A espiritualidade no culto do NT

Introdução          

Neste estudo, abordaremos a espiritualidade no culto do Novo Testamento (NT), no período que precede o nascimento da igreja e, principalmente, no período da igreja.

É relevante lembrar aqui alguns aspectos relacionados ao culto. Adoração e culto são termos fortemente entrelaçados. A adoração é a essência do culto, porém o culto vai além da adoração. O culto envolve o(s) cultuador(es) e o(s) objeto(s) de culto (At 17.23). O culto bíblico é a resposta do povo de Deus, ao Deus único e verdadeiro que a ele se revela, através da Bíblia, tributando-lhe adoração, louvor, honra e glória por aquilo que ele é; louvando e agradecendo por aquilo que ele tem feito. Culto é mais do que um evento; é orgânico, é visceral, é vida com Deus que se expressa em todo o tempo e no lugar onde estivermos. Assim sendo, pode ser considerado como culto pessoal, familiar e público. A base deste culto não é a livre vontade e espontaneidade do cultuador, mas os termos estabelecidos por Deus naquela aliança que liga o Criador às criaturas. Assim, em cada uma das alianças de Deus com os homens, havia elementos específicos para o culto. Nessas alianças, Deus fazia promessas de bênçãos que eram condicionadas à obediência desses aos seus decretos.

No AT, a principal aliança, a Mosaica ou da Lei ou Antiga Aliança continha elementos para o culto a Deus, pelo povo de Israel, que serviram de referência para o culto na Nova Aliança, pela Igreja:

a) Um dia separado para o culto;
b) Um local para o ajuntamento;
c) Um sistema sacrificial e rituais de purificação etc.

Nosso objetivo, neste estudo, não é investigar a espiritualidade no NT, mas como ela se expressava e se desenvolvia no culto:

1. Antes do Ministério Público de Cristo

Pode-se dizer que a rebeldia do povo de Israel, na Antiga Aliança, chegou a níveis insuportáveis, acarretando o exílio e cativeiro; primeiramente do Reino do Norte e, depois, do Reino do Sul. Vale ressaltar que, no início, no meio e no final do AT encontramos recados explícitos de Deus aos cultuadores e ofertantes, a saber (dentre outros):

  • Tanto o ofertante, quanto a sua oferta precisam agradar a Deus (Abel e Caim – Gn 4.3-5).
  • Obedecer é melhor do que sacrificar (Samuel disse isso a Saul – 1Sm 15.22).
  • Deus não suporta iniquidade associada ao Culto (Is 1.10-15; Am 5.21-23).
  • O sacrifício dos perversos é abominável ao SENHOR, mas a oração dos retos é o seu contentamento. (Pv 15.8).

Com a destruição do principal local de culto, o Templo de Jerusalém, e o exílio, o povo começou a cultuar nas sinagogas. O NT começa com o povo de Israel cultuando a Deus no Templo reconstruído por Zorobabel (516 aC) e remodelado por Herodes (1º Séc. dC), bem como nas Sinagogas, nas mesmas bases da Antiga Aliança (Lc 1.8-10; 2.22-23; 2.41-50).

2. Durante o Ministério Público de Cristo

Precedendo o ministério público de Jesus entra em cena João Batista, o precursor predito pelos profetas (Mc 1.2-3; Ml 3.1; Is 40.3). Que tipo de culto ele prestava a Deus? O que sabemos é que ele atuava fora das quatro paredes e extramuros, pregando e realizando o batismo de arrependimento, anunciando Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ele começa a fazer a ponte entre a Antiga e a Nova Alianças.

A primeira menção a culto no NT saiu da boca de Jesus, no deserto da tentação (Mt 4.10).

“Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.” (Lc 4.16)

Ele tinha o costume de frequentar o templo e as sinagogas (Lc 4.16; 4.31-37; 21.37-38; Mc 1.21-22; Mt 12.9) e, ainda, o Monte das Oliveiras (Lc 22.39).

Desde o início Jesus declarou que não veio revogar a Lei e os Profetas, mas para cumprir (Mt 5.17). Ele começou a fazer uma releitura da Lei: “eu porém vos digo”. E, assim, deu continuidade à ponte entre a Antiga e a Nova Alianças. O seu campo de ação preferido eram as áreas externas, sempre cercado de multidões. Também se reunia em casas. Na sua conversa com a mulher samaritana, que estava tão confusa quanto a um lugar específico para adoração ou culto a Deus, ele esclarece que o Pai procura adoradores que o adorem em espírito e em verdade (Jo 4.19-24). Pode-se dizer que isso era uma verdadeira quebra de paradigma. Para Jesus, o templo de Jerusalém não tinha a relevância que os religiosos lhe davam (Mt 24.1-2).

