Intimidade e Respeito

Introdução

Intimidade e respeito são elementos fundamentais para relacionamentos saudáveis, sejam eles românticos, familiares, de amizade ou profissionais. Esses aspectos do comportamento estão efetivamente ligados ao bem-estar emocional, à construção e manutenção de vínculos duradouros e ao desenvolvimento de uma autoestima saudável.

A intimidade é entendida como a capacidade de compartilhar pensamentos, sentimentos e experiências de forma profunda e genuína com outra pessoa, criando um vínculo emocional significativo.

O respeito é a base de qualquer relacionamento saudável e envolve reconhecer e valorizar a dignidade, os limites e as necessidades do outro.

As componentes da intimidade podem ser identificadas e descritas como:

  • Emocional: compartilhar sentimentos, vulnerabilidades e preocupações.
  • Física: contato físico, que vai desde gestos de afeto (abraços, toques) até relações sexuais.
  • Intelectual: troca de ideias, interesses e aspirações.
  • Espiritual: alinhamento em valores e crenças pessoais.

Já o respeito pelo outro:

  • Envolve aceitar as diferenças, ouvir ativamente e evitar julgamentos.
  • Reconhecer o espaço individual do outro, tanto físico quanto emocional.
  • Evitar comportamentos controladores, invasivos ou agressivos.

Intimidade e respeito é algo que acompanha e permeia o cotidiano dos seres humanos e é um assunto que pode ser abordado em várias áreas da vida, como:

✍Nas relações familiares: Entre Marido e Esposa; Entre Pais e Filhos; Entre Irmãos; Entre Parentes.
✍Nas relações entre amigos: com Vizinhos; no ambiente profissional; na Igreja etc.
✍Nas relações com o sagrado: com Deus; com a Igreja; com o Culto etc.

A Bíblia aborda e exemplifica muitos temas e assuntos, inclusive os de intimidade e respeito. Ela enfatiza o valor das relações baseadas no amor, na consideração mútua e na pureza. Esses conceitos aparecem tanto em relacionamentos interpessoais quanto na relação com Deus.

A Bíblia ensina o respeito como um princípio fundamental para todas as interações humanas.

Amar o próximo:
O respeito começa com o amor ao próximo, que é o segundo maior mandamento. “O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mt 22.39)

Tratar os outros com dignidade:
A Bíblia nos convoca a uma efetiva reflexão e empatia, o que deve então nortear as nossas ações para com os nossos semelhantes. “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas.” (Mt 7.12)

Cuidado com as palavras:
O que sai da nossa boca tem grande efeito, podendo manifestar desrespeito e depreciação do outro:
“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem.” (Ef 4.29)

Vamos focar aqui mais especificamente a intimidade e respeito nas relações familiares.

1. AUTOESTIMA E PRIVACIDADE

“Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1Co 6.19)

A Bíblia ensina que o corpo é templo do Espírito Santo e deve ser tratado com respeito. Isso inclui tanto o cuidado com o próprio corpo quanto o respeito ao corpo dos outros, ou seja, às outras pessoas.

Em qualquer que seja o contexto do relacionamento é preciso ressaltar a importância destes dois elementos – autoestima e privacidade. Eles precedem e afetam todos os nossos relacionamentos. Cada pessoa é única e contém as digitais do Criador. Antes de tudo, precisa se cuidar física, menta e emocionalmente. Precisa firmar sua identidade! Precisa encontrar o sentido da sua vida! Precisa ocupar o seu espaço! Precisa valorizar e respeitar a si mesma antes de esperar ser valorizada pelos outros.

O ensino bíblico “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” é enfático e recorrente no Novo Testamento (Mt 19.19; 22.39; Mc 12.31; Lc 10.27; Rm 13.9; Gl 5.14; Tg 2.8). A questão que se coloca aqui é como amar ao próximo se não nos amamos a nós mesmos?

A autoestima é um daqueles elementos facilitadores de um relacionamento saudável. Ela influencia diretamente como cada indivíduo se relaciona consigo mesmo e, por consequência, com o outro. Pessoas com boa autoestima tendem a confiar mais em si mesmas e nos outros, reduzindo comportamentos negativos como ciúmes excessivos, desconfiança exagerada e inseguranças. É menos provável que dependa do outro para validar seu valor pessoal, evita relações de codependência. É mais capaz de comunicar desejos, limites e preocupações de maneira clara e respeitosa. Relacionamentos enfrentam conflitos inevitáveis, e a autoestima elevada é essencial para enfrentá-los de forma construtiva.

A privacidade protege a autonomia, assegura direitos fundamentais e promove relações familiares, sociais e profissionais saudáveis. Ela protege a dignidade humana ao evitar exposições indesejadas ou invasões que possam causar constrangimento, humilhação ou prejuízo à reputação. A privacidade permite momentos de introspecção e descanso, essenciais para a saúde mental. A falta de privacidade pode gerar estresse, ansiedade e sentimentos de invasão, prejudicando o bem-estar emocional.

Solteiros precisam de privacidade. Casados, ainda que sejam “uma só carne” com seu cônjuge, também precisam de privacidade. Naqueles momentos de certas atividades fisiológicas e higiênicas básicas cai muito bem a privacidade, ainda que alguns pensem e façam diferente. Enfim, todos precisamos de certa privacidade, para cuidarmos de nós mesmos. Talvez fosse dispensável acrescentar aqui que é deplorável aquela privacidade dedicada a “pecados de estimação” reprovados por Deus e que destroem vidas, famílias e relacionamentos. É como dizem: “Você é o que é quando ninguém está vendo.”

2. RELAÇÕES FAMILIARES

Se há um relacionamento estreito, frequente e intenso, sem dúvida é aquele que acontece no âmbito do lar, na família. O respeito pelos sentimentos e pelas escolhas de cada membro da família fortalece os laços e previne conflitos. A intimidade entre pais e filhos é crucial para a formação de vínculos seguros.

2.1 Entre Marido e Esposa

A psicologia tem a nos dizer que intimidade e respeito são complementares: a intimidade não pode florescer sem respeito mútuo, e o respeito é fortalecido pela intimidade emocional e relacional.

a) Relacionamentos Românticos:

Estudos apontam que casais que mantêm um alto nível de intimidade emocional e respeito mútuo têm maior satisfação e longevidade no relacionamento. Intimidade saudável requer comunicação aberta, empatia e confiança.

A Bíblia valoriza a intimidade emocional, espiritual e física como algo sagrado, especialmente no contexto do casamento.

b) Intimidade conjugal:

A união entre marido e esposa é vista como algo especial, planejado por Deus. A intimidade física é uma expressão de amor e unidade.

“Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.” (Gn 2.24)
O livro de Cantares, ou Cântico dos Cânticos, celebra a intimidade e o amor no casamento com poesia e beleza.

c) Respeito mútuo no casamento:

Marido e esposa devem tratar um ao outro com amor e respeito.
“Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama.” (Ef 5.28)
“Não obstante, vós, cada um de per si também ame a própria esposa como a si mesmo, e a esposa respeite ao marido.” (Ef 5.33)

d) Intimidade tóxica

Se os primeiros flertes românticos dos primeiros contatos e encontros dos namorados podem proporcionar aquela sensação de satisfação, felicidade e êxtase; por outro lado, o cotidiano dos casados, com uma intimidade desrespeitosa (tóxica), pode proporcionar o efeito contrário.

A intimidade é como o remédio; na dose certa, cura e fortalece, mas em excesso ou mal administrada, pode intoxicar e causar danos.

A intimidade também tem seu limite. Se não for equilibrada, se não tiver o tempero do respeito mútuo, pode atingir um ponto crítico, de ruptura do relacionamento saudável.

No início do namoro, quando o casal ainda pouco se conhece, leva muito a sério o respeito mútuo, investe no romantismo, tem todo o cuidado com suas ações, com o que fala, com o que veste etc. É provável que isso torne o relacionamento tão excitante e encantador. Você se dá conta de que ama e é amado(a). Então, o conhecimento mútuo vai aumentando e a tendência comum é relaxar, descuidar, reduzir o romantismo. Então, se casam, passam a conviver diariamente, o relacionamento e a intimidade aumentam e a tendência é tudo se tornar um lugar comum.

Será que isso acontece com algum casal?

No namoroNo casamento
– Oi, querido(a)… Oi, amor….
– Que bom te ver!
– Você está cada vez mais linda.
– Desculpa o atraso.
– Aonde você quer ir hoje?
– Você primeiro…
– Você não acha melhor…
– Se você preferir não ir, tudo bem…
– Oi!
– Já era hora de chegar…
– Você ficaria melhor se….
– Que trânsito!
– Vamos lá no… Eu prefiro!
– Dá licença que eu quero ver…
– Eu faço questão que seja…
– De novo não iremos? Assim não dá!
– A janta já está pronta?!
– Quando é que você vai consertar…?
– Já cansei de te falar para você…!
– Você não deveria…?
– Caramba! De novo isso?
– Etc.

Até certo ponto é natural que aquele elã e entusiasmo dos primeiros encontros não se mantenham por muito tempo. Aquela empolgante e intensa paixão do início do namoro tende a desvanecer com a frequência do relacionamento, entretanto, isso é compensatoriamente substituído pelo crescimento, ao longo do tempo, do amor que une e torna o relacionamento do casal mais forte e estável.

Os extremos são sempre exageros que desequilibram a razão, comprometem a harmonia e afastam a sensatez. No passado havia o extremo daquela constrangedora formalidade, tendo a esposa que se dirigir ao marido como “meu senhor”, como se ela fosse propriedade dele. Atualmente, é comum encontrar-se o outro extremo, no qual há baixa estima e consideração, muita liberdade e pouco respeito no relacionamento do casal.

É interessante observar que normalmente, marido e esposa, mantém certo grau de cordialidade e respeito no relacionamento com terceiros, inclusive com conhecidos e amigos. Entretanto, entre si, acabam se descuidando e incorrendo nessa tal intimidade tóxica. Não há aqui qualquer intenção de sugerir um relacionamento formal do casal, porém, é recomendável um relacionamento mais cuidadoso, educado e respeitoso, sem aqueles rompantes temperamentais, gritaria, descarrego de mágoas acumuladas e não tratadas no tempo certo.

2.2 Entre Pais e Filhos

“Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo.” (Ef 6.1)
“Filhos, em tudo obedecei a vossos pais; pois fazê-lo é grato diante do Senhor.” (Cl 3.20)
“E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor.” (Ef 6.4)
“Pais, não irriteis os vossos filhos, para que não fiquem desanimados.” (Cl 3.21)

É comum o exemplo de relacionamento do casal se refletir no relacionamento dos pais com os filhos e dos filhos com os pais. Portanto, muito do que foi dito anteriormente a respeito do relacionamento do casal, inclusive da tal intimidade tóxica se aplica aqui e não é necessário repetir. Os textos bíblicos acima transcritos ensinam claramente a responsabilidade e dever das partes – pais e filhos – no convívio do lar. Não é nosso objetivo neste estudo aprofundar este assunto já que o nosso foco é intimidade e respeito.

Outro aspecto relevante e que precisa ser tratado aqui é a provável interferência da capacidade intelectual e formação acadêmica no relacionamento de pais com filhos e vice-versa. É normal os pais investirem o máximo possível na formação acadêmica dos seus filhos, muitas vezes com certo sacrifício. Pais esclarecidos e conscientes procuram dar a seus filhos uma formação acadêmica superior à sua. Então, os filhos se formam, e o que acontece no convívio familiar? Num cenário em que os pais têm formação igual ou superior à dos filhos, nada muda. O contexto inverso exige mais atenção. Pais sábios, com formação acadêmica e cultura geral inferiores, têm a seu favor a experiência de vida, que não está disponível nas salas de aula ou na internet, compreenderão essa nova realidade, e debaterão com cautela e tranquilidade os assuntos do dia. Filhos sábios e conscientes, sabem bem quem é o cabeça da casa e qual o seu papel e lugar, assim não tentarão se impor, nem desprezar aqueles que se sacrificaram para lhes dar essa condição intelectual superior a deles.

3. FAMILIARIDADE E DESCRENÇA

“E prosseguiu: De fato, vos afirmo que nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra.” (Lc 4.24)
“E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, senão na sua terra e na sua casa.” (Mt 13.57)

O adágio popular “Santo de casa não faz milagre” é derivado de uma percepção cultural e religiosa profundamente enraizada na ideia de que as pessoas tendem a desvalorizar ou subestimar o que lhes é familiar. Sua origem pode ser rastreada a contextos religiosos e bíblicos, especialmente ao ensinamento de Jesus em passagens como Lucas 4.24 e Mateus 13.57.

O contexto bíblico:
Jesus, ao ser rejeitado em Nazaré, cidade onde cresceu, enfatiza que os profetas frequentemente não são aceitos entre os seus, pois a familiaridade gera desconfiança ou desprezo. No caso de Jesus, seus conterrâneos tiveram dificuldade em aceitar sua autoridade divina devido à proximidade com sua origem humilde. No início, ali na sinagoga de Nazaré, as pessoas ficaram impressionadas com suas palavras, mas logo começaram a questionar sua autoridade, porque o conheciam apenas como o “filho de José”, um carpinteiro.

As pessoas tendem a acreditar mais no valor de algo ou alguém externo do que em quem está por perto. Um professor ou especialista de uma cidade pequena pode ser pouco valorizado por seus conterrâneos, que preferem dar mais crédito a alguém de fora. Um líder com muitas qualidades que cresce numa igreja pode ter dificuldade de ser reconhecido e valorizado pelos seus contemporâneos, então, quando se transfere para outra igreja pode se surpreender com a boa acolhida e valorização.

Enfim, um membro da família pode ser muito valorizado pelos de fora e quase desprezado pelos demais membros da sua família. Então, os membros da família precisam prestar mais atenção às suas atitudes. Você pode estar supervalorizando os de fora, que não conhece o seu dia a dia, como realmente são na sua vida privada e desprezando alguém da sua própria família. Por outro lado, é uma atitude desonesta e egoísta supervalorizar alguém somente porque é da sua família ou do seu círculo mais próximo de amigos, desprezando os demais.

4. PREVENINDO O DESRESPEITO

A intimidade entre pessoas pode, em alguns casos, levar ao desrespeito devido a uma série de fatores psicológicos e comportamentais. Isso geralmente acontece quando a proximidade emocional ou física é mal administrada, levando a uma falta de limites ou à negligência de aspectos fundamentais do respeito mútuo.

Como evitar que a intimidade leve ao desrespeito?

a) Mantenha a comunicação aberta:
Fale sobre sentimentos, expectativas e limites de forma honesta e respeitosa.

b) Pratique a empatia:
Continue se esforçando para entender o outro, mesmo após anos de convivência.

c) Valorize pequenos gestos:
Demonstre gratidão e reconhecimento nas pequenas coisas do dia a dia.

d) Respeite limites individuais:
Lembre-se que, mesmo em relações íntimas, cada pessoa é um indivíduo com suas próprias necessidades e espaço.

e) Trabalhe o autoconhecimento:
Reflita sobre como suas ações e palavras podem impactar o outro, evitando projetar frustrações pessoais.

A intimidade, quando mal administrada, pode levar ao desrespeito por causa da redução da atenção às necessidades do outro, da falta de empatia ou da negligência de limites. Porém, isso não é inevitável. Com esforço consciente, é possível construir relações íntimas que permaneçam fundamentadas no respeito e na consideração mútua, mantendo o vínculo saudável e equilibrado.

Conclusão

“Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que são mais velhos; outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça.” (1Pe 5.5)

Seu relacionamento no ambiente do lar e da família está harmonioso e saudável? Glória a Deus! Continue investindo e zelando para que continue assim. Ah, o relacionamento não anda muito bom, então é hora de fazer uma boa reflexão em tudo o que foi dito acima. Nunca é tarde para mudar, para corrigir o rumo, para melhorar a qualidade de vida e do relacionamento conjugal e familiar!

Que Deus nos ilumine e ajude!


Veja, também:
DEZ DICAS…PARA A BOA CONVIVÊNCIA FAMILIAR E SOCIAL.

O Amado e a Amada

Texto base: Cântico dos Cânticos 8.6-7

Introdução

O livro é o “Cântico dos Cânticos” de Salomão (Ct 1.1), isto é, o seu mais excelente e belo cântico, e não foram poucos os que ele escreveu (1005 cânticos, além de 3000 provérbios, conforme 1Rs 4.32). Assim como no livro de Ester, o nome de Deus não é mencionado. Não é correta a espiritualização deste livro, como se fora uma alegoria para ilustrar o relacionamento e o amor mútuo entre Deus e sua igreja, pelo menos, não há evidências de que teria sido escrito originalmente com este propósito. É claro que, eventualmente, é possível encontrar aqui alguns pontos de semelhança entre “o amado e sua amada” e “Cristo e sua noiva (a igreja)”. É um livro da bíblia diferenciado que poeticamente celebra o amor mútuo entre um homem e uma mulher, entre o Amado e a Amada, entre Salomão e a Sulamita. Se o cântico é uma ficção ou referência a uma situação real, não sabemos. Se essa Sulamita é a jovem Abisague, a jovem virgem Sunamita “sobremodo formosa” que cuidou de Davi na sua velhice, não sendo por ele possuída (1Rs 1.1-4) e pretendida por Adonias, custando-lhe a vida (1Rs 2.13-24), não sabemos. É significativo que a palavra “amado” ocorre no livro 38 vezes.

