.29-34; ver Hb 12.16-17). No segundo ato ardiloso, para enganar o pai Isaque, a roteirista foi a sua mãe Rebeca e ele o protagonista (Gn 27). Isso porque Isaque não escondia sua predileção por Esaú e pretendia dar-lhe a bênção do primogênito (Gn 27.2-4), desconsiderando o episódio da venda daquele direito. Por outro lado, a mãe poderia estar se valendo da resposta que recebera do Senhor, antes do nascimento dos gêmeos: “Respondeu-lhe o SENHOR: Duas nações há no teu ventre, dois povos, nascidos de ti, se dividirão: um povo será mais forte que o outro, e o mais velho servirá ao mais moço.” (Gn 25.23; Ml 1.2-3). Ela permanecia de prontidão, quando um dia ouviu o seu marido passar as instruções para Esaú (Gn 27.5) e tratou de colocar seu plano em ação. Plano esse que já deveria estar pronto há algum tempo. Quanta astúcia, imaginação e criatividade de Rebeca para fazer Jacó se passar por Esaú e apropriar-se da bênção da primogenitura! Quanto cuidado com os detalhes! Quanta tensão e emoção no desenrolar do ato (Gn 27.18-40); mentalmente, quase dá para ouvir aquela música de suspense, de fundo. E, foi assim que a crise familiar se instalou (Gn 27.41). Entretanto, não faltava criatividade a Rebeca para traçar planos (Gn 27.42-45) e enrolar seu marido (Gn 27.46).

Esta é a síntese da desastrosa vida pregressa de Jacó. Agora, fora da tutela da mãe, um tanto quanto despreparado para conduzir sua vida, ele mostra sua petulância e atrevimento ao impor condições a Deus, em vez de se submeter ao Senhor. Ele entristece o Senhor ao mostrar-se ser do tipo que quer ver, para crer: “Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram.” (Jo 20.29). Mas Deus tinha um propósito específico na vida de Jacó (Gn 25.23; Rm 9.11-13). Não é o caso aqui de entrarmos em detalhes sobre sua vida posterior. Basta lembrar que ele passará por muitas provações e aflições, será sustentado por Deus e acabará tendo um encontro pessoal com Deus e seu nome será mudado de Jacó, para Israel (Gn 32.22-30).

As alianças do Antigo Testamento eram condicionais e estabelecidas por Deus (Dt 11.26-28). Numa época assim, o homem propor um pacto com Deus era sinal de petulância.

3. O pacto do cristão

Se, como cristãos, tivéssemos que aproveitar alguma coisa do pacto de Jacó, para formularmos o pacto do cristão, creio que poderíamos expressá-lo reestruturando as frases, trocando condição por causa, mais ou menos nesses termos:

“Porque tu, Senhor, és o meu Deus, que me compraste com o precioso sangue do teu Filho Jesus.
E, creio que tu, Senhor, me conduzirás em paz e segurança.
E, serei por ti sustentado, com pão para comer e roupa que me vista.
Pois tu, Senhor, estarás comigo durante toda a minha peregrinação neste mundo.
Então, eu te darei o dízimo de tudo o que me concederes, incondicionalmente.
Pois é de minha responsabilidade que a Casa do Senhor seja edificada e sustentada.”

Na gramática portuguesa:

Porque – conjunção subordinativa causal: exprime sentido de causa.
Então – Conjunção coordenativa conclusiva: indica relação de conclusão.

Então, vejamos:

Porque tu, Senhor, és o meu Deus, que me compraste com o precioso sangue do teu Filho Jesus.

A certeza de que o Senhor é o meu Deus, é sim o fator preponderante para todo o meu agir. Ele sempre será Deus, independentemente do que eu pense ou faça. Ele não precisa provar para quem quer que seja ou fazer algo mais, para que alguém o possa chamar de “meu Deus”. Ele já fez tudo! Ele entregou seu Filho, nos comprando por precioso preço.

E, creio que tu, Senhor, me conduzirás em paz e segurança.

Os desafios da vida cotidiana são muitos e, por vezes, imprevisíveis. Há muitos elementos e situações que fogem ao nosso controle, pois dependem de terceiros. Porém, isso não pode ser motivo de intranquilidade e de apreensão. Deus está no controle de tudo! Basta a nós, seus filhos, confiarmos nele; descansarmos nele e na força do seu poder!

E, serei por ti sustentado, com pão para comer e roupa que me vista.

A presença do Senhor junto aos seus remidos é a garantia do seu cuidado e sustento: “Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mt 6.31, 33)

Pois tu, Senhor, estarás comigo durante toda a minha peregrinação neste mundo.