Que informações temos de espiritualidade e culto neste período? O que Jesus leu na sinagoga sintetiza sua missão e forma de cultuar a Deus: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.” (Lc 4.18). Evangelizar, pregar, ensinar, curar e operar milagres era parte desse culto (Mc 1.32-34; 2.13; 4.1-2; Mc 9.35; Lc 5.17; 8.1). Ele também tinha o hábito de orar (Mc 1.35; Mt 14.23; 26.36; Lc 6.12; Jo 17.1-26) e cantar (Mt 26.30). Jesus também tinha o costume de participar das festas judaicas, principalmente da páscoa. Na sua última páscoa, instituiu a ceia memorial (Mc 14.22-25; Mt 26.26-29; Lc 22.17-20; 1Co 11.23-26) que haveria de ser observada pela igreja.

3. Na igreja do Novo Testamento (neotestamentária)

No período de “gestação da igreja”, o Senhor ressurreto diz aos seus discípulos: “…permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder.” (Lc 24.49b). Após a ascensão, Lucas registra: “e estavam sempre no templo, louvando a Deus.” (Lc 24.53). No Livro de Atos, este mesmo Lucas diz que eles subiram para o Cenáculo (salão construído em cima do andar térreo de uma casa) (At 1.13), lugar provável onde nasceu a igreja, no dia de Pentecostes (At 2.1).

Como o Templo de Jerusalém estava muito atrelado ao judaísmo, a igreja nascente se expande para além dele, na mesma linha de João Batista e de Jesus: “o campo é o mundo”, isto é, espaços ao ar livre (outdoor) (praças – At 17.17b; praia – At 21.5; junto ao rio – At 16.13) e em ambientes fechados (indoor)(Ainda no Templo – At 3.1; 5.25; 5.42; Cenáculos – At 20.8; Casas – At 2.46; 5.42; 20.20; Rm 16.5; Sinagogas – At 13.14; 14.1; 17.1-9; 17.10-15 etc).

3.1 O paralelo entre o culto no AT e no NT

Há três aspectos importantes a se considerar, quando se compara o culto nos AT e o culto no NT:

 a) O Templo (o lugar)

Se no AT a centralidade e espiritualidade no culto demandava um local e construção específicos (Dt 12.13-14), como o Tabernáculo e, depois, o Templo; na era da igreja ela se desloca para o santuário do corpo do salvo: “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Co 3.16; ver tb 1Co 6.19). Isso significa que este deve prestar um culto contínuo a Deus, na liturgia da vida. Numa analogia bastante modesta, o culto no Antiga Aliança (AT) está para o telefone fixo, assim como o culto na Nova Aliança (NT) está para o telefone móvel. No primeiro caso era necessário ir ao “telefone fixo” (templo) para falar (cultuar); no segundo, o “telefone móvel” (corpo-templo) para falar (cultuar) vai conosco.

b) O Sacerdócio (o mediador)

Se no AT a centralidade e espiritualidade no culto demandava a intermediação de um Sumo Sacerdote, da linhagem de Levi; na era da igreja ela se desloca para o nosso eterno Sumo Sacerdote – Jesus Cristo – um Sumo Sacerdote perfeito (santo, inculpável e sem mácula) (Hb 7.26-28). Nenhuma figura ou líder humano deve se atrever a tentar ocupar este lugar de mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5), tanto no que diz respeito a salvação eterna, quanto no que diz respeito ao acesso a Deus; pois o Espírito Santo foi dado a todos os remidos do Senhor.

c) O Sacrifício (o sistema de expiação)

Se no AT a centralidade e espiritualidade no culto demandava a utilização de um sistema de sacrifícios; na era da igreja o sacrifício de Jesus na cruz foi único, eficaz, perfeito e definitivo, para expiar o pecado e nos reconciliar com Deus (Hb 9). Os povos pagãos cultuavam seus deuses oferecendo-lhes seus filhos em sacrifício; mas o Deus único revela a todos os seres humanos que apenas o sacrifício do seu Filho Unigênito pode aplacar a sua ira e conceder-lhes eterna salvação (Rm 5.9; 1Ts 1.10). Nenhuma obra ou sacrifícios pessoais (penitências) são requeridos do cristão com vistas a aproximá-lo de Deus; mas espera-se que as suas obras e seu viver diário testemunhem a todos sua nova vida em Cristo.