Portanto, o tema é o amor entre um homem e uma mulher, que poderia ser assim descrito:

Num reino antigo, num cenário campestre envolvendo vinha e pastoreio de rebanhos, floresceu um amor ardente e profundo entre um rei sábio e uma formosa camponesa. O rei, cuja sabedoria era tão vasta quanto sua riqueza, era conhecido como Salomão. A camponesa, cuja beleza era tão radiante quanto sua humildade, era chamada de Sulamita. Desde o momento em que seus olhares se encontraram, os corações de Salomão e da Sulamita foram capturados por um amor que transcendia os limites do tempo e do espaço. Numa primavera (Ct 2.10-13), entre os campos dourados de trigo e os jardins perfumados de flores, eles se encontravam, trocando juras de amor sob a luz do sol e à sombra das árvores. As trocas de palavras do amor deles ecoavam pelas montanhas e vales, como uma sinfonia celestial entoada pela própria natureza. Cada palavra, cada suspiro, era como uma promessa eterna de devoção e paixão.

Assim, o Cântico dos Cânticos é uma exaltação ao amor puro e intenso, uma celebração da beleza do amor humano em sua forma mais divina e transcendente. É a exalação de sentimentos, desejos, medos, dúvidas, sonhos, saudade, paixão, típicos dos enamorados. É a celebração da sexualidade com compromisso, no casamento. A beleza física é frequente e cuidadosamente referida e enaltecida, com o uso de metáforas tiradas do ambiente natural em que viviam, um tanto quanto estranhas e nada românticas para os padrões atuais: “Os teus cabelos são como o rebanho de cabras que descem ondeantes do monte de Gileade.” (Ct 4.1c).

O cântico se desenvolve com sucessivas e alternadas falas carregadas de ardente paixão, adornadas de expressões que envolvem os cinco sentidos (visão, audição, paladar, olfato e tato):

Beijo – “Beija-me com os beijos de tua boca” (Ct 1.2a).

Cheiro – “Suave é o aroma dos teus unguentos,” (Ct 1.3a).

Abraço – “A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a direita me abrace.” (Ct 2.6; 8.3). 

Voz – “Ouço a voz do meu amado;” (Ct 2.8a). faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e o teu rosto, amável.” (Ct 2.14c).

Olhar – “arrebataste-me o coração com um só dos teus olhares, com uma só pérola do teu colar.” (Ct 4.9b; vtb 6.5a).

Sabor – “Os teus beijos são como o bom vinho,” (Ct 2.3).

Caminhar e molejo – “Que formosos são os teus passos dados de sandálias, ó filha do príncipe! Os meneios dos teus quadris são como colares trabalhados por mãos de artista.” (Ct 7.1)

Uma adequada incursão no texto deste intrigante livro, nos permite explorar e desvendar um pouco mais os mistérios do amor, que permanece como um farol de esperança e inspiração para todas as gerações que buscam o seu verdadeiro significado.

Desenvolvimento:

1. O COMPROMISSO DE AMOR

“Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço,…” (Ct 8.6a)

A fala é da mulher, da esposa para o seu amado marido. Qual o sentido e significado da sua proposta?

Nos tempos antigos, o ato de “selar” tinha diversos significados e aplicações, muitos dos quais eram relacionados à autenticidade, segurança e autoridade. Selar um documento, carta ou contrato era uma maneira de garantir sua autenticidade e integridade. Um selo, geralmente feito de cera quente ou outro material, era aplicado sobre o fecho de uma carta ou sobre a borda de um documento, indicando que não havia sido violado e que seu conteúdo era confiável. Selar algo podia servir como uma marca de propriedade ou identificação. Por exemplo, selos eram frequentemente usados em mercadorias comerciais para identificar o proprietário ou o fabricante, ou em documentos legais para indicar a origem ou o responsável por sua emissão.

A ideia e intenção é que seu amado carregasse, em todo o tempo, no seu próprio corpo, uma autêntica, inequívoca, indelével e visível marca dela. Sobre o coração, como sede da vida e dos sentimentos; sobre o braço, como símbolo de força e trabalho dedicados ao provimento do seu lar. Era uma proposta legitima de compromisso de amor, com exclusividade, que por sinal destoava muito da poligamia vivida por Salomão.  

“Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu;…” (Ct 6.3a)

Por três vezes ela se declara pertencer ao seu amado e, em duas, que o seu amado era dela (Ct 2.16; 6.3; 7.10). Esse mútuo pertencimento expressa lindamente o conceito e fundamento do casamento, de ser uma só carne (Gn 2.24), o que encontra eco no ensino do apóstolo Paulo (1Co 7.3-4).

2. A FORÇA DO AMOR

 “porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura, o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, são veementes labaredas.” (Ct 8.6b)

A frase “o amor é forte como a morte” é uma expressão poética e metafórica que destaca a intensidade e a permanência do amor, equiparando-o à força inegável da morte. Essa metáfora pode ser assim exemplificada:

1º) Assim como a morte é uma força universal poderosa e inevitável que não pode ser ignorada, o amor é retratado como algo igualmente forte, universal e irresistível. Ele pode consumir uma pessoa completamente, dominando seus pensamentos, sentimentos e ações.

2º) Assim como a morte não pode separar as pessoas na lembrança dos seus entes queridos, o amor é retratado como uma força que une duas pessoas de maneira tão forte que nada pode separá-las.

3º) Assim como a morte põe um ponto final nas expectativas e escolhas da vida, o amor autêntico e verdadeiro põe um ponto final nos anseios e na procura da pessoa amada que, ao ser encontrada, promove uma ligação profunda e indissolúvel entre o amado e a amada.

“e duro como a sepultura, o ciúme;”

O ciúme, aqui comparado à sepultura, é uma deturpação ou anomalia do amor, tão danosa e cruel.

O ciúme é uma reação à percepção de uma ameaça real ou imaginária ao relacionamento, posse ou afeto de uma pessoa por outra. Essa reação pode ser desencadeada por diversos fatores, como o medo de perder a atenção, o carinho ou a lealdade do(a) amado(a) para alguém ou algo considerado uma ameaça. O ciúme pode se manifestar de diferentes formas e em diferentes graus, desde sentimentos leves de insegurança até reações extremas de possessividade, raiva e comportamento controlador. Torna-se insuportável quando a desconfiança em relação ao outro, leva a uma vigilância constante, questionamentos repetidos e investigações para confirmar ou refutar as suspeitas. Pode desencadear uma série de reações emocionais, incluindo ansiedade, tristeza, raiva, ressentimento e até mesmo depressão, levando ao fim do relacionamento. Portanto, é importante reconhecer e compreender o ciúme, comunicar-se abertamente com o outro e trabalhar juntos para construir uma relação de confiança e segurança mútuas.

Um aspecto normal e natural do ciúme, motivado pelo legítimo sentimento de “posse com exclusividade”, é aquele cuidado, preocupação e acompanhamento do(a) amado(a). Neste sentido, o ato do simples flertar com alguém ou algo, pode despertá-lo no outro cônjuge. É o receio de que o ente amado dedique seu afeto a outrem; o que não deixa de ser um zelo aceitável. Neste sentido é que se pode entender  o “ciúme ou zelo de Deus”, pelo seu povo (Ez 8.3; Tg 4.5).

Este amor, assim tão forte, tem algumas características delineadas neste cântico:

1ª) Precisa acontecer naturalmente:

“Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que não acordeis, nem desperteis o amor, até que este o queira.” (Ct 8.4)

Neste livro, por três vezes encontramos a expressão “não acordeis, nem desperteis o amor, até que este o queira.” (Ct 2.7; 3.5; 8.4). Isso nos remete ao início do amor, à sua origem, à forma como ele acontece, ao momento em que ele acorda. Ele deve acontecer naturalmente, de forma espontânea, pois não pode ser forçado. Um relacionamento que nasce de interesses escusos (financeiro, poder etc.) ou equivocados (rebeldia e pressa em deixar a casa paterna; busca de liberdade; desejo de ter filhos; vontade de mudar de cidade, estado ou país etc.), não redundam nesse amor poderoso.

2ª) Precisa ser alimentado:

Depois que nasce, o amor precisa ser alimentado e fortalecido, tal qual um novo ser. Neste cântico, chama a atenção as sete falas de lisonjeio do amado à sua amada (Ct 1.9-10; Ct 1.15; Ct 2.2; Ct 2.14; Ct 4.1-15; Ct 6.4-10; Ct 7.1-9) e cinco da sua amada ao seu amado (Ct 1.13-14; Ct 1.16; Ct 2.9; Ct 2.17; Ct 5.10-16). O reconhecimento do outro e de suas atitudes, bem como o uso da “pedagogia do elogio” são atitudes muito bem-vindas. Uma boa dieta para nutrir o amor é a valorização do cônjuge, não apenas com palavras vazias que se perdem no ar, mas com gestos e atitudes concretas e práticas. O amor é muito mais do que a manifestação de sentimentos; envolve a dedicação e doação ao cônjuge.  

3ª) Precisa ser protegido:

“Apanhai-me as raposas, as raposinhas, que devastam os vinhedos, porque as nossas vinhas estão em flor.” (Ct 2.15)

As raposas e outros animais são conhecidos por sua ação destruidora nos plantios. Os ataques de animais a uma plantação e os desafios enfrentados em um relacionamento conjugal têm algumas semelhanças:

– Assim como os animais podem gradualmente destruir uma plantação, os problemas e conflitos não resolvidos podem corroer lentamente a saúde de um relacionamento conjugal ao longo do tempo, minando a confiança e a intimidade.

– Da mesma forma que os agricultores precisam proteger sua plantação contra pragas e animais invasores, os cônjuges precisam estar atentos às ameaças externas e internas, e agir preventivamente, tomando medidas adequadas para proteger seu relacionamento, desenvolvendo habilidades para lidar com os desafios que surgem ao longo do caminho.

– Assim como os agricultores precisam reparar os danos causados ​​pelos ataques à sua plantação, os casais também precisam trabalhar juntos para reparar os danos causados ​​por conflitos e desentendimentos, buscando a reconciliação e a restauração do relacionamento.

Em resumo, a analogia entre os ataques de animais a uma plantação e os desafios enfrentados em um relacionamento conjugal destaca a importância da proteção, manutenção, reparação e cuidado contínuo para preservar e fortalecer os laços afetivos e construir um relacionamento duradouro e harmônico.

3. A SOLIDEZ DO AMOR

“… as suas brasas são brasas de fogo, labaredas do SENHOR.“ (Ct 8.6)
“As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios, afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo desprezado.” (Ct 8.7)

Há labaredas divinas no amor que, partindo do céu alcançam a terra, porque, afinal, Deus é amor. 

O amor é indestrutível

As torrentes de água não podem extinguir as chamas do amor, nem mesmo os dilúvios mais intensos podem afogá-lo. Mesmo diante das dificuldades, desafios e mudanças da vida, o amor pode persistir e resistir ao teste do tempo. É fato a força descomunal da correnteza das águas inundantes, arrastando e destruindo tudo o que encontram pela frente. Entretanto, a metáfora ressalta a implacável capacidade de resistência do amor a qualquer tipo de ataque. Também é fato que muitos relacionamentos se desfazem. No entanto, aqueles que foram unidos por um amor verdadeiro e autêntico permanecerão firmes. Nenhuma força terrena poderá separá-los, e nenhum poder celestial teria o desejo de fazê-lo.

O amor é inegociável

O amor não pode ser comprado ou subornado, e as tentativas podem se dar de muitas formas.  O verdadeiro amor  jamais cederá às investidas de terceiros com suas cantadas sedutoras, sua beleza estonteante, oportunidade de ascensão social ou  prosperidade financeira. Se um relacionamento de namoro ou noivado ou o casamento é abalado quando entra em cena outra pessoa que tenha dinheiro é porque não existe ali um amor maduro e verdadeiro. Por outro lado, com dinheiro pode se comprar sexo e acompanhante, profissional ou não. Não são poucos os casos em que o verdadeiro amor é relegado a um segundo plano, ou totalmente ignorado, em prol de um bem-estar financeiro e projeção social.

No texto em análise, a simples tentativa de comprar o amor, oferecendo um alto e substancial preço, tornaria o pretendente alguém desprezado. O amor genuíno é como um tesouro oculto no coração, de valor inestimável. São dignos de destaque e honra aqueles casos de casais simples,  que não se rendem aos apelos sedutores já mencionados; antes, porém, unem seu amor e seus esforços e, ao longo da vida, realizam seus sonhos de um casamento feliz, de uma família bem estruturada e a da desejada e necessária estabilidade financeira. Porque a força do amor, também é maior do que a força do dinheiro. 

Se o amor não pode ser comprado, pode ser conquistado. E é conquistado quando é livremente dado. O amor emana de Deus e é insuflado como fruto do Espírito (Gl 5.22). É o elo que nos une em torno do mistério da existência. Onde houver vida, haverá também o verdadeiro amor. Ele não se submete ao tempo, nem reconhece barreiras ou obstáculos.

“O amor não se desvanece com as horas fugazes ou o passar dos dias, mas suporta tudo, até mesmo diante da iminência da condenação. Se isso for um equívoco e se provar que estou errado, então nunca mais ousarei escrever, pois nenhum homem jamais conheceu o verdadeiro amor.” (parafraseando Shakespeare)

Conclusão

Temos discorrido sobre o compromisso inarredável do amor, inspirando aquele saudável sentimento de “posse mútua e exclusividade”. É oportuno destacar o apreço mútuo, em que cada um dos enamorados se expressa distinguindo-o dos demais. Ele diz: “Qual o lírio entre os espinhos, tal é a minha querida entre as donzelas.” (Ct 2.3). E, ela responde: “Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os jovens; desejo muito a sua sombra e debaixo dela me assento, e o seu fruto é doce ao meu paladar.” (Ct 2.3). E, ele, mais adiante, ainda diz: ”Sessenta são as rainhas, oitenta, as concubinas, e as virgens, sem número. Mas uma só é a minha pomba, a minha imaculada, de sua mãe, a única, a predileta daquela que a deu à luz; viram-na as donzelas e lhe chamaram ditosa; viram-na as rainhas e as concubinas e a louvaram.” (Ct 6.8-9)

Também fomos lembrados que, tal como a morte, o amor é forte, universal e irresistível, capaz de manter duas pessoas unidas; que o ciúme exacerbado é uma anomalia do amor e deletéria ao relacionamento; que o amor precisa acontecer naturalmente e precisa ser fortalecido com palavras e ações.

Finalmente, abordamos que o amor é indestrutível e inegociável. Ainda que surjam quaisquer dificuldades e obstáculos, com a devida paciência, compreensão, sabedoria, perdão e auxílio do alto, do Deus Eterno, tudo pode ser superado, pois o amor “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1Co 13.7).  

Que Deus nos ajude!

Bibliografia

1. Bíblia Sagrada (SBB – Versão Revista e Atualizada).
2. Bíblia Online – SBB.
3. Revista CRESCENDO JUNTOS (Ed. Didaquê).
4. Alexander, Pat e David – Manual Bíblico SBB (SBB).
5. Unger, Merrill Frederick – Manual Bíblico UNGER (Vida Nova).
6. R. N. Champlin, Ph. D. – O Antigo Testamento Interpretado – Versículo por versículo (Ed. Hagnos).
7. Internet / ChatGPT.

Casamento e Família – Livros

Sugestões de leitura para o fortalecimento do seu casamento e família:

E-BOOK GRATUITO

O casamento é a união de duas almas que se encontram, entrelaçando suas vidas em um compromisso profundo e eterno. Sua beleza está na construção diária de um amor que cresce e se fortalece com o tempo. É nos pequenos gestos de carinho, nas palavras de apoio e nos momentos de silêncio compartilhado que se revela a verdadeira essência dessa união.

Este é um livro que aborda os relacionamentos, especialmente o relacionamento conjugal em diferentes fases da vida. Ele nos inspira a manter a esperança na construção de um casamento saudável, em um mundo onde o divórcio é frequentemente promovido. O livro ressalta que os conflitos e crises fazem parte do desenvolvimento do casamento e que, com um diálogo eficaz e exercícios propostos ao final de cada capítulo, podemos superá-los. Utilizando casos reais, linguagem paradoxal e bom humor, o autor nos encoraja a reavaliar nossos relacionamentos, crescer em nossa vida conjugal e familiar, e oferecer apoio àqueles ao nosso redor.


Mesmo nos primeiros anos de casamento, algumas dificuldades que vocês imaginaram ser capazes de resolver, com o tempo viraram grandes problemas. Como um casal temente a Deus, para vocês não é uma alternativa. O que fazer? Este livro foi escrito para casais que não desistiram de buscar uma saída. Não se trata de respostas prontas, mas de soluções aprendidas em anos de aconselhamento matrimonial.

Gary Chapman, casado há mais de 25 anos, pai de dois filhos, tem longa experiência como conselheiro matrimonial, é conferencista e autor de livros sobre casamento.


