As mulheres do Rei Davi (Parte 3)

O que não te contaram sobre as mulheres do Rei Davi…

Introdução

O propósito deste estudo é abordar o que essas mulheres poderiam nos ensinar. Nosso desafio é tentar entender como uma única esposa, num casamento monogâmico e heterossexual, poderia assimilar e desenvolver em seu casamento esse aprendizado e, concentrar numa só pessoa, as virtudes de todas.

O estudo está dividido em três partes, cada uma abordando um período específico ou uma fase da vida de Davi. Abordaremos aqui a terceira fase.

3ª FASE: Davi, topo e declínio, de 37 a 70 anos
(rei de todas as tribos de Israel – por 33 anos – 2Sm 5.4-5)

1. MICAL – Parte 2 (a frustrada)

“Aquela que não era pra ser sua esposa, acabou sendo, mas parece que nunca foi.”

Após a morte de Saul, o poderoso Abner, comandante do seu exército, constituiu a Is-Bosete, filho de Saul, rei sobre as tribos de Israel, menos Judá que era governada por Davi (2Sm 2.8-9). Mas a casa de Saul se enfraquecia dia após dia.  Passado algum tempo, Is-Bosete se desentendeu com Abner por causa de uma concubina (Rispa) de seu falecido pai, Saul, com a qual Abner estava coabitando. Então Abner resolve fazer aliança com Davi e lhe promete ajudar a obter o apoio das demais tribos de Israel que ainda estavam ao lado da casa de Saul (2Sm 3.6-12).  Foi então que Davi lhe apresentou uma exigência inesperada e surpreendente: que Mical, a filha de Saul que ele havia desposado, lhe fosse enviada. Também enviou mensageiros a Is-Bosete solicitando-a. A cena é dramática. Is-Bosete mandou tirá-la a seu marido Paltiel e enviá-la a Davi. Este a segue até certo ponto, caminhando e chorando, até que Abner ordena que ele volte (2Sm 3.13-16).  Como entender essa atitude de Davi? Será que foi por gratidão ao que ela fez no passado, salvando sua vida? Ou, o fez apenas para resgatar sua honra, vingando-se da casa de Saul? Quem sabe se ela, percebendo a ascensão de Davi ao trono de Israel enviou-lhe um recado? Como entender a cabeça de Mical, exposta a tantos desmandos? O que ela teria a dizer sobre tudo isso?

O único relato que temos dela após seu retorno a Davi não sugere um relacionamento harmonioso e amoroso entre ambos (2Sm 6.12-23). Mical se tornou uma pessoa amargurada e amarga. Cabe-lhe muito bem o adjetivo de rixosa (briguenta). Talvez Salomão tenha se inspirado nela quando disse: “Melhor é morar no canto do eirado do que junto com a mulher rixosa na mesma casa.” (Pv 21.9; ver tb. Pv27.15). Acrescente-se a tudo que passou com seus maridos, a perda de status da casa de seu pai, a morte de seu pai e irmãos e sua provável esterilidade. Aprouve a Deus restringir a descendência de Saul e eleger a Davi e sua descendência. Deus não quis que a descendência de Saul tivesse continuidade através de Davi. Esse casamento chegou aquele ponto em que a exultação de um cônjuge é a indignação do outro. Você conhece algum casamento assim? Enquanto Mical desprezava Davi (2Sm 6.16) e o repreendia sarcasticamente (2Sm 6.20), Davi a rechaçava, quase tripudiando dela e da casa do seu pai (2Sm 6.21)

Lições: Seria Mical uma vítima do destino ou uma vítima de si mesma, de suas motivações e escolhas equivocadas ao longo da vida? Por que ela se interessou, no início, por Davi? Por que não partiu para junto dele quando ele fugia de Saul?

Dica: Cuidado com suas motivações e escolhas para não se tornar uma eterna frustrada.

2. AS CONCUBINAS (as esposas de segunda linha”)

“Representam aquelas esposas acomodadas que se contentam com o papel de serviçal da casa.”

