A igreja que explicita sua crença
“antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós,” (1Pe 3.15)
Introdução:
Neste estudo estaremos abordando o fato de que, principalmente as igrejas históricas e reformadas, como a Igreja Presbiteriana, adotam credos e confissões de fé, que lhe servem de balizamento para aquilo que creem e professam como sendo a doutrina bíblica essencial. Isto fazem para que seus membros possam ter mais fácil acesso e compreensão da doutrina e ensino bíblicos, de modo a blindá-los e preservá-los das heresias e toda a sorte de ventos de doutrina estranhos à Bíblia.
1. OS TRÊS PILARES DE UMA RELIGIÃO/SEITA
RELIGIÃO: Instituição social com crenças e ritos.
SEITA: Ramo dissidente de uma religião, cujas doutrinas e métodos divergem do tronco principal, considerado herético.
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Dos esquemas acima, percebe-se a importância do Fundador e das Crenças sobre os seus Seguidores.
2. TRÊS PALAVRAS IMPORTANTES: Crença, Confissão e Balizamento
“Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva.” (Jo 7.38)
“e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.” (Fp 2.11)
Durante certo tempo o livro sagrado dos cristãos, a Bíblia, era acessado por poucos. A igreja católica romana permitia que apenas uns poucos, do clero, lessem, interpretassem e ministrassem a Palavra. Os leigos não tinham esse privilégio. Com o advento da imprensa em 1455, da tradução da Bíblia para o Alemão, por Lutero, em 1534, e de outras traduções, bem como da Reforma Protestante [1], o povo passou a ter acesso a Bíblia. Com esse livre acesso e incentivo à leitura bíblica pelo povo, dá para imaginar a dificuldade que surge quanto ao entendimento do ensino e doutrina bíblicos. Portanto, era necessário unificar a visão e entendimento dos cristãos, de modo que todos tivessem a mesma crença. Parece que nestes Séculos 20 e 21 os cristãos estão vivenciando essas mesmas dificuldades, considerando as múltiplas interpretações que têm surgido a respeito do ensino e doutrinas bíblicas, agravado pelo descaso aos credos e confissões.
CRENÇA:
No geral, é a firme convicção sobre ideias, conceitos e fatos que se julga verdadeiros. Particularmente, neste estudo, é a firme convicção sobre as verdades e doutrinas bíblicas.
CONFISSÃO:
No geral, é o ato de confessar, declarar algo, que se pensa, que se crê ou que se fez.
Particularmente, neste estudo, é a declaração que se faz sobre a crença ou fé cristã.
BALIZAMENTO:
No geral, é o ato ou efeito de balizar, de demarcar com balizas; balizagem.
Particularmente, neste estudo, é o ato ou efeito de estabelecer ou demarcar os limites da crença ou fé cristã.
“A melhor maneira de manter em evidência aquilo em que cremos e confessamos é através do registro documental de nossa fé, o que é feito através dos credos e confissões da História da Igreja.”[2]
3. CREDOS E CONFISSÕES
3.1 PROPÓSITOS
a) Expressar, com clareza, aquilo em que cremos como Igreja de Cristo, a fim de manter firme a nossa profissão de fé.
b) Blindar a igreja de Cristo das heresias que geram confusão, insegurança e desvios da fé. “A comunidade dos santos sem o balizamento de suas crenças fieis à Escritura é como aquele que é agitado ‘de um lado para outro’, sendo vitimado por ‘todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.’ (Efésios 4.14).”[2]
c) Enfim, “Credos e confissões são documentos humanos, elaborados com a finalidade de nos conduzir a uma boa interpretação da Escritura e a nos auxiliar a manter vida santa e digna diante de Deus. Eles nos auxiliam a manter em evidência e clareza os ensinamentos bíblicos, a demonstrar que estamos em sintonia com os principais credos da Igreja de Cristo e a manter nossas posições e doutrinas distintas em relação às doutrinas de todos os demais grupos cristãos ou pseudocristãos afastados da sã doutrina.” [2]
3.2 PRINCIPAIS DOCUMENTOS
“Nossos documentos históricos são os credos, os catecismos, as confissões e os cânones, sendo os principais de linha reformada:
- Credos[3]: dos Apóstolos (data indefinida), Niceno (325), Atanasiano (séc. IV), Calcedônia (451), Constantinopolitano (c. 381), 39 Artigos de Fé (1563).
- Catecismos[4]: Genebra (1537), Heidelberg (1563), Westminster (Maior e Breve, 1647).
- Confissões[5]: Genebra (1537), Guanabara (1557), Galicana (1559), Escocesa (1560), Belga (1561), Segunda Helvética (1566), Westminster (1646).
- Cânones[6]: Dort (1619).
Dos documentos acima, cabe ressaltar que a Confissão Belga (1561), o Catecismo de Heidelberg (1563) e os Cânones de Dort (1619), três dos mais antigos tratados reformados, compõem o que se conhece como As Três Formas de Unidade das Igrejas Reformadas que, desde então, em todo o mundo, se adotam nas igrejas reformadas em particular e cristãs em geral, promovendo unidade mínima nos elementos centrais da fé cristã. Mais tarde, a Confissão e os Catecismos de Westminster foram influenciados por esses importantes documentos.” [2]
3.3 SÍMBOLOS DE FÉ (IPB)
“Igrejas reformadas são lembradas por serem extremamente bíblicas em suas doutrinas, e isso se dá exatamente pelo apoio que recebem dos documentos. Então, uma igreja reformada, como a Igreja Presbiteriana do Brasil, é igreja bíblica e igreja confessional, o que quer dizer que a base do que essa igreja crê sai diretamente da Palavra de Deus e é registrado de forma documental em credos e confissões que servem para o presente e o futuro da igreja, ao mesmo tempo que nos remete à nossa origem de fé.” [2]
A IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL adota os seguintes símbolos:
- A Confissão de Fé de Westminster (a exposição dos 35 temas).