Orientação sexual, clara. Manual completo para o casal. Uma das mais respeitadas obras sobre o relacionamento sexual. Esclarece dúvidas que muitos de nós temos, numa abordagem séria e confiável.


Homens e mulheres são e reagem de forma diferente, o que torna o seu convívio difícil, muitas vezes áspero e gerador de ressentimentos. Mas quais são as razões dessas diferenças e até que ponto elas podem ser superadas? Barbara e Allan Pease percorreram vários países e consultaram dezenas de cientistas para preparar este livro sobre as diferenças e os modos de pensar e agir de homens e mulheres. Eles investigaram as conclusões das últimas pesquisas sobre o cérebro, investigaram a Biologia Evolutiva, analisaram trabalhos de psicólogos, observando as transformações sociais e entrevistando centenas de pessoas. Este livro que oferece um instrumento importante para, ao verificar e compreender as diferenças, estabelecer uma relação harmoniosa entre homens e mulheres, seja no casamento, na vida profissional, na forma de educar os filhos ou em qualquer campo do relacionamento humano.


Muitos são os jovens que se casam cheios de sonhos, com a alma repleta de expectativas animadoras. Mas todo aquele romance, que parecia garantir um casamento estável e feliz, transforma-se num pesadelo cheio de decepções e mágoas.
Não há nenhum assunto mais importante, urgente e vital do que o casamento. Se destruirmos este fundamento toda a estrutura familiar começará a entrar em colapso. Sem casamentos fortes teremos famílias anêmicas e doentes. A felicidade conjugal não é algo automático, é preciso construí-la com muito esforço, inteligência e determinação. O casamento é para aqueles que estão dispostos a investir o melhor do seu tempo, dos seus sentimentos e dos seus sonhos na vida do cônjuge.
Casamento é como uma conta bancária, se você sacar mais do que deposita, você vai à falência.


Se os problemas financeiros estão causando discórdia entre você e seu cônjuge, não se desespere. Você é apenas mais um dos milhares de casados que — mesmo conhecendo o que deve e não deve ser feito no gerenciamento do dinheiro — ainda não são capazes de sair da montanha-russa do descontrole financeiro.

Neste livro, o autor compartilha livremente os pontos relacionados à economia doméstica e os pontos fracos de seu casamento, com doses generosas de humor junto a princípios sólidos da Palavra de Deus. Assuntos difíceis que mantêm você e seu cônjuge, infelizes e muitas vezes em dificuldades financeiras.

Encontre a cura para suas feridas e volte-se para o Pai, o único que pode proporcionar mudança duradoura em seu casamento, talão de cheques e um futuro melhor!


150 Maneiras de Paparicar sua Esposa é a peça que faltava em seu casamento. Um pequeno e bem humorado manual de como constituir uma vida a dois cheia de paixão e companheirismo. Simples e pequenos conselhos para você conhecer um pouco mais a respeito dos anseios de uma esposa que precisa muito ser amada.


Já paparicou seu marido hoje? Não importa a ocasião, o bom relacionamento é algo que se ganha aos poucos, com pequenos mimos, caricias e, é claro, com demonstração de todo amor que um sente pelo outro. Mas você sabe como realmente agradar seu marido?


Esqueça aquela história de “alma gêmea”. Não existe casamento perfeito ou cônjuge ideal, muito menos gente que foi feita uma para a outra. E o matrimônio, um dia idealizado como conto de fadas, pode se transformar mesmo é numa mala sem alça. Parece muito pessimismo? Talvez, mas um banho de realidade certamente faz muito bem em algum momento da vida a dois.

No entanto, é possível, sim – e perfeitamente viável, aliás -, duas pessoas serem casadas e felizes. Basta entender que o casamento não é um jardim de flores o tempo todo, mas também não precisa ser um permanente campo de batalhas. Com seu estilo leve mas sem abrir mão da profundidade do conteúdo, Hernandes Dias Lopes, neste livro, fala sobre o casamento na perspectiva de uma construção permanente. Uma obra que nunca termina, embora, a cada dia, marido e mulher possam edificá-la com inteligência, dedicação e esforço.

Casados & Felizes não esconde as dificuldades do matrimônio, mas também não abre mão de mostrar que a plenitude é possível entre duas pessoas tão diferentes que levam para a vida conjugal uma enorme bagagem de sonhos, frustrações, valores e expectativas.


Em situações de emergência os aspectos emocionais e espirituais não são considerados com a mesma urgência que as necessidades materiais. E, por vezes, as pessoas dispostas a ajudar não sabem como agir. A boa notícia é que todo o povo de Deus pode equipar-se para o ministério da consolação.Crises e Perdas na Família apresenta conceitos, princípios e ferramentas para o exercício desse trabalho. Mostra que os cristãos – tanto clérigos quanto leigos – podem equipar-se para ajudar outras pessoas, que o Deus de toda a consolação nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em angústia (2 Co 1.3-4).O autor considera a família como o espaço no qual as pessoas adoecem e são curadas. Assim, enfatiza mais os recursos que as carências e acredita que os que sofrem podem ser protagonistas de sua própria recuperação.


Deus: 13 lições criativas sobre a Trindade para crianças é teologia para criança, e consolida de verdade os fundamentos da fé em seus corações e mentes. É um banquete espiritual prático que abastece as crianças para a jornada futura, não importa os desafios ao longo do caminho.

Este livro inovador transforma assuntos difíceis em experiências interativas fáceis de serem lideradas por seus voluntários. Resumos claros e instruções passo a passo simplificam o ensino desses assuntos.


Nunca houve um livro sobre o casamento como O significado do casamento.

Este livro se baseia na muito aplaudida série de sermões pregados por Timothy Keller, autor best-seller do New York Times. O autor mostra a todos – cristãos, céticos, solteiros, casais casados há muito tempo e aos que estão prestes a noivar – a visão do que o casamento deve ser segundo a Bíblia.

Usando a Bíblia como seu guia, e com os comentários muito perspicazes de Kathy, sua esposa há 37 anos, Timothy Keller mostra que Deus criou o casamento para nos trazer para mais perto dele e para dar mais alegria à nossa vida. É um relacionamento glorioso, e é também o mais malcompreendido e misterioso dos relacionamentos. Caracterizado por uma compreensão clara e cristalina da Bíblia e por instruções significativas sobre como conduzir um casamento bem-sucedido, O significado do casamento é leitura essencial para qualquer pessoa que quer conhecer a Deus e amar mais profundamente nesta vida.


A arte de permanecer casado: Guia seguro para quem deseja salvar um casamento.

A arte de permanecer casado traz uma mensagem de esperança, amor e otimismo em relação ao casamento, mesmo em meio as crises aparentemente “sem solução” aos nossos olhos. O livro apresenta um verdadeiro guia de princípios práticos que podem ajudar a salvar um casamento em crise.

Quando nos tornamos pais, assumimos o compromisso de criar um indivíduo que levará nossa herança para o mundo – não apenas a carga genética e os bens materiais, mas também, e principalmente, nossos valores e nossa cultura. Mas como saber que estamos acertando com os nossos filhos? A formação de sucessores é uma das áreas mais vitais da educação de mentes brilhantes. Neste livro, o conceituado psiquiatra e psicoterapeuta Augusto Cury aborda dois conceitos que dizem muito sobre a nova geração e o futuro das nações: herdeiros e sucessores. Deixando de lado a definição clássica, Cury vê os herdeiros como gastadores imediatistas, que não enriquecem e nem cultivam os bens e conhecimentos que adquiriram de seus pais e mestres. Já os sucessores sabem transformar o que lhes foi transmitido e pensam a médio e longo prazo. Herdeiros vivem na sombra dos outros, enquanto sucessores constroem seu próprio legado. Neste livro único e extremamente instrutivo, Cury apresenta um conjunto de técnicas para que pais, professores e líderes possam corrigir a rota da educação, se necessário, e saibam como preparar os jovens para serem sucessores e assumirem seus papéis na sociedade.


Escrevi este livro com um único propósito: compartilhar o que a Palavra de Deus diz acerca da família. Este material foi preparado para aqueles que acreditam que a Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus, nosso único guia de fé e conduta. Reconheço na Bíblia a palavra final, o modelo único e excelente para se viver a vida familiar.

Deus criou o homem. Deus instituiu o casamento e a família. Deus nos deu o “Manual do Fabricante”, que é a sua palavra. Portanto, creio que o fator mais importante para um casamento bem-sucedido seja atender e praticar os princípios instituídos pelo próprio Criador. Minha oração e desejo sincero é que esse ensino edifique e fortaleça sua vida familiar e também sua relação com Deus. Boa leitura!
Luciano Pereira subirá


ACONSELHAMENTO de Casais:

Neste manual, o Dr. Gary R. Collins trata, dentro de uma cosmovisão cristã, dos principais temas que um conselheiro precisa conhecer para entender melhor o comportamento humano, ter uma perspectiva mais clara sobre as bases bíblicas do aconselhamento.


E-BOOKS gratuitos, neste site:



Veja, também, os artigos sobre Família e Casamento neste site.
Acesse no Menu Principal: ARTIGOS > FAMÍLIA E CASAMENTO


Abraão e Sara

Texto base: Gênesis 11.10 a 25.18

Introdução          

Alguns casais são mencionados nominalmente na Bíblia (marido e esposa), inclusive com o registro de suas falas e ações. Temos muito a aprender com a história deles.

Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, pode ser dividido em duas grandes partes principais. A primeira parte (Gênesis 1.1 a 11.9), começa com o registro da criação “dos céus e da terra” (Gn 1-2). Nesse contexto, aparece o primeiro casal: Adão e Eva. Desde então, a raça humana começa a trilhar um caminho descendente de afastamento de Deus, rebeldia e de autodestruição, que começa na queda do primeiro casal (Gn 3) e termina no juízo divino e dispersão da Torre de Babel (Gn 11.9).

A segunda parte (Gênesis 11.10 a 50.26), focaliza e se dedica exclusivamente a história de uma família, a do segundo casal: Abraão e Sara. Isso começa com o registro genealógico dos ascendentes de Abraão (Gn 11.10-26), seu casamento com Sara, sua terra natal “Ur dos Caldeus” e emigração para “Harã” (Gn 11.27-32).

É interessante observar que, de Adão a Abraão, há um período de cerca de 2000 anos. E, mais. Transcorridos  cerca de mais 2000 anos chegamos a outro personagem relevante e histórico – Jesus Cristo – filho do casal (por parte de Maria) José e Maria. Da mesma forma que aconteceu com Abraão, a história desse terceiro casal é precedida pelo registro genealógico dos ascendentes de Jesus desde Abraão (Mt 1.1-17).

Isso nos remete a uma macro visão da história que pode ser dividida em três períodos de cerca de 2000 anos:

1º) Adão a Abraão: Deus lidando com a raça humana caída.

2º) Abraão a Jesus Cristo: Deus lidando com o seu povo de Israel – Antiga Aliança.

3º) Jesus Cristo ao Arrebatamento da Igreja(?!): Deus lidando com a sua Igreja – Nova Aliança.

As famílias, em qualquer época, enfrentam desafios, dificuldades e ameaças internas e externas que atentam contra a sua integridade e continuidade. Sabemos que famílias bem estruturadas estão mais preparadas para resistir aos maus dias e prosperar. Cada casal pode aprender com suas próprias vivências e experiências, porém, poderá turbinar esse aprendizado estudando a vida e exemplo de outros casais, particularmente de casais bíblicos, como Abraão e Sara. É o que se propõe fazer neste breve estudo.    

Desenvolvimento:

1. INFORMAÇÕES BIOGRÁFICAS

O papel do casal Abraão e Sara é relevante na história e no registro bíblico do povo de Israel, com desdobramentos significativos na cultura judaico-cristã. Seguem alguns aspectos e informações gerais sobre o casal:

(I) Origens

Abrão, significa “pai exaltado”, teve seu nome mudado por Deus para Abraão “pai de multidão” (Gn 17.1, 5 – com 99 anos), nasceu em Ur dos Caldeus, na Mesopotâmia. Era filho de Terá (Gn 11.26). Ele se casou com Sarai, que significa “minha princesa”, que teve seu nome mudado por Deus (na mesma ocasião da mudança do nome de Abraão) para Sara “princesa”  (Gn 17.15 – com 89 anos). Sara era meia-irmã de Abraão (por parte de pai – Gn 20.12), dez anos mais nova do que ele (Gn 17.17), estéril (Gn 11.30; 16.1). Certamente ela era uma mulher formosa (Gn 12.11, 14), o que pode ter levado Abraão a dizer, para se proteger, que ela era sua irmã, por duas vezes (Faraó – Gn 12.10-20; Abimeleque – Gn 20.1-18).

(II) Fatos relevantes

Chamado: Segundo o relato de Estêvão (At 7.2-3), favorecido pelos textos de Gênesis 15.7 e Neemias 9.7, o chamado divino teria ocorrido quando Abraão morava em Ur dos Caldeus, sua terra natal. Abraão obedeceu e partiu com sua esposa, Sara; seu pai, Terá; e seu sobrinho, Ló, e se estabeleceu em Harã, em vez de prosseguir até Canaã (At 7.4a). Outras razões sociopolíticas podem ter sido usadas por Deus para persuadi-lo a obedecer ao chamado divino.

Retomada do Chamado: Deus chamou Abraão para sair de sua terra e seguir para uma terra que ele lhe mostraria. O texto de Gênesis 12.1-3 pode se referir ao detalhamento do chamado divino, quando Abraão ainda residia em Ur (“sai da tua terra”).  Já o texto Gênesis 12.4-6 registra um segundo momento quando Abraão, com 75 anos de idade, finalmente obedeceu ao chamado divino e partiu de Harã com sua esposa, Sara, e seu sobrinho, Ló. Estêvão relata que, após a morte do seu pai Terá (com 205 anos – Gn 11.32), é que se deu sua partida. Há uma certa dificuldade para conciliar essas idades, a saber: (i) Terá começou a gerar filhos com 70 anos (Abrão, Naor e Harã – Gn 11.26). Não sabemos se o nome de Abrão aparece primeiro por ser ele o primogênito ou devido à sua relevância histórica. (ii) Aos 205 anos de Terá (quando morreu), o seu filho mais velho já estaria com cerca de 135 anos e Abraão tinha 75 anos quando partiu. (iii) Algumas sugestões de conciliação são: a) Abraão não era o primogênito e nasceu quando o pai tinha 130 anos; b) O pai de Abraão (Terá) não morreu com 205 anos, mas com uns 145 anos[1] (o pai de Terá, Naor, viveu 148 anos – Gn 11.24-25); c) Quando Abraão partiu de Harã deixou seu pai ali vivo. Enfim, não é recomendável desviarmos o foco do que realmente interessa para nos apegarmos a discussões de datas, genealogias etc. (Tt 3.9; 1Tm 1.4).

As promessas: “de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gn 12.2-3)

Deus fez promessa a Abraão dizendo que ele se tornaria o pai de uma grande nação e que todas as famílias da Terra seriam abençoadas por meio dele. Essa promessa foi renovada ao longo da vida de Abraão e Sara, apesar da esterilidade de Sara e, até mesmo quando já estavam com idade avançada. Através de Abraão e sua descendência, a raça humana caída podia agora enxergar uma luz no fim do túnel. Em Cristo a promessa se realizou (Jo 8.56; At 3.25; Gl 3.8, 13, 14)!

Separação e Aliança (Gn 13-15): O chamado de Abraão foi objetivo e claro. Exigia uma separação total: geográfica, social e familiar. Os capítulos 12 a 14 de Gênesis narram o atendimento da condição prévia para Deus estabelecer uma aliança com ele. Ele precisou deixar Ur, e depois Harã, e ir para Canaã. Ele, também precisou se separar totalmente da sua parentela, depois do pai e, finalmente de seu sobrinho Ló (Gn 13 e 14). Condição satisfeita, Abraão tinha agora cerca de 85 anos (Gn 16.16) quando Deus lhe apareceu numa visão e estabeleceu sua Aliança. Esta Aliança inclui: (i) Renovação da promessa de uma grande nação e que esta se daria a partir de um filho gerado por ele (Gn 15.1-6); (ii) A possessão da terra de Canaã, por herança (Gn 15.7; 18-21; 13.12, 14-18); (iii) Uma vida longa (Gn 15.15). 

Nascimento de Ismael (Gn 16): A proposta de Sara a Abraão para que ele gerasse um filho através da sua serva Hagar resultou no nascimento de Ismael (Gn 16 – Abraão com 86 anos).

Renovação da Aliança (Gn 17): O Senhor apareceu a Abraão, com 99 anos. Esta Renovação da Aliança inclui (Gn 17): (i) A apresentação de Deus a ele como Todo-Poderoso e que requer dele um andar em sua presença e perfeição; (ii) A multiplicação da sua descendência, dando origem a nações e reis; (iii) A mudança do seu nome para Abraão – “pai de uma multidão”, como um sinal de sua promessa de uma descendência numerosa. (iv) A Aliança será perpétua abrangendo sua descendência “para ser o teu Deus e da tua descendência”; (v) O estabelecimento do rito da circuncisão de todo o macho como marca e selo desta Aliança; (vi) A mudança do nome de Sarai para Sara e o anúncio do nascimento de seu filho, em ditosa velhice, dali a 1 ano, e que deveria receber o nome de Isaque. (vii)  O futuro promissor de Ismael, porém fora da Aliança. (viii) A circuncisão de Abraão, Ismael e de todos os homens da sua casa.