Assim que Davi foi constituído rei sobre todo o Israel, partiu e conquistou Jerusalém e ali instalou a sede do seu governo e estabeleceu sua casa, sua família (2Sm 5.6-12). Ato contínuo, tomou para si mais concubinas e mulheres de Jerusalém e ali lhe nasceram mais filhos e filhas (2Sm 5.13-16; 1Cr 3.5-9; 14.4-7). Além dos 6 filhos nascidos em Hebrom, lhe nasceram em Jerusalém mais 13, sem contar os filhos das concubinas e sua filha Tamar. Portanto, 20 de seus filhos são nomeados. É interessante notar que o escriba nem se deu ao trabalho de nomear as antigas e novas concubinas, bem como as novas esposas de Davi; apenas os seus filhos. Se nos tempos antigos, a mulher e esposa não tinha muito valor, muito menos ainda a mulher concubina. Tempos depois, quando Davi abandonou sua casa, fugindo de Absalão e seu exército, deixou ali dez de suas concubinas, para cuidarem da casa (2Sm 15.16). Estas foram publicamente humilhadas por Absalão (2Sm 16.22) e isoladas por Davi, no seu retorno, como se viúvas fossem (2Sm 20.3).

Lições: Sempre imagino essas concubinas sendo tratadas como esposas de segunda categoria, as serviçais da casa, as que estão à disposição de seu “patrão” para prestar serviços de cama, mesa e faxina. Nenhuma esposa hoje deve se acomodar e se submeter passivamente a essa condição de pessoa ou esposa de segunda linha. Dentro do possível deve investir continuamente no seu crescimento intelectual, cultural, social e espiritual para ser bênção de Deus, dentro e fora da sua casa.

Dica: Lembre-se do cântico “quero que valorize o que você tem…”. Lembre-se daquela frase: “A mulher foi feita da costela do homem, não dos seus pés para ser por ele pisada, nem da sua cabeça para dominar sobre ele, mas do seu lado para ser igual, debaixo do seu braço para ser por ele protegida e do lado do seu coração para ser amada por ele.” (adaptação PRC)

3. BATE-SEBA (a sedutora)

“Aquela que enlouquece o marido das outras, mas não o seu próprio marido.”

Certamente essa é a mais famosa e mais conhecida de suas esposas. O poder da sedução e os estragos que podem causar são inimagináveis e indeléveis nas mentes das pessoas. Davi tinha agora cerca de 40 anos de idade. Estava no auge da sua carreira, cercado de esposas, concubinas e filhos, desfrutando de todo o conforto e abarrotado de bens. Quem poderia imaginar que ele pudesse sentir falta de algo na vida?

O episódio do adultério com Bate-Seba é lastimável, horripilante, incluindo o assassinato do marido dela, Urias. Davi era o homem segundo o coração de Deus (At 13.22), mas também agia segundo o coração dos homens; era piedoso, temente a Deus, mas também cometeu erros e injustiças. Levado pelos impulsos do coração e da fraqueza humana Davi cometeu erros que produziram consequências amargas. Quando os desejos do coração sufocam e anulam a razão as más decisões são inevitáveis!

Nosso foco aqui são as esposas; mas não posso deixar de apresentar minha teoria sobre o que teria evitado que Davi se atirasse de tão alto precipício. É evidente que a causa do problema é de natureza ocupacional. Ele passeava no terraço da casa real sem ter o que fazer. Ninguém pode negar que se ele tivesse saído para a guerra, como fez o seu exército, teria muito o que fazer (2Sm 11.1). Mas o cerne da questão não é esse, ele estava já meio saturado de tanta guerra. Observem bem que ele não estava apenas passeando num lugar alto, ele estava olhando ao seu redor, carente de ver algo, de interagir. Também não estava disposto, naquele momento, a compor cânticos ou tocar sua harpa. Vejam só um detalhe importante. Quando ele saiu da cama para passear? À tarde, provavelmente após um cochilo depois do almoço (2Sm 11.2). Vamos combinar, tudo o que ele precisava naquela hora era de um computador para se distrair nas redes sociais, ou de uma boa TV a cabo para assistir um bom filme ou a reprise de um jogo da “UEFA Champions League” (Liga dos Campeões da Europa), tipo Real Madri e Bayern de Munique. Esposas anotem aí este conselho: mantenham os olhos dos seus maridos ocupados com coisas “importantes” como essas, para que eles não olhem para onde não devem! Brincadeiras à parte, voltemos a Bate-Seba.