- O Catecismo Maior de Westminster (os 35 temas em 196 perguntas).
- O Breve Catecismo de Westminster (33 dos 35 temas em 107 perguntas).
4. AUTORIDADE E DESAFIOS
4.1 A AUTORIDADE DA BÍBLIA
Cremos que a Bíblia é a nossa única e infalível regra de fé e prática. Ela tem e terá sempre a primazia sobre qualquer outro livro ou documento. Quanto mais a lemos, não apenas uma parte, mas todo o seu conteúdo, mais conhecemos a Deus Pai, Filho e Espírito Santo, bem como seu plano e propósito para cada pessoa e para sua igreja.
“Pessoas há que estranham adotar a Igreja presbiteriana uma Confissão de Fé e Catecismos como regra de fé, quando sustenta sempre ser a Escritura sua única regra de fé e de prática. A incoerência é apenas aparente. A Igreja Presbiteriana coloca a Bíblia em primeiro lugar. É ela só que deve obrigar a consciência.
É também princípio fundamental da Igreja Presbiteriana que toda autoridade eclesiástica é ministerial e declarativa; que todas as decisões dos concílios devem harmonizar-se com a revelação divina. A consciência não deve se sujeitar a essas decisões se elas forem contrárias à Palavra de Deus.”[7]
4.2 A AUTORIDADE DOS CREDOS E CONFISSÕES
Os credos e confissões “não são, no entanto, inerrantes e nem compõem nossa única regra de fé e prática, que é exclusivamente a Bíblia Sagrada. A autoridade desses documentos é relativa e com limitações, mas, nem por isso devemos desprezar seu valor de formação e unidade para a fé cristã reformada. Na própria Escritura encontramos diversas declarações de fé, credos e confissões, como a de Filipenses 2.5-11.” [2]
“Admitir-se a falibilidade dos concílios não é depreciar a autoridade da Confissão de Fé e dos Catecismos para aqueles que de livre vontade os aceitem. Admitindo tal, a Igreja somente declara que depende do Autor da Escritura, e recebe a direção do seu Espírito na interpretação da Palavra e nas fórmulas de aplicar suas doutrinas. A Igreja Presbiteriana sustenta que a Escritura é a suprema e infalível regra de fé e prática; e também que a Confissão de Fé e os Catecismos contém o sistema de doutrina ensinado na Escritura, e dela deriva toda a sua autoridade e a ela tudo se subordina.”[8]
4.3 O DESAFIO PERMANENTE
a) Combater a leviandade espiritual
“Dentro da própria Igreja de Cristo, inclusive nas igrejas históricas, vivemos dias em que os credos e confissões sofrem grande rejeição, mas isso precisa ser detido e revertido. Parte considerável dos desvios e da leviandade espiritual contemporâneos são decorrentes de não se terem em alta conta as verdades expressas nos antigos documentos da cristandade.” [2]
b) Combater os modismos teológicos
Vivemos um tempo em que lideranças de igreja vão estabelecendo novas interpretações da bíblia, de forma a harmonizar ou acomodar situações contemporâneos ou de conduta, ao sabor de suas opiniões pessoais. “Com o passar do tempo, o afastamento da centralidade da Escritura se torna inevitável. Em outras palavras, se mantivermos fidelidade aos credos e confissões, teremos mais chance de manter a nossa fé clara e bem compreendida, enquanto temos liberdade de manter diálogo e debate teológico de alto nível, ao passo que as igrejas que não são fieis a tais documentos incorrem em nítidos perigos de manipulação da fé.” [2]
c) Preservar a liturgia do Culto
“Nas igrejas reformadas, nós não confessamos apenas o Sola Scriptura, nós também incrementamos a autoridade da Escritura em nossa adoração, em nossa música, na forma e conteúdo de nossos sermões e ensinamentos, o que é guiado pelas conceituações apreendidas em nossos credos e confissões reformados, que demonstram para nós a continuidade da aliança de Deus conosco, mesmo em meio a variações de costumes e tempos.” [2]
Conclusão:
“Não podemos ser como crianças na fé, instáveis, levados de um lado a outro por qualquer coisa que leiamos e ouçamos por aí. Nossa fé é baseada na Escritura e é alimentada pelos estudos e observações aos nossos documentos confessionais.”[2] Precisamos ter sempre em mente que somos igreja e, como tal, precisamos conhecer, viver, praticar e testemunhar nossa Crença, nossa Fé: “antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós,” (1Pe 3.15)
Você conhece, pelo menos, a essência da sua fé em Cristo?
[1] Reforma Protestante: 31/10/1517 – Fixadas as 95 teses na porta da igreja do Castelo de Wittenberg.
[2] EBD – Módulo 5 – Aula 1 – A igreja que sabe no que crê – Pr. Joel Theodoro
[3] Credo: Fórmula doutrinária.
[4] Catecismo: Exposição de fé e de doutrina da Igreja.
[5] Confissão: documento que expressa consenso doutrinário entre as diversas Igrejas Reformadas.
[6] Cânone: Regra geral, preceito, norma.
[7] Símbolos de Fé, pág. 15 (Editora Cultura Cristã)
[8] Símbolos de Fé, pág. 16 (Editora Cultura Cristã)
Nota: esboço pessoal de aula, preparado por mim, para facilitar a ministração da Aula 1 (A igreja que sabe no que crê) – Módulo 5 – EBD Catedral 2016, de modo a atender a temática proposta no material elaborado pelo Pr. Joel Theodoro para os alunos. Foram feitas algumas alterações para divulgação neste blog.