Sete grandes realidades e uma cura

Marcos 9.14-29; Mateus 17.14-21; Lucas 9.37-43a

1ª) Um grande pastor
     Que se aproximava de Deus e do povo.

37  No dia seguinte, ao descerem eles do monte, veio ao encontro de Jesus grande multidão. (Lc 9)
14  Quando eles se aproximaram dos discípulos, viram numerosa multidão ao redor e que os escribas discutiam com eles. (Mc 9)
15  E logo toda a multidão, ao ver Jesus, tomada de surpresa, correu para ele e o saudava. (Mc 9)
16  Então, ele interpelou os escribas: Que é que discutíeis com eles? (Mc 9)

Jesus acabara de passar por um singular momento de glória, no monte da transfiguração (Mc 9.2-13). Ali o céu baixara à terra para o honrar. Diante da aparição de dois grandes vultos do passado, Moisés (representando a Lei) e Elias (representando os Profetas) e dos dignos discípulos ali presentes (representando a Igreja), o Pai se manifestou e revelou o Filho, distinguindo-o e apontando-o como aquele que deveria ser ouvido.

Não havia melhor lugar para se estar. No entendimento de Pedro, o tempo podia até parar e, assim eles desfrutariam ao máximo aquele pedacinho de céu. Entretanto, o grande pastor de almas – Jesus – sabia que lá embaixo havia um rebanho aflito necessitado da sua presença.

Ao pé do monte estavam os demais discípulos, e com eles uma grande multidão. Na ausência de Jesus, algo havia acontecido que ocasionou uma grande discussão entre os discípulos que ficaram e os escribas. De tal forma estavam todos envolvidos com a discussão que a multidão se surpreendeu com a chegada Jesus. Aqui reside um interessante elemento profético: aqueles que se detêm em tantas discussões teológicas e/ou doutrinárias correm o risco de serem tomados de surpresa quando da segunda vinda de Cristo.

É interessante observar que quando Jesus chegou, imediatamente o foco de interesse passou para ele. Entretanto, para Jesus, o foco de interesse era o objeto da discussão: “Que é que discutíeis com eles?”

2ª) Um grande problema
     De dimensões física e espiritual.

17  E um, dentre a multidão, respondeu: Mestre, trouxe-te o meu filho, possesso de um espírito mudo; (Mc 9)
18a  e este, onde quer que o apanha, lança-o por terra, e ele espuma, rilha os dentes e vai definhando. (Mc 9)
14  E, quando chegaram para junto da multidão, aproximou-se dele um homem, que se ajoelhou e disse: (Mt 17)
15  Senhor, compadece-te de meu filho, porque é lunático e sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo e outras muitas, na água. (Mt 17)
38  E eis que, dentre a multidão, surgiu um homem, dizendo em alta voz: Mestre, suplico-te que vejas meu filho, porque é o único; (Lc 9)
39  um espírito se apodera dele, e, de repente, o menino grita, e o espírito o atira por terra, convulsiona-o até espumar; e dificilmente o deixa, depois de o ter quebrantado. (Lc 9)

A resposta à indagação de Jesus vem logo, do meio da multidão. Um pai desesperado se aproxima de Jesus e lhe conta o grande e grave problema vivido por seu filho único. Ele descreve, com detalhes, todo o sofrimento passado pelo filho quando o espírito imundo se apodera dele. Lunático, surdo-mudo e com sintomas que se assemelhavam aos da epilepsia (descarga cerebral), no seu estado mais grave.  Mateus revela que esse pai se ajoelha diante de Jesus e lhe suplica compaixão.

3ª) Uma grande decepção
     Tentar fazer aquilo que só Jesus pode fazer.

18b  Roguei a teus discípulos que o expelissem, e eles não puderam. (Mc 9)
16  Apresentei-o a teus discípulos, mas eles não puderam curá-lo. (Mt 17)
40  Roguei aos teus discípulos que o expelissem, mas eles não puderam. (Lc 9)

O pai declara inicialmente que tinha trazido o filho para que Jesus curasse (Mc 9.17). Naturalmente, não encontrando Jesus ali, pediu ajuda aos discípulos que não haviam subido ao monte. É difícil concluir quem ficou mais decepcionado com a fracassada tentativa dos discípulos:

🔹 O pai, que não conseguiu a tão necessitada solução para o problema.
🔹 Os discípulos, que não foram capazes de fazer o que já tinham feito antes.
🔹 A multidão, que certamente esperava muito mais dos discípulos.