A primeira pergunta que não quer calar é: por que uma mulher casada, morando próximo à casa real, tomaria banho em lugar tão aberto e visível? É bom ressaltar que Davi não tinha, nem precisaria usar, uma luneta, pois esta só foi inventada no início do século XVII DC. Será que sua atitude não tem indícios de ato premeditado, por quem conhecia a rotina do rei e tinha outras intenções?

A segunda pergunta é: por que Davi não desistiu de seus intentos, quando pediu informações e lhe disseram quem era ela (2Sm 11.3). Nunca é demais lembrar que Bate-Seba era uma mulher casada, com Urias, da elite dos 37 valentes de Davi (2Sm 23.39); filha de Eliã, também da elite dos 37 valentes de Davi (2Sm 23.34) e neta de Aitofel, conselheiro de Davi (2Sm 16.23). É impressionante como a sedução bloqueia o senso crítico de uma pessoa!

A terceira pergunta é: considerando quem ela era, por que atendeu ao convite do rei? Até que ponto ela foi forçada a ir ou foi porque também tinha outros interesses naquele encontro? (2Sm 11.4).  É bom ressaltar que Israel não era uma nação pagã; havia lei e temor a Deus ali!

O restante da história já é bem conhecido (2Sm 11.5 – 12.25), inclusive a condenação divina (2Sm 11.27) e a sentença proferida pelo profeta Natã (2Sm 12.10-14). Vale destacar, que ao tomar Davi a Bate-Seba, como esposa, esta passou a ocupar lugar de prestígio na casa real. Além de ver seu filho Salomão suceder ao trono, exerceu grande influência na corte (1Rs 1.11-40; 2.13-24). Além de Salomão, Bate-Seba gerou outros três filhos de Davi (1Cr 3.5).

MÃEFILHOS
Bate-Seba ou
Bate-Sua
SAMUA ou SIMÉIA, SOBABE, NATÃ e SALOMÃO – 4 filhos (1Cr 3.5)

Lições:

(i) Não há dúvida de que o maior culpado desse adultério e assassinato lamentáveis foi Davi. Ele viu; foi atraído e tentado; se informou; desejou, cobiçou; perdeu o controle; consumou o ato pecaminoso. É como diz Tiago: “Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.” (Tg 1.14-15). Há sempre vários passos até a consumação do erro e é sempre possível abortar o processo antes do desfecho. Só a submissão ao Espírito Santo é capaz de nos livrar do poder ou domínio do pecado (Rm 6.14).

(ii) Não podemos descartar a participação de Bate-Seba em todo o episódio. Se Deus conferiu a autoridade de gênero ao homem, concebeu à mulher o poder da sedução e Bate-Seba sabia muito bem como usá-lo.

(iii) A sedução sexual é como o fogo: sob controle e de forma legítima, é uma bênção, um presente de Deus; fora de controle, tem o potencial de acarretar muita destruição. Existem mulheres que, mesmo casadas, têm necessidade ou prazer ou mania de testar seu poder de sedução provocando homens solteiros e casados. Não se trata de mera hipótese, pois já ouvi relato de caso concreto e ocorrido dentro de igreja, lamentavelmente. Esposa que é moralmente decente e equilibrada deve focar em seduzir apenas o seu próprio marido.

(iv) Uma mulher casada se arruma para se apresentar linda. Já uma garota de programa se arruma para se mostrar sedutora, pois a prostituição é o seu meio de vida. É bom lembrar que o homem é seduzido pela visão e imaginação; enquanto a mulher, pela personalidade masculina, lábia e toque.

(v) Não troque a sensualidade pela maternidade; teu marido precisa encontrar em você a mãe de seus filhos, mas também aquela mulher sedutora que cativou seu coração.

(vi) Principalmente a partir da meia idade, quando ocorre a diminuição da libido (redução do desejo sexual), faça desabrochar em você a Bate-Seba que incandesce o teu marido, antes que novos interesses apareçam do lado de fora da tua casa. Afinal, casamento não segue aquele velho conceito de “estabilidade no emprego”. E, homem que é homem só deixa de ser afetado pela sedução de uma mulher quando morre. Dizem que: “O tempo é cruel com os homens, pois lhes tira o vigor sexual, mas lhe deixa o hábito da cantada”.