3.2 Expressões da espiritualidade no culto, nas epístolas e Apocalipse:

a) Culto racional (Rm 12.1)

Na epístola aos romanos encontramos o seguinte apelo: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” (Rm 12.1). Na graça devemos comparecer diante de Deus não com animais (para sacrifício e morte), mas com o nosso corpo ou ser, muito vivo e lhe dizer: “Eis-me aqui, envia-me, a mim” (Is 6.8); “usa-me, Senhor”. Templo sempre foi lugar de santidade e nós somos o templo do Espírito Santo, santuário de Deus que também precisa ser santo (1Co 3.16). Este culto racional é realizado para agradar a Deus. Para tanto, tem que ser em conformidade com as suas exigências.

b) Culto com ordem (1Co 14.26-40)

“Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação.” (1Co 14.26). A igreja de Corinto, tinha muitos problemas, que foram tratados pelo apóstolo Paulo. Ele também teve que orientá-la quanto à liturgia do culto, particularmente quanto ao uso dos dons espirituais (1Co 14.26-40). Também teve que orientá-la quanto à “Ceia do Senhor” (1Co 11.20-29). Tudo isso porque culto tem que ser prestado com ordem e visando a edificação.

c) Culto com conteúdo (Ef 5.19-21)

À igreja de Éfeso Paulo instrui: “falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais,” (Ef 5.19).

À igreja de Colossos Paulo recomenda: “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração.” (Cl 3.16).

Na epístola de Tiago somos instruídos que, de certa forma, também cultuamos a Deus quando servimos ao nosso irmão, ao nosso próximo (Tg 2.14-26). Cultuar a Deus não pode ser algo teórico e abstrato, da boca pra fora; mas algo muito concreto que afeta a nossa vida a tal ponto que redunde na glorificação de Deus e bênção na vida dos que nos cercam.

No culto público, a essência precisa prevalecer sobre a forma, assim como a espiritualidade sobre a religiosidade. Portanto, na Nova Aliança, fazem parte do culto neotestamentário: a pregação da Palavra (At 20.7), a leitura das Escrituras (1Tm 4.13), a oração (1Tm 2.8), os cânticos de louvor (Ef 5.19) e as ofertas (1Co 16.1-2), além do Batismo (At 2.37-41) e da Ceia do Senhor (1Co 11.23-29) e o serviço cristão (Tg 2.14-26).

d) Culto dominical

No AT, os israelitas suspiravam pela chegada do dia de participarem das festividades em Jerusalém e irradiavam alegria enquanto peregrinavam rumo ao Templo (Sl 122.1). O ajuntamento do povo da cruz, para cultuar a Deus, deve ser motivo alegria. A igreja neotestamentária também se reunia no primeiro dia da semana, no domingo (At 20.7). O autor de Hebreus ressalta a importância de nos estimularmos, uns aos outros, a nos congregarmos: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.” (Hb 10.25)

e) Culto eterno

O Cordeiro de Deus que é cultuado e adorado pela igreja, na terra, no livro de Apocalipse é adorado eternamente (Ap 5.8-14; 15.2-4).

Conclusão:

Que Deus nos ajude a compreender essa espiritualidade no culto bíblico que deve nortear o culto na igreja de Cristo em qualquer época. Que tenhamos sempre em mente que culto não é show, beleza estética ou ritual para animar uma plateia; mas algo orientado por Deus e centrado em Deus, portanto, teocêntrico e cristocêntrico. Que compreendamos que culto é algo contínuo, pois quando termina a liturgia do templo, começa a liturgia da vida; sendo que a liturgia do templo só será aceita se tiver lastro numa consistente e santa liturgia da vida. Que, sejamos encontrados por Deus como aqueles que o adoram e o cultuam em espírito e verdade.