Nascimento de Isaque (Gn 21): Apesar da idade avançada de Abraão e Sara, Deus cumpriu sua promessa e Sara deu à luz um filho, Isaque, quando Abraão tinha 100 anos de idade e Sara 90 anos. Isaque foi o filho da promessa e o herdeiro das bênçãos e da Aliança feitas por Deus com Abraão.

Oferecimento de Isaque (Gn 22): Isaque era verdadeiramente muito especial para Abraão. Assim, Deus o submeteu a uma prova extrema para testar se ele o amava mais do que a Isaque. Abraão passou no teste e Deus fez uma extraordinária declaração a seu respeito (Gn 22.12).

Morte de Sara (Gn 23): Sara tinha 90 anos (e Abraão 100 anos) quando seu único filho Isaque nasceu (Gn 21.5), e viveu o total de 127 anos (Gn 23.1).

Morte de Abraão (Gn 25): Abraão viveu 175 anos (Gn 25.7-10) e foi sepultado no mesmo local de Sara. Além de ter gerado o filho Ismael, com a serva egípcia Hagar (Gn 16.1-16 – com 86 anos), após a morte de Sara desposou Quetura com quem teve outros seis filhos (Gn 25.1-2).  

O casal Abraão e Sara enfrentou grandes desafios. O que podemos aprender com a experiência deles? 

2. O DESAFIO DA OBEDIÊNCIA

Abraão e Sara passaram por vários desafios de obediência a Deus e ao seu chamado ao longo de suas vidas, incluindo:

  1. Deixar sua terra e parentela para ir para uma terra longínqua e desconhecida (Gn 12.1-9).
  2. Separar-se de seu sobrinho Ló, cedendo a ele o direito de escolha da terra onde morar, obtendo a aprovação de Deus (Gn 13).
  3. Crendo, oferecendo sacrifício e fazendo uma Aliança com o Senhor (Gn 15).
  4. Circuncidando-se e a todos os homens da sua casa, selando sua Aliança com Deus (Gn 17).
  5. Oferecendo Isaque em holocausto ao Senhor (Gn 22).
  6. Zelando por buscar para seu filho Isaque um casamento que pudesse manter os termos da Aliança com o Senhor, não se misturando com outros povos (Gn 24).

“Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito.” (Gn 18.19)

O texto bíblico acima deixa claro que Abraão (e Sara) foi um escolhido de Deus. Sua vida foi marcada por várias manifestações diretas do Senhor a ele (Gn 12.1, 7; 13.14; 15.1; 17.1; 18.1, 13, 17, 26; 22.1) e ele respondeu com obediência, conforme itens acima listados. A muitas dessas manifestações divinas ele também respondia edificando um altar e invocando o nome do Senhor (Gn 12.7, 8; 13.4, 18).

O primeiro casal, Adão e Eva, falhou em obedecer a Deus e sofreu as consequências disso, bem como a terra e seus habitantes. Noé obedeceu, salvou sua família, e Deus deu uma nova oportunidade a humanidade.  Fica aqui o exemplo de Abraão e Sara que, mesmo nas demandas divinas mais difíceis que receberam, foram obedientes e nos legaram muitas bênçãos. Na Nova Aliança, o cristão tem a exposição clara da vontade de Deus na sua Palavra. Assim ele é cotidianamente desafiado a obedecer ao chamado divino para viver de acordo com os princípios, valores e ensinamentos da fé cristã.  

3. O DESAFIO DA SOBREVIVÊNCIA

As jornadas de Abraão não foram poucas: Ur – Harã – Siquém – Betel – Egito – Betel – Hebrom – Damasco – Hebrom – Gerar – Berseba – Moriá – Berseba – Hebrom – Berseba – Hebrom. Não se pode dizer que a situação do casal era precária quando migraram de Harã para Canaã, pois levaram todos os bens que haviam adquirido (Gn 12.5), o que lhes garantia suprimento alimentar por algum tempo. Entretanto, não é difícil imaginar os desafios que passaram nas viagens e nos lugares em que se estabeleceram por algum tempo. Desafios na obtenção de alimento, água, abrigo, proteção dos ataques de homens maus e animais selvagens.

Dentre os desafios de sobrevivência, destacamos dois:

a) Fome e descida ao Egito (Gn 12.10-20)

Logo no início das suas peregrinações em Canaã, a escassez e a fome os levou para o Egito. Na visão de Abraão, o desafio da sua sobrevivência ali era ainda maior por conta da formosa aparência de Sara. Supostamente eles o matariam e levariam Sara para o harém de Faraó. Então combinaram de dizer que Sara era sua irmã (meia verdade). Eles a tomaram, Deus puniu a Faraó, tudo foi esclarecido e eles liberados.

b) Sara e Abimeleque (Gn 20.1-18)

O mesmo incidente ocorrido no Egito repete-se aqui com o rei Abimeleque. Ele  tomou Sara, a “irmã” de Abraão. Então, Deus o advertiu em sonho, tudo foi esclarecido, ela liberada e bens lhes foram dados como uma espécie de pagamento por “danos morais”. De alguma forma, Deus usou circunstâncias tão adversas como esta para suprir Abraão de bens.

Essa atitude ou estratégia de sobrevivência de Abraão é intrigante e questionável, também suscita questões éticas por colocar Sara em risco de ser submetida a situações vexatórias e desonrosas. Será que não lhe faltou fé na proteção divina, tendo ele recebido a promessa de numerosa descendência? No entanto, a Bíblia não apresenta uma condenação direta da conduta de Abraão nesses dois casos. De qualquer forma, é evidente que Deus protegeu Sara de qualquer mal e usou essas situações para demonstrar sua providência e soberania.

A história de Abraão e Sara, apesar de seus defeitos e fraquezas humanas, continua sendo vista como um exemplo da fidelidade e do cuidado de Deus para com o seu povo. Abraão se importava com os outros e até se mobilizou para lutar contra os reis que haviam se apossado de Ló e o resgatou (Gn 14.1-17). Na sequência, ao se encontrar e ser abençoado por Melquisedeque, rei de Salém, seu coração generoso o levou a entregar-lhe o dízimo, o que é mencionado na Bíblia pela primeira vez.

O cristão pode aprender aqui que, apesar do seu chamado para seguir a Cristo, ele está sujeito a enfrentar desafios e não deve ficar esperando que tudo o que precisa para sua sobrevivência cairá do céu, como o maná e as codornizes no deserto do êxodo de Israel. Ele precisa se esforçar e trabalhar para obter o necessário à sua sobrevivência e da sua família, sabendo poder contar com a presença e proteção divinas em todo o tempo.

4. O DESAFIO DA FÉ

O desafio da fé as vezes envolve lidar com promessas divinas humanamente improváveis ou impossíveis de serem cumpridas. Entretanto, é preciso crer, confiar e esperar pelo tempo de Deus (kairós). Abraão e Sara são considerados exemplos de fé na tradição judaico-cristã. A epístola aos Hebreus destaca a fé de Abraão e Sara como exemplo para os crentes. Eles são mencionada na galeria dos heróis da fé, em Hebreus 11.8-12, 17. O texto destaca a fé do patriarca ao obedecer ao seu chamado, partindo e peregrinando na terra que herdaria. E, mais, quando posto à prova ofereceu Isaque. Também destaca a fé de Sara que receber o poder de ser mãe, apesar da sua idade avançada.

Abraão é uma figura central no Judaísmo e no Cristianismo. Ele também é amplamente venerado e respeitado pelos árabes e muçulmanos como um profeta e patriarca importante em sua tradição religiosa. Para os cristãos, Abraão é considerado o pai da fé (Gl 3.7). O apóstolo Paulo argumenta enfaticamente que a fé de Abraão era independente: (i) das obras (Rm 4.1-8); (ii) da circuncisão (Rm 4.9-12); (iii) da lei (Rm 4.13-15).

Sua fé estava firmada em Deus (Rm 4.16-25), e tinha as seguintes características: (i)“Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações,” (Rm 4.18); (ii) sem enfraquecer (Rm 4.19);  (iii) sem duvidar (Rm 4.20); (iv) se fortalecendo e glorificando (Rm 4.20); e, (v) estando plenamente convicto (Rm 4.21).

O momento crucial de prova da fé do casal (Gn 16) aconteceu logo após a Aliança de Deus com Abraão (Gn 15). Abraão estava com 85 anos e Sara com 75 anos. Dez anos haviam passado desde o recebimento da promessa que uma grande nação procederia de alguém gerado por ele. O casal estava envelhecendo, Sara continuava estéril e nada sinalizava a concretização da promessa. É neste contexto de pressão, estresse e ansiedade que Sara resolve agir e propor uma solução. É preciso analisar a situação no contexto daquela época. Mesmo que o problema da não geração de filhos pudesse estar em Abraão, a cobrança recaía sobre a mulher (esposa) e era motivo de vergonha e humilhação para ela.  

“disse Sarai a Abrão: Eis que o SENHOR me tem impedido de dar à luz filhos; toma, pois, a minha serva, e assim me edificarei com filhos por meio dela. E Abrão anuiu ao conselho de Sarai.” (Gn 16.2)

Não há que se buscar encontrar um culpado para o ocorrido. Curiosamente, repete-se aqui o que aconteceu com o primeiro casal, no Éden, quando Eva oferece a Adão o fruto proibido. Percebe-se no início da fala de Sara um certo tom de acusação e tentativa de transferência de culpa, para Deus, por sua esterilidade e consequente bloqueio do cumprimento da promessa. Apesar da sua proposta ou sugestão, quanto ao oferecimento de Hagar, estar de acordo com os costumes da época, o fato é que ela se atreveu a assumir as rédeas da história. Será que ela se equivocou na interpretação de Gênesis 15.4b, isto é, que o descendente de Abraão seria alguém gerado por ele, mas não necessariamente por ela? O fato é que Abraão concordou, tornando-se cúmplice da esposa (da mesma forma que Adão, de Eva, no passado) e executou o plano de Sara que teve desdobramentos inimagináveis na história.

De acordo com a tradição islâmica, Ismael é considerado o ancestral dos árabes. O conflito entre árabes e judeus é histórico, talvez com origem na rivalidade de Isaque e Ismael, ambos filhos de Abraão, mas apenas Isaque é o filho da promessa. A tradição islâmica inclui a crença de que Maomé, o profeta fundador do Islã, foi descendente de Ismael. Já o Cristianismo procede dos judeus, desde Abraão e seu filho Isaque, sendo Jesus Cristo o seu fundador e Mestre, acima de tudo, o Filho de Deus.

A lição que extraímos deste episódio é que a ansiedade e a precipitação podem nos levar a tomar decisões equivocadas, capazes de produzir consequências desastrosas, que têm o potencial de afetar nossa família, outras famílias, por muitas gerações. A fé em Cristo desempenha um papel essencial na orientação da família, bem como ajuda no enfrentamento das adversidades e desafios do cotidiano, pois ela não nos isenta deles.

“Como cristãos, somos desafiados a viver uma vida de total confiança na soberania e providência de Deus, livrando-nos da ansiedade que tanto perturba (Lc 12.22; Fp 4.6,7; 1Pe 5.7). Deus tem seus métodos e a hora certa de agir. Esperemos por ele!”  

Conclusão

O casal Abraão e Sara receberam a missão de serem canais de bênção para todas as famílias da terra. A história deles é parte relevante da história de toda a humanidade.  Através deles surge o povo de Deus – Israel – que nos trouxe Jesus Cristo, o novo Adão, que foi enviado por Deus para resgatar a raça humana caída.

Eles foram obedientes ao chamado, passaram por vários testes e provações ao longo de suas vidas, e mantiveram a fé. Enfrentaram muitos desafios, não foram perfeitos, pois eram humanos, mas foram usados por Deus. São lembrados e admirados por seu papel na história da fé e uma parte essencial da narrativa da salvação na tradição judaico-cristã.

Todo cristão recebe de Deus dois chamados: VINDE (a mim) e o IDE (por todo o mundo e fazei discípulos). Temos diante de nós os desafios: de obedecer a Deus em toda e qualquer situação; de sobreviver num mundo caído tão hostil e rebelde a Deus e a sua vontade; de manter a fé nas promessas do Senhor para o tempo presente, o aqui e agora, bem como para as promessas no futuro, no lá e então, no além-túmulo, na eternidade.  

Que Deus nos ajude!

Bibliografia

1. Bíblia Sagrada (SBB – Versão Revista e Atualizada).
2. Bíblia Online – SBB.
3. Revista CRESCENDO JUNTOS (Ed. Didaquê).
4. Davis, John D. – Dicionário da Bíblia (JUERP).
5. Internet / ChatGPT.


[1] O Pentateuco Samaritano

DEZ DICAS…

… PARA A BOA CONVIVÊNCIA FAMILIAR E SOCIAL.

1ª) INDEPENDÊNCIA GEOGRÁFICAa) Ter o seu próprio lugar para morar e viver, distante da casa dos pais dele ou dela.
2ª) INDEPENDÊNCIA FINANCEIRAa) Manter a família com os recursos próprios do casal e não dos pais ou familiares.
3ª) INDEPENDÊNCIA EMOCIONALa) Tratar sempre dos assuntos e dificuldades conjugais e familiares, um com o outro e não com pais, familiares e amigos.
4ª) FIDELIDADEa) Guardar-se exclusivamente para o seu cônjuge.
b) Cuidar da aparência e do vestuário com o fim de agradar ao seu cônjuge antes de qualquer outra pessoa.
5ª) RESPEITOa) Às diferenças – Homens e Mulheres são diferentes e precisam conhecer bem essas diferenças e respeitá-las. Além disso, cada membro da família é único e precisa ser aceito como é, o que não o isenta de buscar o seu aperfeiçoamento.
b) Às limitações – Pessoas são imperfeitas e não gostam de ver suas fraquezas ridicularizadas em família ou em público.
c) À posição – Cada membro da família tem um papel a desempenhar no contexto familiar.
d) À intimidade – As situações vividas em família são privativas de quem as vivenciou. Nenhum membro da família tem o direito de divulgar essas vivências sem o consentimento dos envolvidos.
e) Aos deveres – É preciso cumprir com dedicação suas responsabilidades, dividindo as tarefas.
6ª) ATENÇÃOa) Perceber e suprir carências.
b) Perceber e elogiar virtudes.
c) Valorizar o outro.
7ª) COMUNICAÇÃOa) Conversar frequentemente.
b) Expressar-se claramente (na hora certa, no lugar certo, com a entonação certa, com as palavras certas).
c) Saber ouvir (ouvir com o corpo inteiro; ouvir o que está por trás das palavras).
d) Evitar citações (referências elogiosas)  constantes de determinada pessoa e suas opiniões ou maneira de ser!! A pessoa citada pode ser percebida pelo cônjuge ou filho(a) como rival/competidor/etc., ou, ainda, como alguém que está exercendo influência demais sobre você.
8ª) SINCERIDADEa) Falar sempre a verdade, com amor.
Lembre-se das três peneiras de Sócrates.
O que tens a dizer:
É verdade? (VERDADE)
– É necessário? (BONDADE)
– Vai edificar? (UTILIDADE)
b) Nunca tramar às escondidas.
9ª) CRIATIVIDADEa) Quebrar constantemente a rotina conjugal e familiar.
b) Surpreender positivamente.
10ª) PRIORIDADEDEUS antes e acima de tudo, inclusive da minha própria vida!
O próximo como a mim mesmo!  


PESSOAS antes de coisas!  “Use coisas e ame as pessoas.”
COISAS Espirituais antes das coisas Materiais!  

FAMÍLIA depois de Deus!
Família antes da igreja, da profissão, do lazer, ou de outra ocupação!  


CÔNJUGE antes de mim mesmo e dos filhos!
FILHOS antes dos outros parentes e dos amigos!  


Interesse COLETIVO antes do interesse particular!
A preservação do MEIO AMBIENTE antes dos projetos humanos!

Olhos abertos, Joelhos dobrados

Texto base: Gênesis 2.24

Introdução          

O título proposto para este estudo e sua vinculação ao casamento nos desafia a pensar em várias e interessantes situações e aplicações. Podemos dizer, sem correr o risco de nos afastarmos de uma boa interpretação ou visão da realidade que “abrir os olhos” nos remete a uma dimensão humana e material/natural, enquanto “joelhos dobrados” a uma dimensão divina e espiritual/sobrenatural. Para entrar e se manter num relacionamento amoroso, seja de namoro ou de casamento, há que se apropriar ou buscar recursos em ambas as dimensões.

Não são poucos os casos de desilusões e de decepções que acontecem nos namoros e casamentos, deixando um rastro de tristeza e amargura. Relacionamento conjugal é coisa séria e requer atenção, cuidado e prevenção. É preciso avaliar com cuidado se é a pessoa certa para se namorar ou se casar. É preciso avaliar o grau de compromisso, sinceridade e fidelidade que o(a) outro(a) tem com Deus e está disposto(a) a estabelecer com você. É preciso que ambos entendam a importância de uma relação sadia, duradoura e abençoada por Deus!