(vii) Dificilmente um deslize ou adultério há de passar despercebido aos olhos do seu cônjuge; certamente que nunca passará aos olhos de Deus. Será que Urias não foi pra casa, dormir com sua esposa Bate-Seba, apenas em solidariedade aos seus companheiros de tropa? Será que ele não ficou sabendo do que estava acontecendo?

Dica: Não faça da sua sedução uma arma, a vítima pode ser você e/ou muita gente inocente.

4. ABISAGUE – A SUNAMITA (a formosa cuidadora)

“Aquela que não chegou a ser sua esposa, mas que cuidou de Davi e o aqueceu na sua velhice.”

Abisague, a sunamita, era uma jovem donzela, extremamente formosa, que providenciaram para Davi quando ele estava no final da vida, com quase 70 anos de idade. A justificativa para tal iniciativa irrita muitas esposas: para cuidar dele e dormir em seus braços a fim de aquecê-lo (1Rs 1.1-4, 15). Senhoras, fiquem calmas, era só pra isso mesmo; ele não a possuiu, não coabitou com ela. A jovem era tão interessante que após a morte de Davi, Adonias, seu filho, quis tomá-la por esposa. Ele procurou a intermediação de Bate-Seba junto a seu filho, o novo rei Salomão. Salomão viu naquela atitude do seu meio-irmão mais velho, um plano para a tomada do trono e ordenou a execução de Adonias (1Rs 2.13-24). É provável que esta sunamita seja a mesma Sulamita que encantava Salomão (Ct 6.13).

Lições: A mensagem principal que a história dessa jovem, quase esposa, transmite, não é a de um privilégio de um rei. É muito simples e muito significativa. Vamos nos abstrair da jovem e incorporar a figura que ela representa neste contexto. Quão bom e quão maravilhoso é chegar ao final da caminhada da vida a dois tendo ao lado aquela companheira ou aquele companheiro de sempre, cuidando carinhosamente da gente, aquecendo-nos com seu amor, seu afeto, seu carinho, seu apoio. É isso que expressa a verdadeira beleza de um ser humano, que transpõe os portais da vida terrena e chega à presença do Pai Celestial como aroma suave, um sacrifício aceitável e agradável a Deus (Fp 4.18).

Dica: Do início do casamento ao final da vida seja um anjo bom para o teu cônjuge. Isso pode ser chamado de formosura angelical.

MÃESOUTROS FILHOS DE DAVI QUE LHE NASCERAM EM JERUSALÉM

– ? –
IBAR, ELISAMA, ELIFELETE, NOGÁ, NEFEGUE, JAFIA, ELISAMA, ELIADA e ELIFELETE – 9 filhos (1Cr 3.6-8, comp. 1Cr 14.5-7).
“Afora os filhos das concubinas” (1Cr 3.9)

Conclusão

Queridas e distintas leitoras, o desafio está posto. Como uma única esposa, num casamento monogâmico e heterossexual, pesquise, assimile e desenvolva em seu relacionamento conjugal esse aprendizado. Concentre numa só pessoa – você –  as virtudes de todas as mulheres de Davi e de outras tantas mulheres da bíblia e da história que deixaram um exemplo e legado de vida pessoal e conjugal dignos de serem seguidos! Quanto a você, querido e distinto leitor, homem e marido, incentive e ajude sua esposa amada a alcançar esse objetivo! Isso será bênção em sua casa; testemunho para outros; bem como trará honra e glória para o nosso Deus!

Que assim Deus nos ajude!


Veja, também:
As mulheres do Rei Davi (Parte 1)
As mulheres do Rei Davi (Parte 2)

As mulheres do Rei Davi (Parte 1)

O que não te contaram sobre as mulheres do Rei Davi…

Introdução

Em primeiro lugar, vale lembrar que nosso propósito aqui é focalizar as quase esposas, as esposas e as concubinas de Davi, já que se fala muito dele e nem tanto delas.