Pastores e Estrelas

Pastores e Estrelas

Os seres humanos têm alguns comportamentos interessantes. Um deles é o exibicionismo, aquela necessidade de se mostrar para os outros. Acho que todos têm um pouco disso, uns mais, outros menos. Isso se manifesta das formas mais variadas possíveis e você sabe muito bem como é, ou como isso acontece. Pode ser aquele sobrenome diferenciado, imponente, ou o bairro nobre onde mora. Pode ser aquela faculdade de renome, os títulos que possui ou os idiomas que fala. Pode ser aquele parente importante que tem, ou aquele vestuário de grife. Podem ser aquelas viagens internacionais ou aquele carrão, no qual desfila. Pode ser o luxo da festa de 15 anos da filha ou do casamento ou das bodas e, até mesmo, o cemitério e jazigo onde a família sepulta seus mortos. Enfim, pode ser tanta coisa… E, onde isso acontece? Antigamente era no mundo real, mas hoje, com a tecnologia disponível, até virtualmente, nas redes sociais e aplicativos. Aliás, antes de postar alguma coisa no facebook deveríamos nos fazer as seguintes perguntas: 1) Isso vai glorificar a Deus? 2) Isso é útil e vai abençoar as pessoas? 3) Estou apenas expressando aqui o meu contentamento ou estou querendo me exibir? “Desvia os meus olhos, para que não vejam a vaidade, e vivifica-me no teu caminho.” (Sl 119.37)

Alguém já te fez aquelas solenes perguntas: De que igreja você é? Quem é o teu pastor? Pois é, para se sair bem nessas horas, tem gente que faz questão de fazer parte de uma igreja com templo majestoso, com pastor famoso. Tudo isso tem a mesma origem: a necessidade de ser visto pelo outro como alguém muito importante, especial.

Não há nenhum mal em buscar o melhor para as nossas vidas, porém não podemos perder de vista aquilo que realmente tem valor, agora e eternamente. Não devemos nos encantar apenas com aquelas coisas que impactam a visão, mas, principalmente, com as que trazem significado profundo à existência.

Como Jesus reagiu ao que era o motivo de orgulho dos judeus, o Templo de Jerusalém? “Tendo Jesus saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos para lhe mostrar as construções do templo. Ele, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada.” (Mt 24.1-2). Certamente não foi com o mesmo entusiasmo dos discípulos. Muitos, ainda hoje, não entenderam o que o Filho e o Pai pensam sobre templos bonitos: “Entretanto, não habita o Altíssimo em casas feitas por mãos humanas; como diz o profeta: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés; que casa me edificareis, diz o Senhor, ou qual é o lugar do meu repouso? Não foi, porventura, a minha mão que fez todas estas coisas?” (At 7.48-50). Os discípulos estavam diante do Deus encarnado que “tabernaculou” (habitou) entre eles (Jo 1.14), varão aprovado por Deus diante deles com milagres, prodígios e sinais (At 2.22) e estavam tão impressionados com construções humanas. Poucos entendem que nesse tempo da Graça, nós é que somos templo de Deus (Jo 14.23), morada do Espírito Santo (Jo 14.17), ou conforme disse o apóstolo Paulo: “logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim;” (Gl 2.20a).

E, o que dizer de Pastores e Estrelas?

 1. Os pastores de Belém e a Estrela

Quando você leu o título, talvez tenha vindo, imediatamente, à sua mente a história do nascimento de Jesus. A narrativa bíblica fala de uma estrela diferente que brilhou no céu e de pastores no campo. O curioso disso é que, segundo essas narrativas, os pastores de Belém nada têm a ver com essa estrela! Se você prestar bastante atenção verá que: a) Essa estrela diferente é citada apenas por Mateus (quatro vezes), servindo de guia para conduzir os magos do oriente até Jesus (Mt 2.1-12). Esses magos eram estudiosos dos astros. b) Já os pastores de Belém foram citados apenas por Lucas (Lc 2.8-20). Em parte alguma da narrativa bíblica é mencionado que esses pastores viram ou foram guiados ao menino nascido, por essa estrela. Os anjos lhes anunciaram o nascimento de Jesus e lhes deram todas as dicas de como encontrá-lo. c) Ambos os grupos, magos e pastores, foram até Jesus (a verdadeira Estrela) e o encontraram.