Neste estudo continuaremos a tratar daqueles aspectos que favorecem uma melhor compreensão do que significa: uma vida a dois, o deixar a família e se unir ao seu cônjuge; a boa tomada de decisão na escolha do cônjuge; o alinhamento de propósitos de vida e o ajuste de expectativas; a presença e participação efetiva de Deus na família; a melhor forma de lidar com as divergências e os conflitos; a importância de viver os valores e princípios cristãos.

1. DEIXAR E UNIR-SE

“Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.” (Gn 2.24)

1.1 Deixar

“Por isso, deixa o homem pai e mãe….”

O casamento requer uma separação efetiva e renúncia, de cada cônjuge  da sua família original. É preciso cortar o “cordão umbilical” que nos liga à “placenta familiar” para, então,  permitir a formação de uma nova “placenta familiar”, uma nova família. E isso se dá em pelo menos três dimensões:

a) Geográfica

Ao se casar, não viva com seus pais, não more com seus sogros!

Você conhece aquela máxima popular: “Feliz foi Adão, que não teve sogra”. É isso aí…

A primeira dimensão – geográfica – diz respeito à mudança de endereço. Pode parecer irrelevante, porém é fundamental para se evitar a interferência da família original, na nova família em formação. Se economicamente isso não for viável, tenha consciência, pelo menos, do risco de complicações em seu casamento.

b) Financeira

Ao se casar, não dependa financeiramente do seu pai ou sogro ou de qualquer outro parente.

A segunda dimensão – financeira – diz respeito à independência econômica do casal. Quem sustenta tem o direito de opinar e pode chegar a interferir!

c) Emocional

Ao se casar, nunca compare a comida da sua esposa com a da sua mãe, tia, avó. Não vá procurar tratar suas carências emocionais com pai, mãe, amigos. Faça isso diretamente com seu cônjuge.

A terceira dimensão – emocional – diz respeito à independência emocional do casal. O casal precisa exercitar e amadurecer uma santa cumplicidade no trato de suas questões emocionais.

1.2 Unir-se

“… e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.”
“De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.” (Mt 19.6)

É interessante conferir o significado da palavra Unir (Casar), no hebraico e no grego, para entender o significado do casamento:

DAVAK (hebraico – AT), tem o sentido de FENDER, COBRIR (coito) (Gn 2.24).

PROSKOLLAU (grego – NT), tem o sentido de COLAR, ADERIR (Mt 19.5; Ef 5.31).

Há casamento civil, como satisfação à Sociedade. Há casamento religioso, para buscar as bênçãos de Deus. Há também o casamento na cama. É no ato sexual que efetivamente se dá a consumação do casamento, do DAVAK. Cada vez que o ato sexual se repete, o casal está celebrando essa união. Mas é no primeiro ato, onde se dá a perda da virgindade, com provável sangramento, que fica claramente simbolizado o Pacto ou Aliança de Sangue. Isso é o “normal”, embora não seja “comum”. Falar em virgindade hoje em dia é caretice, machismo, dominação da mulher etc. Entretanto, na Bíblia representa virtude, pureza e beleza. Na cultura judaica, o homem que descobrisse que a moça com quem se casou não era virgem, poderia entregá-la para ser apedrejada, à porta da casa do pai dela (Dt 22.21).

O ato sexual simboliza bem o tornar-se uma só carne. Há muito mais neste símbolo do que o aspecto físico ou sexual. Deve haver uma verdadeira colagem ou adesão, de propósitos, de interesses, enfim, de vidas. São como duas folhas de papel, coladas, que, quando se tenta descolar, se rasgam. Unir-se significa compartilhar a vida, os bons e maus momentos; caminhar na mesma direção motivados por um grande amor; perseguindo propósitos compartilhados por ambos.  

2. OLHOS ABERTOS

Há um sentido figurado na expressão “olhos abertos’, ou seja, de ficar atento, vigilante; de observar algo cuidadosamente, sem se distrair; de manter plena consciência da situação. Esta expressão vem desde o Jardim do Eden, quando a serpente disse à Eva: “…. É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.” (Gn 3.4b-5). E, com a queda, isso aconteceu; foi-se a inocência e veio a consciência: “Então, disse o SENHOR Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; …” (Gn 3.22a). E, esse discernimento, entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, entre o que é melhor ou pior,  entre o que é mais ou menos importante, é extremamente necessário em todas as situações e decisões da vida, principalmente em se tratando de namoro e casamento!  

 É preciso manter os olhos bem abertos:

2.1 Para o que é mais importante

O que é mais importante? Jesus Cristo e os princípios bíblicos, ou o cônjuge e um casamento de qualquer jeito?

O verdadeiro e autêntico cristão:

  • Se submete ao senhorio de Cristo e à sua vontade em primeiro lugar.
  • Há de priorizar sua fé e valores em vez de se submeter a um relacionamento que tem tudo para dar errado.
  • Procura evitar o “jugo desigual” ou “casamento misto” porque conhece a orientação bíblica (2Co 6.14-16) e, porque percebe o alto risco de conflitos e as consequências da sua escolha que se estenderão pelo restante da sua vida.
  • Tem sua vida dirigida pelo Espírito Santo, e luta para não ser dominado por paixões loucas.
  • Procura renunciar seus apetites carnais, por amor a Cristo.
  • Vive a alegria de sua união com Cristo o que lhe poupa muitos sofrimentos e dor de más escolhas e decisões inconsequentes.   

2.2 Para o que fazer

O que as pessoas pensam do casamento e de como vivenciá-lo, na prática?

O tempo de namoro e noivado é muito propício para discutir algumas questões:

  • Que recursos financeiros têm e como vão administrá-los?
  • Onde vão morar e qual igreja vão frequentar?
  • Pretendem ter filhos? Quantos?
  • Como vão conciliar a carreira profissional com a vida familiar?
  • Como vão criar e educar os filhos?
  • Como vão lidar com a interferência dos pais, parentes e amigos na vida familiar?

Essas são apenas algumas, dentre as muitas questões a serem conversadas. É claro que um casal não conseguirá antecipar e debater todas as questões que envolverão o seu futuro casamento, entretanto, a predisposição demonstrada para a conciliação de objetivos já servirá de sinalização muito positiva.

3. JOELHOS DOBRADOS

“Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai,” (Ef 3.14)

“Joelhos dobrados” é uma expressão que nos remete à uma dimensão espiritual, particularmente à oração e à presença de Deus, no casamento.

Muitos são os itens e providências necessárias que envolvem a celebração civil e religiosa do casamento, a festa, a lua de mel, a nova moradia do casal etc. Entretanto, é preciso, acima de tudo, não descuidar de alguns aspectos essenciais que envolvem o preparo espiritual de cada cônjuge que deve começar muito antes da data do casamento.

Para que muitos casamentos não sucumbam devido a um mau começo ou por conta da pressão das dificuldades ou do desgaste do tempo, vale dobrar os joelhos diante de Deus e diante da sua Palavra. É preciso investir espiritualmente, vigiar e orar, para que a “viagem do casamento” transcorra de forma segura, tranquila, prazerosa e bem-sucedida!  

É preciso nos dobrarmos:

3.1 Para obedecer a Palavra de Deus

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2Tm 3.16-17)

O casal pode e deve se preparar para o namoro e casamento buscando a orientação bíblica sobre vários assuntos e áreas da vida, tais como:

  • O papel do homem e da mulher no casamento, bem como, dos filhos, na família (Ef 5.22–6.4; 1Co 11.3; 1Pe 3.1-7).
  • A relação sexual no casamento (1Co 7.3-6).
  • Casamento e Divórcio (1Co 7.10-16; Mt 19.6; Ml 2.15-16).
  • Pureza e fidelidade no casamento (Hb 13.4).
  • Viuvez e novo casamento (1Co 7.39-40).

Além destes textos mais específicos sobre o casamento e família há muitos outros, inclusive no Livro de Provérbios. Além destes, a Bíblia está repleta de textos e ensinamentos práticos para uma boa formação moral e espiritual, que preparam os seguidores de Jesus para uma vida diferenciada, na família e na sociedade.

3.2 Para a tomada de decisão

A nossa vida é composta e é resultado de escolhas e decisões; algumas, tomadas por outros e a maioria, por nós mesmos. Essas escolhas e decisões precisam ser tomadas com os olhos bem abertos e com os joelhos dobrados. Acrescenta-se a isso a importância do elemento “tempo”.  Vale ressaltar que “não tomar uma decisão” já é uma decisão, e que não é possível se eximir de tomar decisões.

A escolha da pessoa e tomada de decisão pelo namoro já precisa ser feita com muita consciência e responsabilidade, pois namoro não é brincadeira ou diversão, não é algo tão trivial assim, pelo menos na perspectiva bíblica. Quando se inicia um namoro já se deve ter em mente a intenção futura do casamento. Infelizmente, até no meio cristão, se banalizou o namoro de tal maneira que, em alguns casos, o turnover ou rotatividade de parceiros chega a impressionar. O namoro não é um mero tempo ou passatempo de “degustação” ou de aproveitamento ou de test drive da intimidade própria do casamento. Deve ser considerado como um tempo para se conversar muito e conhecer melhor o outro, a ponto de se sentir seguro(a) para tomar a decisão de interromper o relacionamento amoroso ou seguir adiante para o noivado. O que não soa muito bem é namorar alguém por vários anos e, de repente, interromper o namoro, encontrar outra pessoa, namorar uns poucos meses e se casar. Fica no ar aquela impressão de que alguém estava apenas se aproveitando e iludindo o outro.

Embora o noivado seja um tempo em que se possa decidir pela descontinuidade do relacionamento amoroso, o ideal é que isto aconteça antes, no período de namoro. Noivado já é considerado um tempo que deve trazer certa segurança, confiança e certeza de que ambos estão conscientes, prontos e desejosos de avançar de fase, já tomando algumas providências para o casamento. É claro que noivado não é uma decisão irreversível. Assim sendo, quando for o caso, é melhor interromper o noivado do que partir para um casamento que tem tudo para dar errado. Muitos casais poderiam evitar o sofrimento e o constrangimento, de um noivado desfeito, se ponderassem melhor sobre os aspectos que temos tratado neste estudo.

3.3 Para lidar com conflitos e adversidades

Nenhum casal, cristão ou não cristão, está isento de problemas e adversidades, externos à família, mas, também, de conflitos conjugais e familiares, contrariedades, desentendimentos, decepções e frustrações.  

Muitos conflitos conjugais e familiares poderão ser evitados ou minimizados se o casal estiver vivendo na dependência do Senhor e andando segundo a Palavra de Deus. Da mesma forma, um casamento e uma família edificados sobre a rocha, sobre o firme fundamento de Cristo e sua Palavra, estará mais preparado para suportar e resistir às adversidades da vida. Disse Jesus: “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha;  e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha.” (Mt 7.24-25)

 3.4 Para consolidarem a união

“Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho.   Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade.” (Ec 4.9-12)

É em atitude de humildade e dependência que o casal irá buscar forças em Deus, através da oração, para:

  • Lutarem juntos contra as ameaças ao casamento, em vez de lutarem um contra o outro, defendendo seus pontos de vista e interesses pessoais.
  • Buscarem a aproximação, um do outro, ajudando e protegendo o cônjuge em suas limitações e fraquezas, em vez de acusá-lo e expô-lo publicamente, denegrindo sua imagem (Gn 3.12).
  • Redefinir seus relacionamentos mais próximos, elegendo seu cônjuge como seu melhor amigo e confidente.
  • Aprimorar seu relacionamento com Deus, cada qual zelando pela vida espiritual do outro, pelo seu crescimento na fé (1Pe 3.3-11).   

Conclusão

Antes do casamento se realizar é preciso que o casal compreenda e leve a sério o significado do “deixar” e do “unir-se”. E, para o bem do casamento, quando este se efetivar, cumprir essa orientação bíblica associada à instituição divina do casamento. Às vezes, não se leva muito a sério os conselhos quanto à preparação para o casamento, que envolve muito mais do que documentos, cerimônia, vestimentas, festa, convidados, moradia etc. Percebe-se um certo descuido quanto a esses conselhos e à orientação bíblica sobre o assunto, quanto à pessoa com quem nos casaremos e, por outro lado, grande atenção a aspectos que embora importantes e necessários, não são essenciais e são transitórios. Isso tende a se agravar devido à maior aceitação da sociedade e até mesmo das igrejas evangélicas quanto ao divórcio: “– Ah, se não der certo, nos divorciamos e partimos para outro casamento”.  E a família? E os filhos? E as sequelas materiais e emocionais? Como ficam?

Por falar em olhos abertos, a mente bem atenta e vigilante quanto aos aspectos que envolvem o casamento, vale lembrar que isso não deve ocorrer no estilo de Balaão. Balaão se considerava um homem de “olhos abertos” (Nm 24.3, 4, 15). “Então, proferiu a sua palavra e disse: Palavra de Balaão, filho de Beor, palavra do homem de olhos abertos, palavra daquele que ouve os ditos de Deus e sabe a ciência do Altíssimo; daquele que tem a visão do Todo-Poderoso e prostra-se, porém, de olhos abertos:” (Nm 24.15-16). Apesar de sua autopercepção e autoestima tão elevados, apesar do seu conhecimento sobre Deus, apesar de se prostrar diante de Deus, conforme o registro bíblico acima, na verdade ele errou feio. No tempo da igreja primitiva, suas estratégias malignas foram mencionadas por Judas e pelos apóstolos Pedro e João, para servir de alerta contra os falsos mestres ou líderes que seguiam pelo “caminho de Balaão” (2Pe 2.15) ou se precipitaram no “erro de Balaão” (Jd 11) ou sustentavam a “doutrina de Balaão” (Ap 2.14).  Que haja coerência entre o que cremos e o que vivemos!

No altar fazemos promessas, empenhamos nossa palavra e assumimos compromissos de amor e companheirismo, na presença de Deus e de muitas testemunhas, que deverão ser cumpridos pelo restante de nossas vidas! Assim sendo, precisamos fazer uma aliança com os nossos olhos de modo que agora, casados, tenhamos o compromisso de fixá-los no nosso cônjuge e, mantê-los bem fechados para as tentações que se apresentarem, para outras opções ou alternativas ilícitas: “Fiz aliança com meus olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela?” (Jó 31.1).

“Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações.” (1Pe 3.7)

Finalmente, o amor a Cristo e a submissão à sua vontade deve prevalecer em toda e qualquer situação, principalmente em se tratando do namoro, noivado e casamento. A pressão de familiares e amigos não deve prevalecer e nos levar a tomar decisões equivocadas, não alinhadas com a vontade de Deus e com a sua Palavra, acarretando sofrimento e dor. Para isso, precisamos manter os nossos joelhos dobrados, em oração e em submissão a Deus.

Que Deus nos ajude!

Bibliografia
1. Bíblia Sagrada (SBB – Versão Revista e Atualizada).
2. Bíblia Online – SBB.
3. Revista Nossa Fé – Falsas expectativas no casamento (Ed. Cultura Cristã).
4. Internet.

Os opostos se atraem?

“Os opostos se atraem”. Quem nunca ouviu essa expressão? É uma máxima bem antiga, provavelmente derivada de uma lei da física (eletromagnetismo) do final do Século 18 – A lei de Coulomb[1].  Quem nunca comprovou essa lei manipulando imãs ou fazendo aquela experiência esfregando uma caneta no cabelo e depois atraindo pedacinhos de papel. Realmente, na física, cargas opostas se atraem!

Será que esta crença, tão enraizada na cultura popular, funciona também para o relacionamento homem x mulher? Os opostos se atraem? A complexidade do ser humano não nos permite dar aqui uma resposta simples e direta sobre o assunto. Além disso, é preciso deixar mais claro esses “opostos”.

De forma poética, o autor assim sublinha as diferenças entre esses “opostos”:

O Homem e a Mulher

O homem é a mais elevada das criaturas;
A mulher o mais sublime dos ideais.

Deus fez para o homem um trono,
para a mulher um altar.
O trono exalta, o altar santifica.

O homem é o cérebro, a mulher o coração.
O cérebro produz a luz; o coração produz o AMOR.
A luz fecunda, o amor ressuscita.

O homem é gênio, a mulher anjo.
O gênio é imensurável e o anjo é indefinível.

A aspiração do homem é a suprema glória,
a aspiração da mulher a virtude extrema.
A glória produz grandeza, a virtude produz divindade.

O homem tem a supremacia, a mulher a preferência.
A supremacia representa a força,
a preferência representa o direito.

O homem é forte pela razão;
a mulher é invencível pelas lágrimas.
A razão convence, as lágrimas comovem.

O homem é capaz de todos os heroísmos;
a mulher, de todos os martírios.
O heroísmo enobrece, o martírio sublima.

O homem é o código; a mulher o evangelho.
O código corrige; o evangelho aperfeiçoa.

O homem é um templo; a mulher um sacrário.
Ante o templo descobrimo-nos; ante o sacrário ajoelhamo-nos.

O homem pensa; a mulher sonha.
Pensar é ter um cérebro; sonhar é ter, na fronte, uma auréola.

O homem é um oceano; a mulher é um lago.
O oceano tem a pérola que o embeleza; o lago, a poesia que o deslumbra.