Em segundo lugar, também é bom lembrar que a poligamia jamais fez parte do projeto de Deus para a família. Para alguns povos e culturas do passado e do presente ela é comum e legal. Entretanto, tão danosas à família e à sociedade, quanto a poligamia, são duas práticas que observamos por aí, que têm mais a ver com promiscuidade do que com liberdade. 1ª)Entre solteiros(as) que não querem assumir compromisso sério e seguem o lema: “Se posso ter todas(os) por que ficar apenas com uma (um)? 2ª)Entre casados ou juntados que ainda não entenderam o valor do casamento: adotaram a conduta do casa-separa ou junta-separa, indefinidamente, apoiando-se e tentando superar o desconforto de suas consciências na legislação vigente ou na tolerância infinita de uma sociedade pós-moderna permissiva. Isso nada mais é do que uma “promisgamia” (promiscuidade + casamento)

O propósito deste estudo é abordar o que essas mulheres poderiam nos ensinar. Nosso desafio é tentar entender como uma única esposa, num casamento monogâmico e heterossexual, poderia assimilar e desenvolver em seu casamento esse aprendizado e, concentrar numa só pessoa, as virtudes de todas.

O estudo está dividido em três partes, cada uma abordando um período específico ou uma fase da vida de Davi.

1ª FASE: Davi em ascensão, de 20 a 29 anos
(pastor de ovelhas – 1Sm 16.11, harpista e escudeiro do rei Saul – 1Sm 16.18-21, vencedor do duelo com Golias – 1Sm 17, comandante de tropas de Saul – 1Sm 18.5)

1. MERABE (a miragem, o fantasma)

“Aquela que poderia ter sido sua esposa, mas nunca foi.”

Como isso aconteceu? O que ela tem a ver com Davi?

Saul era um rei que agradava o povo pelo seu belo porte físico e família de bens (1Sm 9.2). Era capaz de ganhar qualquer concurso masculino de beleza entre os filhos de Israel (1Sm 10.23-24). O seu coração foi mudado e o Espírito de Deus se apossou dele (1Sm 10.9-10) e ele começou bem o seu reinado. Entretanto, no segundo ano de reinado, ele se precipitou oferecendo holocausto em lugar do profeta Samuel, porque este demorou a chegar, e recebeu deste um “cartão amarelo” (1Sm 13.1-14). Em outra ocasião, obedeceu parcialmente a ordem de Deus e recebeu um “cartão vermelho” de Samuel (1Sm 15). É aí que Davi entra em cena. Samuel recebe ordem de Deus para ungi-lo, em Belém. Após esta unção, o Espírito Santo se apossou de Davi (1Sm 16.12-13) e foi retirado de Saul, que passou a ser atormentado por um espírito maligno (1Sm 16.14). Davi é convocado por Saul para tocar harpa, promovendo seu alívio, e para ser seu escudeiro (1Sm 16.16-23). Foi assim que Davi passou a frequentar a casa de Saul e a ter contato com sua família. Surgiu então a afronta do filisteu Golias contra Israel. O rei Saul oferece sua filha por esposa para quem o derrotar (1Sm 17.25). Davi se apresenta, vai ao seu encontro e o derrota (1Sm 17.31-55). Agora era só aguardar a entrega do prêmio de guerra – Merabe – a filha mais velha de Saul. Uma verdadeira miragem no deserto da vida de um pobre e humilde camponês. Davi é promovido a comandante de tropas (1Sm 18.5). Acaba se saindo tão bem que é mais admirado e festejado pelas mulheres do povo do que Saul. Daí em diante passa a ser odiado e perseguido pelo rei invejoso (1Sm 18.6-16). Saul chegou a lhe apresentar Merabe, mas adiou a entrega ao máximo torcendo para que ele morresse numa das guerras. A entrega foi adiada por tanto tempo que Merabe acabou sendo entregue, por esposa, a outro homem – Adriel (1Sm 18.17-19). Ela lhe deu cinco filhos que, no reinado de Davi foram entregues por este aos gibeonitas que os enforcaram (2Sm 21.8-9). Que triste fim!

Nada se diz de Merabe. Nenhuma fala ou seu posicionamento é mencionado. Tudo leva a crer que ela não tinha interesse em Davi, mas sim por um ilustre desconhecido – Adriel. Parece que o fato de Davi ser um herói nacional, um comandante e guerreiro bem sucedido, um homem de Deus e habilidoso com a harpa não a impressionou. Ao longo da sua vida é provável que ela tenha se arrependido dessa escolha. Provavelmente seu marido morreu cedo, em alguma batalha. Talvez ela não tenha vivido tanto quanto Davi, porém deve ter visto quão importante ele se tornou. Chego a pensar que isso bem poderia ser como um fantasma do passado que atormentava sua vida. Em 2Samuel 21.8-9 há um triste relato de que seus cinco filhos foram entregues, por Davi, aos gibeonitas, que os enforcaram para pagar a dívida de sangue que a casa de Saul tinha com eles.