Para os escribas, é provável que estivessem procurando tirar proveito do fracasso dos seguidores de Cristo para levar vantagem e denegrir a imagem e a doutrina de Jesus.

4ª) Um grande desabafo
     Somos poupados pela misericórdia de Deus.

19  Então, Jesus lhes disse: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-mo. (Mc 9)
17  Jesus exclamou: Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui o menino. (Mt 17)
41  Respondeu Jesus: Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco e vos sofrerei? Traze o teu filho. (Lc 9)

A quem Jesus dirigiu o seu desabafo: aos discípulos, aos escribas, ao pai ou à multidão?

Suposições, para debate.

– Aos discípulos:

✔👍Porque o fracasso dos discípulos expunha Jesus ao ridículo.

✔👍Porque eles tentaram aproveitar a oportunidade da ausência de Jesus para exibirem poder diante da multidão e Deus não os atendeu.

✔👍Porque eles ficaram com ciúme por não terem sido convidados a subir o monte com Jesus.

✔👍Porque em casa Jesus confirmou que eles não conseguiram por causa da pequenez de sua fé;

❌👎Porque Jesus não seria capaz de acrescentar à tamanha humilhação porque estavam passando, o rótulo de incredulidade e de perversidade, diante de todos;

❌👎Porque eles agiram por solidariedade à aflição daquele pai e tentaram libertar aquele jovem de tamanho sofrimento, cooperando assim com o ministério de Jesus;

❌👎Porque Jesus não chamaria seus discípulos, a quem ele mesmo escolheu, de perversos.

❌👎Porque em casa Jesus confirmou que eles não conseguiram por se tratar de uma casta de demônios diferente, que exige muita oração e jejum;

❌👎Porque o Espírito Santo ainda não havia sido derramado sobre eles, para habitação permanente e unção com poder.

– Aos escribas:

✔👍Porque é provável que estivessem procurando tirar proveito do fracasso dos seguidores de Cristo para levar vantagem e denegrir a imagem e a doutrina de Jesus.

❌👎Porque a discussão girava em torno de encontrar uma solução para o problema. Eles também queriam ajudar.

– Ao pai:

✔👍Porque ele não tinha certeza de que Jesus poderia fazer aquele milagre, pois falou “se podes…”

❌👎Porque Jesus não seria capaz de humilhar uma alma aflita que se chega a ele suplicando por ajuda.

– À multidão:

✔👍Porque ela seguia a Jesus só por interesse material e Jesus já estava cansado dessa hipocrisia.

❌👎Porque Jesus tinha o interesse de aproximá-la para a orientar e não de despedi-la.

Não podemos afirmar com convicção quem era o destinatário dessa palavra dura de Jesus. Entretanto, temos certeza de que cada um que a ouviu e a ouvir ainda hoje, podia e poderá tomá-la como para si próprio, pois todos temos alguma incredulidade.

5ª) Um grande confronto
    Cósmico e humano.

42a  Quando se ia aproximando, o demônio o atirou no chão e o convulsionou;(Lc 9)
20  E trouxeram-lho; quando ele viu a Jesus, o espírito imediatamente o agitou com violência, e, caindo ele por terra, revolvia-se espumando. (Mc 9)
21  Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe sucede? Desde a infância, respondeu; (Mc 9)
22  e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o matar; mas, se tu podes alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos. (Mc 9)
23  Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes! Tudo é possível ao que crê. (Mc 9)
24  E imediatamente o pai do menino exclamou, com lágrimas: Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé! (Mc 9)

Há dois confrontos sendo travados aqui:

1º) Jesus com o demônio.
Finalmente o jovem foi trazido à presença de Jesus. Ao aproximar-se de Jesus o demônio ficou transtornado e promoveu um terrível espetáculo. Jesus reage com tranquilidade a toda a agitação do demônio. Ele não se deixa impressionar com aquela aparente demonstração de poder. Jesus deixa de lado o demônio e concentra-se naquele pai.

2º) O pai com sua (falta de) fé.
Jesus conversa com aquele pai sobre o histórico do problema. Aquele pai, demonstra estar totalmente focado no problema e em qualquer tipo de solução, ainda que paliativa: “se tu podes alguma coisa…”.