Aquele que pertence ao Senhor pode tranquilizar seu coração, pois Jesus prometeu estar conosco: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” (Mt 28.20b)

Então, eu te darei o dízimo de tudo o que me concederes, incondicionalmente.

A questão relevante aqui é que a pessoa salva por Cristo não tem o direito de estabelecer qualquer condição prévia para só, e então, responder graciosamente, após ter recebido a “bênção pactuada com Deus”. Na verdade, a pessoa remida por Cristo já recebeu o que há de mais precioso – a Vida Eterna. Desta forma, a vida presente não é mais sua. Assim, tudo o que tem, por Deus concedido, deve ser usado com sabedoria. Este não dará quando receber, porém dará na medida das suas posses, porque já recebeu uma tão grande salvação.

Pois é de minha responsabilidade que a Casa do Senhor seja edificada e sustentada.

Ainda que o dízimo não seja uma doutrina explícita para a igreja, o povo da Nova Aliança, fica claro nas epístolas do NT que os membros da igreja devem sustentá-la com os seus recursos. E, como fazer isso? Em termos práticos, há pelo menos duas formas: 1ª)Calcula-se o custo total de operação, manutenção e investimento da igreja e se faz um rateio do valor por todos os seus membros, proporcional: “…na medida de suas posses e mesmo acima delas,” (2Co 8.3).  2ª)A partir do valor total arrecadado com dízimos e ofertas, são estabelecidas as  condições de operação, manutenção e investimento da igreja. Essa segunda opção parece ser a mais usada pelas igrejas. Não é o caso aqui de tratarmos da doutrina neotestamentária da contribuição, mas, apenas lembrar que é nossa responsabilidade e privilégio sustentar financeiramente e moralmente a igreja de Cristo, sem estabelecer qualquer condição.

A santificação ilustrada

Gostaria de desafiá-los a refletir um pouco sobre alguns personagens bíblicos e verificar como eles ilustram quatro aspectos da santificação:

1. O chamado para a santidade:

Abraão, o patriarca judeu e pai na fé dos judeus e cristãos, passou pela experiência de ser chamado por Deus do meio de um povo pagão e idólatra, para formar um novo povo, o povo de Deus (Gn 12). De certa forma foi um chamado físico e geográfico; sair do meio de um povo (Caldeus) e de uma terra (Ur) para formar outro povo (Israel) em outra terra (Canaã). Como igreja e como cristãos, somos “chamados para fora”[1] do mundanismo, das práticas pecaminosas e de lugares onde acontecem eventos e programações que desagradam a Deus, para fazer parte do povo de Deus, tributando-lhe adoração e servindo-o.

2. O desafio da santidade:

José e Daniel são personagens bíblicos que viveram experiências contrárias, em certo sentido, às de Abraão. Ambos foram retirados à força do meio do povo de Deus para viverem no meio de povos pagãos e idólatras, em outras terras (Egito e Babilônia). Também foi um movimento físico e geográfico, envolvendo uma missão tremendamente desafiadora. Eles foram obrigados a viver em condições completamente desfavoráveis à uma vida de santidade, cumprindo uma missão divina e maior de preservação da vida dos povos e testemunhando a verdade de que só há um Deus vivo e verdadeiro. Como igreja e como cristãos, na maioria das vezes somos desafiados a trabalhar e viver no meio de uma geração perversa, desempenhando o papel preservador de sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-14).

3. A restauração da santidade:

Jacó, Gideão e tantos outros personagens bíblicos servem de exemplo de que mesmo o chamado povo de Deus se contamina com o pecado e precisa confessá-lo e deixá-lo para ser perdoado e poder contar outra vez com a presença, proteção e poder de Deus. Com Jacó percebemos a importância dos pais nesse processo de restauração da santidade na família (Gn 35.1-5). Com Gideão, aprendemos que, a restauração espiritual de uma família e de um povo pode começar por um filho (Jz 6.15-16, 25-27).

4. O desprezo a santidade:

Noé, e tantos outros personagens bíblicos retratam épocas e contextos de povos que viviam à margem da santidade. Pela misericórdia de Deus apenas o remanescente fiel foi preservado, enquanto o juízo divino trouxe a condenação e a destruição de todos os impenitentes. A exemplo do que ocorreu pontualmente, no passado, a maior parte da humanidade caminha a passos largos para o abismo. Apenas o remanescente fiel que se guardar puro será poupado do terrível e derradeiro juízo de Deus que em breve há de se manifestar neste mundo. “Disse-me ainda: Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo. Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se. E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras.” (Ap 22.10-12)

[1] Igreja é ECCLESIA (lat.) ou  EKKLESIA (gr.). “EK”, significa “movimento para fora” e “KLESIA”, do verbo KALEO (gr.), “chamar”. A Septuaginta (100 aC) emprega o termo quando traduz a palavra hebraica “kahal”, que designava a congregação dos israelitas como uma coletividade nacional. Logo, “ekklesia “ é a assembleia dos “chamados para fora” do sistema mundano que aí está, para viverem como filhos de Deus, na casa do Pai Celeste.