Lições: A história de Merabe nos ensina algumas coisas:

Merabe perdeu a oportunidade de se tornar a esposa do mais relevante rei de Israel – Davi. Não está claro se a culpa foi dela, do pai Saul ou de ambos. Quem poderia imaginar que aquela pessoa tão simples, Davi, poderia chegar onde chegou? Cuidado! Não despreze os pequenos começos!

1ª) Realmente, na insensatez e arroubo da juventude fazemos escolhas das quais iremos nos arrepender pelo resto de nossas vidas. Entretanto, não podemos viver sufocados por elas. É preciso aprender a lição, dar um reset e começar nova vida. É claro que o status, o ser bem sucedido financeiramente, não é o fator mais importante a ser avaliado. O coração deve falar mais alto.

2ª) Por outro lado, é preciso considerar que se tivéssemos escolhido a outra opção, o resultado poderia não ter sido tão exitoso quanto o que alcançamos hoje.

Dica: Enfim, esqueça as miragens, o que você poderia ter tido ou sido, exorcize os fantasmas do passado e viva plenamente o que você tem e é!

2. MICAL – Parte 1 (a determinada)

“Aquela que não era para ser sua esposa, mas acabou sendo.”

Depois da enrolação e frustração na entrega de Merabe a Davi, eis que surge Mical, a filha mais nova de Saul, usada por este para servir de tropeço e ao seu intento de tirar a vida de Davi (1Sm 18.21). Ardiloso, Saul envia seus servos secretamente a Davi para propor que este aceitasse ser seu genro, dispensando-o do dote, mas exigindo dele 100 prepúcios de filisteus, na perspectiva de que Davi morresse no combate para obtê-los. Davi concorda e não faz por menos, fere 200 homens e paga o dobro de prepúcios que Saul pediu. Então, Saul não teve como adiar mais e lhe entregou, por esposa, Mical (1Sm 18.22-27). Efetivamente esta foi sua primeira esposa. Diz o relato bíblico que ela o amava (1Sm 18.20, 28).

Davi prosperava mais do que todos os comandantes dos exércitos de Saul e a inveja e o ódio do seu sogro aumentavam, a ponto de um dia quase o matar com sua lança (1Sm 18.30; 19.1-10). Na noite desse dia quase fatídico, Saul decretou a morte de Davi. Mandou cercar sua casa para que ele não fugisse e na manhã seguinte iria mandar trazê-lo e executá-lo (1Sm 19.11). É nesse contexto desesperador que entra em cena sua esposa Mical. Ela o avisa do perigo, o ajuda na fuga, pela janela, simula que este está doente, deitando um ídolo na cama com um tecido de pelos de cabra em sua cabeça e cobrindo-o com uma manta. Tudo isso para Davi se distanciar, na fuga. Pela manhã, percebendo-se enganado por sua própria filha, Saul a interpela e ela usa uma desculpa bem esfarrapada: “Porque ele me disse: Deixa-me ir, senão eu te mato.” (1Sm 19.11-17). A partir desse momento o casal ficou separado. Passado algum tempo, Mical é dada por Saul a outro homem, Palti ou Paltiel (1Sm 25.44; 2Sm 3.15), como uma forma de afronta a Davi.

Lições: O que podemos aprender com essa esposa, Mical (parte 1)? Ela faz lembrar aquela mulher jovem, apaixonada, determinada, disposta a enfrentar os pais e o mundo pelo seu amado. Por fim acaba se rendendo à intervenção dos pais. Quem segue os passos de Mical, nesse contexto, só merece ser aplaudida. Por outro lado, temos de admitir que, infelizmente, muitas jovens empreendem uma luta contra os pais e contra a sensatez por uma causa perigosa, por um suposto amor que não vale a pena, por uma verdadeira bomba de efeito retardado.

Dica: Nunca perca aquela garra da juventude, mas aplique-a naquilo que realmente possa valer a pena.


Veja, também:
As mulheres do Rei Davi (Parte 2)
As mulheres do Rei Davi (Parte 3)