O homem é a águia que voa; a mulher é o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço; cantar é conquistar a alma.

O homem tem um fanal – a consciência;
A mulher uma estrela – a esperança.
O fanal guia, a esperança salva.

Enfim, o homem está colocado onde termina a Terra;
a mulher, onde começa o Céu.                                                                                                                       (Victor Hugo)

Para entender um pouco mais e tirarmos conclusões adequadas e sustentáveis precisaremos nos aprofundar um pouco neste tema. É necessário explorar mais o assunto para entender melhor a realidade das diferenças entre os seres humanos criados por Deus, principalmente sobre as diferenças entre um homem e uma mulher. Será útil descobrir como tirar vantagem dessas diferenças, no casamento. Será proveitoso entender como a centralidade do casal, em Deus, pode minimizar eventuais efeitos negativos dessas diferenças.

1. A REALIDADE DAS DIFERENÇAS

1.1 Um ato soberano do Criador

“Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gn 1.27)

Por mais óbvio que possa parecer é bom lembrar que as diferenças entre homem e mulher são reais e determinadas pela livre e soberana vontade de Deus. Portanto, não se trata de falha de projeto do Criador, ou sentença decorrente da queda dos nossos primeiros pais – Adão e Eva. E, o Soberano Senhor dos Céus e da Terra avaliou como “muito bom” tudo o que fizera (Gn 1.31). Toda a variedade encontrada na criação reflete e manifesta o seu poder e glória.

Quando você olhar para o seu cônjuge, com as lentes do artífice Criador, você contemplará a obra moldada por Deus que determinou, segundo o seu querer, o complexo genótipo e fenótipo desta pessoa. Foi Deus quem moldou suas características individuais: sua altura, cor do cabelo e dos olhos, seu timbre de voz, seus dons naturais e seu temperamento. Portanto, essa pessoa que Deus colocou em sua vida tem as digitais do Criador. É obra das suas poderosas mãos, cedida por ele para te acompanhar na caminhada da vida e perpetuação da espécie humana.

Desde já é importante assimilar e aceitar essas verdades. É igualmente importante aceitar quem você é (autoaceitação) e quem é o outro, particularmente o seu cônjuge. Aceitar o seu cônjuge é ter consciência das suas diferenças, limitações, manias e fraquezas e, mesmo assim, seguir amando, valorizando suas qualidades e seus aspectos positivos. Tenha um coração agradecido pela obra das mãos do Criador!

1.2 A influência do ambiente

O ambiente onde crescemos e nos desenvolvemos exerce forte influência sobre o nosso caráter e personalidade. Um estudo científico feito há algum tempo pela Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, publicado pela revista Veja, foi realizado para responder à questão: “A inteligência e os traços da personalidade são herdados dos pais ou são fruto dos estímulos que o meio ambiente oferece às pessoas?” Eles estudaram 44 pares de gêmeos idênticos (com carga genética 100% igual) que foram separados ainda bebês e criados por casais diferentes, em cidades diferentes e meios econômico-sociais inteiramente díspares. Cada um dos gêmeos pesquisados, quando adulto, respondeu a inúmeras perguntas. A conclusão foi que a inteligência e os traços da personalidade são determinados em 60% pelos caracteres herdados (herança genética), sobrando 40% para o meio ambiente. Outros geneticistas e psicólogos consideraram um exagero este valor de 60% e acharam que é mais aceitável a proporção de 50% e 50%. Assim sendo, fica evidente a importância de influenciar positivamente as pessoas, de ajudá-las na formação desses 50% que sobram das características geneticamente herdadas. Não é sem razão que a Bíblia diz: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele.” (Pv 22.6)

Portanto, nossas diferenças não são apenas genéticas, mas, também, fruto de toda uma trajetória de vida. Trazemos para o casamento uma bagagem intelectual, cultural e familiar, de crenças, valores e vivências que afetam diretamente a nossa forma de pensar, de ser e de nos relacionarmos. Assim sendo, precisamos entender melhor o nosso cônjuge, essa sua “bagagem de vida”, e contribuir para que ele se torne alguém melhor a cada dia, apesar de todos nós carregarmos as sequelas da natureza humana caída. As bagagens de cada cônjuge precisam ser trabalhadas mutuamente, para que cada “eu” se empenhe na construção de um novo “nós”, de uma só carne[2], ainda que as individualidades nunca se extinguirão. É como cada cônjuge abrir sua “mala de solteiro” e transferir para a única “mala de casado” aquilo que os dois concordemente decidirem que será bom e proveitoso para o casamento. E, assim, o casal poderá celebrar as diferenças que enriquecem e contribuem para o bem comum e a oportunidade de construírem juntos uma nova história.

2. VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS DIFERENÇAS

“Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?” (Am 3.3)

Não há como escapar da realidade das diferenças entre as pessoas e, principalmente da diferença biológica entre os sexos – masculino e feminino. Por mais que o sistema mundano e progressista se empenhe, cotidianamente, em empurrar goela abaixo uma narrativa de identidade de gênero, homem e mulher são diferentes.

2.1 Vantagens das diferenças

Será que duas pessoas, com perfil ou personalidade altamente dominante, vão conseguir viver bem juntas? Talvez, não. Neste caso, os opostos se atraem. Se lembram do ditado popular, “dois bicudos não se beijam”?

Dizem os especialistas que as mulheres são atraídas pela personalidade masculina e estimuladas pelo toque, carícia e palavras românticas. Por outro lado, os homens são atraídos e estimulados pela visão e imaginação. Deus os fez com estas características e ponto final! Neste sentido, sendo homem e mulher diferentes, na forma física e jeito de ser, é natural que se diga que “os opostos se atraem”. Deus os fez assim para que se atraíssem, se casassem, coabitassem, gerassem filhos e vivessem em família. A atração e o amor que os conduziram a uma vida a dois devem ser preservados e renovados, cotidianamente.  Por mais óbvio que isso seja ou possa parecer, em dias tão sombrios como os que estamos vivendo hoje é preciso dizer e repetir isso.

2.2 Desvantagens das diferenças

Será que um “engenheiro perfeccionista” e uma “artista largadona” vão conseguir viver bem juntos? Talvez, não. Neste caso, os opostos não se atraem.

No início da relação o diferente atrai, encanta, excita, seduz, quebra a monotonia, pode enriquecedor pois abre nossas mentes para o novo. Viver com uma pessoa diferente pode trazer todas essas possibilidades e até nos ajudar na relação, porém, por quanto tempo? E quando as discussões de divergências, os desentendimentos e as brigas passam a fazer parte da rotina diária do casal? Como fica o encanto pelo diferente?

Ter pequenas divergências, até porque as pessoas são diferentes, é natural. Um é mais caseiro, introvertido e introspectivo, gosta de silêncio, gosta de atividades intelectuais (ler, estudar, pesquisar, assistir documentários); já o outro cônjuge é extrovertido e expansivo, não quer parar em casa, gosta de shows, de esportes ao ar livre, de conversar muito, de atividades físicas. Certamente esse é um tipo de relacionamento desafiador. Será preciso fazer os ajustes na rotina do casal. Não é fácil conviver com uma pessoa diferente de você, principalmente quando um, ou os dois, não estão muito dispostos a ceder. É possível conviver com as diferenças quando há amor, respeito à individualidade do outro e muita disposição. O grande problema é quando o amor-próprio e egocentrismo domina; então, as diferenças se agigantam ou formam um abismo e se transformam em incompatibilidades. Assim, os dispostos se ajustam; e os opostos se separam, contrariando o projeto de Deus para a família.

Em se tratando de relacionamento entre pessoas muito diferentes, antagônicas, que vêm o mundo sob perspectivas completamente diferentes, com princípios e valores divergentes, com estilos de vida e opiniões que não se encaixam, a probabilidade de sucesso, de duração dessa união, se torna muito baixa.  A paixão inicial pode até acontecer, porém, com o passar do tempo o relacionamento não se sustenta.

Relacionamento é algo complexo, porém não pode se transformar numa batalha sem fim, o que se pode chamar de relacionamento tóxico. Isso acontece com o passar do tempo, quando a paixão naturalmente diminui e deveria ser compensada pelo aumento do amor, da cumplicidade, da compreensão. Entretanto, o que ocorre é que as diferenças sobem ainda mais de patamar, acirram os ânimos, reduzem a paciência e a tolerância, geram irritação na lida diária, principalmente porque o outro não muda, não aceita ser do jeito que eu quero que ele seja.

3. VIVENDO BEM COM AS DIFERENÇAS

“Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos.” (Fp 3.16)

Muitas publicações defendem a ideia de que os opostos só se atraem nessa teoria da física, porque na ciência do amor, nos relacionamentos conjugais, a realidade é bem diferente. Inclusive, o argumento de que o amor supera tudo, é questionável. Outros defendem a tese de que os opostos se atraem apenas por pouco tempo. E, dizem mais, que “contos de fadas, ficção científica e diferenças nos relacionamentos, só servem para roteiros de filmes”. Diante desse panorama nada animador, resta sempre uma esperança, sempre há algo a entender e a se colocar em prática.

3.1 Unidade, sim! Uniformidade, não!

“completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento.” (Fp 2.2)

Não se deve confundir “unidade” com “uniformidade”. Se Deus criou as pessoas com diferenças, cada qual com sua individualidade, de tal forma que cada ser humano é único, é preciso compreender bem isso e aprender a viver com o diferente e não se opor ao outro ou tentar fazê-lo ser igual a você, o seu clone. Como igreja, somos chamados a viver em unidade (Jo 17.23), na unidade do Espírito (Ef 4.3) e na unidade da fé (Ef 4.13). Isso porque somos um só corpo, do qual Cristo é a cabeça (Ef 4.4-6). Não há qualquer ensino bíblico para que, como membros da igreja, tenhamos uniformidade, no sentido de termos uma só forma. Semelhantemente, no casamento, homem e mulher se tornam uma só carne (Gn 2.24; Mt 19.5-6; Mc 10.8; 1Co 6.16; Ef 5.31), portanto, devem buscar a unidade e não a uniformidade. É preciso respeitar as diferenças em vez de colocar-se no lugar do Criador e tentar “recriar seu cônjuge à sua imagem e gosto”. Em ambos os casos, igreja e casamento, o que se busca é a unidade, na diversidade. Não se trata de forma, mas de conteúdo. Não se trata de apresentação externa igual, mas de buscar a mesma disposição mental, interior.

Parece ser senso comum, resultado de estudos e pesquisas, que pessoas que compartilham interesses, hobbies, crenças e valores básicos, temperamento e outros, tendem a ser mais propensas a se relacionar, quer como amigos, ou como parceiros românticos. E, mais, as pessoas costumam se sentir atraídas ou confiar em quem tem características físicas semelhantes e personalidade parecida.

Enfim, tudo leva a crer que fatores como certas características pessoais, crenças e valores, pontos de vista e interesses compartilhados são determinantes em termos de atrair ou repelir as pessoas, umas das outras. Com o avanço tecnológico, o surgimento e popularização da internet e das redes sociais, o clima social, político e cultural tem se tornado cada vez mais polarizado e acirrado em todo o mundo. Com acesso às redes sociais, as pessoas passaram a se expressar e se expor mais, a se revelarem publicamente, dando ocasião a se tornarem mais conhecidas, inclusive quanto a esses  aspectos acima expostos e com enorme potencial de atrair ou repelir amigos e namorados.

Vale lembrar que aplicativos de encontros virtuais desenvolvem algoritmos e incentivam busca de parceiros parecidos. Além disso, os algoritmos nas plataformas de rede social nos mostram coisas com as quais acham que já concordamos ou temos interesse, a partir das nossas buscas e postagens. “Alguns fatores, como as redes sociais, indicam que está se tornando significativamente mais fácil encontrar um parceiro em ‘bolhas’ formadas por pessoas com a mesma opinião, deixando a teoria de que ‘os opostos se atraem` mais desatualizada do que nunca.” (Jessica Klein)    

Não são os opostos que se atraem, mas as diferenças que se completam! Em sua soberania aprouve a Deus instituir o casamento, com vistas a um relacionamento íntimo de amor, companheirismo, compromisso, santa cumplicidade, amizade, procriação e vida familiar, para o nosso bem e para a sua honra e glória.

O casamento não é uma arena, um espaço de luta para imposição da minha vontade, do meu modo supostamente correto de ver as coisas, de prevalecer e vencer o adversário, o cônjuge. Ao contrário, é uma composição de diferentes, que se completam com os seus dons e talentos, que unem forças e recursos para suportar as angústias do tempo presente, bem como para vencer os pequenos e grandes desafios da vida. 

3.2 Unidade, sim! Conformidade com Cristo, sim!

“Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo,” (Ef 4.13)
“para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus.” (1Pe 4.2)

O grande desafio do cônjuge cristão não é tornar o seu cônjuge igual a si (uniformidade), mas empenhar-se para que os dois consigam reproduzir em sua vida (mente, coração e comportamento) a imagem de Cristo, ser semelhante a ele, ser conforme ele é (conformidade):  “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Rm 8.29)

As figuras acima, do triângulo e da roda da bicicleta, ilustram muito bem a grande verdade de que, à medida que os cônjuges mais se aproximam de Deus, consequentemente, mais se aproximam um do outro. Da mesma forma, a roda/aro da bicicleta ilustra que quanto mais os cristãos se aproximam de Deus, mais estreitam sua comunhão com ele, mais centralizam suas vidas em Deus, consequentemente, também mais se aproximam uns dos outros, estreitam mais sua comunhão com os irmãos na fé.

“Rogo a Evódia e rogo a Síntique pensem concordemente, no Senhor.” (Fp 4.2)

Um aspecto que nos renova a esperança é que Deus não criou seres humanos estáticos ou robotizados. Pessoas normais e mentalmente saudáveis mudam ao longo do tempo, a partir de novos conhecimentos, informações, circunstâncias e situações. Sim, as pessoas flexíveis podem mudar para melhor; infelizmente, as inflexíveis e radicais, nem tanto. Entretanto, o Evangelho é o poder de Deus para a salvação e transformação de todo aquele que crê, de todo aquele que é alcançado pela maravilhosa graça de Deus. Portanto, em Cristo, sempre haverá esperança de mudança de comportamento, de ajuste e de adequação do casal.  

Em Cristo e nos planos de Deus sempre haverá a possibilidade de corrigir o rumo, aparar as arestas, substituir um amor fantasioso e superficial por um amor verdadeiro e profundo, alicerçado em Deus e dependente da sua misericórdia e graça.

Conclusão

O que pode fazer um casamento feliz e harmônico, cheio de amor, unidade e entendimento?

  • A atração irresistível dos opostos; sim, mas nem tanto.
  • Os dois cônjuges serem nominalmente cristãos; sim, mas nem tanto.
  • As similaridades em termos de compartilhamento de interesses, crenças e valores básicos, temperamento etc.; certamente ajudam.

Os aspectos acima mencionados têm sim o seu valor. Entretanto, aquela atração inicial precisa de algo muito mais forte para a manutenção de um casamento – o amor de Deus. Quando o amor de Deus é verdadeiramente derramado no coração de uma pessoa regenerada pelo Espírito Santo isso faz toda a diferença. É aquele amor que nos capacita a perdoar até mesmo os nossos inimigos. É o amor que nos constrange, transforma e produz mudanças duradouras, de dentro para fora. É um amor incondicional e sacrificial, que “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” É um amor que age e reage adequadamente, que não se abala diante das dificuldades e adversidades, pois está firmado em Deus. É o amor com as características descritas em 1 Coríntios 13.4-7:   

4  O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece,
5  não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal;
6  não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade;
7  tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

Finalmente, é preciso lembrar que é nosso dever buscar a direção de Deus e escolher com muito cuidado a pessoa que será o nosso cônjuge “até que a morte nos separe”, pois esta é a vontade de Deus para o casamento. Se por algum motivo tivermos falhado em nossa escolha, em Cristo, sempre será possível tornar um “atraente oposto” num “oposto parecido”! O convívio do casal, sendo ambos os cônjuges sujeitos a Cristo, no decorrer do tempo pode fazer deles pessoas parecidas e ajustadas, refletindo a imagem de Cristo.

Que Deus nos ajude!

Bibliografia:

1. Bíblia Sagrada (SBB – Versão Revista e Atualizada).
2. Bíblia Online – SBB.
3. Revista Nossa Fé – Falsas expectativas no casamento (Ed. Cultura Cristã).
4. Internet.


[1] A “lei de Coulomb” é uma lei experimental que descreve a interação eletrostática entre partículas eletricamente carregadas. Foi formulada e publicada pela primeira vez em 1783 pelo físico francês Charles Augustin de Coulomb e foi essencial para o desenvolvimento do estudo da eletricidade.

[2]“De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.” (Mt 19.6)

As mulheres do Rei Davi (Parte 3)

O que não te contaram sobre as mulheres do Rei Davi…

Introdução

O propósito deste estudo é abordar o que essas mulheres poderiam nos ensinar. Nosso desafio é tentar entender como uma única esposa, num casamento monogâmico e heterossexual, poderia assimilar e desenvolver em seu casamento esse aprendizado e, concentrar numa só pessoa, as virtudes de todas.