Vamos refletir um pouco sobre Estrela.

a) Por definição, estrela é um astro que tem luz própria. O apóstolo Paulo, escrevendo sobre o corpo ressurreto, ilustra a diferença de esplendor, assim: “Uma é a glória do sol, outra, a glória da lua, e outra, a das estrelas; porque até entre estrela e estrela há diferenças de esplendor.” (1Co 15.41). É claro que a lua não é uma estrela, pois reflete a luz do sol.

b) Estrelas e astros não devem ser adorados, como muitos povos faziam, pois não são deuses, mas criação do único Deus vivo e verdadeiro: “Guarda-te não levantes os olhos para os céus e, vendo o sol, a lua e as estrelas, a saber, todo o exército dos céus, sejas seduzido a inclinar-te perante eles e dês culto àqueles, coisas que o SENHOR, teu Deus, repartiu a todos os povos debaixo de todos os céus.” (Dt 4.19)

c) Na simbologia bíblica, estrela pode ser interpretada como:

  • Sinal ou aviso, como a estrela vista pelos magos (Mt 2.1-12).
  • As doze tribos de Israel (Ap 12.1).
  • Pessoas importantes, como os onze irmãos, no sonho de José (Gn 37.9).
  • Pessoas sábias, iluminadas: “Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e eternamente.” (Dn 12.3).
  • Uma referência aos anjos caídos na rebelião de Lúcifer (Ap 12.4, 9). Por extensão, os falsos líderes que agem na mesma linha (Jd 13).
  • Uma referência a Jesus Cristo, o Messias prometido: “Vê-lo-ei, mas não agora; contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro que ferirá as têmporas de Moabe e destruirá todos os filhos de Sete.” (Nm 24.17)

d) Estrela da alva ou da manhã:

  • Uma referência a Vênus, o segundo planeta do Sistema Solar, a partir do Sol. Depois da Lua, é o objeto mais brilhante do céu noturno. Como Vênus se encontra mais próximo do Sol do que a Terra, ele pode ser visto aproximadamente na mesma direção do Sol. Vênus atinge seu brilho máximo algumas horas antes da alvorada ou depois do ocaso, sendo por isso conhecido como a estrela da manhã (Estrela d’Alva) ou estrela da tarde (Vésper) (Wikipédia).
  • Uma referência a Satanás, o “luminoso”: “Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.” (Is 14.12-14). Endossada por Cristo: “Mas ele lhes disse: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago.” (Lc 10.18; ver tb Ap 20.3 e 1Tm 3.6). E, como diz Paulo: “E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz.” (2Co 11.14).
  • Uma referência a Jesus, a brilhante Estrela, com “E” maiúsculo: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas. Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã.” (Ap 22.16).
  • Uma dádiva de Jesus “ao vencedor”, referindo-se, talvez, a poder real ou autoridade: “assim como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã.” (Ap 2.28).
  • Uma referência aos vários estágios de luz da revelação divina: “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração,” (2Pe 1.19). As profecias do Antigo Testamento simbolizando a candeia; o cumprimento da profecias na primeira vinda de Cristo, simbolizando a estrela da alva; por fim, a segunda vinda de Cristo, nosso Sol da Justiça (Ml 4.2), trazendo toda a claridade.

Retornando aos pastores de Belém (Lc 2.8-20), temos de admitir que algumas coisas nos impressionam na narrativa:

1ª) O fato de Deus ter se importado com aqueles humildes e simples pastores, homens do campo, enviando-lhes o seu anjo (acompanhado de uma multidão da milícia celestial) para anunciar o nascimento do Deus homem, do Salvador, do Bom Pastor (Jo 10.11), do Supremo Pastor (1Pe 5.4), do descendente de Davi (Mt 1.1) o pastor de ovelhas que se tornou o pastor de Israel; na cidade de Davi.

2ª) O fato desses pastores terem ido, apressadamente a Belém, para terem um encontro com aquele que é o Pastor dos pastores.

3ª) O fato desses pastores, depois do encontro com Jesus, proclamarem a todos a revelação que receberam a respeito de Jesus.

4ª) O fato desses pastores glorificarem e louvarem a Deus pelo que ouviram e viram de Jesus.

Que belo exemplo para todos aqueles líderes de igreja, pastores e presbíteros, seguirem!!! Centralidade total em Jesus! Satisfação completa em Jesus!