Sete coisas que todo pai precisa saber e praticar

Sete coisas que todo pai precisa saber e praticar (Gênesis 34; 35.1-15)

1ª) Você é imperfeito e incapaz de evitar todo o mal que possa ser produzido contra ou por tua família. (Gn 34)

Só pra lembrar….

Você não é totalmente responsável:

a) Por tudo de bom que acontece com teus filhos ou por todas as suas boas ações e práticas; ou,

b) Por tudo de mal que acontece com teus filhos ou por todos os seus maus comportamentos.

Porém, você tem muita influência nisso, quer através do teu exemplo pessoal, quer através da forma com que você se relaciona com eles!

Diná[1] (Gn 30.21; 46.15) é a personificação do mal do mundo sobre a tua família.

“Ora, Diná, filha que Lia dera à luz a Jacó, saiu para ver as filhas da terra. Viu-a Siquém, filho do heveu Hamor, que era príncipe daquela terra, e, tomando-a, a possuiu e assim a humilhou.” (Gn 34.1-2)

Depois de Jacó e sua família viajarem cerca de 800 Km chegaram à cidade de Siquém, uma terra estrangeira com gente desconhecida. Ali habitando, a curiosidade ingênua da jovem Diná resultou em uma tragédia inesperada.

De quem é a culpa de tragédias familiares como essa? Falta de orientação dos pais? Imprudência dos filhos?

– O jovem Siquém serve de alerta para o perigo de gente movida por impulso, que primeiro faz e depois pensa como remediar a situação.

– A jovem Diná serve para alertar que gente nova precisa saber que a curiosidade às vezes mata ou deixa sequelas indeléveis.

– Essa tragédia serve para alertar que gente madura precisa ajudar a formar anticorpos sociais nos mais novos.

Os riscos da nossa época são menores?

– Creio que não. Nossos filhos nem precisam sair para ver; os maus comportamentos e armadilhas entram, sem pedir licença, nas nossas casas, pela porta da TV, Telefone, Internet etc.

Simeão e Levi (Gn 34.25-27) são a personificação do mal da tua família sobre o mundo.

“Ao terceiro dia, quando os homens sentiam mais forte a dor, dois filhos de Jacó, Simeão e Levi, irmãos de Diná, tomaram cada um a sua espada, entraram inesperadamente na cidade e mataram os homens todos. Passaram também ao fio da espada a Hamor e a seu filho Siquém; tomaram a Diná da casa de Siquém e saíram. Sobrevieram os filhos de Jacó aos mortos e saquearam a cidade, porque sua irmã fora violada.” (Gn 34.25-27)

Inconformados com o estupro da irmã, Simeão e Levi tramaram uma terrível vingança. Convenceram, maliciosamente, o jovem estuprador e seu pai de que dariam sua irmã em casamento se ele, seu pai e todos os homens da sua cidade fossem circuncidados, como os judeus. Eles não somente concordaram, como também conseguiram convencer os seus patrícios a se circuncidarem. No terceiro dia após, a circuncisão, os dois filhos de Jacó atacaram, conforme relata o texto bíblico acima.

De quem é a culpa de comportamentos como esse? Falha na criação dos filhos?

Às vezes a culpa é mesmo dos pais!

– Filhos criados com excesso de atenção tendem a se tornar parasitas e eternos dependentes.

– Filhos criados sem atenção e sem limites tendem a se tornar verdadeiros monstrengos.

Entretanto, quem pode dominar a natureza humana?

– Diná era a filha caçula de Lia, primeira esposa de Jacó, e tinha seis irmãos. Se Absalão não sossegou enquanto não vingou o estupro de sua irmã Tamar pelo seu meio irmão Amnon, imagina o estado de revolta desses seis irmãos mais velhos de Diná e dos seus outros meio irmãos, com Siquém?

– A vingança foi praticada com requintes de crueldade. Por isso, eles perderam o direito a herança, por ocasião da divisão das terras conquistadas (Gn 49.5-7; 48.22).