O estudo está dividido em três partes, cada uma abordando um período específico ou uma fase da vida de Davi. Abordaremos aqui a terceira fase.

3ª FASE: Davi, topo e declínio, de 37 a 70 anos
(rei de todas as tribos de Israel – por 33 anos – 2Sm 5.4-5)

1. MICAL – Parte 2 (a frustrada)

“Aquela que não era pra ser sua esposa, acabou sendo, mas parece que nunca foi.”

Após a morte de Saul, o poderoso Abner, comandante do seu exército, constituiu a Is-Bosete, filho de Saul, rei sobre as tribos de Israel, menos Judá que era governada por Davi (2Sm 2.8-9). Mas a casa de Saul se enfraquecia dia após dia.  Passado algum tempo, Is-Bosete se desentendeu com Abner por causa de uma concubina (Rispa) de seu falecido pai, Saul, com a qual Abner estava coabitando. Então Abner resolve fazer aliança com Davi e lhe promete ajudar a obter o apoio das demais tribos de Israel que ainda estavam ao lado da casa de Saul (2Sm 3.6-12).  Foi então que Davi lhe apresentou uma exigência inesperada e surpreendente: que Mical, a filha de Saul que ele havia desposado, lhe fosse enviada. Também enviou mensageiros a Is-Bosete solicitando-a. A cena é dramática. Is-Bosete mandou tirá-la a seu marido Paltiel e enviá-la a Davi. Este a segue até certo ponto, caminhando e chorando, até que Abner ordena que ele volte (2Sm 3.13-16).  Como entender essa atitude de Davi? Será que foi por gratidão ao que ela fez no passado, salvando sua vida? Ou, o fez apenas para resgatar sua honra, vingando-se da casa de Saul? Quem sabe se ela, percebendo a ascensão de Davi ao trono de Israel enviou-lhe um recado? Como entender a cabeça de Mical, exposta a tantos desmandos? O que ela teria a dizer sobre tudo isso?

O único relato que temos dela após seu retorno a Davi não sugere um relacionamento harmonioso e amoroso entre ambos (2Sm 6.12-23). Mical se tornou uma pessoa amargurada e amarga. Cabe-lhe muito bem o adjetivo de rixosa (briguenta). Talvez Salomão tenha se inspirado nela quando disse: “Melhor é morar no canto do eirado do que junto com a mulher rixosa na mesma casa.” (Pv 21.9; ver tb. Pv27.15). Acrescente-se a tudo que passou com seus maridos, a perda de status da casa de seu pai, a morte de seu pai e irmãos e sua provável esterilidade. Aprouve a Deus restringir a descendência de Saul e eleger a Davi e sua descendência. Deus não quis que a descendência de Saul tivesse continuidade através de Davi. Esse casamento chegou aquele ponto em que a exultação de um cônjuge é a indignação do outro. Você conhece algum casamento assim? Enquanto Mical desprezava Davi (2Sm 6.16) e o repreendia sarcasticamente (2Sm 6.20), Davi a rechaçava, quase tripudiando dela e da casa do seu pai (2Sm 6.21)

Lições: Seria Mical uma vítima do destino ou uma vítima de si mesma, de suas motivações e escolhas equivocadas ao longo da vida? Por que ela se interessou, no início, por Davi? Por que não partiu para junto dele quando ele fugia de Saul?

Dica: Cuidado com suas motivações e escolhas para não se tornar uma eterna frustrada.

2. AS CONCUBINAS (as esposas de segunda linha”)

“Representam aquelas esposas acomodadas que se contentam com o papel de serviçal da casa.”

Assim que Davi foi constituído rei sobre todo o Israel, partiu e conquistou Jerusalém e ali instalou a sede do seu governo e estabeleceu sua casa, sua família (2Sm 5.6-12). Ato contínuo, tomou para si mais concubinas e mulheres de Jerusalém e ali lhe nasceram mais filhos e filhas (2Sm 5.13-16; 1Cr 3.5-9; 14.4-7). Além dos 6 filhos nascidos em Hebrom, lhe nasceram em Jerusalém mais 13, sem contar os filhos das concubinas e sua filha Tamar. Portanto, 20 de seus filhos são nomeados. É interessante notar que o escriba nem se deu ao trabalho de nomear as antigas e novas concubinas, bem como as novas esposas de Davi; apenas os seus filhos. Se nos tempos antigos, a mulher e esposa não tinha muito valor, muito menos ainda a mulher concubina. Tempos depois, quando Davi abandonou sua casa, fugindo de Absalão e seu exército, deixou ali dez de suas concubinas, para cuidarem da casa (2Sm 15.16). Estas foram publicamente humilhadas por Absalão (2Sm 16.22) e isoladas por Davi, no seu retorno, como se viúvas fossem (2Sm 20.3).

Lições: Sempre imagino essas concubinas sendo tratadas como esposas de segunda categoria, as serviçais da casa, as que estão à disposição de seu “patrão” para prestar serviços de cama, mesa e faxina. Nenhuma esposa hoje deve se acomodar e se submeter passivamente a essa condição de pessoa ou esposa de segunda linha. Dentro do possível deve investir continuamente no seu crescimento intelectual, cultural, social e espiritual para ser bênção de Deus, dentro e fora da sua casa.

Dica: Lembre-se do cântico “quero que valorize o que você tem…”. Lembre-se daquela frase: “A mulher foi feita da costela do homem, não dos seus pés para ser por ele pisada, nem da sua cabeça para dominar sobre ele, mas do seu lado para ser igual, debaixo do seu braço para ser por ele protegida e do lado do seu coração para ser amada por ele.” (adaptação PRC)

3. BATE-SEBA (a sedutora)

“Aquela que enlouquece o marido das outras, mas não o seu próprio marido.”

Certamente essa é a mais famosa e mais conhecida de suas esposas. O poder da sedução e os estragos que podem causar são inimagináveis e indeléveis nas mentes das pessoas. Davi tinha agora cerca de 40 anos de idade. Estava no auge da sua carreira, cercado de esposas, concubinas e filhos, desfrutando de todo o conforto e abarrotado de bens. Quem poderia imaginar que ele pudesse sentir falta de algo na vida?

O episódio do adultério com Bate-Seba é lastimável, horripilante, incluindo o assassinato do marido dela, Urias. Davi era o homem segundo o coração de Deus (At 13.22), mas também agia segundo o coração dos homens; era piedoso, temente a Deus, mas também cometeu erros e injustiças. Levado pelos impulsos do coração e da fraqueza humana Davi cometeu erros que produziram consequências amargas. Quando os desejos do coração sufocam e anulam a razão as más decisões são inevitáveis!

Nosso foco aqui são as esposas; mas não posso deixar de apresentar minha teoria sobre o que teria evitado que Davi se atirasse de tão alto precipício. É evidente que a causa do problema é de natureza ocupacional. Ele passeava no terraço da casa real sem ter o que fazer. Ninguém pode negar que se ele tivesse saído para a guerra, como fez o seu exército, teria muito o que fazer (2Sm 11.1). Mas o cerne da questão não é esse, ele estava já meio saturado de tanta guerra. Observem bem que ele não estava apenas passeando num lugar alto, ele estava olhando ao seu redor, carente de ver algo, de interagir. Também não estava disposto, naquele momento, a compor cânticos ou tocar sua harpa. Vejam só um detalhe importante. Quando ele saiu da cama para passear? À tarde, provavelmente após um cochilo depois do almoço (2Sm 11.2). Vamos combinar, tudo o que ele precisava naquela hora era de um computador para se distrair nas redes sociais, ou de uma boa TV a cabo para assistir um bom filme ou a reprise de um jogo da “UEFA Champions League” (Liga dos Campeões da Europa), tipo Real Madri e Bayern de Munique. Esposas anotem aí este conselho: mantenham os olhos dos seus maridos ocupados com coisas “importantes” como essas, para que eles não olhem para onde não devem! Brincadeiras à parte, voltemos a Bate-Seba.

A primeira pergunta que não quer calar é: por que uma mulher casada, morando próximo à casa real, tomaria banho em lugar tão aberto e visível? É bom ressaltar que Davi não tinha, nem precisaria usar, uma luneta, pois esta só foi inventada no início do século XVII DC. Será que sua atitude não tem indícios de ato premeditado, por quem conhecia a rotina do rei e tinha outras intenções?

A segunda pergunta é: por que Davi não desistiu de seus intentos, quando pediu informações e lhe disseram quem era ela (2Sm 11.3). Nunca é demais lembrar que Bate-Seba era uma mulher casada, com Urias, da elite dos 37 valentes de Davi (2Sm 23.39); filha de Eliã, também da elite dos 37 valentes de Davi (2Sm 23.34) e neta de Aitofel, conselheiro de Davi (2Sm 16.23). É impressionante como a sedução bloqueia o senso crítico de uma pessoa!

A terceira pergunta é: considerando quem ela era, por que atendeu ao convite do rei? Até que ponto ela foi forçada a ir ou foi porque também tinha outros interesses naquele encontro? (2Sm 11.4).  É bom ressaltar que Israel não era uma nação pagã; havia lei e temor a Deus ali!

O restante da história já é bem conhecido (2Sm 11.5 – 12.25), inclusive a condenação divina (2Sm 11.27) e a sentença proferida pelo profeta Natã (2Sm 12.10-14). Vale destacar, que ao tomar Davi a Bate-Seba, como esposa, esta passou a ocupar lugar de prestígio na casa real. Além de ver seu filho Salomão suceder ao trono, exerceu grande influência na corte (1Rs 1.11-40; 2.13-24). Além de Salomão, Bate-Seba gerou outros três filhos de Davi (1Cr 3.5).

MÃEFILHOS
Bate-Seba ou
Bate-Sua
SAMUA ou SIMÉIA, SOBABE, NATÃ e SALOMÃO – 4 filhos (1Cr 3.5)

Lições:

(i) Não há dúvida de que o maior culpado desse adultério e assassinato lamentáveis foi Davi. Ele viu; foi atraído e tentado; se informou; desejou, cobiçou; perdeu o controle; consumou o ato pecaminoso. É como diz Tiago: “Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.” (Tg 1.14-15). Há sempre vários passos até a consumação do erro e é sempre possível abortar o processo antes do desfecho. Só a submissão ao Espírito Santo é capaz de nos livrar do poder ou domínio do pecado (Rm 6.14).

(ii) Não podemos descartar a participação de Bate-Seba em todo o episódio. Se Deus conferiu a autoridade de gênero ao homem, concebeu à mulher o poder da sedução e Bate-Seba sabia muito bem como usá-lo.

(iii) A sedução sexual é como o fogo: sob controle e de forma legítima, é uma bênção, um presente de Deus; fora de controle, tem o potencial de acarretar muita destruição. Existem mulheres que, mesmo casadas, têm necessidade ou prazer ou mania de testar seu poder de sedução provocando homens solteiros e casados. Não se trata de mera hipótese, pois já ouvi relato de caso concreto e ocorrido dentro de igreja, lamentavelmente. Esposa que é moralmente decente e equilibrada deve focar em seduzir apenas o seu próprio marido.

(iv) Uma mulher casada se arruma para se apresentar linda. Já uma garota de programa se arruma para se mostrar sedutora, pois a prostituição é o seu meio de vida. É bom lembrar que o homem é seduzido pela visão e imaginação; enquanto a mulher, pela personalidade masculina, lábia e toque.

(v) Não troque a sensualidade pela maternidade; teu marido precisa encontrar em você a mãe de seus filhos, mas também aquela mulher sedutora que cativou seu coração.

(vi) Principalmente a partir da meia idade, quando ocorre a diminuição da libido (redução do desejo sexual), faça desabrochar em você a Bate-Seba que incandesce o teu marido, antes que novos interesses apareçam do lado de fora da tua casa. Afinal, casamento não segue aquele velho conceito de “estabilidade no emprego”. E, homem que é homem só deixa de ser afetado pela sedução de uma mulher quando morre. Dizem que: “O tempo é cruel com os homens, pois lhes tira o vigor sexual, mas lhe deixa o hábito da cantada”.

(vii) Dificilmente um deslize ou adultério há de passar despercebido aos olhos do seu cônjuge; certamente que nunca passará aos olhos de Deus. Será que Urias não foi pra casa, dormir com sua esposa Bate-Seba, apenas em solidariedade aos seus companheiros de tropa? Será que ele não ficou sabendo do que estava acontecendo?

Dica: Não faça da sua sedução uma arma, a vítima pode ser você e/ou muita gente inocente.

4. ABISAGUE – A SUNAMITA (a formosa cuidadora)

“Aquela que não chegou a ser sua esposa, mas que cuidou de Davi e o aqueceu na sua velhice.”

Abisague, a sunamita, era uma jovem donzela, extremamente formosa, que providenciaram para Davi quando ele estava no final da vida, com quase 70 anos de idade. A justificativa para tal iniciativa irrita muitas esposas: para cuidar dele e dormir em seus braços a fim de aquecê-lo (1Rs 1.1-4, 15). Senhoras, fiquem calmas, era só pra isso mesmo; ele não a possuiu, não coabitou com ela. A jovem era tão interessante que após a morte de Davi, Adonias, seu filho, quis tomá-la por esposa. Ele procurou a intermediação de Bate-Seba junto a seu filho, o novo rei Salomão. Salomão viu naquela atitude do seu meio-irmão mais velho, um plano para a tomada do trono e ordenou a execução de Adonias (1Rs 2.13-24). É provável que esta sunamita seja a mesma Sulamita que encantava Salomão (Ct 6.13).

Lições: A mensagem principal que a história dessa jovem, quase esposa, transmite, não é a de um privilégio de um rei. É muito simples e muito significativa. Vamos nos abstrair da jovem e incorporar a figura que ela representa neste contexto. Quão bom e quão maravilhoso é chegar ao final da caminhada da vida a dois tendo ao lado aquela companheira ou aquele companheiro de sempre, cuidando carinhosamente da gente, aquecendo-nos com seu amor, seu afeto, seu carinho, seu apoio. É isso que expressa a verdadeira beleza de um ser humano, que transpõe os portais da vida terrena e chega à presença do Pai Celestial como aroma suave, um sacrifício aceitável e agradável a Deus (Fp 4.18).

Dica: Do início do casamento ao final da vida seja um anjo bom para o teu cônjuge. Isso pode ser chamado de formosura angelical.

MÃESOUTROS FILHOS DE DAVI QUE LHE NASCERAM EM JERUSALÉM

– ? –
IBAR, ELISAMA, ELIFELETE, NOGÁ, NEFEGUE, JAFIA, ELISAMA, ELIADA e ELIFELETE – 9 filhos (1Cr 3.6-8, comp. 1Cr 14.5-7).
“Afora os filhos das concubinas” (1Cr 3.9)

Conclusão

Queridas e distintas leitoras, o desafio está posto. Como uma única esposa, num casamento monogâmico e heterossexual, pesquise, assimile e desenvolva em seu relacionamento conjugal esse aprendizado. Concentre numa só pessoa – você –  as virtudes de todas as mulheres de Davi e de outras tantas mulheres da bíblia e da história que deixaram um exemplo e legado de vida pessoal e conjugal dignos de serem seguidos! Quanto a você, querido e distinto leitor, homem e marido, incentive e ajude sua esposa amada a alcançar esse objetivo! Isso será bênção em sua casa; testemunho para outros; bem como trará honra e glória para o nosso Deus!

Que assim Deus nos ajude!


Veja, também:
As mulheres do Rei Davi (Parte 1)
As mulheres do Rei Davi (Parte 2)

As mulheres do Rei Davi (Parte 2)

O que não te contaram sobre as mulheres do Rei Davi…

Introdução

O propósito deste estudo é abordar o que essas mulheres poderiam nos ensinar. Nosso desafio é tentar entender como uma única esposa, num casamento monogâmico e heterossexual, poderia assimilar e desenvolver em seu casamento esse aprendizado e, concentrar numa só pessoa, as virtudes de todas.

O estudo está dividido em três partes, cada uma abordando um período específico ou uma fase da vida de Davi. Abordaremos aqui a segunda fase.

2ª FASE: Davi em fuga, ainda em ascensão, de 29 a 37 anos
(líder de bando, rei de Judá: 7,5 anos com ± 30-37 anos – 2Sm 5.4-5)

1. AINOÃ, MAACA, HAGITE, ABITAL e EGLÁ (a reprodutora, a mãe)(2Sm 3.1-5)

“Este grupo representa aquela esposa que todo marido normal pede a Deus.”