Ele se contentava com qualquer coisa, porém, Jesus só se contentava com uma fé integral. Jesus dá a entender que só prosseguiria se ele declarasse sua fé no poder de Deus.  

Ele buscava uma solução sem ter que assumir qualquer compromisso. Conhece gente assim? Jesus o insere como corresponsável para a solução do problema. A fé dele era elemento indispensável para a realização do milagre. Jesus devolve o “se podes” e acrescenta, “tudo é possível ao que crê”. No ápice da crise, em lágrimas, ele, finalmente, declara sua fé ao mesmo tempo em que suplica ajuda pela sua incredulidade.

Ele oferece o que tem pede ajuda pelo que falta. Essa demonstração de sinceridade e humildade foi aceita por Jesus.

6ª) Uma grande libertação
    Nada pode resistir à ordem de Jesus!

25  Vendo Jesus que a multidão concorria, repreendeu o espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai deste jovem e nunca mais tornes a ele. (Mc 9)
26  E ele, clamando e agitando-o muito, saiu, deixando-o como se estivesse morto, a ponto de muitos dizerem: Morreu. (Mc 9)
27  Mas Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu, e ele se levantou. (Mc 9)
18  E Jesus repreendeu o demônio, e este saiu do menino; e, desde aquela hora, ficou o menino curado. (Mt 17)
42b mas Jesus repreendeu o espírito imundo, curou o menino e o entregou a seu pai. (Lc 9)
43a  E todos ficaram maravilhados ante a majestade de Deus. (Lc 9)

Era hora de agir. A multidão já se agitava. Jesus não fala ao demônio, ele ordena a sua retirada definitiva. A reação demoníaca é muito espalhafatosa, como que para dar a entender que a ordem não funcionara, como que para testar a fé e convicção de quem ordena. Nessa hora, não se pode vacilar. O jovem, após ser liberto, fica inerte, como se estivesse morto. Fazia tempo que o seu espírito não dirigia o próprio corpo. Mas Jesus o tomou pela mão e ele se levantou e reassumiu o controle de sua própria vida. Assim restaurado, Jesus o entregou ao seu pai. O milagre estava feito. A fé do pai foi contemplada e recompensada. A multidão teve mais uma prova da divindade de Jesus.

7ª) Uma grande questão
     Como prevalecer sobre Satanás?

28  Quando entrou em casa, os seus discípulos lhe perguntaram em particular: Por que não pudemos nós expulsá-lo? (Mc 9)
29  Respondeu-lhes: Esta casta não pode sair senão por meio de oração e jejum. (Mc 9)
19  Então, os discípulos, aproximando-se de Jesus, perguntaram em particular: Por que motivo não pudemos nós expulsá-lo? (Mt 17)
20  E ele lhes respondeu: Por causa da pequenez da vossa fé. Pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível. (Mt 17)
21  Mas esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum. (Mt 17)

A prioridade máxima deve ser resolver o problema; as dúvidas ficam para depois. É na intimidade da vida privada que se tratam determinadas questões. Os discípulos estavam confusos e inseguros. Quem não estaria? Ao chegarem em casa perguntaram ao Mestre: por que não conseguimos? O que faltou? A resposta de Jesus registrada por Marcos parece contradizer a revelada por Mateus. Marcos coloca a questão em termos de uma casta ou categoria de demônios mais difícil de ser exorcizada, o que requereria maior preparação espiritual (oração e jejum) para lidar com ela. Mateus diz que a causa foi “pouca fé”. Na verdade, as duas coisas são complementares e essenciais: preparação ou consagração, e fé. 

Uma outra razão de não terem conseguido é que aquele momento estava reservado para que se manifestasse a glória de Deus, em Jesus.

Conclusão

A narrativa da cura do jovem possesso revela que, diante das grandes lutas espirituais e humanas, apenas a presença e a ação de Jesus trazem solução plena. O episódio expõe a limitação dos discípulos, a angústia de um pai, o poder opressor do mal e, sobretudo, a necessidade de fé genuína, oração e dependência profunda de Deus. Ao final, fica claro que nenhuma força pode resistir à autoridade de Cristo, e que a vitória espiritual nasce da comunhão com ele e da confiança rendida no seu poder.

Que Deus nos ajude!


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