2ª) Você precisa viver em comunhão com Deus. (Gn 35.1, etc)

Vejamos alguns flashes do relacionamento de Jacó com Deus:

Em Betel, indo para Harã, fugindo de Esaú:

“Perto dele estava o SENHOR, e lhe disse:…” (Gn 28.13)

Em Harã, passando por momentos difíceis no relacionamento com seus cunhados e sogro:

“E disse o SENHOR a Jacó: Torna à terra de teus pais e à tua parentela; e eu serei contigo.” (Gn 31.3)

“E o Anjo de Deus me disse em sonho: Jacó! Eu respondi: Eis-me aqui!” (Gn 31.11)

Em Peniel, voltando para Berseba, a terra de seus pais:

“Também Jacó seguiu o seu caminho, e anjos de Deus lhe saíram a encontrá-lo.” (Gn 32.1)

“Àquele lugar chamou Jacó Peniel, pois disse: Vi a Deus face a face, e a minha vida foi salva.” (Gn 32.30)

Em Siquém, depois da atrocidade cometida pelos seus filhos:

“Disse Deus a Jacó:…” (Gn 35.1)

Jacó não é exatamente um modelo de pai ou de conduta. Antes, porém, é alguém humano e imperfeito como qualquer outro ser, com altos e baixos na sua história de vida. Entretanto, é interessante observar o seu relacionamento com Deus. É certo que se quisermos manter comunhão com Deus precisamos dizer não ao pecado. “Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça.” (Is 59.2).

3ª) Você precisa ser guiado pela Palavra de Deus. (Gn 35.1; Jr 15.16)

“Disse Deus a Jacó: Levanta-te, sobe a Betel e habita ali; faze ali um altar ao Deus que te apareceu quando fugias da presença de Esaú, teu irmão.” (Gn 35.1)

Quem vive em comunhão com Deus, necessariamente é impelido a se orientar pela sua santa palavra. Jacó tinha o privilégio de ouvir diretamente a voz de Deus. Nós, temos hoje o grande privilégio de ouvir a voz de Deus através da Bíblia, a revelação completa de Deus aos homens.

Mais uma vez Jacó vivia um momento crítico em sua vida, devido à desgraça provocada por seus filhos, massacrando os moradores de Siquém. Algo precisava ser feito e não podia ser adiado. Naquelas circunstâncias, a palavra de Deus chegou até aquele pai e, perpassando os séculos, chega também até nós com as seguintes instruções (versículo 1):

a) Levanta-te: Saia imediatamente desse atoleiro ou dessa zona de conforto. Abandone esse estado de inércia, de acomodamento, de conformismo, como se você fosse uma estátua no cume de um monte ou um carro com os quatro pneus arriados. Mexa-se! Faça o que vou te dizer!

b) Sobe a Betel: Betel é o lugar do encontro com Deus. Lugar onde você chega extenuado da caminhada da vida, cansado dos seus próprios esforços, impossibilitado de continuar a caminhar pela densa escuridão da noite existencial que te envolve e te aperta e te sufoca. É o lugar onde você se prostra diante de Deus,  com todas as tuas crises e frustrações, fobias e apreensões, e ali, o Senhor estende uma escada de escape que liga o teu inferno existencial ao céu da graça e glória de Deus-Pai. E essa escada tem nome: Jesus Cristo, o Filho de Deus, Senhor e Salvador. Jacó tinha passado por ali em situação aflitiva, quando fugia do seu irmão Esaú e feito um voto. Esse voto precisava ser agora cumprido (Gn 28.20-22).

c) Habita ali: Deus não quer que Betel seja apenas um lugar de passagem. Betel não pode ser apenas lugar de abrigo e refúgio temporários em momentos de turbulência na caminhada da vida. Betel tem que ser lugar para estar sempre, para morar ali, pois “é a casa de Deus, a porta do céu” (Gn 28.16).

d) Faze um altar: O lugar onde Deus está e onde Deus quer que também nós estejamos é lugar de adoração. Não é possível imaginar estar com Deus e não adorá-lo em espírito e em verdade.

Betel ficava aproximadamente a 24 Km ao sul de Siquém. Para os caminhantes daquela época era logo ali. Quando Jacó foi para Harã ele viajou aproximadamente 90 Km de Berseba a Betel e 830 Km de Betel a Harã. Betel é lugar de confirmação de aliança e renovação de promessas; lugar de bênçãos (Gn 28.10-19). É muito perto de onde você está agora! Muito mais perto do que todos os caminhos que muitos pais têm trilhado na tentativa de fazer o melhor para a sua família confiando apenas no seu próprio esforço.