Fugindo de Saul, Davi passa a ter uma vida nômade. De comandante de tropas, passou a ser comandante de um bando de seiscentos homens descontentes, endividados e amargurados (1Sm 22.2; 23.13; 25.13). Nessa nova fase é ele quem toma a iniciativa de tomar para si esposas. As duas primeiras, Ainoã e Abigail (será comentada no próximo tópico) que passaram por momentos difíceis, sendo levadas cativas pelos amalequitas e depois resgatadas (1Sm 30). Muito pouco se diz dessas cinco esposas de Davi: Ainoã, Maaca, Hagite, Abital e Eglá. Com a morte de Saul, Davi se estabeleceu em Hebrom e ali foi ungido rei de Judá (2Sm 2.1-4). Por sete anos e seis meses foi rei em Hebrom, e havia guerra entre a casa de Saul e a casa de Davi (1Sm 3.1).  É nesse contexto que são listados os seis primeiros filhos de Davi, um de cada uma das seis esposas, os que nasceram ali, em Hebrom (2Sm 3.1-5; 1Cr 3.1-4):

MÃESFILHOS
AionãAMNOM – Filho mais velho (2Sm 3.2; 1Cr 3.1)
(Praticou incesto contra sua irmã Tamar e foi morto por Absalão – 2Sm 13).
AbigailQUILEABE ou DANIEL – O segundo (2Sm 3.3; 1Cr 3.1)
MaacaABSALÃO – O terceiro (2Sm 3.3; 1Cr 3.2)
(Revoltou-se contra Davi e foi morto por Joabe – 2Sm 14-18).
TAMAR (1Cr 3.9)
HagiteADONIAS – O quarto (2Sm 3.4; 1Cr 3.2)
(Tentou tomar o reino e foi morto por Benaia, por ordem de Salomão – 1Rs 2.25).
AbitalSEFATIAS – O quinto (2Sm 3.4; 1Cr 3.3)
EgláITREÃO – O sexto (2Sm 3.5; 1Cr 3.3)

Lições: Com essas esposas, que quase passam despercebidas no relato bíblico, precisamos destacar e valorizar a sublime missão de mãe, a maternidade. A rotina diária delas é extenuante e quase invisível. Já os resultados são recompensadores, quando seu trabalho de criar os filhos é feito com amor, dedicação, perseverança e sabedoria. O marido pede a Deus por uma esposa assim, porque a bênção da reprodução não vem do esforço próprio do marido ou da esposa. Nem todas as esposas e maridos são contemplados por Deus com a bênção da fertilidade. Na maioria das vezes o casal só saberá disso algum tempo depois de casados. A infertilidade em nada deve degradar a relação do casal, que certamente encontrará outros propósitos para suas existências.

Dica: Nunca subestime a maternidade, o abençoado papel de mãe. Como disse Abraham Lincoln: “A mão que embala o berço governa o mundo”.

2. ABIGAIL (a sensata, sábia e formosa) (1Sm 25)

“Aquela esposa que todo marido normal gostaria de ter.”

Essa esposa de Davi, Abigail, merece um comentário à parte. A Bíblia dedica um capítulo inteiro para contar a história de como ela passou a fazer parte da vida de Davi: 1Samuel 25.1-44. É uma das mais belas histórias bíblicas onde a protagonista foi uma mulher e esposa. Ela vivia com seu marido Nabal, cujo nome em hebraico significa “insensato, sem juízo, louco” (um nome bem apropriado para esse sujeito) em Maom, a 1,5 Km do Carmelo, que era o local onde tinha suas propriedades, pois era abastado. O Carmelo ficava a cerca de 11Km de Hebrom.

Davi e seu bando estavam acampados nas proximidades de suas propriedades e, sabendo que ele estava fazendo a tosquia das ovelhas, juntamente com seus servos, enviou-lhe dez dos seus moços para pedir-lhe algum alimento. A expectativa de Davi era de ser atendido, pois seu bando, não lhe subtraiu qualquer coisa, além de lhe servir de um muro de proteção contra os possíveis invasores. Nabal foi duro, insano e inconsequente em sua resposta negativa enviada a Davi, menosprezando-o, insultando-o. Davi e seu bando ficam encolerizados com a resposta e resolvem partir pra cima deles, com a intenção de matar a Nabal e a todos os seus servos do sexo masculino. Felizmente, um dos servos de Nabal foi contar a Abigail o clima de terror que seu marido havia criado. Então, Abigail entra em cena para tentar limpar a lambança feita por seu marido. 

Por que Abigail é tão admirável? Por que ela é aquela esposa que todo marido normal gostaria de ter? Então vejamos como ela era e o que fez (1Sm 25):

a) Ela era sensata e formosa, contrastando com seu marido que era duro (insensível) e maligno (1Sm 25.3) – conhece algum casal assim?

b) Ela ouviu atentamente tudo o que aquele servo tinha a contar (1Sm 25.14-18) – demonstrou saber ouvir.

c) Ela agiu rapidamente, preparando provisões e, juntamente com seus moços partiu, corajosamente, em direção a Davi, para interceptá-lo no caminho, antes que fosse tarde demais (1Sm 25.18-22) – determinação, rapidez e coragem.

d) Lançou-se aos pés de Davi, humilhando-se e pedindo permissão para falar (1Sm 25. 23-24) – postura adequada diante da situação.

e) Demonstrou extrema sabedoria e objetividade na sua fala e argumentos diante de Davi – capacidade de persuasão:

(i) Assumiu toda a culpa, sem ter culpa (1Sm 25.24);

(ii) Descreveu a insanidade do marido e que ela não teve participação no lamentável episódio (1Sm 25.25);

(iii) Evocou a providência divina como agente oportuno a evitar tal derramamento de sangue (1Sm 25.26);

(iv) Entregou, como presente, as provisões que trouxe, para abrandar sua raiva (1Sm 25.27);

(v) Suplicou por perdão (1Sm 25.28a);

(vi) Profetizou a prosperidade de Davi e o valor de uma vida sem mácula (1Sm 25.8b);

(vii) Profetizou a proteção divina sobre a vida de Davi e a derrota dos seus inimigos (1Sm 25.29);

(viii) Profetizou que quando o Senhor o levantasse por Rei de Israel, aquele mal que estava para fazer não lhe pesaria na consciência; não mancharia sua honra, não lhe seria por tropeço (1Sm 25.30-32).

(ix) Obteve êxito na sua petição, evitando uma desgraça na sua casa, e uma mancha vergonhosa no currículo do futuro rei de Israel (1Sm 25.32-35). Sabe lá o que é, em poucos minutos, fazer um homem enfurecido começar a bendizer e glorificar a Deus? Ó glória! Isso é que é ser “mulher empoderada”!

f) Suportou com paciência e respeito a alienação e insanidade do seu marido (1Sm 25.36).

g) Esperou que seu marido ficasse sóbrio, para lhe contar todo o ocorrido (1Sm 25.37).

h) Esperou em Deus por uma solução para o seu inferno conjugal. O texto bíblico relata que Deus feriu a Nabal e ele morreu. Alguns comentaristas acreditam e algumas traduções dão a entender que ao receber a notícia dada por Abigail, ele sofreu um ataque cardíaco ou derrame e ficou paralisado, morrendo dez dias depois (1Sm 25.37-38).

i) Após a morte de seu marido, aceitou o “convite” (ou intimação? rsrs) de Davi para tornar-se sua esposa. Esse pedido de casamento é um caso controverso. Aparentemente Davi mandou seus servos fazer-lhe o convite – “Mandou Davi falar a Abigail que desejava tomá-la por mulher” (v 39); mas, parece que os seus servos transformaram o convite em intimação – “Davi nos mandou a ti, para te levar por sua mulher”. (v.40).  Em tese, esse novo casamento parecia ser melhor para Abigail do que aquele que tivera com Nabal. Na cabeça de Davi era muito interessante: esposa formosa, sensata e rica. E, Davi não parou por aqui. Pior é que ele quis mais esposas!

Lições: Abigail nos ensina muitas coisas. Dentre elas, que a beleza integral de uma esposa é o somatório da beleza física com a beleza do caráter, da sensatez, da sabedoria. “A mulher sábia edifica a sua casa, mas a insensata, com as próprias mãos, a derriba.” (Pv 14.1). Todo marido precisa de uma boa conselheira ao seu lado e vice-versa. Uma boa conversa, um bom conselho, uma boa argumentação, ajudam muito mais do que difamar o cônjuge pelas costas; do que ficar chorando e se lamentando para conseguir ser ouvida pelo cônjuge. Se Nabal tivesse dado ouvidos à sua esposa teria sido uma pessoa ricamente abençoada e feliz, proporcionando a mesma felicidade à sua esposa.

Dica: Seja uma mulher sábia, sensata e formosa. Quem sabe você conseguirá transformar o seu Nabal em Davi, sem trocar de marido?


Veja, também:
As mulheres do Rei Davi (Parte 1)
As mulheres do Rei Davi (Parte 3)

As mulheres do Rei Davi (Parte 1)

O que não te contaram sobre as mulheres do Rei Davi…

Introdução

Em primeiro lugar, vale lembrar que nosso propósito aqui é focalizar as quase esposas, as esposas e as concubinas de Davi, já que se fala muito dele e nem tanto delas.

Em segundo lugar, também é bom lembrar que a poligamia jamais fez parte do projeto de Deus para a família. Para alguns povos e culturas do passado e do presente ela é comum e legal. Entretanto, tão danosas à família e à sociedade, quanto a poligamia, são duas práticas que observamos por aí, que têm mais a ver com promiscuidade do que com liberdade. 1ª)Entre solteiros(as) que não querem assumir compromisso sério e seguem o lema: “Se posso ter todas(os) por que ficar apenas com uma (um)? 2ª)Entre casados ou juntados que ainda não entenderam o valor do casamento: adotaram a conduta do casa-separa ou junta-separa, indefinidamente, apoiando-se e tentando superar o desconforto de suas consciências na legislação vigente ou na tolerância infinita de uma sociedade pós-moderna permissiva. Isso nada mais é do que uma “promisgamia” (promiscuidade + casamento)

O propósito deste estudo é abordar o que essas mulheres poderiam nos ensinar. Nosso desafio é tentar entender como uma única esposa, num casamento monogâmico e heterossexual, poderia assimilar e desenvolver em seu casamento esse aprendizado e, concentrar numa só pessoa, as virtudes de todas.

O estudo está dividido em três partes, cada uma abordando um período específico ou uma fase da vida de Davi.

1ª FASE: Davi em ascensão, de 20 a 29 anos
(pastor de ovelhas – 1Sm 16.11, harpista e escudeiro do rei Saul – 1Sm 16.18-21, vencedor do duelo com Golias – 1Sm 17, comandante de tropas de Saul – 1Sm 18.5)

1. MERABE (a miragem, o fantasma)

“Aquela que poderia ter sido sua esposa, mas nunca foi.”

Como isso aconteceu? O que ela tem a ver com Davi?

Saul era um rei que agradava o povo pelo seu belo porte físico e família de bens (1Sm 9.2). Era capaz de ganhar qualquer concurso masculino de beleza entre os filhos de Israel (1Sm 10.23-24). O seu coração foi mudado e o Espírito de Deus se apossou dele (1Sm 10.9-10) e ele começou bem o seu reinado. Entretanto, no segundo ano de reinado, ele se precipitou oferecendo holocausto em lugar do profeta Samuel, porque este demorou a chegar, e recebeu deste um “cartão amarelo” (1Sm 13.1-14). Em outra ocasião, obedeceu parcialmente a ordem de Deus e recebeu um “cartão vermelho” de Samuel (1Sm 15). É aí que Davi entra em cena. Samuel recebe ordem de Deus para ungi-lo, em Belém. Após esta unção, o Espírito Santo se apossou de Davi (1Sm 16.12-13) e foi retirado de Saul, que passou a ser atormentado por um espírito maligno (1Sm 16.14). Davi é convocado por Saul para tocar harpa, promovendo seu alívio, e para ser seu escudeiro (1Sm 16.16-23). Foi assim que Davi passou a frequentar a casa de Saul e a ter contato com sua família. Surgiu então a afronta do filisteu Golias contra Israel. O rei Saul oferece sua filha por esposa para quem o derrotar (1Sm 17.25). Davi se apresenta, vai ao seu encontro e o derrota (1Sm 17.31-55). Agora era só aguardar a entrega do prêmio de guerra – Merabe – a filha mais velha de Saul. Uma verdadeira miragem no deserto da vida de um pobre e humilde camponês. Davi é promovido a comandante de tropas (1Sm 18.5). Acaba se saindo tão bem que é mais admirado e festejado pelas mulheres do povo do que Saul. Daí em diante passa a ser odiado e perseguido pelo rei invejoso (1Sm 18.6-16). Saul chegou a lhe apresentar Merabe, mas adiou a entrega ao máximo torcendo para que ele morresse numa das guerras. A entrega foi adiada por tanto tempo que Merabe acabou sendo entregue, por esposa, a outro homem – Adriel (1Sm 18.17-19). Ela lhe deu cinco filhos que, no reinado de Davi foram entregues por este aos gibeonitas que os enforcaram (2Sm 21.8-9). Que triste fim!

Nada se diz de Merabe. Nenhuma fala ou seu posicionamento é mencionado. Tudo leva a crer que ela não tinha interesse em Davi, mas sim por um ilustre desconhecido – Adriel. Parece que o fato de Davi ser um herói nacional, um comandante e guerreiro bem sucedido, um homem de Deus e habilidoso com a harpa não a impressionou. Ao longo da sua vida é provável que ela tenha se arrependido dessa escolha. Provavelmente seu marido morreu cedo, em alguma batalha. Talvez ela não tenha vivido tanto quanto Davi, porém deve ter visto quão importante ele se tornou. Chego a pensar que isso bem poderia ser como um fantasma do passado que atormentava sua vida. Em 2Samuel 21.8-9 há um triste relato de que seus cinco filhos foram entregues, por Davi, aos gibeonitas, que os enforcaram para pagar a dívida de sangue que a casa de Saul tinha com eles.

Lições: A história de Merabe nos ensina algumas coisas:

Merabe perdeu a oportunidade de se tornar a esposa do mais relevante rei de Israel – Davi. Não está claro se a culpa foi dela, do pai Saul ou de ambos. Quem poderia imaginar que aquela pessoa tão simples, Davi, poderia chegar onde chegou? Cuidado! Não despreze os pequenos começos!

1ª) Realmente, na insensatez e arroubo da juventude fazemos escolhas das quais iremos nos arrepender pelo resto de nossas vidas. Entretanto, não podemos viver sufocados por elas. É preciso aprender a lição, dar um reset e começar nova vida. É claro que o status, o ser bem sucedido financeiramente, não é o fator mais importante a ser avaliado. O coração deve falar mais alto.

2ª) Por outro lado, é preciso considerar que se tivéssemos escolhido a outra opção, o resultado poderia não ter sido tão exitoso quanto o que alcançamos hoje.

Dica: Enfim, esqueça as miragens, o que você poderia ter tido ou sido, exorcize os fantasmas do passado e viva plenamente o que você tem e é!

2. MICAL – Parte 1 (a determinada)

“Aquela que não era para ser sua esposa, mas acabou sendo.”

Depois da enrolação e frustração na entrega de Merabe a Davi, eis que surge Mical, a filha mais nova de Saul, usada por este para servir de tropeço e ao seu intento de tirar a vida de Davi (1Sm 18.21). Ardiloso, Saul envia seus servos secretamente a Davi para propor que este aceitasse ser seu genro, dispensando-o do dote, mas exigindo dele 100 prepúcios de filisteus, na perspectiva de que Davi morresse no combate para obtê-los. Davi concorda e não faz por menos, fere 200 homens e paga o dobro de prepúcios que Saul pediu. Então, Saul não teve como adiar mais e lhe entregou, por esposa, Mical (1Sm 18.22-27). Efetivamente esta foi sua primeira esposa. Diz o relato bíblico que ela o amava (1Sm 18.20, 28).

Davi prosperava mais do que todos os comandantes dos exércitos de Saul e a inveja e o ódio do seu sogro aumentavam, a ponto de um dia quase o matar com sua lança (1Sm 18.30; 19.1-10). Na noite desse dia quase fatídico, Saul decretou a morte de Davi. Mandou cercar sua casa para que ele não fugisse e na manhã seguinte iria mandar trazê-lo e executá-lo (1Sm 19.11). É nesse contexto desesperador que entra em cena sua esposa Mical. Ela o avisa do perigo, o ajuda na fuga, pela janela, simula que este está doente, deitando um ídolo na cama com um tecido de pelos de cabra em sua cabeça e cobrindo-o com uma manta. Tudo isso para Davi se distanciar, na fuga. Pela manhã, percebendo-se enganado por sua própria filha, Saul a interpela e ela usa uma desculpa bem esfarrapada: “Porque ele me disse: Deixa-me ir, senão eu te mato.” (1Sm 19.11-17). A partir desse momento o casal ficou separado. Passado algum tempo, Mical é dada por Saul a outro homem, Palti ou Paltiel (1Sm 25.44; 2Sm 3.15), como uma forma de afronta a Davi.

Lições: O que podemos aprender com essa esposa, Mical (parte 1)? Ela faz lembrar aquela mulher jovem, apaixonada, determinada, disposta a enfrentar os pais e o mundo pelo seu amado. Por fim acaba se rendendo à intervenção dos pais. Quem segue os passos de Mical, nesse contexto, só merece ser aplaudida. Por outro lado, temos de admitir que, infelizmente, muitas jovens empreendem uma luta contra os pais e contra a sensatez por uma causa perigosa, por um suposto amor que não vale a pena, por uma verdadeira bomba de efeito retardado.

Dica: Nunca perca aquela garra da juventude, mas aplique-a naquilo que realmente possa valer a pena.


Veja, também:
As mulheres do Rei Davi (Parte 2)
As mulheres do Rei Davi (Parte 3)