2. Estrelas na mão direita de Jesus

7 estrelas

 “Tinha na mão direita sete estrelas, e da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes. O seu rosto brilhava como o sol na sua força.” (Ap 1.16)

“Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita e aos sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas.” (Ap 1.20)

A primeira grande revelação do Apocalipse refere-se à visão que João teve do Senhor, ressurreto, no meio dos sete candeeiros de ouro, isto é, as sete igrejas da Ásia Menor, interpretação essa declarada no próprio texto. A igreja sofredora carecia de uma nova visão do Senhor, uma esplendorosa visão do Jesus Glorificado, para seu alento. Na visão tudo tem significado. Os elementos vistos e a posição de Jesus transmitem a mensagem de um Jesus presente, soberano, governante e protetor da sua igreja. A descrição do “Filho do Homem” e suas vestes, entretecem uma imagem de inigualável resplendor e majestade que deveria causar nos leitores uma sensação de confiança e segurança, restaurando-lhes a esperança e encorajando-os na luta pela causa da fé.

Entre as interpretações sugeridas pelos comentaristas bíblicos para essas “sete estrelas” ou “sete anjos” na mão direita de Jesus, citamos duas:

1ª) É uma referência a anjos literais. A palavra grega (aggeloi), traduzida por anjos, ocorre, pelo menos, 23 vezes no Novo Testamento. Em todas as outras 22 ocorrências fica claro tratar-se de referências literais a seres angelicais, por que aqui seria diferente? Assim como na Bíblia há a ideia de anjos guardando crianças (Mt 18.10) e outras pessoas (Sl 91.11; At 12.15); anjos e arcanjos guardando nações (Dn 12.1); não seria um absurdo considerar anjos guardiões de igrejas locais, aqui figuradamente citados.

2ª) É uma referência a pastores, líderes das referidas igrejas locais. Afinal, não faria sentido o apóstolo João ser orientado a escrever cartas para anjos literais.

Vale ressaltar que naquela ocasião, ainda não existia a figura de pastor de igreja, como temos hoje. Cada igreja local era liderada por presbíteros. Temos que tomar cuidado com teologia reversa. Mas, admitamos, por hipótese, que a referência seja a pastores de igreja. Então, consideremos esses pastores, não como estrelas, astros que têm luz própria, mas autoridades constituídas para pastorearem igrejas locais. Assim, podemos identificar através da visão que, na perspectiva divina, o lugar de um pastor é na mão direita de Jesus. Certamente, isso fala de um lugar de honra, mas também de dependência e submissão ao Senhorio de Cristo. Ele não está livre e solto para fazer o que quer!

 3. Pastores-estrela

Concluindo esta abordagem, sem perder de vista as colocações iniciais sobre exibicionismo, na minha singela opinião, considero que nenhuma igreja local deveria se encantar com Pastores-estrela. Pastores-estrela são aqueles líderes de igreja famosos que querem brilhar mais do que Jesus, que querem ter luz própria. Apresento, a seguir, pelo menos sete razões para isso:

1ª) Eles apascentam a si mesmos e não as ovelhas do Senhor.

2ª) Eles estão mais interessados nos seus projetos pessoais, do que nos projetos de Deus para a igreja.

3ª) Eles custam muito caro para a igreja, quer pelas elevadas côngruas ou remunerações que recebem, quer pelos recursos que demandam e drenam da organização (humanos, materiais e financeiros).

4ª) Eles não têm tempo para pastorear o rebanho, para estar junto com as ovelhas, pois sua agenda de compromissos externos à igreja é imensa.

5ª) O foco deles não é pastorear ovelhas, cuidar delas, mas se apresentar em público.

6ª) Eles não têm cheiro de ovelha, mas podem até ter cheiro de enxofre, quando intentam subtrair a Glória que somente a Deus é devida.

7ª) Eles podem até manter a igreja cheia de gente e de religiosidade, mas zelar pela santidade dos membros não é o forte deles.

Finalmente, vale ressaltar:

– Jesus é o nosso Verdadeiro e Supremo Pastor. Não perca Jesus na caminhada! Somente ele é “O” Cabeça (relação hierárquica) e “A” Cabeça (relação de dependência) da Igreja!

– Não se anule, idolatrando líderes eclesiásticos. Idolatria é pecado! O Espírito Santo foi derramado sobre toda a igreja, distribuindo dons aos remidos do Senhor. Líderes e liderados, todos somos membros e parte do Corpo de Cristo – a Igreja.

– Além de ser parte do Corpo de Cristo, a igreja local também é uma instituição, com CNPJ, Estatutos etc. Como tal, requer de todos nós respeito e obediência às autoridades ali legalmente instituídas.

– Precisamos sim, de pastores de almas, vocacionados, chamados e capacitados por Deus para tão nobre missão: apascentar as ovelhas do Senhor Jesus Cristo.

“Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram. Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.” (Hb 13.7, 17)