4ª) Você precisa exercer os papéis de profeta, sacerdote e pastor da tua família. (Gn 35.2)

“Então, disse Jacó à sua família e a todos os que com ele estavam: Lançai fora os deuses estranhos que há no vosso meio, purificai-vos e mudai as vossas vestes;” (Gn 35.2)

Profeta no AT era aquele que ouvia a palavra de Deus e a transmitia ao povo. Portanto, ele ficava de costas para Deus e de frente para o povo. Era um mensageiro de Deus em nome de Deus: “Assim diz o SENHOR…..”

Sacerdote no AT era aquele que levava as transgressões das pessoas diante de Deus e intercedia por elas com vistas ao  perdão divino. Portanto, ele ficava de costas para o povo e de frente para Deus. Além de mediador e intercessor era também um ensinante (ver também Ml 2.6-7).

Pastor no AT, o de ovelhas era aquele que guiava e cuidava do rebanho.

Quando Jacó ouviu as palavras de Deus e a transmitiu à sua família ele estava desempenhando o seu papel de profeta. Além de revelar os mistérios de Deus, um profeta denuncia o pecado. Vejamos as ações de um profeta, sacerdote e pastor na sua família:

a) Santificação: É a decisão de separação efetiva de qualquer outra divindade ou objeto de culto, para uma dedicação e entrega, totais e incondicionais, ao Deus único, vivo e verdadeiro.

b) Purificação: É o processo de limpeza, de retirada da nossa vida de tudo aquilo que contamina o nosso ser e, além de desagradar e nos afastar de Deus, nos é prejudicial. Começa com a confissão de pecados por pensamentos, obras, ações e omissões. Continua com o firme propósito de não viver pecando (1 Jo 3.9). Se efetiva com a expiação pelo sangue e o perdão de Deus.

c) Mudar as vestes: É a atitude de substituir o velho pelo novo, o sujo pelo limpo. Veste, na bíblia, é símbolo de justiça. Então, mudar as vestes é substituir a velha justiça e as velhas práticas, pela nova justiça de Cristo e por novas obras “preparadas por Deus para que andássemos nelas antes da fundação do mundo”. Não basta romper com o erro; é preciso praticar o que é certo!

Essas três etapas eram necessárias e seriam complementadas pelo profeta-sacerdote-pastor Jacó diante do altar, lá em Betel.

5ª)  Você precisa saber conduzir tua família a obedecer a Deus (Gn 35.4)

“Então, deram a Jacó todos os deuses estrangeiros que tinham em mãos e as argolas que lhes pendiam das orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém.” (Gn 35.4)

Isso deve ser feito com muita sabedoria, dedicação e oração, nunca por decreto ou por força ou por violência. Não é eficaz obrigar os filhos pequenos a participar de culto doméstico, ler a bíblia e ir à igreja. Conduzir não é obrigar! Antes de tudo é preciso viver uma vida cristã tão linda que contagie os outros membros da família a amar a Deus, obedecê-lo e fazer sua vontade. É preciso respeitar sempre a individualidade de cada um.

6ª) Você e tua família são protegidos pelo Senhor quando obedecem à sua voz (Gn 35.5-7)

“E, tendo eles partido, o terror de Deus invadiu as cidades que lhes eram circunvizinhas, e não perseguiram aos filhos de Jacó.” (Gn 35.5)

Por temor ou por tremor a família de Jacó obedeceu à voz de Deus. Então, o Senhor infundindo terror, impediu que os cananeus vingassem o massacre do povo de Siquém. Lembre-se: Deus não tem compromisso com ímpios!

7ª) Você é alguém que é alvo de um propósito de Deus. (Gn 35.9-15)

Deus tinha um propósito grandioso na vida de Jacó. Dele sairia a nação de Israel, o povo escolhido de Deus. Dessa nação nasceria Jesus Cristo, o salvador do mundo. Nele, em Jesus, todas as famílias da terra seriam abençoadas, conforme sua promessa a Abraão (Gn 22.18).

Eu não sei, você talvez não saiba, mas Deus sabe de todas as coisas. “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais.” (Jr 29.11). Ele tem um propósito para cada vida e para cada família. Cuide de realizar a tua parte, o teu papel, na liderança da tua família e o Senhor cumprirá o seu propósito.

Você que é Pai, anda na presença do Senhor e sê perfeito! Sê tu uma bênção! Toma posse dessa palavra a Jacó:

“Mas tu, ó Israel, servo meu, tu, Jacó, a quem elegi, descendente de Abraão, meu amigo,  tu, a quem tomei das extremidades da terra, e chamei dos seus cantos mais remotos, e a quem disse: Tu és o meu servo, eu te escolhi e não te rejeitei,  não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel.” (Is 41.8-10)

[1] Diná (Hb.): seu nome no hebraico significa “justiça” ou “julgamento” ou “julgado”.